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Maria Luís avisou o PS que o Banif poderia estar em risco de falência por causa da investigação aprofundada

Sexta-feira, Maio 6th, 2016

Citamos

Expresso

A então ministra das Finanças avisou o PS, num encontro a 12 de novembro de 2015, que havia o risco de a ajuda de Estado que tinha sido dada ao Banif no início de 2013 poder ser considerada ilegal, no âmbito do processo de investigação aprofundada em curso, o que a acontecer obrigaria o banco a reduzir o capital em 700 milhões de euros, o que poderia levar à sua falência, contou esta quarta-feira no Parlamento o secretário de Estado Adjunto do Tesouro e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix.

O secretário de Estado conta que nesta reunião entre elementos do governo ainda em funções e o PS, onde estava também Mário Centeno, Maria Luís Albuquerque disse que queria falar da TAP e do Banif, e explicou que o processo de investigação aprofundada à ajuda pública ao Banif estaria concluído até ao final do ano de 2015, e que era grande a probabilidade de vir a ser considerada uma ajuda ilegal. Isso, defendeu a ex-ministra, levaria a uma redução de capital no montante de 700 milhões, o que poderia levar o banco à falência. Maria Luís explicou ainda que a situação era grave. “Não houve nenhuma referência por parte de Maria Luís à venda temporária”, explicou.

Ricardo Mourinho Félix reconhece que seria “nefasto” para o banco se a ajuda fosse considerada ilegal, como parecia indicar que seria isso que iria acontecer. A Comissão Europeia já tinha avisado também que o governo que viesse a tomar posse teria de avançar com o processo e tentar resolvê-lo até ao final do ano, se não depois teria arcar com as consequências.

PSD PUXA AS ORELHAS A MOURINHO FÉLIX

Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD, criticou no início da Comissão Parlamentar de Inquérito o facto de o secretário de Estado das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, ter escrito já três artigos de opinião sobre o caso Banif, sublinhando que se tratava uma “falta de respeito” pelo parlamento uma vez que ele iria ser ouvido pelos deputados. Mourinho Félix respondeu que respeita a opinião de Abreu Amorim, mas esclareceu que sempre aprendeu que quanto mais informação sobre um assunto melhor, e foi isso que tentou fazer.

Banif. As quatro farpas de Mourinho Félix

Sexta-feira, Maio 6th, 2016

Citamos

Observador

O secretário de Estado do Tesouro e Finanças esteve esta quarta-feira na comissão parlamentar de inquérito ao Banif. Ao fim de duas horas de audição, só o actual Governo escapou às suas farpas.

A anterior ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, sabia mais do que disse; o Banco de Portugal não fez o que seria de esperar; Bruxelas dificultou toda e qualquer solução; e a gestão do Banif não estava coordenada. Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado do Tesouro e Finanças, respondeu esta quarta-feira perante a comissão parlamentar de inquérito à venda do Banif e não poupou ninguém, à exceção do atual Executivo. Só nas primeiras duas horas de audição lançou quatro farpas.

 O anterior Governo ocultou informação

Ricardo Mourinho Félix garantiu aos deputados que a primeira vez que lhe foi comunicado, por fontes oficiais, que o Banif tinha um problema foi numa reunião que decorreu “logo após as eleições”, a 12 de outubro. Nessa altura, Mourinho Félix, bem como Mário Centeno, atual ministro das Finanças, encontraram-se com Maria Luís Albuquerque, que ainda era titular da pasta, e com a sua equipa de secretários de Estado, para falar de cenários macroeconómicos e das projeções que os partidos tinham usado durante a campanha eleitoral.

“No final da reunião a Maria Luís diz que há um conjunto de informação que nos queria comunicar”, relata Mourinho Félix. A então ministra quis falar sobre a TAP, e sobre o Banif. “É dito na altura que a situação é bastante grave, que vai ter de ser resolvida até ao final do ano e que deixar passar para 2016 seria muito grave”, conta o atual braço-direito de Mário Centeno. Mas, “não é feita referência ao processo de venda voluntária”, garante.

Mais tarde, na transição de pastas do anterior Governo para o Executivo liderado por António Costa, num encontro que decorreu no dia 26 de novembro, também “não se fala do processo de venda voluntária”, assegura. E atira a primeira farpa: “Nesta altura estariam a ser assinados os acordos de confidencialidade.” Implícita fica a ideia de que o anterior Governo tinha mais informação do que aquela que partilhou.

Além disso, as declarações de Mourinho Félix contradizem as de Maria Luís Albuquerque na comissão de inquérito. Segundo a atual deputada do PSD, só a 12 de novembro terá tomado conhecimento de que o problema do banco teria de ser resolvido até ao final do ano. Ora, Mourinho Félix garante que naquela reunião o problema do Banif foi apresentado como “iminente” em outubro.

