Archive for the ‘Ministra das Finanças’ Category

“O pecado original” e os responsáveis pelo Banif. Eurico Brilhante Dias apresenta relatório

Sexta-feira, Julho 22nd, 2016

Citamos

Observador

Eurico Brilhante Dias está a apresentar “quatro ou cinco aspetos” do relatório da Comissão de Inquérito ao Banif, que já foi entregue aos deputados e será discutido na próxima semana.

Eurico Brilhante Dias, relator da Comissão de Inquérito ao Banif, apresentou esta sexta-feira “quatro ou cinco aspetos” das conclusões do relatório que já foi entregue aos deputados e será discutido na próxima semana. O relatório defende que os primeiros responsáveis pela situação a que chegou o Banif foram os acionistasque levaram o banco a uma “situação insustentável” até 2011/2012, antes da ajuda pública. Mas o relatório contém fortes críticas à supervisão do Banco de Portugal e ao Governo de Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque.

As acusações de Eurico Brilhante Dias foram feitas na Assembleia da República, numa conferência de imprensa convocada à última hora. Brilhante Dias sublinhou que a sua comunicação foi feita na qualidade de relator da Comissão de Inquérito e não como deputado do Partido Socialista. Brilhante Dias preferiu convocar a conferência de imprensa para “salvaguardar o trabalho” e evitar que surjam informações dispersas nos próximos dias.

A opção metodológica foi de dividir o trabalho em três questões fundamentais:

  • Como ou em que circunstâncias é que o Estado português injetou 1.100 milhões em janeiro de 2013?
  • Como é que foi possível que, de janeiro de 2013 a dezembro de 2015, Portugal não tenha conseguido entregar em Bruxelas um plano de reestruturação que fosse aprovado?
  • Que decisões foram tomadas e que levaram à resolução do banco, no final de 2015?

Os acionistas do Banif

O relatório liderado por Eurico Brilhante Dias defende que “o Grupo Banif tinha um modelo de negócio insustentável, uma exposição fortíssima ao setor imobiliário que era, diria, diferente do setor financeiro”. Havia “modelos de controlo de risco absolutamente precários — 50% dos casos mais penalizantes (auditoria forense) para os resultados foram casos em que a decisão de crédito foi tomada contra o parecer dos comités de risco do Banif”.

“O banco não tinha uma estrutura de acionistas que fosse capaz de garantir o reforço dos capitais. Por isso, desde fevereiro de 2012 a novembro de 2012 passámos de necessidades de 440 milhões para 1.100 milhões”, concluiu o deputado.

Nunca é demais sublinhar, afirmou Eurico Brilhante Dias: “os primeiros responsáveis pela situação do Banif foram aqueles que foram responsáveis pela administração, os acionistas, que levaram o banco a chegar à situação a que chegou em 2012”.

A supervisão do Banco de Portugal

O relatório sublinha que a supervisão do Banif foi ineficaz: “aquilo que o senhor Governador chamou nesta casa de light supervision não teve eficácia”.

Eurico Brilhante Dias lembra que foi dito que o Banif estava “no ponto intermédio das melhores práticas bancárias. Se o Banif estava no meio da tabela, nem quero pensar o que seriam as más práticas”, afirmou o relator.

Eurico Brilhante Dias lembra que foi dito que o Banif estava “no ponto intermédio das melhores práticas bancárias. Se o Banif estava no meio da tabela, nem quero pensar o que seriam as más práticas”, afirmou o relator.

Além disso, o relator lembra que o Banco de Portugal deu um parecer favorável à capitalização pública do banco, na situação em que estava. “Deu um parecer a 27 e outro a 28 de dezembro [de 2012] e esse segundo parecer reforçava que a capitalização pública era a melhor forma de salvaguardar o sistema financeiro”, afirmou o deputado. O relator lembrou, também, que “a troika participou na definição dos requisitos para o plano. Mas a DGComp também acompanhou este processo desde que a então secretária de Estado Maria Luís Albuquerque teve dar satisfações por injetar 1.100 milhões no banco.

Eurico Brilhante Dias lembrou que a autoridade da concorrência europeia, ainda no tempo do comissário Almunia, impôs a redução significativa do Banif. “O pecado original”, diz Brilhante Dias, foi ter sido imposta essa restrição (o chamado banco das ilhas) mas essa restrição nunca foi incorporada pelo Banco de Portugal nas suas análises de viabilidade. “Todas as afirmações de viabilidade do banco prévias à capitalização não têm incluída uma redução dos ativos que a DGComp já queria em finais de 2012”, afirma Eurico Brilhante Dias.

A DGComp queria uma redução entre 60% e 70% do ativo. Os planos apenas falavam 23%. O banco corria o sério risco de em janeiro de 2013 perder o estatuto de contraparte. Se a decisão de recapitalização não fosse tomada, poderia perder-se o estatuto de contraparte no início de 2013, o que criaria um risco de liquidação”.

O colapso do Banif poderia ter sido evitado se o “Banco de Portugal tivesse conseguido antecipar algumas coisas que só começou a dizer em abril de 2015, que o banco tinha lacunas em várias áreas, na classificação de imóveis, lacunas com impactos graves nas demonstrações financeiras”, acusa Brilhante Dias.

Contudo, o relator defende que não identifica “falha grave” na atuação do Governador do Banco de Portugal. Este ponto é importante porque identificar uma “falha grave” seria o motivo que poderia justificar o afastamento de Carlos Costa do cargo.

As críticas ao governo e a Maria Luís Albuquerque

O relatório de Eurico Brilhante Dias remata que a resolução aplicada ao Banif “é uma responsabilidade do XIX Governo Constitucional”, isto é, o governo de Passos Coelho e Vítor Gaspar/Maria Luís Albuquerque. Isto porque o Estado era não só o acionista como o último responsável pela estabilidade financeira.

