Archive for the ‘Mário Centeno’ Category

Santander volta a contradizer o que Centeno disse no inquérito ao Banif

Segunda-feira, Maio 2nd, 2016

Citamos

Negócios

António Vieira Monteiro diz que a colocação de dívida pública de 1,8 mil milhões de euros no Santander Totta era hipótese desde a resolução. O ministro já disse que a negociação foi apenas posterior.  

O Santander e o ministro das Finanças continuam a dar respostas distintas sobre o financiamento de 1,8 mil milhões de euros que o Santander concedeu ao Estado após a resolução do Banif. Tudo por conta da origem desse financiamento.

António Vieira Monteiro, o presidente executivo do banco de capitais espanhóis, deixou claro esta segunda-feira, 2 de Maio, que esta colocação de dívida pública directamente no Santander Totta era “uma opção que estava na proposta inicial, que podia [ou não] ser concretizada”.

A proposta de financiamento estava incluída no concurso (a que o Santander concorreu mas que acabou sem sucesso) e também na resolução (onde o Santander foi o comprador), deixou claro Vieira Monteiro quando questionado pelos jornalistas.

Ora, Mário Centeno, ministro das Finanças, já disse no Parlamento, mais precisamente na comissão parlamentar de inquérito, que a colocação de dívida foi “negociada posteriormente à resolução”.

Este financiamento foi concedido porque o Estado teve de gastar 1.766 milhões de euros da sua almofada de capital para limpeza do Banif no âmbito da resolução. Havia, então, de repor esta almofada e foi aí que o Santander fez um empréstimo, exactamente no mesmo montante, ao Estado.

Assim, neste momento, mantém-se uma ideia contrária às duas partes nesta colocação privada de dívida pública: o banco diz que a compra era uma hipótese desde Dezembro, tendo sido concretizada posteriormente; o ministro defende que a negociação não era uma contrapartida inserida na resolução e que foi negociada meses depois, quando foi necessário repor o dinheiro perdido.

‘Guilty’? De quê?

Quarta-feira, Abril 27th, 2016

Citamos

Económico Opinião Rosário Lira

Comparem-se as expressões: “Guilty of serious misconduct” e “tiver cometido falta grave”. As duas constam do nº2 do artigo 14º dos Estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais e do Banco Central Europeu, a primeira, na versão original, a segunda, na tradução do documento.

É certo que em matéria jurídica as traduções exigem sempre a devida adaptação mas, no caso, a tradução, fica aquém do sentido original que pretende, isso sim, exigir culpa e prova de uma conduta má e grave.

A lei, os tais estatutos, não apresentam pressupostos nem elencam o tipo de faltas. Limita-se a referir o seguinte: “Um governador só pode ser demitido das suas funções se deixar de preencher os requisitos necessários ao exercício das mesmas ou se tiver cometido falta grave”.

No entanto, o ministro das Finanças veio dizer que o Governador do Banco de Portugal teria cometido uma “falha grave de transmissão de informação”. Falha e não falta! De informação! Ficava assim definido o tipo de “crime”.

Mas qual era o facto? O Governador do Banco de Portugal não teria comunicado ao Governo que tinha pedido ao BCE para limitar o financiamento ao Banif.

Carlos Costa, no Parlamento, alegou confidencialidade enquanto membro do Conselho do BCE e independência relativamente ao Governo. Dois princípios definidos pelos Estatutos e pelo Código de Conduta dos Administradores do Banco de Portugal.

Confidencialidade porque o Banco de Portugal não pode discutir previamente com o Governo medidas que vão ser analisadas no BCE, nem tão pouco sujeitar essas medidas à aprovação prévia do Executivo. E aqui, neste último aspecto, coloca-se a questão da independência.

Faz sentido que assim seja? Ou talvez a pergunta deva ser outra: É possível um Governo exonerar um governador do cargo apenas por razões políticas? Seria possível se a norma não existisse. Por isso, e a lei determina que os membros do Conselho de Administração são inamovíveis e só podem ser exonerados por resolução do Conselho de Ministros, mediante proposta do ministro das Finanças, se deixarem de preencher os requisitos necessários ao exercício das mesmas ou se tiverem cometido falha grave.

Fica assim acautelada a independência de actuação do governador mas também fica garantida a ausência de responsabilidade política do Governo pelos actos do governador.

É a competência técnica que deve estar na base da nomeação é a falta dela, dos deveres a que está obrigado, que devem levar à sua exoneração.

Exonerar sem justa causa é deixar ao arbítrio do Governo e do Parlamento essa decisão.

Afastar o governador do Banco de Portugal, escondendo razões políticas por trás de uma falha grave, seria encetar uma batalha jurídica que contaria com a forte oposição do BCE (como aconteceu com a tentativa de aplicar ao Banco de Portugal os cortes na função pública) e teria consequências incalculáveis para a credibilidade externa do país.

Mas o que se entende por falta grave? A lei não define o que é nem determina em que circunstâncias se verifica, deixando assim ao Governo, órgão a quem compete tal decisão, a liberdade de aferir se foi ou não cometida falta grave que justifique o afastamento do governador do Banco de Portugal.

A intenção de tal norma abrangente não é inocente nem podia ser. Ao manter esta latitude, restringe-se simultaneamente a actuação de quem pode aplicar a norma e limita-se o entendimento que deve ter da mesma. Uma espécie de tudo ou nada que, no mínimo, exige muita prudência.

A questão não tem sido pacífica e já por duas vezes, no caso dos bancos da Eslovénia e da Letónia, o Banco Central Europeu deu o seu parecer sobre o entendimento em relação a esta matéria, recomendando que nas legislações internas, o artigo que determina a existência de “serious misconduct” se mantenha tal como está, sem definir as condições específicas em que o governador pode ser afastado. Mais: considera ainda o BCE que não cabe aos tribunais nacionais decidir quando há nos termos do nº2 do artigo 24º uma falta grave.

E assim acontece. Nada se diz para que dificilmente se possa fazer. ‘Guilty’? De quê?

