Archive for the ‘Jorge Tomé’ Category

Banif não encontra dossiers de investimento de alguns clientes

Segunda-feira, Maio 22nd, 2017

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Público

Dossiers de investimento dos obrigacionistas são documentos essenciais para a CMVM avaliar as queixas que recebeu até ao momento.

O Banif ainda não conseguiu encontrar parte dos documentos dos clientes do banco que subscreveram obrigações subordinadas da instituição, soube o PÚBLICO junto de fontes do sector financeiro. Um ‘apagão’ que dificulta o trabalho da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) quando tenta averiguar se a venda desses produtos respeitou todas as regras e, assim, responder às queixas dos investidores que se dizem prejudicados.

O PÚBLICO sabe que nos últimos meses o Banif, o ‘banco mau’ que resultou do colapso da instituição fundada por Horácio Roque, recebeu da CMVM dezenas de pedidos de acesso a processos de investidores de obrigações subordinadas que foram emitidas pela instituição antes da recapitalização pública que decorreu a 31 de Dezembro de 2012, mas também nos três anos que se seguiram, antes do colapso do banco.

O PÚBLICO apurou que o Conselho de Administração liderado por Bracinha Vieira continua a desenvolver diligências para tentar recolher toda a documentação confidencial para a poder reencaminhar para a CMVM, para que esta entidade de supervisão possa avaliar o que se passou com a venda da dívida do banco. Ainda que o liquidatário já tenha dado resposta a cerca de metade dos pedidos, continua sem saber onde param muitos dos dossiers.

Uma fonte não oficial do Banco de Portugal refere que, não estando a documentação no Banif, onde devia estar, ou está perdida nas outras entidades envolvidas na resolução [Oitante e Santander] ou, na pior das hipóteses, pura e simplesmente desapareceu.

Ao contrário do BES, em que toda a documentação sensível ficou centralizada, o Banif foi dividido por três: no banco mau; na Oitante; e no Santander. A actividade residual do Banif, que ficou sem activos e passivos, inclui as filiais do Banif Cabo Verde e do Banif Brasil, assim como todas as contingências legais e fiscais. Já a Oitante foi o veículo criado pelo Banco de Portugal para receber os activos supostamente recuperáveis, mas que o grupo espanhol recusou. O Santander ficou com a parte comercial (não tóxica) e, por essa via, tem vindo a recolher toda a informação que, do ponto de vista do negócio lhe interessa.

Um outro responsável observou que as subscrições obrigacionistas do Banif estão a ser avaliadas caso a caso, cliente a cliente. E já foram detectadas situações diferentes. Não só de misselling, mas também há casos em que as regras foram cumpridas e outras, mais raras, em que o cliente foi aconselhado pelo banco por escrito a não investir e, mesmo assim, optou por o fazer.

No Banif estão em causa várias emissões de dívida, que foram colocadas ao longo do tempo, antes e depois de 2012, quando o Estado injectou 1.100 milhões de euros e se tornou o dono de mais de 90% das acções. Uma das condições desta operação era não pagar as que iriam vencer antes de devolver a ajuda pública.

Depois da recapitalização, em 2013, já com Jorge Tomé à frente do banco, houve uma nova emissão de obrigações seniores tendo os investidores sido reembolsados. Em 2014 tiveram lugar mais dois empréstimos, estes subordinados: um em dólares, de 30 milhões, liquidados em Janeiro de 2015, outro em euros, de 80 milhões, que não foi pago. Um responsável do antigo Banif notou que as duas emissões foram auditadas pela CMVM, que acompanhou todo o processo e a venda, e garantiu que há dossiers com o perfil de cada cliente, considerando legítimo admitir que se não foram encontrados é porque desapareceram.

Em Junho de 2016, depois de ter assumido a parte boa do banco fundado por Horácio Roque, o Santander Totta lançou uma emissão de obrigações subordinadas a 10 anos com um juro de 7,5%. E que se destinou aos credores do Banif menos protegidos, os cerca de 3500 clientes com obrigações subordinadas que ficaram no ‘banco mau’, e que procuram reaver o investimento feito, de 263 milhões de euros. A adesão à operação do Santander não implicou perda dos direitos sobre as obrigações subordinadas que subscreveram do Banif.