Eurico Brilhante Dias afirma que houve oito versões do plano de reestruturação mas que, a dada altura, se “perdeu tempo precioso com a tentativa falhada de substituição” da administração liderada por Jorge Tomé, o que levaria à abertura do processo de investigação aprofundada por parte das entidades europeias.

Houve, ainda assim, oito versões, nenhuma aprovada pelas autoridades europeias. Brilhante Dias lembra que “era Portugal quem as apresentava — todas tinham erros, falta de fiabilidade nos dados, estavam constantemente a aparecer novos dados, sempre piores. A DGComp teve sempre a possibilidade de dizer que os planos eram de “fraquíssima qualidade”, como aparece nas missivas trocadas na altura, diz o deputado.

“Deu-se sempre à DGComp argumentos suficientes para que esta rejeitasse os planos de reestruturação”.

Assim, a 17 de novembro, numa reunião em que estava presente o Banco de Portugal e o Ministério das Finanças (por teleconferência), “a DGComp informou que o Banif era um problema para resolver em 2015”. Eurico Brilhante Dias diz que “quando o novo Governo tomou posse, em finais de novembro, o calendário já estaria definido. Haveria venda ou resolução, sendo que resolução em 2016 criaria um risco de perdas para os depositantes”, o que lançaria um clima de desconfiança grave e faria de Portugal o primeiro país a ter um banco resolvido ao abrigo das novas regras.

“A situação era uma situação de urgência”, diz Eurico Brilhante Dias. “O BCE rejeitou a solução de banco de transição, há a notícia da TVI e acabamos por chegar a uma situação em que no dia 18 se recebem quatro propostas, só três das quais vinculativas e nenhuma com valores líquidos positivos, portanto o banco foi para resolução”.

“A solução de resolução foi má, mas foi para evitar uma solução péssima”, diz Eurico Brilhante Dias.

 

Comissão Europeia acusa Portugal de inacção no caso Banif

Terça-feira, Junho 21st, 2016

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Público

Numa resposta por escrito aos deputados, Bruxelas distribui responsabilidades pelo Governo anterior, o BdP e a gestão do banco e diz que este caso “contrastou fortemente” com a de outros bancos portugueses. Mário Centeno foi o último a ser ouvido na comissão de inquérito. E houve “farsa”.

“Desde que a aprovação temporária da ajuda do Estado foi aprovada em Janeiro de 2013, a Comissão instou repetidamente Portugal a agir no caso Banif.” Esta é uma das várias críticas que se podem ler numa extensa resposta, de 59 páginas, que a Comissão Europeia enviou esta terça-feira aos deputados da Comissão de Inquérito ao Banif.

“A Comissão foi muito clara em cada momento sobre as diferentes versões das propostas de planos de reestruturação enviados pelas autoridades portuguesas, e que não permitiriam o regresso da viabilidade ao Banif. As diferentes versões tinham em comum, entre outras coisas, dados de muito fraca qualidade, projecções de rentabilidade irrealistas e sem fundamento”, prossegue a resposta, num tom muito crítico, embora em linha com o que já se sabia da tensa relação que Lisboa e Bruxelas mantiveram, sobre o Banif, ao longo de quase quatro anos.

E esse longo período também serve para um remoque da Comissão, que garante ter “aprovado planos de reestruturação em Portugal que foram implementados (por exemplo no BCP e no BPI)”. “As decisões, nesses casos, foram tomadas em menos de 18 meses após o início das discussões. Isso contrasta fortemente com a duração das discussões sobre o Banif que se estenderam por mais de três anos”, compara a Comissão Europeia.

Foi apoiado nesta versão dos factos, contada por Bruxelas, que Mário Centeno regressou à sala 1, onde decorre o inquérito parlamentar ao fecho do Banif. Pela terceira, e última, vez. É que o ministro das Finanças é a última personalidade a ser ouvida pelos deputados, que agora se preparam para debater o relatório, que apresentará as conclusões, e será escrito por Eurico Brilhante Dias, do PS.

Não houve grande diferença entre o que o ministro disse, esta terça-feira, e o que aqui tinha dito nas duas vindas anteriores (a 7 e 19 de Abril). Aliás, o tom desta audição não era o de uma última, mas talvez o de uma primeira.

O ministro voltou a acusar o Governo anterior, e sobretudo Maria Luís Albuquerque, por não ter agido a tempo para minimizar os custos que o Banif veio a ter para os contribuintes. Centeno disse mesmo que antevia na sua antecessora uma “pesada consciência”. E logo começou o burburinho.

Nas respostas a Mariana Mortágua, BE, o ministro recordou as reuniões que teve com Maria Luís Albuquerque, antes e imediatamente depois de tomar posse. E garantiu que lhe foi transmitido que “havia uma urgência significativa” em resolver o problema do Banif. E aí o governante socorreu-se do teor das declarações oficiais de Bruxelas que chegaram aos deputados: “É reconhecido pela Comissão que este é um processo anormal.” Foi ainda nesta ronda inicial que o ministro ensaiou, também a sua desculpabilização, que se resume numa ideia: como poderia em pouco mais de um mês, até à entrada em vigor da nova legislação sobre resolução que penaliza depositantes, resolver o que não se resolveu nos anos anteriores? Centeno repetiu esta ideia, também a propósito da venda do banco: “Devia esperar que aquilo que não aconteceu em três anos acontecesse em três meses?” O ministro tira uma conclusão. Foi “o arrastar de tudo isto” que “levou a que este fosse, infelizmente, o resultado”. “Infelizmente”, garante Centeno, porque não foi barato…

Miguel Tiago, PCP, elogiou a “clareza superior ao habitual” da resposta da Comissão e concluiu, pelo que leu, que “o anterior Governo foi no mínimo negligente”. Mas como o deputado, antes, tinha pedido que o documento (em inglês no original) fosse traduzido, ouviu-se um comentário irónico do outro lado da mesa. Carlos Abreu Amorim, PSD, disse que a conclusão do deputado comunista se devia a uma interpretação errada do inglês. Miguel Tiago respondeu, com aspereza: “Jamais considerarei as suas opiniões políticas por o julgar mais ou menos letrado.”