Rosário Lira /Jornalista

 

DG Comp: a sigla que o caso Banif trouxe para a ribalta

Domingo, Abril 24th, 2016

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Expresso

A poderosa direção-geral da comissária Margrethe Vestager tem sido acusada de intransigência com o Banif e de ter criado condições favoráveis à venda ao Santander

As autoridades económicas europeias, com especial destaque para a poderosa, Direção-Geral da Concorrência (conhecida por DG Comp, do inglês Directorate-General for Competition), subiram ao palco da política nacional e são tema de debate acesso na comissão parlamentar do Banif. Não há dia em que não se fale na imprensa portuguesa da concorrência europeia, ora porque nunca aprovou nenhuma das oito versões do plano de reestruturação apresentando pelo Banif, contribuindo para o seu destino final, ora porque terá influenciado a venda do banco a 20 de dezembro ao espanhol Santander. O ministro das Finanças, Mário Centeno, lançou esta semana mais uma acha para a fogueira. “Que não tenha havido uma forte imposição e uma forte posição negocial da Direção-Geral da Concorrência nesta fase do processo não posso corroborar”, disse na comissão parlamentar. Centeno referia-se ao plano de reestruturação do Banif que em três anos de negociações com a DG Comp nunca foi aprovado, mas também acabou por nunca ter sido chumbado — o banco foi resolvido antes disso.

É nas mãos da DG Comp e da equipa da comissária dinamarquesa Margrethe Vestager que está a decisão de autorizar ajudas de Estado — proibidas se distorcerem a concorrência — e também a de dar ‘luz verde’ aos planos de reestruturação e viabilidade das instituições auxiliadas. O papel da DG Comp, que tem como diretor-geral Johannes Laitenberger — um alemão de 51 anos que cresceu e estudou em Portugal e foi chefe de gabinete de Durão Barroso quando este era presidente da Comissão Europeia — é lutar contra Estados-membros ou empresas que contornem e violem as regras da concorrência. Evitar a distorção da concorrência no caso das ajudas de Estado é determinante e a DG Comp deverá ser intransigente nessa matéria. Por isso, os planos de reestruturação das instituições auxiliadas implicam quase sempre cortes na atividade. Os bancos, por exemplo, têm sido obrigados a fechar balcões, a reduzir o número de trabalhadores, a vender áreas de negócios e a encerrar operações no exterior. A DG Comp é um órgão independente, e Vestager responde diretamente ao presidente da Comissão Europeia, e é essa também uma das suas fontes de poder. A banca está na ordem do dia, mas pela DG Comp têm passado alguns dos casos mais mediáticos da história económica portuguesa: a venda do grupo Champalimaud, a fusão da EDP com a Gás de Portugal, as ajudas de Estado à TAP e a oferta pública de aquisição (OPA) da Sonae à PT.

“Estranho silêncio dos banqueiros face aos ataques ao Banco de Portugal”

Sábado, Abril 23rd, 2016

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Público

Luís Marques Guedes, vice-presidente da Comissão de Inquérito ao Banif, aponta erros de Mário Centeno e defende Carlos Costa e o Governo anterior, que integrou: “Recapitalizar foi uma decisão óbvia, de bom senso.”

O deputado do PSD, que tem assumido o papel principal do seu partido na comissão que investiga as razões para o falhanço do Banif, explica por que razão acredita que o ministro das Finanças prestou declarações “falsas” na sua primeira audição. E dá a sua própria visão sobre os três anos em que a situação do banco esteve sob escrutínio apertado de Bruxelas e foi, na prática, nacionalizado pelo Governo que Marques Guedes integrou, com a pasta da Presidência do Conselho de Ministros. Desta vez, ao contrário do BES, não parece possível  que os deputados se ponham de acordo sobre conclusões pacíficas. E não é por coincidência que nesta entrevista se acaba a falar de “tensão” e polarização entre partidos…

Está pessoalmente convencido de que Mário Centeno mentiu na Comissão de Inquérito?
Para mim há uma questão central e de princípio. As comissões de inquérito, à face da lei, dispõem de poderes excepcionais, equivalentes aos das autoridades judiciárias, e os testemunhos que são prestados seguem as regras do processo penais. É óbvio que as comissões de inquérito se têm de dar ao respeito para poderem ser respeitadas. Isso implica que nos depoimentos não seja possível tentar mistificar-se, esconder-se, falsear-se a verdade. Acho que foi isso que se passou.

 Mas está convencido de que houve uma mentira?
Ficou claro que Mário Centeno, depois de confrontado com um documento que deixava preto no branco a existência de um contacto dele com a presidente do Mecanismo Único de Supervisão, que ele tinha veementemente negado no primeiro depoimento…

 … Não tinha negado o contacto, tinha negado a intenção de favorecer…
Peço desculpa, mas tinha negado o contacto. Essa é a tentativa de spin que é feita pelo próprio para escamotear. Mas é evidente para toda a gente. O que Mário Centeno tentou fazer crer à comissão foi que não só não tinha havido nenhum contacto, como que até tinha ficado muito surpreendido.

 O PSD alertou o Ministério Público para necessidade de averiguar se houve um crime público. Vão até às últimas consequências?
O PSD não tem mais nada a fazer. Tratando-se de um crime público, nós vivemos num Estado de Direito, a responsabilidade recai exclusivamente sobre o MP, que fará como entender. As gravações dos depoimentos valem por si. Se as comissões de inquérito aceitarem que qualquer pessoa pode lá ir dizer aquilo que lhe apetece, tentar falsear a verdade e ficar impune, então não servem para nada. Foi por isso que quisemos realçar este facto.

Indo aos factos: o ministro, na primeira audição, assume que esteve em permanente contacto com o BCE nos dias anteriores à resolução do Banif. Isso  não retira parte do argumento de que ele negou contactos?
Peço desculpa. O PSD tinha já a informação de que teria havido um contacto directo com o BCE, na sexta-feira, 18 [Dezembro, 2015], no sentido de se interceder pela proposta do Santander. E isso foi perguntado directamente a Mário Centeno.

De cinco maneiras diferentes…
E Mário Centeno negou sempre veementemente, repetidamente, que isso tivesse acontecido. Enviando até nos dias seguintes um mail para a comissão dizendo que os contactos que tinha tido com o BCE se resumiam a dia 3 e a 17 de Dezembro, escamoteando mais uma vez nesse documento que no dia 18 tivesse tido esse contacto.