Face a estas informações, o PÚBLICO tentou obter esclarecimentos junto da CMVM e do Banif. A entidade de supervisão apenas disse que está a tratar as várias reclamações que recebeu. Já o Banif preferiu não comentar, alegando que se trata de informação sigilosa.

Desde o colapso do Banif, entraram na CMVM mais de mil reclamações de clientes: 883 no âmbito da associação de lesados, a ALBOA, e outras 503 desde Dezembro de 2015.

Jorge Tomé diz que obrigações do Banif eram vendidas como investimentos de risco

Sexta-feira, Julho 8th, 2016

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Público

Ex-CEO do banco respondeu no parlamento madeirense às declarações da associação de lesados.

O ex-presidente da Comissão Executiva do Banif, Jorge Tomé, disse esta quinta-feira no parlamento madeirense que as acções e as obrigações subordinadas do banco foram sempre vendidas como “investimento de risco”, contrariando assim os lesados, que afirmam ter sido enganados.

Falando na Comissão Eventual de Inquérito ao Banif, o responsável assegurou que “não aconteceram procedimentos menos próprios” na venda destes produtos, pelo menos no período entre 2012 e 2015, ao contrário do que relatam muitos dos ex-clientes. “O cliente tinha de saber o risco que corria, porque tinha de assinar uma declaração nesse sentido”, explicou, sublinhando que a rede do Banif “nunca incentivou ninguém a comprar acções e obrigações sem alertar para o risco do investimento”.

Jorge Tomé disse, também, que havia uma regra interna que não permitia a venda de obrigações em valor superior a 20% do património do cliente no Banif, vincando que todo o processo era acompanhado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). “O que mais nos chocou neste processo foi o não-pagamento das obrigações subordinadas. Não passou pela cabeça de ninguém não pagar as obrigações subordinadas”, afirmou. Em causa estão 263 milhões de euros e 3500 ex-clientes detentores de obrigações subordinadas.

Em Dezembro de 2015, o Banif foi vendido por 150 milhões de euros ao Santander Totta, mas a instituição não assumiu todos os activos, o que gerou três tipos de lesados: accionistas, obrigacionistas subordinados e obrigacionistas Rentipar (‘holding’ através da qual as filhas do fundador do banco, Horácio Roque, detinham a sua participação).

Jorge Tomé esclareceu, por outro lado, que o número total de accionistas do Banif era de 27 mil, representando 350 milhões de euros, dos quais 30% eram originários da Madeira. “Na Madeira, o Banif era o banco mais representativo e era claramente o banco líder, com 32% de quota de mercado”, disse, sublinhando que a instituição estava “muito entrosada” com as comunidades de emigrantes e com várias entidades socais, pelo que prestava um “serviço universal”.

Jorge Tomé admitiu que em 2012 o Banif era um banco “desalinhado” e com “muitos desequilíbrios”. Contudo, atribuiu à Direcção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia (DG Comp) grandes responsabilidades na aceleração do colapso da instituição, por não aprovar os planos de reestruturação e impor limitações operacionais.

A Comissão Eventual de Inquérito ao Banif da Assembleia Legislativa da Madeira é liderada pelo social-democrata Carlos Rodrigues e composta por deputados do PSD, CDS-PP, PS, JPP e BE.

Jorge Tomé. Banif podia ter sido vendido por 300 a 400 milhões na primeira metade de 2015 – como aconteceu

Quarta-feira, Junho 8th, 2016

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Observador Jorge Tomé ao vivo Comissão de Inquérito Banif

Jorge Tomé, ex-gestor do Banif, admite que o banco poderia ter sido vendido por 300 a 400 milhões, se o concurso de venda tivesse sido feito na primeira metade de 2015. Mas Estado não recuperava tudo.

