Archive for Maio, 2016

“Com Horácio Roque não estaríamos provavelmente aqui”

Terça-feira, Maio 31st, 2016

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Observador

Antigo gestor do Banif diz que a morte do fundador foi um golpe brutal, mas sublinha que Horácio Roque queria crescer sempre. Hoje admite que o banco devia ter parado para consolidar.

A morte inesperada de Horácio Roque, o fundador do Banif, em 2010, “foi uma fatalidade terrível” para o banco, admitiu esta terça-feira o antigo presidente e administrador financeiro.

Carlos Duarte de Almeida, que esteve no Banif mais de 20 anos, testemunhou que o desaparecimento de Horácio Roque foi um problema adicional para o banco, a somar a todos os problemas que afetavam já a banca nacional. “Perdemos o nosso líder e o maior acionista de forma brutal e durante vários meses faltou orientação estratégica”, afirmou na comissão de inquérito ao Banif.

“Com ele ao nosso lado, outras soluções teriam sido analisadas e não estaríamos provavelmente aqui”, num inquérito parlamentar onde se discute a resolução do Banif.

Apesar de destacar o papel decisivo de Horácio Roque na criação do grupo Banif, que nasceu de uma caixa económica falida, admitiu também que terá havido um excesso de ambição no crescimento. “Havia a ambição de crescer sempre. O grupo tornou-se demasiado grande e demasiado complexo e tinha de parar dois anos para consolidar esse crescimento”.

Olhando agora para trás admite que essa paragem deveria ter sido feita ente 2008 e 2010.

Mas o antigo gestor do Banif que Horácio Roque queria tornar o grupo num grande banco nacional, “era difícil convencê-lo a fazer um Stop and Go”. Roque queria que o Banif deixasse de ser o maior dos pequenos bancos, para passar a ser o mais pequeno dos grandes bancos.

Carlos Duarte de Almeida, que foi administrador financeiro durante vários anos e presidente executivo após a morte de Horácio Roque reconheceu também fragilidades na estratégia do Banif.

O elevado valor do crédito em risco, a exposição ao setor imobiliário e as dificuldades de consolidação de centenas de participações, foram fatores referidos, mas o antigo gestor assinala que o banco cresceu do nada, ao contrário de outras instituições que cresceram por aquisições. E para crescer teve de apostar nas margens do sistema bancário onde o risco é maior.

Duarte de Almeida foi questionado sobre as falhas e irregularidades detetadas na auditoria forense desenvolvida pela Deloitte a pedido do Banco de Portugal. O relatório que incide sobre 36 operações de decididas entre 2007 e 2012 identificou várias falhas na concessão de crédito, designadamente ao nível da atribuição de créditos e negociação de condições e juros, contra a recomendação do analista de risco. Outra das falhas identificada teve que ver com o incumprimento do limite da concessão de crédito a partes relacionadas, acionistas e empresas do grupo.

 Joaquim Paulo, responsável por esta auditoria, ouvido também está terça-feira, revelou que estes empréstimos foram aprovados pela comissão executiva do Banif. Duarte de Almeida, que foi administrador financeiro sem o pelouro do crédito, desconhece as irregularidades que terão sido apontadas por esta auditoria que ficou concluída em 2014. E lembra que há outros fatores que pesam na concessão e renegociação de crédito.

Nega ainda que o Banif tivesse alçapões e esqueletos no armário. Destaca contudo que o banco tinha uma elevada exposição ao imobiliário. Ainda que essa carteira tivesse um grau significativo de colaterais, a crise no imobiliário desvalorizou os imóveis dados como garantia e obrigou a reconhecer um nível crescente de imparidades (perdas).

Sobre as irregularidades detetadas no Brasil e que levaram a uma inspeção do Banco de Brasil, o gestor diz que foram uma surpresa. Mas apesar de reconhecer a sua gravidade, perdeu-se cerca de 30% da carteira de crédito, desvaloriza o impacto dos problemas do Banif Brasil no grupo Banif. E realça que 50% das provisões que o Banco do Brasil obrigou a fazer foram já anuladas.

