Archive for the ‘Créditos fiscais’ Category

Banif tem crédito sobre Fisco de 54 milhões de euros

Segunda-feira, Novembro 19th, 2018

Citamos

Negócios

O Banif pode reclamar até 54 milhões de euros ao Fisco, mais 50% do que o inicialmente estimado. O responsável é o regime especial aplicável aos activos por impostos diferidos.

O Banif, que se encontra em liquidação, tem um crédito de cerca de 54 milhões de euros sobre o Fisco, que poderá usar, em parte, para compensar eventuais dívidas fiscais. O montante é 50% acima do que o inicialmente estimado pela própria instituição.

Nas contas de 2016, foi contabilizada a conversão em créditos tributários de todos os activos por impostos diferidos abrangidos pelo regime especial para este tipo de activos: 53,6 milhões de euros.

A conversão é feita à luz do regime especial que foi criado durante o Governo de Passos Coelho e que, por compensação aos créditos tributários concedidos, implica a constituição de uma reserva a favor do Estado, que abre a porta à sua entrada como accionista.
Só que o Banif, como entrou em liquidação, não tem de cumprir esse passo: “a conversão dos activos por impostos diferidos em créditos tributários, efectuada já num cenário de liquidação, não implicou a constituição de qualquer reserva especial nem a atribuição dos correspondentes direitos de conversão”, de acordo com o relatório e contas do Banif.

O montante de 54 milhões de euros em créditos tributários, registado em 2016, é 50% superior ao conjunto de activos por impostos diferidos no ano anterior, que estava determinado em 36 milhões de euros.

A diferença tem uma justificação: “O reconhecimento destes 17.630 milhares de euros de activos por impostos diferidos em 2016 resultou da obtenção de informação que não estava disponível à data de aprovação das contas de 2015, e que implicou uma revisão da estimativa que tinha sido registada a 31 de Dezembro de 2015”, explica a instituição, que se encontra em liquidação.

Na prática, este crédito sobre o Fisco poderá servir, em parte, para compensar dívidas fiscais – dívidas relativas a impostos sobre o rendimento e o património – da instituição que foi alvo de uma medida de resolução a 20 de Dezembro de 2015.

O regime especial aplicável aos activos por impostos diferidos foi aprovado em 2014, mas as suas consequências continuam ainda por determinar, tendo em conta que, como o Negócios já noticiou, o Estado ficou com o direito de entrar em várias instituições financeiras como accionista, entre as quais o Novo Banco (no qual o Fundo de Resolução, que entra no perímetro das contas públicas, detém 25%) e do Haitong Bank, antigo BESI.

Santander compra Banif com crédito fiscal potencial de 289 milhões

Sexta-feira, Janeiro 8th, 2016

Citamos

Económico

A compra do Banif por 150 milhões de euros traz incluídos os activos por impostos diferidos do banco. Em Setembro tinham sido avaliados em 289 milhões de euros.

Quando o Santander comprou o Banif por 150 milhões de euros, não levou só a parte do negócio do banco que foi considerada saudável. Levou também a possibilidade de reclamar do Estado português um crédito fiscal num valor que rondará os 289 milhões de euros. De acordo com as deliberações do Banco de Portugal, os activos por impostos diferidos do Banif foram incluídos no pacote vendido ao Santander.

A 30 de Setembro de 2015, o Banif tinha no seu balanço activos por impostos diferidos (os chamados DTA, devido à designação inglesa ‘deferred tax assets’) no valor de 289,1 milhões de euros, mostra o relatório e contas do banco referente ao terceiro trimestre de 2015.

Este poderá não ser o valor, ao milímetro, que o Santander recebeu – por um lado, alguns dos DTA poderiam estar agregados a activos que não foram incluídos no pacote vendido; e por outro, a venda aconteceu em Dezembro, podendo entretanto terem-se gerado mais DTA – mas será uma boa aproximação do montante em causa. Primeiro, porque só não passou para o Santander “um conjunto muito restrito de activos”, explicou o Banco de Portugal, no momento da resolução. E depois, porque a venda aconteceu menos de três meses depois, a 20 de Dezembro.

O Económico contactou o Santander para confirmar o valor exacto que será relevante para um potencial crédito fiscal, mas não foi possível obter esclarecimentos até ao final desta edição.

E por que motivo os DTA do Banif são particularmente relevantes para os contribuintes? Porque o Banif aderiu ao novo regime, criado em Agosto de 2014 pelo anterior Governo, que garante que grande parte deste montante será, de um modo ou de outro, recuperada pelo banco. O mesmo não acontece com os bancos que não aderiram a esse regime como foi o caso, ironicamente, do Santander.

O regime foi criado para resolver um problema prudencial da banca relacionado com as regras de Basileia III (e não como forma de dar benesses fiscais) mas resulta, na prática, em dar garantias públicas a um activo dos bancos.

O diploma do Verão de 2014 aplica-se à fatia de leão dos DTA: aqueles que são gerados por imparidades de crédito ou por concessão de benefícios pós-emprego ou a longo prazo de empregados (por exemplo, com fundos de pensões).

Conforme explicou o fiscalista Luís Pinto, da EY, ao Económico, com a adesão a este novo regime, se o banco registar “resultados líquidos contabilísticos positivos”, pode deduzir este montante ao seu lucro tributável apurado antes da utilização dos DTA. Não pode, contudo, passar para uma situação de prejuízos fiscais, ressalva o especialista.

Dito de outro modo, pode baixar o lucro tributável até zero (obtendo um desconto na sua factura fiscal), mas não pode passar a ter prejuízos aos olhos do Fisco. Se o banco não conseguir, por isso, aproveitar a dedução toda num ano, pode guardá-la para anos futuros, “sem limite temporal”, confirma Luís Pinto.

Caso o banco apresente resultados líquidos negativos, pode converter o valor dos DTA num crédito fiscal, que até pode ser usado para compensar dívidas tributárias. Contudo, neste caso, surgem outras questões: os bancos têm de emitir obrigações, no valor de 110% do crédito fiscal em causa, convertíveis em acções a favor do Estado. A ideia seria pressionar os accionistas a recomprar estas obrigações, aumentando o capital do banco.

O esquema encontrado pelo anterior Governo visava, além disso, agradar a gregos e a troianos: ajudar a banca a cumprir os rácios de capital, mas não prejudicar o défice orçamental. É que qualquer compromisso de despesa assumido pelo Estado tem de ser registado no défice.

A ideia seria convencer o Eurostat de que se trata apenas de uma operação financeira, já que o Estado recebe um activo em troca. Mas a questão está inquinada. É que não foi publicada a portaria que define como é que este crédito fiscal pode ser usado para compensar dívidas tributárias, como é que pode ser utilizado pelo banco ou ainda como é que as obrigações emitidas em nome do Estado podem ser readquiridas pelos accionistas, frisa o mesmo fiscalista.