A acta da reunião diz que a primeira pergunta do PSD ao ministro foi: “Alguma vez fez alguma diligência para promover a solução Santander?” Resposta: “Eu, pessoalmente?” PSD: “Sim.” Ministro: “Eu nunca intervim no processo de venda nessa dimensão que, acho eu, está a sugerir.” O que o ministro parece estar a negar não é o contacto, é ter promovido a venda ao Santander. Não é assim que lê esta resposta?
Claro que não. O ministro tentou claramente escamotear. Negou que tivesse feito qualquer contacto. Podia ter vindo à comissão, na segunda vez, alegar que o documento era forjado. O documento diz, preto no branco, que o ministro das Finanças e Vítor Constâncio ligaram para pedir para desbloquear a proposta do Santander junto da Comissão Europeia. Foi isto que Centeno negou.

Banif: da “contradição” de Carlos Costa à “mentira” de Centeno

Sábado, Abril 23rd, 2016

Citamos

Diário de Notícias

Quase três meses após o arranque da comissão de inquérito, PS e PSD mantêm guerra aberta. PCP diz que supervisão é “embuste”

Começou com um incidente (o chumbo da esquerda à proposta de auditoria feita pelo PSD) e neste momento está a ser condicionada pela alegada “mentira” de Mário Centeno na primeira audição. A comissão de inquérito (CPI) à derrocada e venda do Banif iniciou funções há 80 dias e, para já, está a ser marcada pelo combate entre PS e PSD. Como se previa. E do qual BE, CDS e PCP se têm demarcado.

Socialistas e sociais-democratas viabilizaram juntos, em dezembro, o Orçamento Retificativo que previa a injeção de 2255 milhões de euros no banco para que a resolução fosse viável, bem como a venda ao Santander Totta, mas é no plano das responsabilidades políticas que as duas bancadas não enterram os machados de guerra.

Se o governador do Banco de Portugal (BdP) se afigurava como alvo óbvio – e as dúvidas não ficaram dissipadas com a primeira audição de Carlos Costa -, agora é o ministro das Finanças que está debaixo de fogo. Em particular do PSD, que, apesar de isolado, quer que o Ministério Público investigue se Centeno prestou um falso depoimento quando esteve pela primeira vez na Assembleia da República quanto a alegados contactos com as instituições europeias para favorecer o Santander.

“Na primeira audição o ministro negou ter tido algum contacto com responsáveis europeus sobre o Banif/Santander. E quando confrontado com o documento [e-mail da presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu], na segunda audição, disse ter tido, mas não no sentido que o documento dava”, afirma Carlos Abreu Amorim, coordenador do PSD, que observa que “a imagem do Parlamento tem de ser respeitada”.

João Galamba critica o PSD por “parecer estar apostado neste tipo de incidentes” e vinca que “qualquer pessoa de boa-fé percebe que não houve declarações falsas”. “O PSD está de péssima consciência nesta comissão”, devolve o coordenador do PS. Para o socialista, há outros pontos mais importantes por esclarecer: a decisão de recapitalização pública no final de 2012, que, diz, “carece de fundamentação” e aponta o dedo ao governo de Passos Coelho – que considera ter fechado os olhos aos problemas do Banif para “não prejudicar a saída limpa” do programa da troika e para “não afetar as eleições” do ano passado – por ter “empurrado o problema para as mãos” do executivo de António Costa.

Também a supervisão separa o bloco central. Galamba questiona o parecer do BdP de 2012 que atestava da viabilidade do banco fundado por Horácio Roque antes da injeção de dinheiro público e sugere que possa ter havido “cobertura política” por parte de Carlos Costa aos “interesses do PSD e do CDS”.

Abreu Amorim corta rente, dizendo que tanto Centeno como o secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, demonstraram uma “sanha” contra o supervisor, mas frisa que ambos perceberam que “a estratégia de pedir a cabeça do governador não ia longe e mudaram”.

Já João Almeida afasta-se desse pingue-pongue e, salienta o coordenador do CDS, quer apenas “apurar factos e responsáveis”, embora lamente os “muitos bloqueios por parte das instituições europeias”.

Para Miguel Tiago, as duas aparentes contradições “foram sanadas”. Por um lado, sublinha o deputado comunista, pôde verificar-se que Costa “não propôs a resolução e venda” do Banif, mas ao invés “a limitação da exposição” do banco. “Quis ganhar tempo”, reforça, vincando que a ata do BCE, que suscitou polémica, “ficou explicada”. Quanto a Centeno, o coordenador comunista nota que “explicou e ficou claro que não quis influenciar a venda”. Mesmo que essa solução não mereça a concordância do PCP.

O parlamentar afirma que a investigação está a ajudar à construção de uma “narrativa sólida” e que já foram recolhidos elementos que “permitem tirar conclusões avançadas”, nomeadamente que “a supervisão, como a conhecemos, é um embuste”. E ainda deixa uma farpa ao PSD por “estar a fazer tudo para perturbar e partidarizar os trabalhos” com o intuito de “ocultar os dois anos e meio que teve o Banif nas mãos”. O DN tentou, sem sucesso, obter um comentário da coordenadora do BE, Mariana Mortágua.

Caso Banif. Ministério Público vai “analisar” declarações de Centeno

Quinta-feira, Abril 21st, 2016

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Observador

O Ministério Público vai “analisar todos os elementos” relativos às audições de Mário Centeno na comissão de inquérito ao Caso Banif. PSD já o tinha pedido, depois de considerar que o ministro mentiu.

O Ministério Público vai “analisar todos os elementos” relativos às audições de Mário Centeno na comissão de inquérito ao Caso Banif. Caso se confirme que o ministro das Finanças mentiu na comissão, então não está excluída a hipótese de ser aberto um inquérito judicial.

A informação começou por ser avançada pelo Diário Económico e já foi confirmada pelo Observador. De acordo com fonte oficial da Procuradoria-Geral da República (PGR), “o Ministério Público não deixará de analisar todos os elementos que vierem ao seu conhecimento, tendo em vista apurar se se verifica necessidade de intervenção no âmbito das suas competências”.