Carlos Duarte de Almeida saiu da presidência executiva do Banif em 2012, tendo sido substituído por Jorge Tomé. Justifica a sua saída com a convicção de que o “Grupo Banif para mim era o comendador Horácio Roque”. Por outro lado, a herança manifestou a vontade expressa de cortar com o passado e relançar o banco com outras perspetivas.

Reconheceu igualmente que deixou uma herança difícil à nova gestão que teve de recorrer a uma capitalização pública em 2013.

Banif Brasil era “banco em que tudo funcionava bem”. Até haver “situações de ocultação”

Terça-feira, Maio 31st, 2016

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Negócios

“Foi uma das maiores surpresas da minha vida”, disse Carlos Duarte de Almeida, ex-CEO do Banif, em relação às irregularidades detectadas no Brasil. E critica as considerações feitas por Jorge Tomé. 

A antiga gestão do Banif em Portugal tem dificuldades em perceber o que se passou na unidade do banco no Brasil. Era uma instituição em que tudo funcionava bem.

“Não consigo explicar e quero dizer que foi uma das maiores surpresas da minha vida”, declarou na comissão parlamentar de inquérito ao Banif Carlos Duarte de Almeida, o presidente executivo do Banif após a morte de Horácio Roque, em 2010, e que ficou no cargo até 2012, quando entrou Jorge Tomé em funções.

Segundo o antigo CEO, o Banif no Brasil era um “banco em que tudo funcionava bem e tinha tudo em ordem”. Mas depois surgiu “um conjunto de operações” em que os factos “têm muito que ver com situações de ocultação, que impediram que qualquer das entidades que normalmente fazem [a fiscalização], incluindo o próprio conselho de administração, não conseguissem efectuar as suas funções”.

O Banco Central do Brasil investiga as alegadas irregularidades na instituição, tendo também uma acusação contra o conselho de administração, por não ter cumprido o dever de fiscalização sobre a equipa de gestão. Em 2012, entrou uma nova equipa de gestão no banco no Brasil, substituindo a equipa de António Júlio Rodrigues, que encontrou um “conjunto de situações que indiciavam práticas de gestão alegadamente irregulares e várias operações registadas incorrectamente ou não registadas nos livros”. Havia ainda dispensas de avales pessoais e não registo de hipotecas.

As operações de “ocultação” foram “objecto, no final de 2012, de uma ampla e profunda auditoria interna, que viria a confirmar as irregularidades, que serviria de base ao relatório do Banco Central do Brasil, no final de 2013, bastante penalizador pelo elevado número de provisões que obrigava a constituir”, defendeu. Nesse relatório, a directoria executiva foi acusada das irregularidades; a administração não executiva, de que fazia parte Carlos Duarte de Almeida e Joaquim Marques dos Santos, foi acusada de não ter “fiscalizado adequadamente os actos praticados pela directoria local”.

“Uma situação totalmente inesperada e mesmo inexplicável”, frisou Carlos Duarte de Almeida, no Banif desde 1988 até 2012.

Contradição de Duarte Almeida face a Jorge Tomé

“Uma gestão – diria – dolosa”, afirmou Jorge Tomé na sua audição na comissão de inquérito – aliás, o último CEO do banco disse mesmo que o “dossiê Banif justifica quase outra comissão de inquérito”.

Na audição desta terça-feira, 31 de Maio, Carlos Duarte de Almeida remeteu para Jorge Tomé mais esclarecimentos sobre os problemas no Brasil porque foi no seu mandato que tudo foi investigado. Além disso, contrariou o que foi dito por Tomé.

Segundo Jorge Tomé, apenas 10% do crédito concedido pela unidade brasileira é recuperável. O resto foi consumido pelas reservas que se tiveram de constituir para precaver imparidades decorrentes das perdas com os empréstimos concedidos, defendeu.

Duarte de Almeida recusa. E com muita distância. “Diria que não foi 10%. Foi cerca de 70% a 75% do valor que existia à data do final de 2011”.

 

Ofertas de compra do Banif em 2010 e 2011 eram “ridículas”, diz antigo presidente

Terça-feira, Maio 31st, 2016

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Público

Carlos Duarte de Almeida recordou no Parlamento que o banco se esforçou por encontrar um parceiro.