Mas o deputado do PCP procurou questionar o ministro sobre o presente, pedindo-lhe que deixasse de parte “as alusões ao passado”. E que desse garantias de que os créditos que os Estado assumiu do Banif não sejam, agora, “comprados com desconto pelos devedores”.

Centeno: supervisão do sistema financeiro tem sido “dececionante”

Quarta-feira, Maio 18th, 2016

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Diário de Notícias

Centeno afirmou que importa refletir acerca do sistema de supervisão financeira com três entidades separadas

O ministro das Finanças, Mário Centeno, manifestou hoje a sua deceção com os acontecimentos recentes na banca portuguesa, depois de as autoridades terem intervencionado o BES e o Banif, e defendeu uma supervisão mais eficiente.

“O sucesso do sistema financeiro em Portugal depende de um supervisão que funcione melhor. A experiência recente do nosso sistema financeiro é dececionante”, disse Centeno durante uma conferência sobre o setor bancário que se realizou em Lisboa.

O governante analisou o período que se seguiu ao fim do programa de ajustamento português (pós-troika), considerando que “o sistema de supervisão financeira deveria ter tido a capacidade de atuar de forma coordenada”. E realçou: “O agudizar das situações e a inação operacional não contribuem para os problemas serem resolvidos”.

Centeno sublinhou que “o setor bancário e a economia dependem um do outro” e que “o setor bancário é um parceiro fundamental para o desenvolvimento da economia portuguesa”, pelo que os bancos têm que promover modelos de negócio sustentáveis e com serviços de excelência para os clientes. “O contexto regulatório é cada vez mais exigente e assim vai continuar a ser no futuro”, vincou.

Apesar das dificuldades recentes vividas por algumas instituições – o BES foi intervencionado no verão de 2014 e o Banif em dezembro de 2015 -, Centeno realçou que a crise levou à saída de volumes significativos de depósitos noutros países, algo que não aconteceu em Portugal.

O governante voltou a debruçar-se sobre a questão da supervisão financeira, frisando que em Portugal está em vigor o modelo com três entidades de supervisão e regulação, cada qual para o seu setor: Banco de Portugal, Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF). E questionou: “Devem ser vários? Deve ser um único regulador?”.

Centeno anotou que na Europa existem diferentes modelos de supervisão, alguns assentes numa divisão entre os “pilares gémeos”, isto é, a supervisão prudencial e a supervisão comportamental, independentemente da área em causa.

Em Portugal, desde já, o ministro defendeu a importância de um Conselho de Supervisores Financeiro “forte e independente”, considerando que “este órgão carece de um reforço de competências” e deve constituir um eixo de comunicação entre as várias autoridades de supervisão.

Mais, o responsável pela pasta das Finanças considerou que “a autoridade de resolução deve ser independente da autoridade de supervisão financeira” e disse que o executivo está aberto a uma “reflexão profunda” sobre a matéria.

Banif. PSD admite enviar depoimento de Centeno para o Ministério Público

Quinta-feira, Abril 21st, 2016

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Ionline

PSD prepara-se para encostar o ministro das Finanças à parede, propondo o envio para a justiça daquilo que considera ser uma “mentira” à comissão de inquérito

O PSD insiste em que Mário Centeno mentiu à comissão de inquérito do Banif. Ontem, o ministro das Finanças veio ao parlamento reiterar não ter intercedido a favor da proposta do Santander, mas os deputados sociais-democratas registaram que, desta vez, Centeno admitiu ter feito um telefonema à presidente do Conselho de Supervisão do BCE, Danièle Nouy.

Face às alegadas contradições de Centeno, no PSD discute-se a possibilidade de extrair uma certidão das declarações do ministro e enviá-la ao Ministério Público. É que as declarações prestadas numa comissão de inquérito equivalem em termos legais aos depoimentos feitos perante um tribunal penal. Por isso, uma mentira constitui crime de falsas declarações.

Centeno havia garantido, na primeira audição na comissão Banif, que não tinha tomado qualquer iniciativa para favorecer o Santander. Mas num email revelado pelo grupo parlamentar social-democrata, Danièle Nouy, líder do conselho do Mecanismo Único de Supervisão, indica que respondeu a um pedido de Centeno para desbloquear a venda do Banif ao banco espanhol.

O ministro admitiu ontem ter feito o telefonema para Nouy, mas justificou que o intuito foi solicitar “os bons ofícios” do BCE para ultrapassar as restrições que estavam a ser colocadas pela Comissão Europeia quanto ao processo de venda do Banif. “As diligências aproveitariam a qualquer interessado na compra do Banif”, argumentou Centeno. E, acrescentou, à hora a que o telefonema ocorreu, “apenas tinha sido recebida a proposta do Banco Santander Totta, tendo as restantes sido recebidas em momento posterior”.

Esta versão do ministro não convence os sociais-democratas. “Há uma mentira”, insiste ao i um dos deputados do PSD na comissão, defendendo que “prestar falsas declarações é crime”. Oficialmente, o PSD ainda não discutiu internamente o assunto, mas o i sabe que os sociais-democratas tencionam levantar a questão na próxima reunião da mesa da comissão, que deve acontecer até ao final da semana.