Por fim, o governante assegura que o anterior Executivo teve “claramente a intenção de nada fazer durante o ano de 2015, até às eleições”. E descreve uma série de cartas onde se pede adiamento de prazos, sendo que a última é de agosto “e a [então] ministra pede um adiamento de três meses, que vai parar a novembro, portanto, depois das eleições”.

O Banco de Portugal não fez o que seria de esperar

“O banco de transição esteve em cima da mesa. Só desaparece na sequência da comunicação por email do Banco de Portugal ao ministro das Finanças, [com a justificação de que] o Mecanismo Único de Supervisão com elevada probabilidade se iria opor” — é assim que Mourinho Félix arruma a questão do banco de transição e, de caminho, também o governador Carlos Costa.

O secretário de Estado assume que foi só na semana passada, com a presença do vice-governador Carlos Albuquerque, diretor de supervisão prudencial do banco, na comissão parlamentar de inquérito, que ficou a saber que “o banco de transição não foi rejeitado, porque não foi proposto”.

 “Erroneamente pressupus que tinha sido levada uma proposta, mas que tinha sido recusada. Não me passaria pela cabeça que nem sequer fosse apresentada uma proposta. Nem me foi transmitido que que não chegou a ser proposto”, sublinha.

Bruxelas deixou poucas alternativas

Mourinho Félix descreve a atuação das autoridades europeias como muito limitante das escolhas em cima da mesa. Diz que a Comissão Europeia desconfiava da informação do Banif e que não acreditava na viabilidade do banco, a menos que este restringisse a sua atividade às ilhas.

O secretário de Estado acusa as autoridades comunitárias de não quererem sequer aquilo a que chamou o “processo sequencial”, que correspondia a primeiro tentar uma venda do banco, com propostas a serem entregues até 18 de dezembro, mesmo que a probabilidade de chegarem a bom porto fosse limitada. Mourinho Félix explica que a ideia seria sobretudo “identificar” os potenciais interessados caso se concretizasse o destino mais provável, a resolução do banco. Mourinho Félix garante que o Governo bateu o pé à direção-geral da Concorrência (DGComp) e exigiu a solução sequencial.

Mas esta não foi a única farpa atirada a Bruxelas: segundo o governante, as autoridades comunitárias colocaram exigências tais aos bancos que participariam na compra da atividade do Banif que retirou da corrida a maior parte das instituições financeiras. A DGComp colocou três condições: “O banco tem de ser comercial, tem de ter uma dimensão relevante em Portugal e o seu balanço tem de ser três vezes o do Banif, devendo o Banif deixar de existir como entidade autónoma”, revelou Mourinho Félix.

Perante estes dados, só havia dois bancos: o Montepio Geral e o Santander. O governante diz que o Governo “escalou a questão para o nível político” e exigiu uma reunião com a comissária da Concorrência, Margrethe Vestager. Depois de uma conversa, o Executivo conseguiu que fossem aceites propostas de todos os bancos, sendo depois analisadas e validadas individualmente.

 Gestão do Banif não estava coordenada

O banco é descrito por Mourinho Félix como uma instituição muito pouco credível, que enviava tabelas descritivas dos créditos concedidos de onde desapareciam umas operações e apareciam outras. Além disso, o próprio conselho de administração não estava alinhado. Enquanto Miguel Barbosa, o administrador não executivo nomeado pelo Estado para o Banif, defendia a proposta da consultora N+1, Jorge Tomé, que liderou a instituição entre 2012 e 2015, e Luís Amado, o presidente não executivo de 2012 até à resolução, “não estavam totalmente alinhados e empenhados neste processo.”

E descreve: “Estavam também à procura de compradores, referiram contactos com o Banco Popular, mas quando falaram do N+1 havia ali uma grande desconfiança. Havia um sentimento sobretudo do Jorge Tomé de que o processo do N+1 dependia da boa vontade da DGComp e que por isso dificilmente chegaria a bom porto.”

Mourinho Félix: Concorrência exigiu requisitos ao comprador do Banif onde só cabia o Santander

Quarta-feira, Maio 4th, 2016

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Económico

A integração do Banif na CGD foi proposta no dia 3 de Dezembro, garante o secretário de Estado que, a 8 de Dezembro, recebeu um mail de Bruxelas a informar que a CGD tinha um auxílio do Estado e estava em incumprimento.

A integração do Banif na Caixa foi proposta à DG Comp no dia 3 de Dezembro, pelo Secretário de Estado do Tesouro e Finanças, no mesmo dia em que se reuniu para discutir a venda voluntária do Banif. No entanto, depois de alguma abertura por parte de Bruxelas, rapidamente surgiu a recusa. “Inicialmente houve uma abertura de estudar o assunto, mas no dia 8 de Dezembro recebo um mail da DG Comp [autoridade europeia da Concorrência]que recusa liminarmente esta hipótese”, lamentou hoje o governante, falando na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso Banif.