O antigo presidente executivo do Banif Carlos Duarte de Almeida afirmou no Parlamento que as propostas que chegaram em 2010 e 2011 – período durante o qual liderou o banco – para a compra da instituição eram “ridículas”.

“Procuramos arduamente em 2010 e 2011 por um parceiro estratégico. Por duas ocasiões estivemos muito perto de estabelecer parcerias. Mas por motivos fortuitos nenhuma dela se concretizou”, começou por afirmar o responsável. “As propostas que nos chegavam para a compra do banco eram ridículas. Nem podiam ser analisadas com seriedade”, disse Carlos Duarte de Almeida, durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao Banif.

O antecessor de Jorge Tomé no leme do Banif relatou aos deputados a evolução do grupo ao longo dos 23 anos em que esteve ao serviço do banco, 21 anos e meio dos quais enquanto administrador financeiro. “Dediquei mais de 23 anos da minha vida e da carreira profissional ao projecto. Entrei com 31 anos para o grupo recém-criado e saí com 54 anos”, afirmou, destacando a grande influência do fundador, Horácio Roque, para o crescimento do Banif.

“O grupo Banif e em particular o seu fundador incutiam o ‘espírito de acreditar'”, realçou, sublinhando que em meados de 2010 houve consciência entre os gestores do banco de que “para dar dois passos em frente o Banif tinha que dar dois passos atrás”. E destacou: “Com a morte do comendador, fui CEO [presidente executivo]. Só no banco é que eu fui CEO, já que na holding não havia comissão executiva. Sabíamos que a futura administração [liderada por Jorge Tomé] não teria tarefa fácil”.

Segundo Duarte de Almeida, “a perda de Horácio Roque foi brutal, por ser inesperada” e levou a que “durante vários meses faltasse orientação estratégica” ao grupo financeiro. “Com ele, estou certo de que hoje não estaríamos aqui”, lançou, lamentando que “aquilo a que se chama o ‘stop and go’ [parar e andar] não era feito”.

O responsável admitiu que, “olhando para trás, é de reconhecer que o grupo se tornou demasiado grande e demasiado complexo”. E “precisava de dois anos ,pelo menos” para recuperar o terreno perdido, frisou.

“Começámos [a reestruturação] em 2010 mas já não foi a tempo. Devíamos ter começado em 2008 ou 2009”, afirmou, reforçando que neste “grupo liderado por uma personalidade como Horácio Roque, era muito difícil convencê-lo que para crescer mais era preciso parar um bocadinho”.

De resto, Duarte de Almeida admitiu que a herança para a nova gestão foi de um banco com “pontos fortes” mas também com “muitas carências”.

O gestor assinalou que já em 2012 havia “elevados rácios de incumprimento no crédito”, pelo que “não havia alçapões nem esqueletos no armário” quando a administração de Jorge Tomé tomou posse. “O crédito em risco sobre o crédito total era de 16% quando saímos em 2012”, afirmou, sublinhando que não houve grande variação neste rácio nos anos seguintes.

Certo é que “o grupo Banif nasceu do nada e esteve 20 anos a crescer” e, “não sendo um banco do sistema, tinha que crescer na franja do mercado”, o que aumentava as probabilidades de ter problemas ao nível da carteira de crédito.

Deloitte deu prioridade a risco de crédito na auditoria forense ao Banif

Terça-feira, Maio 31st, 2016

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Negócios

O “cumprimento dos procedimentos de análise de risco” e a “monitorização de risco de crédito” do Banif foram prioridades na auditoria entregue ao BdP em 2014 e onde não foram detectados indícios de práticas criminais.

A análise do risco dos créditos concedidos pelo Banif foi uma das prioridades da auditoria forense conduzida pela Deloitte sobre o período entre 2007 e 2012, revelou hoje um responsável da consultora.

O Banco de Portugal pediu à Deloitte uma “análise de conjunto” das “operações de concessão de crédito” do Banif, revelou na comissão parlamentar de inquérito do banco Joaquim Paulo, sócio da consultora.