Banif Brasil era “banco em que tudo funcionava bem”. Até haver “situações de ocultação”

Terça-feira, Maio 31st, 2016

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Negócios

“Foi uma das maiores surpresas da minha vida”, disse Carlos Duarte de Almeida, ex-CEO do Banif, em relação às irregularidades detectadas no Brasil. E critica as considerações feitas por Jorge Tomé. 

A antiga gestão do Banif em Portugal tem dificuldades em perceber o que se passou na unidade do banco no Brasil. Era uma instituição em que tudo funcionava bem.

“Não consigo explicar e quero dizer que foi uma das maiores surpresas da minha vida”, declarou na comissão parlamentar de inquérito ao Banif Carlos Duarte de Almeida, o presidente executivo do Banif após a morte de Horácio Roque, em 2010, e que ficou no cargo até 2012, quando entrou Jorge Tomé em funções.

Segundo o antigo CEO, o Banif no Brasil era um “banco em que tudo funcionava bem e tinha tudo em ordem”. Mas depois surgiu “um conjunto de operações” em que os factos “têm muito que ver com situações de ocultação, que impediram que qualquer das entidades que normalmente fazem [a fiscalização], incluindo o próprio conselho de administração, não conseguissem efectuar as suas funções”.

O Banco Central do Brasil investiga as alegadas irregularidades na instituição, tendo também uma acusação contra o conselho de administração, por não ter cumprido o dever de fiscalização sobre a equipa de gestão. Em 2012, entrou uma nova equipa de gestão no banco no Brasil, substituindo a equipa de António Júlio Rodrigues, que encontrou um “conjunto de situações que indiciavam práticas de gestão alegadamente irregulares e várias operações registadas incorrectamente ou não registadas nos livros”. Havia ainda dispensas de avales pessoais e não registo de hipotecas.

As operações de “ocultação” foram “objecto, no final de 2012, de uma ampla e profunda auditoria interna, que viria a confirmar as irregularidades, que serviria de base ao relatório do Banco Central do Brasil, no final de 2013, bastante penalizador pelo elevado número de provisões que obrigava a constituir”, defendeu. Nesse relatório, a directoria executiva foi acusada das irregularidades; a administração não executiva, de que fazia parte Carlos Duarte de Almeida e Joaquim Marques dos Santos, foi acusada de não ter “fiscalizado adequadamente os actos praticados pela directoria local”.

“Uma situação totalmente inesperada e mesmo inexplicável”, frisou Carlos Duarte de Almeida, no Banif desde 1988 até 2012.

Contradição de Duarte Almeida face a Jorge Tomé

“Uma gestão – diria – dolosa”, afirmou Jorge Tomé na sua audição na comissão de inquérito – aliás, o último CEO do banco disse mesmo que o “dossiê Banif justifica quase outra comissão de inquérito”.

Na audição desta terça-feira, 31 de Maio, Carlos Duarte de Almeida remeteu para Jorge Tomé mais esclarecimentos sobre os problemas no Brasil porque foi no seu mandato que tudo foi investigado. Além disso, contrariou o que foi dito por Tomé.

Segundo Jorge Tomé, apenas 10% do crédito concedido pela unidade brasileira é recuperável. O resto foi consumido pelas reservas que se tiveram de constituir para precaver imparidades decorrentes das perdas com os empréstimos concedidos, defendeu.

Duarte de Almeida recusa. E com muita distância. “Diria que não foi 10%. Foi cerca de 70% a 75% do valor que existia à data do final de 2011”.

 

Ex-presidente do Banif fala em informação “desconhecida” revelada na comissão de inquérito

Sexta-feira, Abril 29th, 2016

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Negócios

O ex-presidente executivo do Banif Jorge Tomé disse esta quinta-feira à noite que está a acompanhar “a par e passo” a comissão de inquérito sobre o banco e que há muita informação que a administração “desconhecia”.

Jorge Tomé disse aos jornalistas, à margem da conferência “Banif: O que foi e o que podia ter sido”, que decorreu no Porto, que, ao acompanhar a comissão parlamentar de inquérito do banco, tomou consciência de que “há muita informação que foi carregada pela comissão que a própria administração do Banif não fazia ideia nenhuma”.