A dúvida, agora, entre os deputados do PSD é se, independentemente da decisão da comissão, levam o caso ao Ministério Público. “É um assunto que tem de ser votado na comissão, mas claro que a geringonça pode bloquear a extração de uma certidão para participar o crime ao Ministério Público”, admite um parlamentar.

No PSD há, porém, quem acredite que, independentemente de a comissão participar o crime, “é dever do Ministério Público agir quando há declarações que são públicas e constituem crime”.

“Isto não pode ser ‘o da Joana’. Não se pode criar a ideia de que as pessoas podem vir mentir às comissões”, defende uma fonte do PSD, que lembra outro caso que pode ser também participado ao Ministério Público: o das declarações de Ricardo Salgado durante a comissão do BES. Salgado garantiu na altura que não tinha qualquer offshore no Panamá, em resposta ao deputado do PSD Carlos Alberto Amorim. Agora, os dados avançados pela investigação jornalística sobre os Papéis do Panamá revelam que o banqueiro mentiu. “É outro caso em que o Ministério Público devia atuar”, defende a mesma fonte.

No caso do BES, com a comissão já extinta, a iniciativa não pode passar pelo parlamento. “Como estamos a falar de declarações que são públicas, o Ministério Público pode agir”, considera o deputado, que também nesse caso não descarta a possibilidade de os sociais-democratas apresentarem uma participação contra Ricardo Salgado pelo crime de falsas declarações.

O caso de Centeno é, porém, a grande prioridade do PSD. Com Maria Luís Albuquerque debaixo de fogo na comissão do Banif, os sociais-democratas não querem deixar cair as contradições que descredibilizam o ministro das Finanças de António Costa.

“O que Centeno disse é tanto mais grave quanto agora vem reconhecer que o telefonema foi feito ainda antes de haver outras propostas. Ou seja, antes de o concurso chegar ao fim, já estava a defender a proposta do Santander”, aponta uma fonte do PSD.

Como o ministro nega ter intercedido a favor de qualquer proposta e refuta o relato feito pela dirigente do BCE, Danièle Nouy será, agora, chamada pela comissão a dar a sua versão dos factos. Como não é obrigada a vir ao parlamento, poderá responder por escrito. Mas este depoimento é central para a estratégia que o PSD desenhou para uma comissão de inquérito que investiga também a atuação do seu governo e a forma como o caso Banif foi gerido pela então ministra das Finanças, que é agora vice-presidente de Passos Coelho na direção do partido.

Mário Centeno e Constâncio pediram para “desbloquear” venda do Banif ao Santander

Sexta-feira, Abril 15th, 2016

Citamos

Económico

Numa conferência de imprensa realizada esta quinta-feira, o PSD mostrou as declarações do ministro das Finanças na comissão de inquérito em que este, quando foi questionado pelos deputados do PSD, garantiu que nunca teve contactos com o BCE, nem com Vítor Constâncio, para pedir a aceitação da proposta do Santander Totta.

O PSD também divulgou o email em causa aos jornalistas, de Daniéle Nouy, presidente do conselho de supervisão do Banco Central Europeu datado de Sábado, dia 19 Dezembro. Nesse e-mail, publicado em fac-simile pelo “Observador”, a representante do BCE diz a alguém que não é identificado (o nome está rasurado) o seguinte: “Recebi ontem à noite chamadas de Vítor Constâncio e do Ministro das Finanças de Portugal, pedindo-me para desbloquear a oferta do Santander junto da Comissão Europeia. Correu muito bem e fui informada esta manhã sobre as discussões da noite passada. Agora, a Comissão Europeia e o Santander estão prontos para avançar quando as autoridades estiverem prontas”.

Daniéle Nouy faz mesmo referência a um mail enviado a Mário Centeno: “Encontrarão infra o email que eu enviei esta manhã ao sr. Centeno”, diz o documento.

“A minha recomendação é para se avançar rápido, abrir o processo de resolução (se isso ainda não foi feito), e coordenar muito bem o bail-in das obrigações do Banif…”, conclui no mail que é parte integrante das provas entregues à Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif.

Luís Marques Guedes citou esse mail na conferência de imprensa com os jornalistas, para demonstrar que afinal – ao contrário do que disse Centeno na comissão de inquérito, quando garantiu que nunca fez qualquer interferência em relação a nenhum comprador em particular, e que todas as intervenções que teve foram sempre no sentido de proteger o processo e de maximizar o número de potenciais candidatos no processo – quer o Ministro das Finanças português quer o vice-presidente do BCE pediram a Nouy para desbloquear junto da Comissão Europeia a proposta do Santander Totta para a compra do banco.

Ex-ministra diz que Ample não concorreu à compra do Banif

Quarta-feira, Abril 13th, 2016

Citamos

SIC com som

Maria Luís Albuquerque rejeita que a proposta de compra do Banif pelo fundo de Hong Kong fosse mais que uma manifestação de interesse. À entrada para a Comissão de Economia, onde está a ser ouvida no Parlamento, a antiga ministra das Finanças explicou porque é que o Governo não considerou a proposta da Ample.

O jornal Público noticiou hoje que, em maio de 2015, o governo de Passos Coelho não deu sequência a uma oferta da Ample Harvest Investment Capital, que estava disposta a pagar 700 milhões de euros pelas ações do Estado no Banif, escrevendo o jornal que esta proposta era mais do que uma “mera manifestação de interesse”, uma vez que tinha um valor de referência e admitia manter todos os empregos e balcões.

Questionada sobre esta matéria, hoje na Assembleia da República, a ministra das Finanças do governo anterior, Maria Luís Albuquerque, afirmou que se tratava de “uma manifestação de interesse como outras” que foram recebidas e que “esse investidor em particular nem sequer veio ao concurso”.

