Archive for Abril, 2016

Comissão Parlamentar de Inquérito ao processo que conduziu à venda e resolução do BANIF 28 de abril de 2016 Intervenção inicial de Carlos António Torroaes Albuquerque Diretor do Departamento de Supervisão Prudencial

Quinta-feira, Abril 28th, 2016

Citamos

Banco de Portugal Carlos António Torroaes Albuquerque Comissão de Inquérito

Lucro do Santander aumenta 121% após compra do Banif Leia mais: Lucro do Santander aumenta 121% após compra do Banif

Quarta-feira, Abril 27th, 2016

Citamos

Jornal de Notícias

O grupo Santander anunciou, esta quarta-feira, lucros de 121 milhões de euros em Portugal no primeiro trimestre do ano, mais 121% face a 2015, e referiu o “impacto positivo em toda a conta da incorporação da atividade do Banif”.

Numa comunicação ao mercado espanhol, o banco destaca que “o lucro atribuído do primeiro trimestre é de 121 milhões de euros, mais do dobro do que obtido até março do ano passado (+121%)”, e aponta “o impacto positivo ao longo de toda a conta da incorporação da atividade do Banif”, que o Santander comprou no ano passado por cerca de 150 milhões de euros.

“O conjunto das margens de juros e das comissões cresceram 30%, enquanto os custos subiram 25%”, realçou o Santander, acrescentando uma outra razão para a subida dos lucros.

“Adicionalmente, as receitas reforçaram-se com os resultados de operações financeiras originados na venda de carteiras”, salientou.

As dotações para insolvências, apesar do maior perímetro, “aumentaram unicamente em 2%, com o custo do crédito a melhorar para os 0,28%”.

Comparando com o quarto trimestre do ano passado, “em que os resultados obtidos em vendas de dívida pública foram muito elevados, o lucro aumenta em 1%”.

A margem bruta do Santander em Portugal alcançou os 337 milhões de euros no primeiro trimestre (mais 41,5% do que ano passado), enquanto a margem líquida foi de 183 milhões (mais 59,6%). O lucro atribuído ao grupo foi de 121 milhões de euros (mais 121,4%).

Sobre a evolução do negócio em Portugal, com a compra do Banif, o Santander indica que o crédito aumentou 24%, para os 30 mil milhões de euros.

“A incorporação dos saldos do Banif representou uma mudança na sua estrutura, aumentando o peso do segmento de empresas para 35% (31% em março de 2015). Em termos comparáveis, sem o efeito desta incorporação, os saldos diminuiriam em 2% (o que é um melhor comportamento do que o mercado”, assinala o banco.

Por outro lado, os recursos aumentaram 22%, para os 30,6 mil milhões de euros, “principalmente devido à incorporação dos depósitos do Banif”.

“Em termos homogéneos, o total de recursos regista um aumento de 4%, compatível com uma gestão muito focada na redução do custo dos depósitos”, acrescenta o Santander.

Portugal representa 6% dos lucros totais do banco no primeiro trimestre o ano, que foram de 1.630 milhões de euros.

 

Manifestação Lesados BANIF esta sexta-feira no Funchal

Quarta-feira, Abril 27th, 2016

Citamos

Diário de Notícias da Madeira

Realiza-se esta sexta-feira uma manifestação que irá acontecer na sede do Santander Totta (em frente ao Bazar do Povo e por trás da Igreja da Sé) pelas 11h30 por parte dos Lesados Banif.

Esta manifestação acontece numa altura em que um dos lesados acaba de falecer devido ao facto de não ter acesso as suas poupanças. Este senhor, emigrante na Venezuela, tinha regressado a Madeira a poucas semanas para se inteirar do seu dinheiro. Era sabido que o seu estado de saúde era frágil, mas que devido a esta situação, terminou por se agravar tendo esta consequência trágica.

A manifestação serve para sensibilizar o Santander Totta, que recebeu a maioria dos activos e passivos do Banco Banif, para aquilo que está acontecer com as pessoas. Estamos a falar de anos de poupança, de aforros de uma vida e de casos que estão a causar marcas profundas na vida das pessoas.

Carlos Costa: as polémicas com os bancos

Quarta-feira, Abril 27th, 2016

Citamos

Sábado

Desde 2010, o governador do Banco de Portugal já teve de lidar com situações difíceis em quatro bancos

Carlos Costa chegou ao Banco de Portugal a 7 de Junho de 2010 e polémicas não têm faltado. Nestes seis anos, teve de lidar com as medidas de resolução aplicadas a dois bancos, o Banco Espírito Santo (BES) e o Banif; as consequências da nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN); e o caso dasoffshores do Banco Comercial Português (BCP).