O ex-presidente disse referir-se à “troca de correspondência entre o Banco de Portugal, com Bruxelas e o próprio Banco Central Europeu”, vincando que esta era “desconhecida” da administração do Banif.

Já no decorrer do debate organizado pelo jornal semanário Vida Económica, com o apoio da Ordem dos Contabilistas Certificados, apontou como “erro da gestão do Banif, considerando o desfecho que teve, um erro estratégico”.

“Quando chegamos à conclusão, após a negociação do catálogo de compromissos com Bruxelas, que o Banif não ia acabar com um volume de activos de 12 mil milhões de euros tal como estava no plano de capitalização e seria um Banif de seis mil milhões de euros, o conselho de administração deveria ter pedido a demissão e entregado a chave ao Estado português e ao Banco de Portugal”, referiu.

Questionado, também à margem, sobre se o plano de reestruturação do Banif chegou a ser aprovado por Bruxelas, Jorge Tomé disse que “o último plano de reestruturação tinha tudo para ser aprovado porque ia ao encontro com aquilo que estava estabelecido com a Direcção-Geral de Concorrência, mas de facto houve várias precipitações que fizeram com que o plano não chegasse a ser aprovado”.

Já sobre se pondera recorrer ao Tribunal Europeu se conseguir confirmar responsabilidades de outras entidades que não a administração do Banif, Jorge Tomé apontou que esse passo a ser dado tem de aguardar pelo “movimento que há com os lesados do banco”. “Isto não pode ter um movimento unipessoal, tem de ter um movimento mais alargado”, sintetizou.

Quanto ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, à pergunta sobre se este tem condições para continuar no cargo, vincou que não se dessem personalizar as questões. “Temos de avaliar o comportamento do Banco de Portugal neste processo e não uma pessoa em concreto. O Banco de Portugal tem de responder como estrutura em si”, afirmou.

 

O debate desta noite, que também contou com o professor da Universidade da Madeira Ricardo Cabral, foi conduzido pelo ex-presidente da câmara do Porto Rui Rio, que, em declarações aos jornalistas à entrada para a conferência, considerou que o processo foi “demasiado grave para passar impune”, referindo-se ao tema com as palavras “desastre” e “escândalo”.

 

Para Rui Rio, “deve ser responsabilizado quem tem responsabilidades”, disse o ex-autarca, acreditando que “não é só o Banco de Portugal”. “Estou convencido de que a Comissão Europeia também tem fortes responsabilidades e se as tiver também tem de ser assacada por exemplo com uma queixa no Tribunal Europeu”, afirmou.

Banif, a receita de um desastre

Quinta-feira, Abril 14th, 2016

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Negócios Opinião RUI PERES JORGE

Quase dez anos após o início da crise, o livro das regras de funcionamento bancário continua a ser escrito e reintrepretado, confirmando que a banca abusou, cresceu demais, e continua a ameaçar o nosso futuro, como prova o Banif.

Misture complacência da troika e das autoridades nacionais durante os dois primeiros anos para com o sistema financeiro, junte a confusão gerada por um desastre bancário chamado BES e reserve. No terceiro ano, durante os primeiros 11 meses, envolva lentamente várias pitadas de cálculo eleitoral, incluindo a decisão sobre a recondução na liderança do banco central. Termine com um choque inédito de perda de soberania nacional sobre o sistema bancário. O resultado, já imagina, é uma factura de mais de três mil milhões de euros paga pelos contribuintes para garantir a estabilidade do sistema financeiro português, com a subsequente entrega do banco a um gigante espanhol a mando de Bruxelas e Frankfurt.

Esta é, traços largos, a receita do desastre chamado Banif que continua a ser investigada pela comissão parlamentar de inquérito. Há ainda muita informação a recolher e a analisar, mas entre as cartas e as informações já divulgadas, e as audições de Jorge Tomé, António Varela e Carlos Costa, Mário Centeno e Maria Luís Albuquerque é já possível tirarmos algumas conclusões.