A decisão do Ministério Público surge depois de o PSD ter apelado às autoridades portuguesas para que abrissem uma investigação às declarações do ministro das Finanças sobre o processo de resolução do Banif, que culminou na venda do banco aos espanhóis do Santander.

Os sociais-democratas não têm dúvidas de que Mário Centeno mentiu na comissão de inquérito depois de ter dito que não teve qualquer interferência na escolha do comprador do Banif.

“Os depoimentos seguem as regras do processo penal e ficou claro terça-feira que existe uma contradição insanável e que há uma falsa declaração que nos termos da lei penal é um crime público. O Ministério Publico terá que apurar aquilo que é o depoimento falso e é obrigação da comissão disponibilizar todas as gravações necessários para apurar este tipo de situações”, afirmou Luís Marques Guedes, deputado do PSD, esta quarta-feira.

Tratando-se de um crime público, como alegam os sociais-democratas, não é necessário que haja uma denúncia para que seja investigado pelo Ministério Público.

Numa altura em que o PS fala em perseguição e chicana política, Mário Centeno já teve oportunidade de se defender. Na terça-feira, ouvido na comissão de inquérito, Mário Centeno defendeu-se das acusações do PSD e reiterou tudo o que tinha dito na última audição. “Não aceito que me imputem falsidades sustentadas em truncagens dos factos e em leituras parciais e enviesadas de documentos. Estarei sempre disponível para contribuir para a descoberta da verdade, pois estou muito confortável com ela”.

Em abstrato, e de acordo com o artigo 359.º do Código Penal, “quem prestar depoimento de parte, fazendo falsas declarações relativamente a factos sobre os quais deve depor, depois de ter prestado juramento e de ter sido advertido das consequências penais a que se expõe com a prestação de depoimento falso” pode ser punido “com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa”.

Banif. Tiro ao alvo na comissão de inquérito

Quinta-feira, Abril 21st, 2016

Citamos

Observador

Quando Mário Centeno e Carlos Costa voltarem esta terça-feira à sala 1 do Parlamento, os partidos vão afinar a pontaria. Todos sabem que, numa comissão de inquérito, quem não marca pontos, sofre.

Carlos Costa e Mário Centeno vão voltar a ser ouvidos esta terça-feira na comissão parlamentar de inquérito ao Banif. São dois dos alvos preferenciais dos partidos quando se trata de apurar responsabilidades políticas da fatura de três mil milhões de euros, passada aos contribuintes. Mas há mais alvo e nem todos são os óbvios.

Alvos_Centeno

Mário Centeno: o alvo do PSD

Imagine um alvo, todo às risquinhas, brancas e pretas. Lá bem no centro, na bolinha vermelha, a que vale 50 pontos, está Mário Centeno. O ministro das Finanças é um dos principais alvos do maior partido da oposição que foi governo durante a maior parte do tempo em que se desenrolou o drama do Banco Internacional do Funchal, o Banif.

O PSD sabe que responsabilizar o Governo por um custo de três mil milhões de euros com um banco é não só uma machadada na popularidade do ministro, é também uma potencial brecha no acordo que os socialistas fizeram com a esquerda para chegar ao poder. Além disso, os sociais-democratas compreendem que dificilmente a opinião pública vai prescindir de uma lógica dualista neste dossiê: se a culpa não for atirada ao atual Executivo, vai certamente sobrar para o anterior. Independentemente de pelo caminho serem responsabilizadas também as instituições de supervisão.

A estratégia, coordenada por Carlos Abreu Amorim, passa primeiro por demonstrar que havia finalmente um plano viável para o Banif, preparado pelo banco sob a orientação da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e em coordenação com o Banco de Portugal, que estava a ser negociado com as autoridades europeias.

Na sua audição, Maria Luís deu conta das “mais de 200 reuniões sobre o Banif” que teve com Bruxelas e revela como o plano era, em primeiro lugar, o de limpar o banco através de uma reestruturação que retirava os ativos de má qualidade e, depois, vendê-lo em melhores condições.

É em resposta ao próprio Abreu Amorim que a ex-ministra explica que as alternativas ao caminho que foi sendo escolhido pelo anterior Governo teriam tido um custo muito superior ao que estava previsto até a coligação PSD-CDS ter cessado funções. Por exemplo, as alternativas à recapitalização pública do banco em 2012 “implicavam pelo menos o dobro do custo, num cenário mais otimista”, garantiu Maria Luís.

“Não desejo a ninguém vender um banco num fim de semana”.
Desabafo do ministro das Finanças, Mário Centeno, na sua primeira audição (6 de abril)

“Alguma vez fez uma diligência para promover a solução Santander?”, perguntou o deputado do PSD, Miguel Morgado, durante a audição do ministro no inquérito parlamentar. “Nunca, antes do fim de semana da resolução, na semana em que se estavam a receber as ofertas, nunca fez nenhuma diligência, com mais ninguém, para persuadir as entidades europeias a resolver este assunto com o Santander?”, insiste. “Não”, responde o ministro das Finanças. E já está: Centeno morde o isco.

Dias depois, o PSD fez uma conferência de imprensa para divulgar umemail em que o ministro das Finanças pediu ajuda a Danièle Nouy, presidente do Conselho de Supervisão do BCE, para desbloquear a proposta do Santander junto da Comissão Europeia. Os sociais-democratas sublinham a interferência junto das autoridades europeias e, ao mesmo tempo, acusam o ministro de prestar um depoimento falso, o que numa comissão de inquérito pode constituir crime.

A seu favor, e contra o anterior executivo, Centeno tem o argumento de que só estava há duas semanas no cargo quando rebentou a bomba Banif. Daí o desabafo: “não desejo a ninguém vender um banco num fim de semana”.

Alvos_MariaAlbuquerque

Maria Luís: cercada pela esquerda

A ex-ministra das Finanças é já uma veterana das comissões parlamentares de inquérito, apesar de ter uma carreira política curta. Ultrapassou com facilidade o inquérito à venda do Banco Português de Negócios, quase foi ao chão no caso dos swaps, mas reagiu e passou relativamente ilesa na comissão de inquérito ao Banco Espírito Santo.