O governador do Banco de Portugal está ainda no meio da discórdia entre dois ocupantes do cargo de primeiro-ministro: se Passos Coelho o defende e o considera um “conselheiro”, António Costa já o criticou pela actuação quanto ao Banif e aos lesados do BES (e até foi seguido pelo CDS).

Esta quarta-feira, Carlos Costa volta ao Parlamento para discutir a alienação do Novo Banco, na comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa. É ouvido a partir das 10h30, à porta fechada.

Recorde algumas das polémicas em que o governador do BdP se viu envolvido.

Carlos Costa e o Banif

Este mês, o governador do Banco de Portugal já foi ouvido duas vezes na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif.

Na primeira audição, foi discutida a reunião dos governadores do Banco Central Europeu em que se decidiu a suspensão do estatuto de contraparte do banco (o Banif iria perder o acesso a novo financiamento junto dos bancos europeus caso não fosse vendido ou resolvido). O evento foi ainda marcado pela polémica acerca das actas truncadas dessa reunião (que Carlos Costa preferia que fossem divulgadas) e da relutância de Carlos Costa em discuti-la.

Carlos Costa foi criticado pelo Governo por sugerir ao Banco Central Europeu (BCE) que limitasse o acesso do Banif à liquidez do Eurosistema, ao mesmo tempo que pedia ao executivo português para encontrar forma de garantir dinheiro para o banco. Porém, justificou esta omissão com os deveres de confidencialidade quanto ao BCE.

Costa justificou a falta de uma medida de resolução em 2012 (tendo sido injectados 1,1 mil milhões de euros no Banif, no início de 2013) com o receio da litigância. Em Dezembro de 2015, o banco foi vendido ao Santander Totta por 150 milhões de euros.

Carlos Costa e o BPN

O caso do Banco Português de Negócios, que foi nacionalizado em 2008 e vendido ao Banco BIC em 2012 por 40 milhões de euros, tem acompanhado Carlos Costa. Segundo o jornal Observador, só no final de 2016 é que o julgamento do caso deverá terminar.

O Banco de Portugal já abriu várias acusações aos responsáveis devido à ocultação da realidade patrimonial face ao regulador e só estará por resolver uma, interposta em 2012, mas suspensa devido aos recursos apresentados pelos visados, explica o mesmo jornal.

Criticado quanto às falhas na actividade de supervisão, Carlos Costa lamentou a escassez de recursos humanos do Banco de Portugal. “O governador é apenas o organizador de recursos, se não os tiver não o consegue fazer”, disse perante a Comissão Parlamentar de Inquérito ao BPN em 2012, onde também defendeu que a liquidação do banco seria a pior alternativa.

Para além disso, no ano passado o Estado avançou com queixas por gestão danosa e abuso de poder contra os administradores nomeados pela Caixa Geral de Depósitos para conduzir o processo de nacionalização, decretada em 2008.

Carlos Costa e o BCP

O agora governador do Banco de Portugal era técnico do BCP em 2001, altura em que foi aprovada a renovação de créditos das sociedades offshore criadas para adquirir acções do próprio banco e que terão sido usadas por Jardim Gonçalves para manipular a cotação do BCP e os mercados.

Na altura, Costa era director-geral da área internacional. O jornal Público recorda que antes de emitir a sua opinião, ouviu a sua equipa técnica. Em 2009, prestou esclarecimentos sobre o assunto junto do Banco de Portugal e justificou que a sua decisão seguiu “um percurso normal”, segundo a mesma fonte. Em comissão parlamentar de inquérito, afirmou não saber que as carteiras das sociedades offshore eram compostas por títulos do BCP, referindo que actuou sob o “pressuposto de boa-fé e de lealdade”.

Carlos Costa e o Banco Espírito Santo

O governador do Banco de Portugal lidou com a queda do terceiro maior banco português, e defendeu sempre que a instituição por ele liderada actuou quando tinha de actuar, lamentando a falta de poderes.

Em 2014, afirmou só se ter apercebido da dimensão do problema do banco liderado por Ricardo Salgado dias antes da medida de resolução em Agosto, que dividiu o BES em “banco bom” e “banco mau”. A medida foi a melhor forma de salvaguardar os depósitos, justificou.