A História dá conta de uma aflitiva incapacidade de Jorge Tomé, Luís Amado e Maria Luís Albuquerque em reestruturarem o banco fundado por Horário Roque, um falhanço claro face ao objectivo que assumiram no final de 2012.

A seu favor, gestores e accionistas têm a difícil situação em que o banco se encontrava e o contexto económico e financeiro que o país atravessou, agravados pelo desastre do BES no Verão de 2013. É difícil, no entanto, compreender que tenham protelado o problema até não haver mais tempo.

O Banif ficará por isso para a História como mais um exemplo da complacência do Governo, da troika e do Banco de Portugal em limpar e recuperar o sector financeiro durante o programa de ajustamento. Nem mesmo instituições geridas por famílias que indiciavam colocar os bancos ao serviço dos respectivos grupos económicos motivaram actuações das autoridades. Não é demais lembrar que BES e Banif rebentaram após a saída limpa do programa em Junho de 2014, a qual deixou nos cofres públicos 6,4 mil milhões de euros, e nos balanços dos bancos mais de 20 mil milhões de euros crédito malparado – um problema que nos continua a perseguir.
Pior, em 2015, há indícios de que cálculos eleitorais adiaram uma acção mais enérgica por parte do Governo, possivelmente com a conivência do governador do Banco de Portugal que foi reconduzido no cargo nesse ano, apesar do desastre no BES e da oposição dos três partidos que vieram a formar Governo meses depois.
Finalmente, na dimensão nacional, o caso Banif evidencia ainda a fragilidade de Carlos Costa que, desde 2014, viu a sua credibilidade manchada pelo desastre no BES, ao mesmo tempo que a união bancária europeia transferia muito do seu poder para Bruxelas e Frankfurt. O homem que chegou a ser falado para líder de um governo de salvação nacional acabou a permitir que mais um banco à deriva se afundasse numa corrida aos depósitos.
Mas o Banif é ainda interessante em duas outras dimensões que se afirmaram já com o novo Governo e com a resolução e venda do Banif ao Santander.

O episódio exibe, por um lado, o grau de cedência de soberania para Bruxelas e Frankfurt – a maior desde a perda do escudo – que resulta da união bancária. Sendo claros, BCE e a Comissão Europeia decidiram o futuro de um banco contra a vontade do Governo, entregando-a a capital espanhol, e fizeram-no usando dinheiro dos contribuintes portugueses, não prestando as devidas explicações no Parlamento.

Por outro lado, mostra a desconfiança europeia em relação às novas regras europeias de resolução de bancos, criadas para defender os contribuintes com a promessa de impor antes perdas a obrigacionistas e depositantes acima de 100 mil euros. A verdade é que nem o Governo de António Costa, nem o BCE, nem a Comissão Europeia quiseram experimentar a liquidação do banco, ou as novas regras.
Ricardo Mourinho Félix, o novo secretário de Estado, num exercício de transparência que deve ser destacado, escreveu recentemente a perspectiva do Governo, defendendo, com números, que a resolução foi melhor do que a liquidação. Falta explicar e debater por que razão entendeu que gastar três mil milhões de euros dos contribuintes foi preferível a queimar 2,8 mil milhões de euros dos depositantes não seguros.

O actual Governo argumenta com os efeitos devastadores para a confiança no sistema financeiro português e para as economias da Madeira e dos Açores. Se assim é, somos forçados a concluir que mesmo um banco que pesava 6% no PIB português e 0,1% da Zona Euro pode ser demasiado grande para falir ou para impor perdas aos obrigacionistas e depositantes – a ponto de forçar um aumento significativo da dívida pública de um país já muito endividado.
Quase dez anos após o início da crise, o livro das regras de funcionamento bancário continua a ser escrito e reintrepretado, confirmando que a banca abusou, cresceu demais, e continua a ameaçar o nosso futuro.

Banif: como funcionava um “banco péssimo”?

Quarta-feira, Abril 13th, 2016

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Relatório da auditoria forense de 2014 conta como os créditos eram aprovados, sem garantias, se perdoavam juros a alguns clientes e se alteravam contratos ao arrepio das regras.