O “cumprimento dos procedimentos de análise de risco” e a “monitorização de risco de crédito” do Banif foram prioridades da Deloitte na auditoria que o Banco de Portugal recebeu em 2014 e onde não foram detectados indícios de práticas criminais.

A auditoria detectou, contudo, irregularidades ao nível do controlo de créditos concedidos ao Banif e a empresas do grupo, como já havia reconhecido em Abril o governador do Banco de Portugal.

Ouvido então no parlamento, o governador Carlos Costa declarou que a auditoria da Deloitte deu origem a processos de contra-ordenação, mas não foram comunicados “indícios de práticas criminais”.

“Não foram comunicados ao Ministério Público indícios de práticas criminais”, sublinhou, na altura, Carlos Costa, que falava na comissão de inquérito ao Banif.

A auditoria em questão – elaborada pela Deloitte – falava em irregularidades nas operações feitas entre empresas ligadas ao Banif e “deu origem a processos de contra-ordenação”, alguns ainda em curso, mas não houve comunicações ao Ministério Pública sobre eventuais actos criminosos.

Em 20 de Dezembro de 2015, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif, com a venda de parte da actividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a transferência de outros activos – incluindo ‘tóxicos’ – para uma nova sociedade veículo.

Já não há Banco de Portugal

Domingo, Maio 29th, 2016

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A Estátua do Sal Opinião Nicolau Santos in Expresso Diário 27/05/2016

Cada vez é mais evidente que o Banco de Portugal já não é o Banco de Portugal, mas uma agência do Banco Central Europeu, que atua por ordens de Frankfurt e que, quando decide pela sua cabeça, desculpa-se depois com as ordens que supostamente vêm de fora. Os exemplos já são muitos mas hoje surgiu mais um.

Pelo seu estatuto orgânico, o Banco de Portugal apenas obedece ao BCE. O governador é inamovível e não pode ser demitido pelo Governo, a não ser no caso de falha grave (mas até agora nunca tal aconteceu em nenhum país da União Europeia). E quando o país foi obrigado a cortar duramente em salários e reformas, os funcionários do Banco de Portugal mantiveram-se olimpicamente “a latere” desse esforço.

A primeira grande confusão veio, contudo, com a resolução do BES. Supostamente, o BCE decidiu exigir num fim-de-semana uma linha de crédito de três mil milhões concedida ao banco e impedir o seu acesso para se refinanciar junto do Eurosistema. O Governo PSD/CDS não lutou contra esta imposição, o Banco de Portugal também não e o terceiro maior banco do sistema, na altura já liderado por uma pessoa escolhida e convidada pelo próprio governador, Vítor Bento, foi mesmo riscado do mapa, com prejuízos enormes para milhares de depositantes e acionistas e para a economia nacional.

Não contente com isto o Banco de Portugal voltou a ter uma atuação perfeitamente opaca no caso do Banif, cuja resolução impôs em Dezembro de 2015, depois de ter assistido de forma passiva à aparente degradação da situação, tanto mais que tinha um homem nomeado por si na administração do banco, que depois passou a ser o responsável pela supervisão do banco central. Para além do custo para acionistas e clientes, desta vez os contribuintes também receberam uma fatura de três mil milhões para pagar. E o governador atirou responsabilidades para cima de todos (o presidente do Banif, o anterior e o atual Governo, a Comissão e o BCE), menos para si próprio.

Não contente com isso, o Banco de Portugal decidiu de repente passar cinco emissões obrigacionistas que estavam no Novo Banco para o banco mau, o que atraiu as atenções dos investidores internacionais para a situação do país e pressionou as taxas de juro da dívida pública para a alta, além de criar uma desconfiança acrescida na atração de investimento estrangeiro e novas pressões das agências de rating.

Agora, pelos vistos, o Banco de Portugal quebrou uma regra que se repetia anualmente: entregar os seus dividendos ao Estado em Abril, já que fecha as suas contas em Março. Pois bem, este ano passou essa entrega para Maio, o que está a ser um motivo adicional para em Bruxelas se pedir que o país seja alvo de sanções (pelos resultados de 2015) e que ponha em prática novas medidas (porque a evolução orçamental não está em linha com o previsto).