“Suponho que todos os documentos constem da comissão e, portanto, há de estar lá essa intenção como as outras. Era uma manifestação de interesse como outras que recebemos”, afirmou a agora deputada do PSD, acrescentando que o seu governo entendeu que “não havia condições na altura para abrir um concurso”.

“Estávamos a preparar o processo de reestruturação para abrir um concurso de venda que efetivamente aconteceu antes do final do ano e o investidor em causa, que é hoje referido nas notícias, nem sequer veio a esse concurso”, reiterou a ex-ministra.

Quando questionada sobre as razões que levaram o anterior executivo a não considerar esta proposta da Ample, Maria Luís Albuquerque afirmou que “quando o Estado tem uma participação para vender, tem de o fazer em determinadas condições”.

Por exemplo – especificou – “não o pode vender a ofertas particulares, teria de abrir um processo competitivo, teria de selecionar os compradores que viriam a comprar a participação do Estado”.

Maria Luís Albuquerque disse que, na altura, o governo de que fazia parte estava “muito empenhado em concluir o processo com a Direção-Geral da Concorrência [da Comissão Europeia]” e sabia que “seria impossível vender o banco sem que esse processo estivesse concluído”.

A 20 de dezembro, o Governo PS e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif com a venda da atividade bancária ao Santander Totta por 150 milhões de euros e a criação da sociedade-veículo Oitante para a qual foram transferidos os ativos não adquiridos pelo Totta.

O Banif S.A., que agora é o ‘banco mau’ – à semelhança do ‘banco mau’ BES – continua a existir, tendo ficado aí as posições dos acionistas e obrigacionistas subordinados e as operações que o banco tinha no Brasil e em Cabo Verde. No futuro, esta entidade será liquidada.

No âmbito da medida de resolução foi feita uma injeção de capital de 2.255 milhões de euros (valor líquido da receita obtida do Santander). Deste montante, 489 milhões de euros vieram do Fundo de Resolução, que é uma entidade incluída nas administrações públicas, e 1.766 milhões de euros vieram diretamente do Estado.

Com Lusa

Governo de Passos Coelho deixou cair uma oferta de 700 milhões pelo Banif

Quarta-feira, Abril 13th, 2016

Citamos

Público

A proposta do fundo de Hong Kong, Ample, era mais do que uma “mera manifestação de interesse”: Tinha um valor de referência, admitia manter todos os empregos e balcões. O fundo pedia para fazer uma due-diligence que não foi autorizada

Em Maio de 2015, o Governo de Passos Coelho não deu sequência a uma oferta da Ample Harvest Investment Capital (e recusou, então, abrir concurso público) que admitia pagar 700 milhões de euros pelas acções do Estado no Banif, o que se traduziria numa perda de 15% para os contribuintes que, na altura, tinham verbas em risco de 825 milhões. Sete meses volvidos, o banco acabaria por ser alvo de uma resolução pelo actual executivo com um prejuízo para o Tesouro que pode chegar a 3000 milhões.

A intenção de aquisição do controlo do Banif pela Ample Harvest Investment Capital não foi até hoje referida em nenhuma das audições da Comissão Parlamentar de Inquérito à venda (ao Santander) e à resolução do Banif. E onde já estiveram a prestar esclarecimentos alguns dos protagonistas do dossier: o actual ministro Mário Centeno, a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, o ex-responsável pela supervisão, António Varela (e ex-administrador do Banif em representação do Estado), e os dois ex-presidentes da instituição, Luís Amado (não executivo), Jorge Tomé (executivo).

A “carta” é do conhecimento de todos e foi enviada em meados de Maio de 2015 ao anterior Governo pelo fundo de Hong Kong, mas não consta sequer da extensa documentação remetida aos deputados pelas várias entidades. Embora não vinculativa, e sujeita a due dilligence, chegou acompanhada da estrutura da operação e do valor de referência da compra de 61% do capital nas mãos do Estado: cerca de 700 milhões de euros. E contemplava todo o perímetro da instituição, como a compra de toda a rede de balcões, a manutenção dos postos de trabalho do Banif e a seguradora Açoreana. Detalhes que não a tornavam uma “mera manifestação de interesse”.

Mas o veredicto foi não dar seguimento à proposta da Ample por se considerar que não era oportuna e implicar à partida uma perda para o Tesouro da ordem dos 15%. Em Maio o dinheiro dos contribuintes em risco no Banif era de 825 milhões, já que dos 1100 milhões de euros que o Estado injectou o banco já tinha devolvido 275 milhões.

Os representantes do Estado no Banif levantaram obstáculos ao pedido da Ample de iniciar uma due-diligence, o que foi aceite pela gestão de Tomé, apurou o PÚBLICO junto de um ex-responsável da tutela. Informação validada por uma fonte não oficial do supervisor. A posição das Finanças foi fundamentada pela deliberação de Dezembro de 2014 que pretendia dividir o banco em dois: num “banco bom”, a vender até final de 2017; num “banco mau”, um veículo especial onde seriam colocados os activos não estratégicos e problemáticos. Um argumento forte, pois a expectativa do Governo e do BdP era que a cisão viesse a valorizar o activo, uma análise que se veio a revelar um erro.

O impasse no tema Banif não é alheio àquela que parecia ser, em Maio de 2015, a grande preocupação: o êxito do concurso público de privatização do Novo Banco (onde o Estado aplicara 3900 milhões) e que enfrentava então sérias dificuldades. O que, aliás, ficou explícito em Setembro, pois não apareceram ofertas firmes. E hoje o banco continua sem ser vendido.

A coincidência de calendários entre o Novo Banco e o Banif e as prioridades políticas terão estado por detrás da opção do anterior executivo, e do BdP, de recusarem abrir um concurso público organizado de venda voluntária do Banif durante o primeiro semestre do ano passado, quando a situação financeira estava aparentemente estabilizada. E que teria possibilitado discutir a proposta da Ample.