No entanto, Maria Luís Albuquerque chega à comissão de inquérito ao Banif fragilizada, não só por ser a principal responsável política pela condução do dossiê durante mais tempo, primeiro como secretária de Estado de Vítor Gaspar e depois como ministra, mas também por polémicas recentes que envolveram a nova vice de Pedro Passos Coelho no PSD: a perda do processo dos swaps em Londres e a contratação pela empresa de gestão de ativos Arrow.

Também no caso Banif vieram a público informações que questionam o empenho do anterior Executivo em resolver o assunto. A começar pela carta de dezembro de 2014 em que a nova comissária da Concorrência, Marghrete Vestager, revelava uma gestão política do dossiê Banif,para não comprometer a saída limpa de Portugal.

Já em 2015, Maria Luís Albuquerque recusa abrir um concurso para vender a posição do Estado, alegadamente para não desviar potenciais interessados da venda do Novo Banco, então claramente uma prioridade em relação ao Banif. A agora deputada do PSD assegura que não surgiram propostas verdadeiramente credíveis. “A pior coisa que poderia acontecer ao Banif era abrir um processo de venda e ele ficar deserto, desvalorizava o banco e mostrava que ninguém estava interessado em comprar”.

A ex-ministra foi a ainda a primeira, ainda que involuntariamente, a lançar os holofotes sobre os problemas do banco, ao referir expressamente que o processo de privatização da TAP e a investigação aprofundada de Bruxelas ao Banif não constavam da lista de preocupações discutidas com os socialistas durante as negociações para formar governo.

Maria Luís Albuquerque já respondeu a todas estas questões, colocadas à direita e à esquerda. Com uma diferença importante. PSD e CDS não colocam em causa a versão dada pela ministra das Finanças, muito apoiada na tese de que “tínhamos tempo”. Afinal, sublinha, o Banif só tinha de devolver a ajuda de Estado até 2017.

“Quando cessei funções, a 26 de novembro, nada me faria prever um desfecho com este custo para os contribuintes, nestes termos, mas dito isto não vou especular sobre qualquer dos factos que tiveram lugar após a minha saída do cargo.”

“Quando cessei funções a 26 de novembro nada me faria prever um desfecho com este custo para os contribuintes, nestes termos, mas dito isto não vou especular sobre qualquer dos factos que tiveram lugar após a minha saída do cargo.”

O tempo é, também, o pretexto para o principal ataque à condução que a então ministra das Finanças fez do caso Banif. O tempo perdido a negociar com Bruxelas, os oito planos (ou versões) chumbados, asoportunidades perdidas, mais ou menos credíveis, para tentarvender o banco, e, por fim, o arrastar do processo até a uma investigação aprofundada da Comissão Europeia, em agosto de 2015, quando o tempo de Maria Luís no governo estava a chegar ao fim. É ainda a ministra que o reconheceu, numa carta à DG Gomp, em querevela que já não tem margem para negociar e decidir por causa das eleições legislativas de 4 de outubro de 2015.

O maior ataque à prestação da ex-ministra das Finança, não chegou dos partidos da esquerda, mas do seu sucessor no cargo.

Mário Centeno contrariou a versão dada por Maria Luís Albuquerque, segundo a qual o então governo só teria sido informado em meados de novembro por Bruxelas, de que o prazo limite para resolver o problema era o final do ano. O ministro das Finanças garante que a então titular da pasta lhe comunicou em outubro que já só existiam dois caminhos possíveis para o Banif: a resolução ou a liquidação. Segundo Centeno, era uma data limite conhecida há meses pelas autoridades portuguesas, que nada fizeram para a antecipar e evitar.

Para o ministro das Finanças, o desfecho resulta de uma combinação de fatores: “As responsabilidades face à situação final do Banif decorrem da omissão, alguma negligência, pouca atratividade e muitos tiros ao lado.” E conclui, ainda, “que foi injetado dinheiro num banco que não era viável”.

Alvo_CarlosCosta

O supervisor, o suspeito do costume

O Banco de Portugal, a instituição e o seu governador, quase fazem o pleno, como alvo preferencial dos partidos representados na comissão parlamentar de inquérito ao Banif. Com a exceção do PSD, o partido que foi responsável pela recondução de Carlos Costa. Não é uma novidade nos quatro inquéritos parlamentares dedicados a bancos caídos, mas, no caso do Banif, é mais visível. Talvez também porque falta um culpado mais óbvio, como aconteceu no BPN e no BES.

Por um lado, fazer tiro ao alvo a Carlos Costa serve para desresponsabilizar a ação governativa e isso encaixa nas estratégias de quem está ou esteve no poder. Por outro lado, e até certo ponto, a estratégia da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, esteve concertada com Carlos Costa. Daí que o PSD seja cuidadoso quando avalia a intervenção do governador. Os sociais-democratas limitam-se a invocar os pareceres e recomendações do Banco de Portugal como forma de justificar decisões do anterior Executivo.

Já os partidos à esquerda, PS incluído, nunca aceitaram os argumentos do supervisor para justificar a resolução do Banco Espírito Santo e do Banif. E sempre desconfiaram de uma excessiva cumplicidade entre o regulador e os regulados.

O último escândalo na banca pode dar mais combustível à fogueira onde o governador arde, em lume cada vez menos brando, e dar finalmente o fundamento para a “falta grave”, o único critério que permite “despedir” Carlos Costa com justa causa. Daí que autoavaliação promovida pelo Banco de Portugal à sua atuação no caso BES volte a ser pedida neste inquérito.

João Galamba, o socialista que coordena a estratégia do PS, não se cansa de sublinhar como o Banco de Portugal considerou o Banif viável em 2012 e pediu uma recapitalização pública do banco. São conhecidas as más relações entre o ministro das Finanças, Mário Centeno, e o governador do Banco de Portugal (aproveitar o Banif para justificar a destituição do governador será um bónus). Mas culpar Carlos Costa fornece duas vantagens óbvias aos socialistas: primeiro, livrar o atual Governo de responsabilidades e, segundo, ajudar a comprometer o anterior Executivo, já que teriam a ação coordenada.

Também para o CDS, a guerra trava-se aqui e não se fica necessariamente pelo atual governador. Afinal, Vítor Constâncio e o Banco de Portugal já tinham sido muito visados no inquérito parlamentar ao BPN. O mesmo partido que evita criticar a ex-ministra Maria Luís Albuquerque, ataca o governador, sobretudo pela atuação nas semanas decisivas do Banif.