O relatório elaborado pelo próprio Banco de Portugal que avalia a sua própria conduta quanto ao caso BES critica a actuação do detentor da supervisão prudencial até Setembro de 2014, Pedro Duarte Neves. Atinge ainda Vítor Constâncio, o antecessor de Costa. O BdP reconheceu ainda ter ignorado informações importantes sobre o Grupo Espírito Santo e as operações do BES em Angola.

Já o documento de análise da comissão parlamentar elaborado pelos deputados reprova a má articulação entre os vários supervisores do sector financeiro e declara que o Banco de Portugal fez mal em não impor mudanças na liderança do BES e GES mais cedo. A saída de Ricardo Salgado só aconteceu após um acordo entre o BdP e BES em Julho de 2014.

Os lesados do BES é outro tema sensível para Carlos Costa. O primeiro-ministro António Costa criticou o governador de arrastar uma solução para estas pessoas. Porém, em Março, os dois Costa estavam lado a lado na assinatura do memorando considerado “um princípio de acordo” para resolver os problemas dos dois mil clientes que subscreveram papel comercial do GES e reclamam cerca de 400 milhões de euros.

‘Guilty’? De quê?

Quarta-feira, Abril 27th, 2016

Citamos

Económico Opinião Rosário Lira

Comparem-se as expressões: “Guilty of serious misconduct” e “tiver cometido falta grave”. As duas constam do nº2 do artigo 14º dos Estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais e do Banco Central Europeu, a primeira, na versão original, a segunda, na tradução do documento.

É certo que em matéria jurídica as traduções exigem sempre a devida adaptação mas, no caso, a tradução, fica aquém do sentido original que pretende, isso sim, exigir culpa e prova de uma conduta má e grave.

A lei, os tais estatutos, não apresentam pressupostos nem elencam o tipo de faltas. Limita-se a referir o seguinte: “Um governador só pode ser demitido das suas funções se deixar de preencher os requisitos necessários ao exercício das mesmas ou se tiver cometido falta grave”.

No entanto, o ministro das Finanças veio dizer que o Governador do Banco de Portugal teria cometido uma “falha grave de transmissão de informação”. Falha e não falta! De informação! Ficava assim definido o tipo de “crime”.

Mas qual era o facto? O Governador do Banco de Portugal não teria comunicado ao Governo que tinha pedido ao BCE para limitar o financiamento ao Banif.

Carlos Costa, no Parlamento, alegou confidencialidade enquanto membro do Conselho do BCE e independência relativamente ao Governo. Dois princípios definidos pelos Estatutos e pelo Código de Conduta dos Administradores do Banco de Portugal.

Confidencialidade porque o Banco de Portugal não pode discutir previamente com o Governo medidas que vão ser analisadas no BCE, nem tão pouco sujeitar essas medidas à aprovação prévia do Executivo. E aqui, neste último aspecto, coloca-se a questão da independência.

Faz sentido que assim seja? Ou talvez a pergunta deva ser outra: É possível um Governo exonerar um governador do cargo apenas por razões políticas? Seria possível se a norma não existisse. Por isso, e a lei determina que os membros do Conselho de Administração são inamovíveis e só podem ser exonerados por resolução do Conselho de Ministros, mediante proposta do ministro das Finanças, se deixarem de preencher os requisitos necessários ao exercício das mesmas ou se tiverem cometido falha grave.

Fica assim acautelada a independência de actuação do governador mas também fica garantida a ausência de responsabilidade política do Governo pelos actos do governador.

É a competência técnica que deve estar na base da nomeação é a falta dela, dos deveres a que está obrigado, que devem levar à sua exoneração.

Exonerar sem justa causa é deixar ao arbítrio do Governo e do Parlamento essa decisão.

Afastar o governador do Banco de Portugal, escondendo razões políticas por trás de uma falha grave, seria encetar uma batalha jurídica que contaria com a forte oposição do BCE (como aconteceu com a tentativa de aplicar ao Banco de Portugal os cortes na função pública) e teria consequências incalculáveis para a credibilidade externa do país.

Mas o que se entende por falta grave? A lei não define o que é nem determina em que circunstâncias se verifica, deixando assim ao Governo, órgão a quem compete tal decisão, a liberdade de aferir se foi ou não cometida falta grave que justifique o afastamento do governador do Banco de Portugal.

A intenção de tal norma abrangente não é inocente nem podia ser. Ao manter esta latitude, restringe-se simultaneamente a actuação de quem pode aplicar a norma e limita-se o entendimento que deve ter da mesma. Uma espécie de tudo ou nada que, no mínimo, exige muita prudência.