Silêncio sobre a Ample

Na CPI Jorge Tomé nunca aludiu à Ample, mas disse, num aparte, que tinha recebido uma proposta com um valor de referência. E estranhamente nada mais adiantou. O PÚBLICO tentou ao longo de todo o dia de ontem entrar em contacto com o gestor, que esteve sempre indisponível.

Este é mais um dos “mistérios” a que CPI terá de dar resposta, até porque a iniciativa do fundo de Hong Kong está devidamente documentada nas Finanças e no BdP.

Nas audições na CPI quer a ex-ministra, quer o governador, quer António Varela deram como explicação para não terem conseguido ao longo dos últimos dois anos vender o Banif o facto de só terem recebido cartas com “meras manifestações de interesse”.

Bruxelas temia colapso do Banif desde 2013. E avisou Maria Luís

Domingo, Abril 10th, 2016

Citamos

Diário de Notícias

Comissão Europeia duvidava daviabilidade do banco e disse-o à ministra.

Nem a capitalização pública do Banif, feita em janeiro de 2013, serenou Bruxelas quanto ao futuro do Banif. Em julho do mesmo ano, a Comissão Europeia levantou sérias dúvidas sobre o plano de recuperação do banco e disse-o, preto no branco, ao anterior governo.
No chamado “verão quente” de 2013 – Maria Luís Albuquerque tinha tomado posse como ministra das Finanças há duas semanas -, o vice-presidente da Comissão Europeia e também comissário para a Concorrência, Joaquín Almunia, escreveu à governante para expressar as suas “preocupações com o Banif”. “Tanto no que respeita ao incumprimento da decisão de resgate [por parte das autoridades portuguesas] como à avaliação acerca da viabilidade do banco”, pode ler-se na missiva que chegou à comissão parlamentar de inquérito.

Na carta, de 16 de julho, o espanhol aludia ao “compromisso” assumido pelo Estado português de que o Banif iria proceder a um aumento privado de capital e de que a ajuda pública seria restituída – condições que Bruxelas, de resto, estabelecera para viabilizar a injeção 1100 milhões de euros (700 milhões em ações especiais e 400 milhões de capital contingente, os chamados CoCos) na instituição fundada por Horácio Roque.

Mas ia mais longe ao frisar que, “ao contrário das expectativas” da Comissão Europeia, o plano de reestruturação enviado para Bruxelas a 29 de junho não “preenchia os requisitos” previamente definidos. Notava Almunia que lhe faltava “credibilidade” e “coerência” e ainda que alguns “elementos-chave” não estavam contidos no documento ou que se encontravam “devidamente substanciados”.
E os recados não ficavam por aí. “A Comissão não pode tomar uma decisão final sobre o plano de reestruturação sem um adequado teste de stress, certificado pelo supervisor [o Banco de Portugal (BdP)], que demonstre que o banco não necessita de capital adicional mesmo sob um cenário de esforço financeiro”, observava Almunia – que um dia depois via a tese reforçada pelo diretor adjunto da Direção-Geral da Concorrência (DG Comp), Gert Jan Koopman, também numa missiva endereçada ao Ministério das Finanças.

Ministra Maria Luís Albuquerque tinha o caso Banif nas mãos desde a tomada de posse

Quarta-feira, Abril 6th, 2016

Citamos

Negócios

Maria Luís Albuquerque protagoniza esta quarta-feira a comissão de inquérito ao Banif. Ainda antes de suceder a Vítor Gaspar, já o Banif era um caso. Que herdou quando ascendeu a ministra. E que deixou para o sucessor.

É Verão. Vítor Gaspar abandona o Ministério das Finanças. Maria Luís Albuquerque é a substituta escolhida por Passos Coelho. A secretária de Estado é promovida a ministra, mesmo contra Paulo Portas (que avançou para a demissão “irrevogável” que acabou por deixar cair). A 2 de Julho de 2013, Cavaco Silva concede a posse à governante. Um dos dossiês que estão em cima da secretária é o caso Banif, com que já se tinha cruzado enquanto secretária de Estado. Apesar do seu envolvimento, como provam as várias cartas que têm sido noticiadas, o assunto ficou para o seu sucessor.

“Estou a escrever-lhe para mostrar as minhas preocupações em torno do Banif, tanto pelo não cumprimento da decisão de resgate como pela avaliação da viabilidade do banco”. É esta uma possível tradução do arranque da carta assinada por Joaquín Almunia, datada de 16 de Julho de 2013. Foi enviada menos de duas semanas depois da tomada de posse, ao ponto de o vice-presidente da Comissão Europeia, antes de assinar a missiva, desejar “o melhor para as novas responsabilidades” de Maria Luís Albuquerque.

As dúvidas da Comissão Europeia são relativas – como veio a acontecer entre a injecção estatal do início de 2013 e a resolução, no final de 2015 – ao plano de reestruturação do banco apresentado pela gestão de Jorge Tomé. Só com garantias de viabilidade é que o banco podia ser mantido em funcionamento.

Na resposta a Almunia, enviada de 19 de Julho, Maria Luís Albuquerque agradece os desejos vindos de Bruxelas. “Espero sinceramente que existam muitas oportunidades para lidarmos, de forma construtiva, com todos os desafios que temos pela frente”.

E, de facto, houve. Durante vários meses. Por exemplo, em Maio de 2015, já com Margareth Vestager como comissária europeia, Bruxelas responde ao Negócios ao garantir que estava “em contactos construtivos com as autoridades portuguesas” sobre o caso Banif. Em causa estava um braço-de-ferro entre a administração do banco, os pedidos do Ministério para uma actuação e a pressão de Bruxelas. Maria Luís Albuquerque continuava aqui como ministra das Finanças e foi ela que teve de enfrentar a decisão da Direcção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia para abrir uma investigação aprofundada à injecção de 1,1 mil milhões de euros estatais na instituição financeira.