Ricardo Mourinho Félix conta que, a 8 de Dezembro, recebeu um mail de Bruxelas a informar que a CGD tinha um auxílio do Estado e estava em incumprimento com o pagamento dos CoCo´s e não podia ser levantada a proibição de fazer aquisições. Além disso, o Banif tinha um défice de capital e, antes de ser integrado na Caixa tinha de ser capitalizado, portanto tinha de receber uma ajuda de Estado. Ora, sendo uma ajuda estatal antes de integrar a CGD, seria na prática uma ajuda de Estado à CGD e, para isso, teria a Caixa que ser alvo de uma resolução.

No âmbito dessa discussão o governante ficou a saber pela DG Comp, “quando se discutia com o Banco de Portugal, a recapitalização da CGD discutia-se como se se tratasse de uma injecção de capital na Caixa com bens públicos, mas a DG Comp esclarece que essa recapitalização seria feita através de um instrumento que se designa de Government Financial Estabilization Tool. Ora esta ferramenta só pode ser usada em contexto de Resolução.

Isto é, depois de fazer o bail-in, e depois do Fundo de Resolução chegar ao limite que são os tais 5% de passivos, “bem isso pode não chegar, se não chegar então pode-se recorrer ao OE para obter capitais adicionais. É para este cenário que existe este instrumento, que serve para recorrer ao OE, para evitar a liquidação do banco (e porque isso pode ter efeitos nefastos). É aliás por isso que se tem de fazer um cálculo dos dois cenários (resolução versus liquidação) para ver qual deles é o mais oneroso para os contribuintes”.

Numa das cartas de compromisso [‘commitment letters’], explica Mourinho Félix, que serve para definir a partilha de custos inerentes à ajuda de Estado, e que prevê eliminar eventuais desequilíbrios na concorrência, ainda se inclui o processo de integração na CGD, mas logo foi abandonado.

Ao fim da segunda carta de compromisso, Bruxelas entrou em crispação com o Estado português e exige imediatamente uma de duas coisas: ou resolução ou venda voluntária sem rede de apoio. O Governo diz que só estaria disponível para assumir um compromisso no âmbito de uma venda voluntária. A DG Comp aceitou com alguma relutância. Se não tivesse sucesso, avançar-se-ia para uma resolução com um banco de transição.

No dia 14 de Dezembro, a DG Comp diz em tele-conferência que “só aceita um comprador em contexto de resolução que cumpra os seguintes critérios: tem de ser um banco comercial; que tenha uma presença significativa em Portugal; que tenha um balanço que seja três vezes o do Banif em Portugal e que o Banif tenha de deixar de existir como entidade autónoma” (fazer desaparecer a marca), explicou o secretário de Estado.

“Ora do primeiro ao oitavo banco em Portugal, e excluindo os que tinham uma proibição de aquisição por ter ainda CoCo´s a pagar ao Estado – CGD e BCP – só havia dois bancos com condições de cumprir os requisitos de Bruxelas [não falou do BPI], um seria o Montepio Geral que me dispenso de a explicar porque é que não tinha condições para o fazer, e o outro chamava-se Banco Santander Totta. E é aí que há discussão com a DG Comp, exaltada, pois eu disse que essas condições equivaliam a pôr lá um nome. Achava no mínimo estranho e totalmente inaceitável que tal fosse feito. Aí, a DG Comp diz-me que a sua função é assegurar que todos os bancos tenham condições de igualdade no mercado, mesmo que só haja um banco. Não que haja muitos bancos no mercado”, afirmou Ricardo Mourinho Felix.

“Nessa altura, a DG Comp flexibilizou um dos requisitos e alargou-o de três vezes o balanço do Banif em Portugal para cinco vezes a nível global, isso abriu espaço para entrar o Banco Popular Portugal. A presença em Portugal podia não ser significativa e passou a admitir que o Banif pudesse subsistir numa base ‘stand-alone’, mas teria de abandonar o nome Banif, e nesse caso teria de reduzir muito o pessoal, fechar um numero significativo de balcões e tinha que ter, pasme-se, um ROE de 10%, o que é extremamente restritivo por ser muito difícil de atingir”, explicou.

O governante acabou a reunião a decretar que se elevasse a conversa a nível político para a comissária da concorrência.

A possibilidade de integrar o Banif na CGD proposta na reunião é uma proposta que tinha o aval de todo o Governo PS. O secretário de Estado diz que considerava à altura o Banif um banco público, “assim que os CoCo´s fossem convertidos tornar-se-ia um banco público”. “O ideal é que, não havendo compradores, o Banif fosse integrado na Caixa e assim gerasse algum capital e algumas sinergias na CGD, explorando as vantagens e o valor que restava no Banif”. O Secretário de Estado disse que Banco de Portugal concordava com esta integração, mas apresentou três hipóteses alternativas. Uma que basicamente era esta mas considerando uma recapitalização interna (bail-in) com dívida sénior e dívida subordinada. A segunda era uma recapitalização interna com um banco de transição, ou aquilo que veio a acontecer com recapitalização interna com a venda da actividade bancária.

Foram todas as hipóteses analisadas, mas a integração na CGD morreu no dia 8 de Dezembro.