Disse o primeiro-ministro que, se o Banco de Portugal tivesse entregue as verbas em causa em Abril, a evolução orçamental estaria em linha com o previsto e seria mesmo mais favorável. Mais: explicou que bastaria isso para que o défice estivesse com uma evolução melhor, mesmo que o Banco de Portugal, justificando-se com uma alteração de regras, vá entregar este ano ao Estado apenas um terço do que entregou em anos anteriores.

Ora mesmo sem uma pessoa ser adepto das teorias da conspiração, começam a ser casos demais contra os interesses do país. Ou se levarmos a teoria ainda um pouco mais longe, começam a ser casos demais contra o atual Governo, com que obviamente o governador não compartilha as mesmas opções económicas e ideológicas.

Convenhamos, por isso, que Carlos Costa começa a estar a mais na liderança do Banco de Portugal. Mas como manifestamente não se vai demitir, então talvez seja boa ideia começar a chamar-lhe funcionário superior do BCE e não governador do Banco de Portugal – que, como digo, já não existe. O que há é uma casta de funcionários, que não estão sujeitos às leis do país, liderados por um senhor que está sempre do lado de Bruxelas e Frankfurt – e não de Portugal.

Catarina Martins: “Banco de Portugal está a jogar contra o próprio país”

Sexta-feira, Maio 27th, 2016

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Negócios

A porta-voz do Bloco de Esquerda criticou o aumento de provisões do Banco de Portugal, que levou a que pagasse menos 85 milhões de euros do que no ano passado ao Estado. Costa justificou com regras europeias; na Irlanda nada aconteceu, contrapôs a bloquista.

O Banco de Portugal entregou menos dinheiro ao Estado em 2015 a título de dividendos pela compra de dívida pública. Em causa estão pelo menos 47 milhões de euros em dividendos a menos face a 2014, mais outro tanto em impostos que deixam de ser pagos (38 milhões de euros, de acordo com o relatório e contas da instituição). Catarina Martins diz que este é um “acontecimento estranho” que leva a bloquista a concluir que o Banco de Portugal está a “contribuir de forma negativa para a consolidação” e a “jogar contra o próprio país”.

“O Banco de Portugal compra dívida pública portuguesa, dívida privada, com isso faz juros e tem lucro. Com esse lucro paga dividendos ao Estado, seu accionista”, explicou Catarina Martins. Sucede que no ano passado a instituição “decidiu aumentar as provisões com medo de perdas futuras”, o que “faz com que vá pagar menos 100 milhões de euros em impostos e dividendos” ao Estado, face a 2014. Isso significa que “o Banco de Portugal está a contribuir de forma negativa para a consolidação” quando podia “estar a pôr 300 milhões de euros” no Estado.

Em termos rigorosos, o montante a menos que o Estado recebe relativo a 2015 (que só será pago este ano) é de cerca de 85 milhões de euros, entre dividendos e impostos. Já em 2013, os dividendos pagos ao Estado tinham caído de forma especialmente significativa – mais de 150 milhões de euros, para 202 milhões. Em 2014 voltaram a subir de forma ligeira, para 243 milhões, voltando a recuar no ano passado, para 186,3 milhões de euros.

Questionado pela porta-voz bloquista sobre os critérios do Banco de Portugal, Costa respondeu que não tem “uma informação precisa do montante da alteração”, mas afirmou que “resulta de regra europeia quanto à alteração de provisões em função da dívida adquirida”. Uma explicação que não convence Catarina Martins. “A alteração da regra europeia não ajuda a compreender [o que aconteceu] porque o Banco da Irlanda não fez o mesmo”, notou.

“Não é normal vivermos num país com o Banco de Portugal fazendo o que não se percebe, estando a jogar contra o próprio país”, criticou, mantendo a marcação cerrada ao governador Carlos Costa que a tem caracterizado.

Inquérito/Banif: PSD quer informações de Constâncio sobre eventual favorecimento ao Santander

Sexta-feira, Maio 27th, 2016

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O PSD apresentou as perguntas por escrito enviadas a Vítor Constâncio, procurando perceber os sociais-democratas se houve algum favorecimento do responsável ao Santander.