Daí que Maria Luís Albuquerque seja uma das peças centrais no caso Banif, segundo os deputados, que a colocaram na lista inicial de audições. E são várias as cartas em que a ministra é envolvida. Ainda esta quarta-feira, o jornal i compilou missivas da ministra, nomeadamente quando informa Bruxelas de que convidou pelo menos três pessoas para substituírem Jorge Tomé na liderança do banco mas que nenhum aceitou o convite.

A ministra, que foi reconduzida no governo de Passos Coelho que foi chumbado pela esquerda no Parlamento, não colocou um ponto final ao dossiê Banif. Foi Mário Centeno que lidou com a aplicação da medida de resolução a 20 de Dezembro de 2015.

Maria Luís Albuquerque – cujo novo emprego como administradora não executiva da empresa britânica Arrow está a ser avaliada pela subcomissão parlamentar de ética – é a sexta personalidade a ser inquirida na comissão de inquérito ao Banif.

Maria Luís disse a Bruxelas que solução para o Banif só com o novo governo

Quarta-feira, Abril 6th, 2016

Citamos

Observador

Em carta à comissária da Concorrência, ex-ministra das Finanças assume em setembro que já não havia tempo para dar os passos necessários a uma solução antes das eleições. E remete para novo governo.

O último plano de reestruturação apresentado pelo Banif, em setembro de 2015, envolvia um novo auxílio estatal ao banco que teria não só de passar em Bruxelas, mas exigiria um orçamento retificativo aprovado na Assembleia da República. Esta necessidade foi reconhecida pela ex-ministra das Finanças que a apontou à comissária europeia da Concorrência como uma limitação à atuação do governo de coligação PSD/CDS na procura de uma solução para o Banif.

Maria Luís Albuquerque avisou: “Portugal está atualmente impedido de facto de tomar qualquer decisão nesta matéria. À luz do exposto,apenas após as eleições poderá o governo eleito ponderar uma proposta de decisão nesse âmbito”. Esta foi uma das cartas enviadas à comissão parlamentar de inquérito ao Banif que ouve esta quarta-feira a ex-ministra das Finanças.

Em carta enviada a Margrethe Vestager, com data de 18 de setembro de 2015, Maria Luís Albuquerque dá conta da resposta de Portugal à abertura de um processo de investigação aprofundada por ajuda de Estado, incluindo elementos preparados pelo Banif no sentido de avançar com um novo plano com “medidas de reestruturação revistas muito profundas que o banco considera irem, também, ao encontro das preocupações manifestadas pela Comissão, na sua carta de 24 de julho de 2015”.

Apesar de estas tarefas ainda não estarem executadas, Portugal “compromete-se desde já a desenvolvê-las no calendário mais curto que possa revelar-se exequível”. Maria Luís Albuquerque propõe, ainda, a realização de reuniões de trabalho e análise das soluções, envolvendo também o Banco de Portugal. No entanto, a ministra assinala a restrição do calendário eleitoral.

O plano proposto pelo Banif, que prevê a separação jurídica de ativos entre “banco bom” e “banco mau” exigida por Bruxelas desde 2014, exige mais capital, neste caso público porque não haveria investimento privado disponível sem a reestruturação aprovada.

E este novo esforço terá de ser avaliado pela Concorrência à luz das regras de ajudas de Estado, pelo que “deverá ter-se presente que a concessão de qualquer garantia estatal (ou de qualquer eventual medida de auxílio estatal) sugerida pelo banco implicaria, do ponto de vista orçamental, a adoção de uma decisão da Assembleia da República nacional no quadro da aprovação de um orçamento ou de uma alteração do orçamento vigente”.

Atendendo ao processo eleitoral em curso — o qual culminará nas eleições legislativas marcadas já para o próximo dia 4 de outubro de 2015 — Portugal está atualmente impedido de facto tomar qualquer decisão nesta matéria”.

À luz do exposto, apenas após as eleições, poderá o governo eleito ponderar uma proposta de decisão nesse âmbito e, se assim o entender, submeter uma qualquer proposta de decisão à Assembleia da República então eleita, sem prejuízo naturalmente as regras da União Europeia em matéria de auxílios de Estado”.

Na carta anterior a esta, datada de 24 de agosto e já depois da abertura formal de uma investigação aprofundada à ajuda ao Banif, a então ministra das Finanças, através da chefe de gabinete, comunica que está convocada a assembleia geral para eleger os órgãos sociais do banco. E que esse conselho, que continuava a ser liderado por Jorge Tomé e Luís Amado, teria a missão de apresentar um plano de saída do Estado do capital e um processo de reestruturação que fosse ao “encontro das orientações da Direção-Geral da Concorrência” e conduzisse “à aprovação do processo pela mesma”.

A “bomba” Banif acabou por rebentar nas primeiras semanas do governo de António Costa, mas foi durante a fase de negociações políticas para formar o novo executivo que se soube que poderia haver problemas no banco com impacto nas contas do Estado.

“Impasse negocial” que fez perder dois anos

Ora, a equipa que estava à frente do Banif era a mesma que tinha, ao longo dos últimos dois anos, recusado as imposições de Bruxelas para o redimensionamento da atividade, opondo-se sempre ao “Banco das Ilhas”, e que a ex-ministra das Finanças tentou, sem sucesso, substituir na primeira metade de 2015.