Há o caso de um cliente que recebeu um novo crédito, mesmo depois de ter passado por uma “reestruturação financeira”, e ficando a dever 500 mil euros ao Banif, só em juros de mora. Foi-lhe concedido um “perdão de juros”. E um novo crédito.

Outro queria aumentar a sua linha de crédito, que era de 20 milhões de euros. A proposta foi avaliada e aprovada. Poderia agora aceder, através de uma “conta caucionada”, a 40 milhões, desde que reforçasse o valor dos “colaterais”, garantias que o banco pode usar em caso de incumprimento. O Banif, porém, decidiu dar-lhe 50 milhões. E prescindiu de garantias.

A Deloitte, que o Banco de Portugal contratou para fazer uma auditoria forense à gestão do Banif, sublinha estes e outros casos, no seu relatório de Março de 2014 – há mais de dois anos. O Banco de Portugal abriu “processos de contra-ordenação” e expressou aos administradores do Banif a sua preocupação pela “gravidade das situações descritas”.

O relatório, a que o PÚBLICO teve acesso, descreve créditos aprovados e contratados “sem que existisse uma análise de risco”, o que é um evidente “incumprimento formal” das regras bancárias. Mais: “Aprovação de operações de crédito por parte do órgão de gestão, apesar do parecer condicionado, desfavorável ou até mesmo dispensa de emissão de parecer pelo analista de crédito.”

“Foram identificadas operações cuja data de contratação é anterior à aprovação da proposta”, continua o relatório. Em casos limite, o banco chegava a aprovar operações de crédito a clientes para pagarem dívidas ao próprio banco. E a lista continua, com acusações de haver nos registos contabilísticos “provisões mal calculadas” e um deficiente registo de imparidades.

António Varela, o ex-administrador que o Estado nomeou, em 2013, classificou o Banif, numaanimada audição da comissão de inquérito, como “banco péssimo”. E foi esta a situação que encontrou quando assumiu funções. Um banco sem registos sérios, nem sistema informático funcional.

Alguma coisa mudou, com a gestão de Jorge Tomé que Varela viria a integrar. O relatório refere essa mudança. Mas a dúvida permanece: como foi possível que um banco assim funcionasse, no período de mais apertada supervisão “intrusiva” da história da banca portuguesa? Até 2011 o Banif tinha estas insuficiências; no final de 2012 foi-lhe injectada uma ajuda pública de 1,1 mil milhões de euros, no pressuposto de ser um banco “viável”; e em Dezembro de 2015 foi resolvido com um prejuízo público de três mil milhões.

Governo de Passos Coelho deixou cair uma oferta de 700 milhões pelo Banif

Quarta-feira, Abril 13th, 2016

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Público

A proposta do fundo de Hong Kong, Ample, era mais do que uma “mera manifestação de interesse”: Tinha um valor de referência, admitia manter todos os empregos e balcões. O fundo pedia para fazer uma due-diligence que não foi autorizada

Em Maio de 2015, o Governo de Passos Coelho não deu sequência a uma oferta da Ample Harvest Investment Capital (e recusou, então, abrir concurso público) que admitia pagar 700 milhões de euros pelas acções do Estado no Banif, o que se traduziria numa perda de 15% para os contribuintes que, na altura, tinham verbas em risco de 825 milhões. Sete meses volvidos, o banco acabaria por ser alvo de uma resolução pelo actual executivo com um prejuízo para o Tesouro que pode chegar a 3000 milhões.

A intenção de aquisição do controlo do Banif pela Ample Harvest Investment Capital não foi até hoje referida em nenhuma das audições da Comissão Parlamentar de Inquérito à venda (ao Santander) e à resolução do Banif. E onde já estiveram a prestar esclarecimentos alguns dos protagonistas do dossier: o actual ministro Mário Centeno, a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, o ex-responsável pela supervisão, António Varela (e ex-administrador do Banif em representação do Estado), e os dois ex-presidentes da instituição, Luís Amado (não executivo), Jorge Tomé (executivo).