Foi uma revelação feita pelos populares, que aliás conduziu a umasegunda audição de Carlos Costa, pedida pelos comunistas e PSD depois de ter sido divulgada a ata do BCE com a proposta do Banco de Portugal para limitar o regular acesso do Banif à liquidez – uma decisão que pode ser vista como uma antecâmara da suspensão do estatuto de contraparte, a “bomba atómica” que obrigou o banco ser a vendido durante um fim de semana.

Os partidos da esquerda também apontam na direção da Rua de S. Julião, em Lisboa, onde fica a sede do Banco de Portugal. E não são contidos no discurso. Por exemplo, Miguel Tiago, deputado comunista, não hesitou em acusar o Banco de Portugal de ser a agência de comunicação dos bancos: “Mesmo que tudo esteja mal, tem de dizer que está tudo bem”.

Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, também crítica da atuação de Carlos Costa, confrontou o governador com eventuais “falhas” de comunicação, colocou em causa a solidez do plano de reestruturação aceite pelo supervisor em janeiro de 2013 (e que pouco tempo depois já estava em incumprimento), e sugeriu que Carlos Costa participou “numa farsa que durou dois anos”, porque sabia que a Comissão Europeia não aceitava as ideias do Banif e que o banco recusava a reestruturação.

As consequências deste escrutínio foram pedidas por Catarina Martins, líder do BE, no debate quinzenal de sexta-feira, 15 de abril: “Se é verdade que o governador do Banco de Portugal toma decisões que o Governo desconhece, perguntamos: quantas falhas graves tem de cumprir o governador do Banco de Portugal para cumprir o critério de falha grave, que obriga à sua destituição?”

São os sistemas bancários dos países com situação financeira mais frágil, onde o legado da crise económica é mais relevante, que apresentam maiores vulnerabilidade. Esta situação poderá ter elevados custos em termos de estabilidade financeira, dado o risco de aplicação repetida e generalizada de medidas de resolução, agravando a fragmentação na área do euro.”
Intervenção inicial de Carlos Costa na comissão de inquérito (5 de abril)

Também para o ex-presidente executivo do Banif, o Banco de Portugal está na linha da frente dos culpados. Jorge Tomé acusa a instituição de ter protagonizado um volteface que a levou a deixar cair o Banif.

E como se defende o homem que quase todos atacam? Aponta noutra direção, fala em assimetria de poderes, condicionamento da capacidade para decidir, falta de concertação e de escrutínio da atuação das instituições europeias. E até deixa no ar sugestão de que a comissão de inquérito devia funcionar no Parlamento Europeu, enquanto lança vários recados dirigidos para além das fronteiras portuguesas:

“São os sistemas bancários dos países com situação financeira mais frágil, onde o legado da crise económica é mais relevante, que apresentam maiores vulnerabilidades. Esta situação poderá ter elevados custos em termos de estabilidade financeira, dado o risco de aplicação repetida e generalizada de medidas de resolução, agravando a fragmentação na área do euro.”

Alvos_Euro

Europa, o álibi perfeito

Para o ministro das Finanças, Mário Centeno, a Europa foi passiva.Para o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, foidescoordenada. Para Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças, foi imprevisível. A Europa é o álibi perfeito, sobretudo porque, para já, não responde. O gabinete de Jean-Claude Juncker já prometeu respostas por escrito, mas pediu tempo.

Com uma arquitetura complexa, uma cadeia de decisões extensa e novas regras a serem criadas e testadas por Portugal, ainda antes de o sistema estar construído, as diferentes instituições europeias oferecem uma saída limpa para todos os outros atores do dossiê Banif.

A interação com a Europa começa em 2012, ao nível da direção-geral da Concorrência (DG Comp), a responsável por verificar se a intervenção dos Governos não constitui uma ajuda de Estado e se as instituições financeiras operam em igualdade de circunstâncias – no fundo, verifica se o tabuleiro do jogo não está inclinado para um dos lados. A temível DG Comp é a direção-geral com mais poder na Comissão Europeia, demasiado poder, defendem várias vozes.

Desde o início que os contactos não foram fáceis, reconhece Maria Luís Albuquerque. A ex-ministra deu conta de centenas de reuniões, com várias versões do mesmo plano de reestruturação, que circulavam entre a equipa portuguesa e a comunitária. Mas sublinha, também, que a DG Comp podia ter recusado a recapitalização pública, que aprovou ainda que a título provisório. Luís Amado, ex-presidente do banco, também notou um “preconceito de raiz” em relação ao Banif.

E enquanto a Comissão recusou sucessivos planos de reestruturação, ou versões, consoante as versões, foi perdendo tempo, capital negocial e somando problemas. O Banif e as autoridades portuguesas, então ainda coordenadas, recusaram-se reduzir o Banif ao “banco das ilhas”.

Com a mudança de comissários, a posição endureceu do outro lado, e nova dona da pasta, Margrethe Vestager, exigiu um plano credível e ameaçou com a abertura de uma investigação aprofundada, o que acabou por acontecer em agosto de 2015. E quando a parte portuguesa avança com um plano de reestruturação em linha com o exigido, já Portugal tinha entrado no vazio político que marca o período eleitoral.

Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado realça essa incapacidade de negociar o tema Banif a nível político. “É óbvio que o império burocrático europeu impôs as suas regras”, conclui o ex-presidente do banco.

Já Maria Luís Albuquerque acrescenta outro argumento. Diz que houve uma mudança de prazos súbita de Bruxelas e comunicada apenas à última hora. Maria Luís garante que, até 12 de novembro, o governo PSD/CDS-PP contava com um prazo alargado para resolver o problema do Banif. No limite, a ajuda de Estado só teria de ser devolvida em 2017 e a própria venda da participação pública de 60% deveria ficar concluída apenas em março de 2016. Até que aparece a primeira carta da DG Comp a referir o final de 2015.

A indicação deste prazo marca o “retrocesso” no processo do Banif, segundo Maria Luís Albuquerque. Uma pressa que é explicada pela perceção da ligação entre a solução para o Banif e a entrada em vigor de novas regras da união bancária, que transferem poder para as entidades europeias, ao mesmo tempo que impõem perdas a todos os credores, incluindo grandes depositantes, em caso de resolução.