O PSD apresentou esta sexta-feira as perguntas por escrito enviadas ao vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vítor Constâncio, no âmbito da comissão de inquérito ao Banif, procurando perceber os sociais-democratas se houve algum favorecimento do responsável ao Santander.

“Seguramente que, não enquanto vice-governador do BCE e seu superior hierárquico, falou no dia 18 de dezembro com Daniéle Nouy para lhe pedir para desbloquear a oferta do Santander junto da Comissão [Europeia]. Fez esse contacto em conjunto, ou combinado com o dr. Mário Centeno?”, interrogam os sociais-democratas no texto a que a agência Lusa teve acesso.

Em causa está um contacto por email com a presidente do Conselho de Supervisão do BCE, Danièle Nouy, na manhã de 19 de dezembro (na véspera do anúncio da resolução do Banif e venda ao Santander) para o BCE “desbloquear a oferta do Santander junto da Comissão Europeia”.

Vítor Constâncio disponibilizou-se para depor por escrito na comissão de inquérito sobre o Banif mas apenas sobre matérias antes da entrada em funções do responsável na instituição com sede em Frankfurt, pelo que não é claro que venham a ser entregues respostas às questões do PSD sobre a venda ao Santander.

Os sociais-democratas sustentam, contudo, que tais contactos com Daniéle Nouy terão sido feitos “não enquanto vice-governador do BCE” e “superior hierárquico” da instituição, e são perentórios nas questões: “Não tendo, há data, terminado o processo competitivo de venda voluntária, porquê interceder pelo Santander? Quem lhe incumbiu essa função de promotor do Santander?”, questiona o PSD, coordenado na comissão de inquérito pelo deputado Carlos Abreu Amorim.

O partido faz também várias perguntas voltadas para o período em que Constâncio foi governador do Banco de Portugal, entre 2000 e 2010.

“Nos mais de dez anos à frente da supervisão em Portugal, alguma vez o Banif mereceu a sua especial atenção? Em caso afirmativo, descreva as diligências levadas a cabo pelo Banco de Portugal”, pedem os sociais-democratas.

A evolução do Banif ao longo dessa década atravessa várias das perguntas do PSD, mas também são destacadas a operação do banco no Brasil e a auditoria especial forense da Deloitte sobre a entidade.

A 20 de dezembro de 2015, um domingo, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif, com a venda de parte da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a transferência de outros ativos – incluindo ‘tóxicos’ – para a nova sociedade veículo.

A comissão parlamentar de inquérito sobre o caso entra em junho na reta final: as audições devem acabar no dia 14, com a presença no parlamento do ministro das Finanças e do governador do Banco de Portugal, que voltam à comissão.

Depois das audições haverá um período técnico que passa, acima de tudo, pela concretização do relatório final da comissão, a cargo do deputado do PS Eurico Brilhante Dias.

 

 

Novo Banco com prejuízos de 249,4 milhões no primeiro trimestre

Sexta-feira, Maio 27th, 2016

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Negócios

O valor compara com 117,8 milhões de euros de resultado negativo um ano antes, comunicou esta sexta-feira o banco à CMVM.

O Novo Banco encerrou o primeiro trimestre com um prejuízo de 249,4 milhões de euros, um valor que compara com 117,8 milhões de euros de resultado negativo um ano antes, comunicou esta sexta-feira o banco à CMVM.

A provisão para custos de reestruturação e contribuição sobre o sector bancário pesaram negativamente. Já pelo lado positivo, a instituição refere a “não mensualização do custo da contribuição para o Fundo de Resolução Nacional”.

“Sem estes efeitos o resultado do trimestre seria negativo em 140,1 milhões de euros”, refere o banco liderado por Eduardo Stock da Cunha. Recorde-se que o Novo Banco encerrou o ano de 2015 com prejuízos de 980,6 milhões de euros

Já o resultado operacional foi de 78,9 milhões de euros, um aumento de 152,1% face à media trimestral de 2015, segundo o mesmo comunicado. Este montante é 63% “do valor alcançado em todo o exercício de 2015 (125 milhões de euros)”, salientou o banco.

