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CDS quer recuar a 2008 para investigar o Banif

Domingo, Janeiro 17th, 2016

Citamos

Económico

Democratas cristãos querem que inquérito parlamentar investigue fuga de informação que levou a levantamento em massa de depósitos.

O CDS quer que a comissão de inquérito investigue o universo Banif deste 2008, o que abrangerá decisões tomadas pelo então governo de José Sócrates. O CDS quer ainda que a comissão apure de onde partiu a fuga de informação que levou aos levantamentos em massa de depósitos dias antes da resolução do banco.

No requerimento entregue hoje no Parlamento para pedir a criação de uma comissão de inquérito à queda e venda da actividade do Banif ao Santander, o CDS sustenta que a decisão tomada por António Costa para resolver o problema do Banif suscita “dúvidas muito relevantes” e diz que os deputados têm de apurar “as razões que precipitarem” a resolução do banco. A bancada centrista quer saber “o tempo e o modo da decisão”, bem como as motivações e a repartição dos custos. Debruçando-se sobretudo sobre a decisão já tomada pelo governo de António Costa, o CDS quer, contudo, recuar no tempo e, tal como o PSD, coloca como objecto da investigação as decisões tomadas desde o governo de José Sócrates,

incluindo a actuação do Executivo, do supervisor e das entidades europeias.

Mas há uma matéria que o CDS incluiu no seu requerimento que vai além do que consta no do PSD: os centristas querem ainda que a futura comissão de inquérito parlamentar descubra “a origem” da fuga de informação que deu origem a uma notícia que levou a levantamentos “em massa” de depósitos do banco dias antes da tomada de decisão do governo PS.

O CDS, que aponta 120 dias como o prazo de duração da comissão, quer ainda apurar o que levou “à necessidade de recapitalização” do Banif em 2013, apreciar “os termos da transição de activos e responsabilidades para o veículo de gestão de activos Naviget” e a “persistência de capacidades nacionais no sector financeiro português”. É, contudo, no tempo final do Banif e na “degradação” que se deu antes da tomada de decisão que o CDS quer focar o inquérito. Isto é, nos contornos da decisão de António Costa.

Os vários projectos para a criação de uma comissão de inquérito ao BANIF serão apreciados dia 22 deste mês.

Afinal, quem é o BANIF?

Segunda-feira, Janeiro 14th, 2013

Citamos

Esquerda Net

O que o BANIF continua a demonstrar é que entre aqueles que vêm pedir auxílio do dinheiro público aos atuais governantes, estão sempre aqueles que estão ou estiveram ligados a outros Governos anteriores.

Desde que a decisão de injetar 1,1 mil milhões de euros nossos no BANIF foi tornada pública, os arautos da bonança (para variar) desdobraram-se em declarações de tranquilidade: “O BANIF não é o BPN”. Certamente, estas declarações não tranquilizam ninguém, porque ninguém se esquece de Teixeira dos Santos e dos mesmos arautos da bonança a dizer que se tinha de salvar o BPN sob o risco de contaminar o restante sector.

Na altura, Teixeira do Santos, além de anunciar que “nada seria feito que prejudicasse o interesse dos contribuintes”, afirmava que a injeção de 600 milhões de euros seria para que o Banco não fechasse portas. O tempo passou, muita tinta correu, e hoje o buraco pelos vistos pode ir até aos 7 mil milhões. Certamente, não estamos a assistir com o BANIF o mesmo imbróglio que se assistiu com o BPN. Mas a história recente deve levar-nos desde o início destes processos a duvidar de declarações de tranquilidade.

Mas, à parte dos números, há uma coisa em que o BPN e o BANIF são iguais: nas ligações com o poder político. Se o BPN tinha Dias Loureiro e Oliveira Costa, antigos ministros de Cavaco, o BANIF tem também a sua quota de ligações a Cavaco, Carlos Moedas, José Sócrates e Alberto João Jardim. Agora que estão injetados no BANIF 1,1 mil milhões dos contribuintes, é nosso direito saber quem manda nos destinos desse direito. E uma coisa é certa, comparações à parte, para o banco precisar de 1,1 mil milhões de euros, alguém teve culpa. E novamente, é o dinheiro público que o vai salvar.

Um antigo Presidente do Conselho de Administração, Marques dos Santos, disse em 2010 que o BANIF continuaria “autónomo e independente”. Mas então vejamos quem é o BANIF:

– José Lino Tranquada Gomes, Secretário da Assembleia Geral entre 2000 e 2006 e Vogal do Conselho Fiscal entre 2007 e 2011, é deputado na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira (ALRAM) pelo PSD;

– Rui Manuel Silva Gomes do Amaral, administrador de 2000 a 2004, foi Administrador do Banco de Portugal e chegou a ser nomeado pelo PS para Presidente do Conselho de Administração do Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e Pescas;

– Carlos Alberto Rosa, Presidente do Conselho Fiscal entre 2000 e 2006, foi deputado do CDS na Assembleia da República;

– José Eduardo Nunes de Melo, administrador em 2006, foi membro do executivo da Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima pela coligação PSD/CDS;

– Fernando Mário Teixeira de Almeida, Presidente do Conselho Fiscal de 2006 a 2012, foi membro da Comissão Política de Cavaco Silva no PSD;

– António Ernesto Neto da Silva, Vogal do Conselho Fiscal de 2007 a 2012, foi Secretário de Estado do Comércio Externo do XI Governo de Cavaco Silva;

– Diogo António Rodrigues da Silveira, administrador de 2007 a 2012, foi sócio de Carlos Moedas, Secretário de Estado Adjunto do Primeiro Ministro do atual Governo;

– João Manuel Figueira da Silva Santos, Secretário da Assembleia Geral em 2007, membro do Conselho Regional do PSD Madeira;

– Luís Manuel Moreira de Campos e Cunha, Presidente da Assembleia Geral entre 2007 e 2010, foi Ministro do primeiro Governo de José Sócrates;

– Miguel José Luís de Sousa, Secretário da Assembleia Geral de 2007 a 2011 e atual Presidente da Assembleia Geral, é deputado do PSD na ALRAM;

– Manuel Carlos de Carvalho Fernandes, administrador desde 2012, foi Secretário de Estado do Tesouro do XI Governo, com Cavaco Silva como Primeiro-Ministro;

– Luís Filipe Marques Amado, atual Presidente do Conselho de Administração, foi Ministro em ambos os Governos de José Sócrates;

Um quem é quem do BANIF não é um exercício de demagogia ou de areia nos olhos. Deve ser tido como um direito à informação estando, neste momento, o Estado e todos nós, para todos os efeitos, com a maior parte da responsabilidade nesse problema. Dizer que é demagogia é fugir ao que estes casos evidenciam: o que o BANIF continua a demonstrar é que entre aqueles que vêm pedir auxílio do dinheiro público aos atuais governantes, estão sempre aqueles que estão ou estiveram ligados a outros Governos anteriores. Não deixa de ser engraçado, e em igual maneira assustador, o modo como estes casos ilustram o braço dado da política e da banca.

Mais um episódio na história de amor-ódio: amor por parte do Estado, que vai sempre ao socorro dum banco em apuros; ódio por parte dos bancos, que só ajudam o Estado se os lucros forem motivo de grandes sorrisos.