“A compressão do prazo é estranha porque é súbita. Este prazo aparece de repente e numa altura em que a DG Comp terá entendido (Maria Luís hesita na escolha da palavra) que esse prazo passava a ser relevante por causa das novas regras” da resolução bancária.

Por outro lado, foi também a DG Comp que impediu a integração do Banif na Caixa, como pretendiam governo e Banco de Portugal, e que recusou ofertas de compra para a posição do Estado no banco por envolverem mais ajudas públicas. E foram ainda os técnicos da concorrência que terão exigido que, já em fase de resolução, o comprador tivesse um perfil que apenas era preenchido pelo Santander, uma vez que o Popular acabou por não ir até ao fim. Uma cadência de imposições que leva a deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, a deixar a interrogação:

“Estamos condenados a ser vítimas desta hipocrisia ou podemo-nos defender desta arbitrariedade?”

O ministro das Finanças, Mário Centeno, admite que a hierarquia de prioridades — imposta pelas instâncias europeias — “não era a desejável”. A concorrência estava à frente dos interesses dos contribuintes.

Também os responsáveis do Banco de Portugal remetem responsabilidades para as instâncias europeias. Para além de Carlos Costa, que apontou para as falhas de atuação no atual modelo de supervisão europeu, falhas que Portugal está a testar de forma dolorosa, também António Varela aponta o dedo na direção da Europa Central, mas mais direcionado para Frankfurt.

Foi o conselho de supervisão do Banco Central Europeu que inviabilizou a criação de um banco de transição para o Banif, solução defendida pelo Banco de Portugal, disse o ex-administrador do supervisor bancário.

E enquanto o então representante do Banco de Portugal defendia esta proposta, só na manhã seguinte “é que soube que, uns andares acima, estava reunido outro órgão do BCE (o conselho de governadores) que decidiu que o banco tinha de ser resolvido até segunda-feira”, porque nesse dia perdia o estatuto de contraparte, isto é, a capacidade de se financiar no eurosistema.

A ata desta reunião, alegadamente presidida por Vítor Constâncio, foi apenas parcialmente revelada, o suficiente para mostrar que o papel do Banco de Portugal na imposição de restrições ao Banif foi mais relevante do que até então tinha sido dado a entender.

O governador português assume que propôs a limitação do acesso ao financiamento, mas garante que foi o BCE que decidiu ir mais longe e aplicar antes uma medida de suspensão: “a decisão do BCE foi além da proposta efetuada pelo Banco de Portugal”, garantiu o banco central em comunicado.

Carlos Costa regressa esta terça-feira à comissão de inquérito às 09h30. Às 11h30 será a vez de se iniciar a segunda audição a Mário Centeno.

 

 

 

Banif. PSD admite enviar depoimento de Centeno para o Ministério Público

Quinta-feira, Abril 21st, 2016

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Ionline

PSD prepara-se para encostar o ministro das Finanças à parede, propondo o envio para a justiça daquilo que considera ser uma “mentira” à comissão de inquérito

O PSD insiste em que Mário Centeno mentiu à comissão de inquérito do Banif. Ontem, o ministro das Finanças veio ao parlamento reiterar não ter intercedido a favor da proposta do Santander, mas os deputados sociais-democratas registaram que, desta vez, Centeno admitiu ter feito um telefonema à presidente do Conselho de Supervisão do BCE, Danièle Nouy.

Face às alegadas contradições de Centeno, no PSD discute-se a possibilidade de extrair uma certidão das declarações do ministro e enviá-la ao Ministério Público. É que as declarações prestadas numa comissão de inquérito equivalem em termos legais aos depoimentos feitos perante um tribunal penal. Por isso, uma mentira constitui crime de falsas declarações.

Centeno havia garantido, na primeira audição na comissão Banif, que não tinha tomado qualquer iniciativa para favorecer o Santander. Mas num email revelado pelo grupo parlamentar social-democrata, Danièle Nouy, líder do conselho do Mecanismo Único de Supervisão, indica que respondeu a um pedido de Centeno para desbloquear a venda do Banif ao banco espanhol.

O ministro admitiu ontem ter feito o telefonema para Nouy, mas justificou que o intuito foi solicitar “os bons ofícios” do BCE para ultrapassar as restrições que estavam a ser colocadas pela Comissão Europeia quanto ao processo de venda do Banif. “As diligências aproveitariam a qualquer interessado na compra do Banif”, argumentou Centeno. E, acrescentou, à hora a que o telefonema ocorreu, “apenas tinha sido recebida a proposta do Banco Santander Totta, tendo as restantes sido recebidas em momento posterior”.

Esta versão do ministro não convence os sociais-democratas. “Há uma mentira”, insiste ao i um dos deputados do PSD na comissão, defendendo que “prestar falsas declarações é crime”. Oficialmente, o PSD ainda não discutiu internamente o assunto, mas o i sabe que os sociais-democratas tencionam levantar a questão na próxima reunião da mesa da comissão, que deve acontecer até ao final da semana.

A dúvida, agora, entre os deputados do PSD é se, independentemente da decisão da comissão, levam o caso ao Ministério Público. “É um assunto que tem de ser votado na comissão, mas claro que a geringonça pode bloquear a extração de uma certidão para participar o crime ao Ministério Público”, admite um parlamentar.

No PSD há, porém, quem acredite que, independentemente de a comissão participar o crime, “é dever do Ministério Público agir quando há declarações que são públicas e constituem crime”.

“Isto não pode ser ‘o da Joana’. Não se pode criar a ideia de que as pessoas podem vir mentir às comissões”, defende uma fonte do PSD, que lembra outro caso que pode ser também participado ao Ministério Público: o das declarações de Ricardo Salgado durante a comissão do BES. Salgado garantiu na altura que não tinha qualquer offshore no Panamá, em resposta ao deputado do PSD Carlos Alberto Amorim. Agora, os dados avançados pela investigação jornalística sobre os Papéis do Panamá revelam que o banqueiro mentiu. “É outro caso em que o Ministério Público devia atuar”, defende a mesma fonte.