O produto bancário comercial da instituição fixou-se em 210,9 milhões de euros, “com o resultado financeiro a evidenciar um crescimento de 24,9% face à média trimestral de 2015, confirmando o contributo crescente deste agregado para a melhoria das receitas”, explicou o Novo Banco no mesmo documento.

A instituição alcançou resultados de operações financeiras de 27,3 milhões de euros. Por outro lado, os custos operativos, de 155,2 milhões de euros, “evidenciam uma forte diminuição de 17,8% face à média trimestral de 2015, refletindo o esforço de redução de custos empreendido pelo grupo através, nomeadamente, da simplificação e melhoria de processos e da optimização da estrutura operativa e comercial”, referiu o mesmo comunicado.

Transferência de obrigações para o BES afectou grandes depósitos

Enquanto os depósitos de clientes particulares cresceram 44 milhões para o nível mais elevado desde a criação do Novo Banco, em Agosto de 2014 – para 18,1 mil milhões de euros -, os depósitos de grandes clientes recuaram em 2,2 mil milhões, sendo parte explicada pela transferência do BES Vénetie e do NB Ásia para activos em descontinuação e a maior fatia pela “redução de preço que tornou a oferta neste segmento menos competitiva”.

O banco liderado por Stock da Cunha realça ainda o efeito que tiveram neste capítulo “as repercussões da retransmissão de cinco emissões seniores para o perímetro do BES”, decidida pelo Banco de Portugal. A decisão, afirma a instituição, teve “repercussões na captação de recursos de clientes”, na medida em que levou ao downgrade dos ratings de depósitos de longo prazo, o que causou uma redução dos depósitos de alguns grandes clientes institucionais e empresariais”.

No total, os depósitos ficaram em 25,1 mil milhões, menos 2,2 mil milhões de euros, (ou -8,1%) em relação a Dezembro de 2015

O crédito a clientes recuou 2,2 mil milhões de euros, sendo mais de metade deste valor associada, explica, ao efeito BES Vénetie e NB Ásia. Ou seja, diz o banco, não afectando o crédito às PME exportadoras. Já o crédito a particulares aumentou “36% face à média mensal de produção de 2015”. No crédito à habitação, essa produção média mensal foi ainda superior: cresceu 53%.

O Novo Banco fechou o trimestre com provisões de 348,2 milhões de euros, “as quais incluem uma provisão para custos com o processo de reestruturação em curso, no valor de 109,6 milhões de euros”, explicou o banco.
Investimento em dívida pública aumenta em 546 milhões de euros

As aplicações em títulos de dívida pública portuguesa totalizaram até Março os 3,23 mil milhões de euros, contra os 2.685 milhões de euros nas mãos do banco no final do ano passado. Um aumento de 546 milhões de euros, ou 20,3%, que ocorre em contraciclo com a detenção de outra dívida pública pela instituição – capítulo que recuou 15,1%.

Os activos da instituição ascenderam a 56 mil milhões de euros no final do primeiro trimestre, uma queda de 1,6 mil milhões de euros em relação ao final de 2015 “em linha com a prossecução do processo de desalavancagem do balanço”.

O rácio Common Equity Tier 1 (CET1) phased-in fixou-se em 12,4% (10,7% em regime de full implementation), um recuo em relação ao rácio de 13,5% verificado no final de 2015.  “A variação (…) resulta, do lado dos ativos ponderados pelo risco, da continuação do esforço de deleverage e, do lado dos fundos próprios, dos resultados negativos e do efeito da alteração de ano no regime transitório”, justifica o banco.

Eurodeputados do PS questionam Bruxelas e BCE sobre venda do Banif ao Santander

Quinta-feira, Maio 26th, 2016

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Económico

Sete eurodeputados do PS questionaram hoje a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu sobre o processo de resolução e venda do Banif ao espanhol Santander.

A carta, assinada por todos os membros da delegação socialista no Parlamento Europeu (PE) exceto Elisa Ferreira, porque decorre o processo de audições para desempenhar funções no Banco de Portugal, questiona a comissária europeia para a Concorrência, Margrethe Vestager, nomeadamente sobre o reconhecimento pelo BCE da existência “’de outras ofertas pelo Banif, que de acordo com a Comissão não respeitam as regras de União Europeia das ajudas de Estado, e que por isso não podem seguir em frente’, recomendando ’que nem percam tempo a tentar fazer passar essas propostas’”.