A “carta” é do conhecimento de todos e foi enviada em meados de Maio de 2015 ao anterior Governo pelo fundo de Hong Kong, mas não consta sequer da extensa documentação remetida aos deputados pelas várias entidades. Embora não vinculativa, e sujeita a due dilligence, chegou acompanhada da estrutura da operação e do valor de referência da compra de 61% do capital nas mãos do Estado: cerca de 700 milhões de euros. E contemplava todo o perímetro da instituição, como a compra de toda a rede de balcões, a manutenção dos postos de trabalho do Banif e a seguradora Açoreana. Detalhes que não a tornavam uma “mera manifestação de interesse”.

Mas o veredicto foi não dar seguimento à proposta da Ample por se considerar que não era oportuna e implicar à partida uma perda para o Tesouro da ordem dos 15%. Em Maio o dinheiro dos contribuintes em risco no Banif era de 825 milhões, já que dos 1100 milhões de euros que o Estado injectou o banco já tinha devolvido 275 milhões.

Os representantes do Estado no Banif levantaram obstáculos ao pedido da Ample de iniciar uma due-diligence, o que foi aceite pela gestão de Tomé, apurou o PÚBLICO junto de um ex-responsável da tutela. Informação validada por uma fonte não oficial do supervisor. A posição das Finanças foi fundamentada pela deliberação de Dezembro de 2014 que pretendia dividir o banco em dois: num “banco bom”, a vender até final de 2017; num “banco mau”, um veículo especial onde seriam colocados os activos não estratégicos e problemáticos. Um argumento forte, pois a expectativa do Governo e do BdP era que a cisão viesse a valorizar o activo, uma análise que se veio a revelar um erro.

O impasse no tema Banif não é alheio àquela que parecia ser, em Maio de 2015, a grande preocupação: o êxito do concurso público de privatização do Novo Banco (onde o Estado aplicara 3900 milhões) e que enfrentava então sérias dificuldades. O que, aliás, ficou explícito em Setembro, pois não apareceram ofertas firmes. E hoje o banco continua sem ser vendido.

A coincidência de calendários entre o Novo Banco e o Banif e as prioridades políticas terão estado por detrás da opção do anterior executivo, e do BdP, de recusarem abrir um concurso público organizado de venda voluntária do Banif durante o primeiro semestre do ano passado, quando a situação financeira estava aparentemente estabilizada. E que teria possibilitado discutir a proposta da Ample.

Silêncio sobre a Ample

Na CPI Jorge Tomé nunca aludiu à Ample, mas disse, num aparte, que tinha recebido uma proposta com um valor de referência. E estranhamente nada mais adiantou. O PÚBLICO tentou ao longo de todo o dia de ontem entrar em contacto com o gestor, que esteve sempre indisponível.

Este é mais um dos “mistérios” a que CPI terá de dar resposta, até porque a iniciativa do fundo de Hong Kong está devidamente documentada nas Finanças e no BdP.

Nas audições na CPI quer a ex-ministra, quer o governador, quer António Varela deram como explicação para não terem conseguido ao longo dos últimos dois anos vender o Banif o facto de só terem recebido cartas com “meras manifestações de interesse”.

Antes da resolução, Jorge Tomé acusou BdP de tornar Banif inviável

Terça-feira, Abril 5th, 2016

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O Banco de Portugal demorou mais de três meses a conceder o registo de idoneidade aos gestores do Banif. Um dia depois de Jorge Tomé informar o actual Governo do impasse, o supervisor emitiu parecer positivo.

Onze dias antes da venda e da resolução do Banif, o ex-presidente do banco, Jorge Tomé, escreveu ao Banco de Portugal (BdP) a acusar o supervisor de com as suas acções estar a “descredibilizar” e a “fragilizar” a instituição, pondo em causa a sua viabilidade. E, na sequência, admitiu renunciar ao cargo “por não lhe estar a ser dado o nível de confiança que deve merecer do BdP”.