No caso do BES, com a comissão já extinta, a iniciativa não pode passar pelo parlamento. “Como estamos a falar de declarações que são públicas, o Ministério Público pode agir”, considera o deputado, que também nesse caso não descarta a possibilidade de os sociais-democratas apresentarem uma participação contra Ricardo Salgado pelo crime de falsas declarações.

O caso de Centeno é, porém, a grande prioridade do PSD. Com Maria Luís Albuquerque debaixo de fogo na comissão do Banif, os sociais-democratas não querem deixar cair as contradições que descredibilizam o ministro das Finanças de António Costa.

“O que Centeno disse é tanto mais grave quanto agora vem reconhecer que o telefonema foi feito ainda antes de haver outras propostas. Ou seja, antes de o concurso chegar ao fim, já estava a defender a proposta do Santander”, aponta uma fonte do PSD.

Como o ministro nega ter intercedido a favor de qualquer proposta e refuta o relato feito pela dirigente do BCE, Danièle Nouy será, agora, chamada pela comissão a dar a sua versão dos factos. Como não é obrigada a vir ao parlamento, poderá responder por escrito. Mas este depoimento é central para a estratégia que o PSD desenhou para uma comissão de inquérito que investiga também a atuação do seu governo e a forma como o caso Banif foi gerido pela então ministra das Finanças, que é agora vice-presidente de Passos Coelho na direção do partido.

Centeno desmente Dombrovskis e diz que houve “forte imposição” de Bruxelas no Banif

Terça-feira, Abril 19th, 2016

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Negócios

Em resposta às declarações do vice-presidente da Comissão Europeia, em que recusava a imposição de soluções para a banca portuguesa, Mário Centeno não aceitou tal afirmação no caso Banif.

“Que não tenha havido uma forte imposição, e uma forte posição negocial da Direcção-Geral da Concorrência nesta fase do processo, não posso corroborar”. Foi assim que Mário Centeno respondeu a Valdis Dombrovskis, o vice-presidente da Comissão Europeia que rejeitou esta terça-feira, 19 de Abril, que Bruxelas tenha imposto soluções à banca portuguesa.

“Em relação à Direcção-Geral da Concorrência, a verdade é que podemos ser justos: não foi a Direcção-Geral da Concorrência que definiu todas as condições do processo”, afirmou. Não todas mas quase todas, na óptica do ministro das Finanças.

Na sua explicação, o ministro das Finanças afirmou um aspecto que foi defendido pelo Governo português: a não inclusão dos detentores de dívida sénior nas perdas da resolução, que imporia encargos aos accionistas e aos titulares de dívida subordinada do Banif.

“Face a outras matérias [nomeadamente a recusa de uma licença bancária a um banco de transição], posso garantir que não foi resultado de uma sugestão do Governo português. Foi algo que, no contexto das negociações, apareceu na mesa, muito em cima do momento, proposto pela Comissão Europeia”, avançou ainda Mário Centeno.

Grande parte das personalidades que já estiveram na comissão de inquérito ao Banif, incluindo Mário Centeno mas também a antecessora social-democrata Maria Luís Albuquerque, e o governador Carlos Costa, defenderam que houve uma forte pressão de Bruxelas e do Banco Central Europeu em relação ao Banif, que acabou por ser alvo de uma medida de resolução a 20 de Dezembro de 2015, com venda imediata da actividade bancária ao Santander Totta e criação de um veículo de gestão dos activos que o banco não quis comprar.

Centeno volta a contradizer Santander no empréstimo pós-resolução do Banif

Terça-feira, Abril 19th, 2016

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Negócios

O Estado ficou sem 1,8 mil milhões de euros de almofada de capital com a resolução do Banif e precisou daquele dinheiro. Foi o Santander que o emprestou. Mas isso não foi um ponto definido na resolução, garante Centeno. O que vai contra o que disse o Santander Totta.

O ministro das Finanças nega que o financiamento que o Santander concedeu ao Estado após a resolução do Banif tenha sido acordado no âmbito daquela operação realizada a 20 de Dezembro de 2015, quando o banco foi vendido à instituição de capitais espanhóis.

“Havia necessidade de repor o ‘cash buffer’ [almofada de capital] que tinha sido afectado”, explicou Mário Centeno na sua segunda audição à comissão de inquérito ao Banif nesta terça-feira, 19 de Abril.

Na resolução do banco sediado no Funchal, o Estado gastou, através do Orçamento do Estado, 1,8 mil milhões de euros. Perto de 400 milhões de euros foram emprestados ao Fundo de Resolução, que ficou responsável por assegurar o resto da injecção estatal necessária após a injecção. Isto em Dezembro de 2015. Em Fevereiro, o Santander dá um empréstimo, também de 1,8 mil milhões de euros, ao Banif, como noticiou o Negócios na altura.

“Houve uma colocação de dívida, feita à taxa de mercado”, disse o governante, acrescentando que tinha sido “negociada posteriormente à resolução”. Questionado pelo deputado social-democrata Marques Guedes sobre se tinha sido uma contrapartida, Centeno rejeitou. “Não foi uma contrapartida”. O ministro negou que esta emissão de dívida do Estado, feita com o Santander como destinatário e não um leilão com vários compradores, tenha sido negociada na resolução.

Na altura, o Santander tinha uma “liquidez acrescida, que tinha que ver com a operação anterior”, segundo Centeno. E o ministro diz que o Estado precisava daquele montante porque tinha sido precisamente naquilo que tinha sido afectado em Dezembro.

Totta defende que estava acordado desde Dezembro

“No âmbito das medidas de capitalização para correcção do balanço do Banif imediatamente anteriores à medida de resolução e à venda de activos e passivos, foi acordado com o Santander Totta a aquisição por este banco, em data posterior, de títulos de dívida pública sob a forma de MTN (“medium term notes”) no montante de 1.766 milhões de euros então emitidos pelo IGCP”, indicou o Banco Santander Totta em comunicado no dia 25 de Fevereiro, após a notícia do Negócios que dava conta da operação.

 

Ou seja, segundo o banco, a compra de dívida estava definida em Dezembro. De acordo com o ministro, a aquisição foi uma consequência da resolução mas não ficou definido logo no momento.