Para o governador do Banco de Portugal, as discussões com Bruxelas conduziram a um impasse negocial que foi prejudicial para o desfecho do caso Banif. “Tenho pena que o processo iniciado no segundo semestre de 2015 não tivesse sido iniciado no segundo semestre de 2013”, disse Carlos Costa esta terça-feira na comissão parlamentar de inquérito. O governador apontou na direção da gestão do Banif. Quem foi responsável? “Quem estava agarrado a um modelo que não seria aceite. É preciso saber quando se deve abandonar o braço-de-ferro”. Mas não referiu as responsabilidades do Ministério das Finanças.

O Estado era o maior acionista do banco e tinha dois representantes na administração, mas não tinha direitos de voto porque não exerceu a opção que lhe dava esse direito quando se registou um incumprimento do plano de reestruturação. O Banco de Portugal deu um parecer a desaconselhar a medida, na altura em que estava a decorrer o aumento de capital privado, no verão de 2013. Mas não é claro porque não foi essa opção exercida mais tarde.

As cartas trocadas entre a então ministra das Finanças e o comissário da Concorrência, à data Joaquín Almunia, mostram claramente que esta direção-geral sempre manifestou muitas reservas aos planos ou versões que foram sendo apresentados, impondo, em contrapartida, um emagrecimento muito mais agressivo da operação do Banif, para 40%, do que o proposto. E queixando-se, inclusive, da qualidade e consistência da informação e projeções apresentadas.

Numa carta de 17 de julho de 2013, o então vice-presidente da Comissão Europeia, manifesta à ministra das Finanças as “suas preocupações” relativas ao incumprimento (non-compliance) da decisão de recapitalização pública, aprovada em Bruxelas a título provisório, e sobre a avaliação da viabilidade do Banif. Uma das falhas apontadas era a não realização do investimento privado na data prevista. Segue, ainda, uma lista “não exaustiva” de 21 falhas identificadas no último plano apresentado à data (29 de junho de 2013).

Em 2014, o comissário volta a mostrar preocupação com o “pouco progresso feito no caso Banif”. Em carta a Maria Luís Albuquerque, com data de 31 de março de 2014, Almunía, diz mesmo que a informação que sustentava a proposta entregue em fevereiro desse ano era de “fraca qualidade, levantando dúvidas sérias sobre a solidez, importância e valor do último plano de reestruturação apresentado”.

 

O essencial destas dúvidas não tinha sido ultrapassado quando a sucessora de Almunía, Margrethe Vestager, escreveu a Maria Luís Albuquerque, em dezembro de 2014. É uma espécie de ultimato a Portugal que terá de apresentar um plano de reestruturação até março do ano seguinte, que incluísse a separação jurídica dos ativos de má qualidade. Apesar de reconhecer progressos, Vestager assinala o tempo que já decorreu desde a aprovação preliminar da ajuda ao Banif (dada em janeiro de 2013), a ameaça com a abertura de uma investigação aprofundada.

Para Carlos Costa, se o último plano de reestruturação tivesse sido apresentado no segundo trimestre de 2013, teria dado margem temporal para negociar. Reconheceu, ainda, que este tempo é bastante longo para o que é normal na análise por Bruxelas de processos de ajuda de Estado. Mas, à data em que foi feita a proposta que mais se aproximava das imposições de Bruxelas, o governo de coligação, em final de mandato, já não tinha condições para desenvolver o processo, conforme reconheceu Maria Luís Albuquerque.

A corrida contra o tempo

A resposta da DG Comp ao último plano de reestruturação do Banif chegou a 29 de outubro, endereçada à representação portuguesa em Bruxelas, com conhecimento da ainda chefe de gabinete de Maria Luís Albuquerque e já depois de a proposta ter sido apresentada numa reunião em que estiveram o Banif e o Banco de Portugal. A conclusão preliminar era a de que o destaque jurídico dos ativos problemáticos do banco obrigaria a uma nova ajuda de Estado. A missiva dos serviços da concorrência assinalava, ainda, que o Banif iria entrar em falha dos rácios de capital no início de 2016, na sequência do reconhecimento de perdas nos ativos imobiliários e crédito.

A carta assinada pelo diretor da unidade de ajudas de Estado, Peer Ritter, remeteu um conjunto vasto de questões que exigiam resposta no prazo de 15 dias. As respostas ainda seguiram com Maria Luís Albuquerque nas Finanças, mas com um governo relâmpago que já tinha caído no Parlamento. A 13 de novembro, a responsável assegura a Bruxelas que ainda não foi concedido qualquer apoio financeiro adicional pelo Estado ao Banif e que estava a avaliar com o Banco de Portugal a evolução da situação de solvência do banco.

A 16 de novembro, a DG Comp comunicou ao Banco de Portugal, que por esta altura assumiu um papel mais relevante nas negociações dada a transição entre governos, que o plano de reestruturação não era aceite porque exigia uma recapitalização pública, o que, do ponto de vista de Bruxelas, era uma ajuda de Estado adicional. Foi também nesta reunião, confirmaram Carlos Costa e António Varela, que a direção da concorrência deu um deadline para Portugal encontrar uma solução para o banco: o final de 2015.

Entrou-se numa corrida contra o tempo, testemunhou o governador, que descreveu ainda o afunilar das soluções, à medida que as alternativas iam caindo nas malhas das objeções europeias e da falta de tempo.

Também o conselho de supervisão do BCE avisou o Banco de Portugal que passar o processo para 2016, com a entrada em vigor das novas regras da união bancária, poderia implicar uma resolução com um bail-in (perdas imputadas) envolvendo depósitos não protegidos, com “danos de alcance imprevisível para a estabilidade do sistema financeiro”. Era um mundo novo que ninguém queria experimentar.

Foi aí que o Banco de Portugal deu início ao processo de venda voluntária da posição do Estado no banco, ao mesmo tempo que tentou, ainda, fazer passar uma recapitalização pública do Banif que voltou a ver a “luz vermelha” de Bruxelas.