Numa carta enviada a 9 de Dezembro ao governador do banco central, Carlos Costa, com conhecimento do ministro das Finanças Mário Centeno (nomeado a 26 de Novembro), Jorge Tomé evoca que “tem vindo a ser confrontado com inesperadas adversidades por parte do supervisor”, especialmente “por falta ou demora de resposta” ou “por imposição de medidas cuja razoabilidade não pode deixar de ser colocada em causa”.

E uma delas prendia-se com o facto de a maioria dos membros dos órgãos sociais do Banif, conselho de administração (liderado por Luís Amado) e comissão executiva, eleitos em assembleia geral a 26 de Agosto de 2015, terem estado quase três meses e meio à espera que o BdP se pronunciasse sobre a sua idoneidade para o exercício de cargos sociais.

“Há 105 dias que o Banif se encontra em actividade com uma comissão executiva de apenas dois elementos (dos cinco nomeados)” e um conselho de administração com 4 administradores (dos 9 nomeados) em “efectividade de funções”. A ausência de resposta de Carlos Costa, que será ouvido nesta terça-feira no Parlamento, foi interpretada por Tomé como visando “fragilizar a autoridade” da gestão e minar a sua “legitimidade” perante “a própria estrutura orgânica” do banco. Um dia depois, a 10 de Dezembro, o BdP emitia o registo de idoneidade aos gestores nomeados, por exemplo, aos ex-executivos Carlos Firme e Nunes Martins.

O compasso de espera ao nível da gestão é classificado pelo ex-banqueiro de inaceitável e de gerador de instabilidade no Banif, um banco estatal, onde o Estado arriscava perder verbas de 850 milhões (dos 1100 milhões injectados a 31 de Dezembro de 2012). E “por considerar que não lhe está a ser dado o nível de confiança que deve merecer” por parte de Carlos Costa, Tomé admite que “não poderá continuar em funções”.

Este foi apenas um episódio de vários relatados na carta de 9 de Dezembro e que contribuíram para as dúvidas que se estavam a levantar sobre as reais intenções do BdP. Isto dado que a equipa de Carlos Costa começara de “forma imprevista” a “colocar em causa todo o trabalho que vinha sendo articulado” entre o banco, as Finanças e o supervisor, com vista à “apresentação à DG Comp (Direcção-Geral de Concorrência Europeia) de uma solução de rentabilidade e capitalização para o Banif a partir de 2016”.

E a partir do último trimestre de 2015, lê-se, o BdP não só adiou deliberações, como não deu resposta a problemas que necessitavam de solução imediata. E a 17 de Novembro surgiu ainda com imposições prudenciais que não se previam e que contrariavam as avaliações dos auditores (a PwC) escolhidos por Carlos Costa (e pagos pelo Banif), para além “de colocarem em causa a credibilidade das contas de Setembro de 2015”, entretanto já divulgadas ao mercado com a chancela do supervisor. E onde o banco revelou lucros pela primeira vez desde a nacionalização, no valor de seis milhões.

Uma das alterações pedidas pelo BdP prendia-se com a necessidade de  um reforço adicional de imparidades de 177 milhões que iria colocar ao Banif “um inesperado e injustificado problema imediato de rácio de solvabilidade”, que ficaria abaixo do limite mínimo de 8%. O que não era indiferente. O não cumprimento do rácio era uma condição para o banco central decretar a resolução do banco – que desde o Verão já estava a ser programada nos bastidores do BdP.

O ex-administrador do BdP, António Varela, que na semana passada esteve na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à venda e resolução do Banif, confirmou que em Abril de 2015 começou a preparar um plano de resolução do Banif (criação de um banco de transição para venda) que finalizou em Junho, altura em que arrancaram os contactos com o Santander para a alienação da instituição (o que se viria mesmo a verificar a 20 de Dezembro por imposição da DG Comp). Varela esteve na CPI na dupla qualidade de ex-administrador do Banif em representação do Estado, entre Janeiro de 2013 e o Verão de 2014, e de ex-administrador do BdP, até Março deste ano.

Em direto/ Banif no Parlamento (dia 1 da comissão de inquérito). Os presidentes abrem as hostilidades

Terça-feira, Março 29th, 2016

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Observador Acompanhe aqui a Comissão de Inquérito