“Confirma a Comissão Europeia ter feito a avaliação que se refere nesse e-mail de que outras ofertas feitas para aquisição do Banif não respeitavam as regras da UE sobre ajudas de Estado?”, questionam os eurodeputados. Os mesmos querem ainda que Bruxelas indique “as razões por que a DG Concorrência terá rejeitado a possibilidade de se recorrer a um ‘banco de transição’ no processo de resolução do Banif”.

Os deputados socialistas ao PE colocam a Bruxelas mais de 30 questões sobre o progresso da situação do Banif, recuando a Novembro de 2012, altura em que o relatório do Citi ‘Project Centauro’ refere que o banco não seria capaz de gerar capital suficiente para reembolsar os fundos públicos até ao final do ano passado.

Já ao BCE, os signatários questionam se a instituição pode esclarecer os motivos que o levaram a considerar que apenas o Banco Santander reunia as condições para ser o único concorrente seleccionável para comprar o Banif, em se confirmando notícias publicadas em Portugal.

Os eurodeputados pretendem ainda ver justificada a suspensão do “estatuto de contraparte do BCE ao Banif” e pedem ainda confirmação se a instituição “tomou essa decisão sob proposta do Banco de Portugal”.

Os eurodeputados querem ainda que o BCE esclareça porque não foi autorizado um banco de transição, como aconteceu no processo de resolução do BES.

Lesados do Banif apresentam queixa contra diretor da TVI

Quarta-feira, Maio 25th, 2016

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Diário de Notícias

A queixa foi apresentada contra desconhecidos “pelo facto de não ser conhecida a identidade dos seus autores”

A Associação de Defesa dos Lesados do BANIF (ALBOA) enviou hoje uma queixa-crime contra o diretor de informação da TVI, Sérgio Figueiredo, e desconhecidos e pretende avançar igualmente com uma ação cível contra a estação televisiva.

Em causa, segundo um comunicado da ALBOA enviado à Agência Lusa, está a notícia que a TVI passou em rodapé no dia 13 de dezembro, com a informação “Banif: A TVI apurou que está tudo preparado para o fecho do banco – A parte boa vai para a Caixa Geral de Depósitos – vai haver perdas para os acionistas e depositantes acima dos 100 mil euros e muitos despedimentos”.

A queixa-crime foi enviada hoje por correio para o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, devendo seguir-se uma ação cível contra a TVI.

“Depende de como decorrer o processo-crime”, adiantou um responsável da sociedade de advogados que representa a ALBOA à Lusa, explicando que “a ação criminal será essencial para daí extrair as conclusões necessárias para a indemnização cível”.

A queixa foi também apresentada contra desconhecidos “pelo facto de não ser conhecida a identidade dos seus autores, sendo que a TVI enquanto pessoa coletiva não pode ser responsabilizada pelo crime de ofensa a pessoa coletiva”, que a ALBOA imputa aos autores da notícia.

“A ALBOA considera que o papel da TVI na queda do Banif, com a publicação da notícia, foi determinante tendo com isso levado a que milhares de pessoas sofressem perdas financeiras drásticas”, justificam os lesados.

A ALBOA sentiu-se “ainda mais forte por saber que não é a única a lutar pela justiça”, depois de ser noticiado na terça-feira que o Banif apresentou também uma queixa-crime contra a estação de televisão. A TVI noticiou em 13 de dezembro de 2015 (um domingo à noite) que o Banif ia ser alvo de uma medida de resolução.

A notícia terá precipitado a corrida aos depósitos, cuja fuga foi próxima de mil milhões de euros na semana seguinte, segundo revelaram na Assembleia da República vários responsáveis no âmbito da comissão parlamentar de inquérito ao Banif.

Em 20 de dezembro de 2015, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a resolução do Banif, com a venda de parte da atividade bancária ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a transferência de outros ativos – incluindo ‘tóxicos’ – para a nova sociedade veículo.