A questão não tem sido pacífica e já por duas vezes, no caso dos bancos da Eslovénia e da Letónia, o Banco Central Europeu deu o seu parecer sobre o entendimento em relação a esta matéria, recomendando que nas legislações internas, o artigo que determina a existência de “serious misconduct” se mantenha tal como está, sem definir as condições específicas em que o governador pode ser afastado. Mais: considera ainda o BCE que não cabe aos tribunais nacionais decidir quando há nos termos do nº2 do artigo 24º uma falta grave.

E assim acontece. Nada se diz para que dificilmente se possa fazer. ‘Guilty’? De quê?

Rosário Lira /Jornalista

 

Comissão do Banif garante confidencialidade ao BCE

Quarta-feira, Abril 27th, 2016

Citamos

Negócios

De forma a ter acesso a documentação em torno da supervisão do Banif, a comissão de inquérito já deu as garantias de confidencialidade ao BCE.

A comissão de inquérito ao Banif já assegurou ao Banco Central Europeu (BCE) que tem meios de assegurar a confidencialidade de documentação sobre a supervisão feita ao banco fundado por Horácio Roque.

“Hoje mesmo, enviámos mais um ofício para o BCE dando conta das garantias de confidencialidade que a comissão dá relativamente à documentação em que seja necessário garantir tal confidencialidade”, contou António Filipe, o deputado do PCP que lidera a comissão de inquérito ao Banif.

Segundo o deputado que preside à comissão de inquérito, a resposta invoca a “lei das comissões parlamentares de inquérito e, portanto, o facto de que os documentos enviados” beneficiarão da confidencialidade salvaguardada pela lei portuguesa.

Na semana passada, o BCE respondeu à comissão de inquérito dizendo que só sobre determinadas garantias pode divulgar documentação sobre a supervisão sobre um determinado banco, nomeadamente as “decisões, opiniões e documentos de trabalho”. E queria que a comissão parlamentar as desse.

Mesmo assim, o conselho de supervisão do BCE (que junta o banco central com as autoridades nacionais de países), liderado por Danièle Nouy, – que surge na documentação recebida pelo inquérito parlamentar – afirmou a um eurodeputado do PCP, Miguel Viegas, que não poderá enviar a documentação sobre a supervisão do Banif por os pedidos individuais de divulgação de informação confidencial não se enquadrarem nas excepções abertas.

Mas nem todo o material poderá ser entregue: o BCE já enviou uma carta ao Ministério das Finanças de que está proibido de divulgar a correspondência que contenha “troca de ideias”: “Se é suposto que o BCE coopere com as autoridades nacionais, é essencial que haja espaço para uma troca de ideias e de informação livre e construtiva”.

A recusa do BCE em divulgar documentos ao inquérito parlamentar tem sido um tema recorrente no inquérito parlamentar, tendo em conta que há actas do conselho de governadores e de supervisão da autoridade monetária, que ditaram o destino ao Banif (nas reuniões de 16 de Dezembro de 2015), que têm parágrafos completamente truncados.

Santander Totta só é dono de 20% do património imobiliário do Banif

Quarta-feira, Abril 27th, 2016

Citamos

Económico

“Os imóveis eram detidos pelo fundo de investimento especial Banif Property, gerido pela Banif Gestão de Activos”, contando com 102 milhões de euros de activos, a maior parte dos quais imóveis arrendados a entidades do antigo Banif, explicou hoje José Ramalho

O Santander Totta ao comprar o Banif no âmbito da sua resolução ficou a deter 20% do fundo que controla os imóveis onde se situam os balcões do Banif, entre os quais o edifício-sede em Lisboa, segundo o BdP.

“Os imóveis eram detidos pelo fundo de investimento especial Banif Property, gerido pela Banif Gestão de Activos”, contando com 102 milhões de euros de activos, a maior parte dos quais imóveis arrendados a entidades do antigo Banif, explicou hoje José Ramalho, vice-governador do Banco de Portugal (BdP).

Ora, o Banif em base individual, isto é, o banco comercial que foi adquirido pelo Santander Totta, detinha apenas 20% deste fundo, estando outros 49% nas mãos de outras entidades do grupo que passaram para a Oitante, o veículo estatal criado para gerir os ativos que o banco liderado por Vieira Monteiro não quis.

A restante percentagem do fundo estava dispersa por um conjunto de investidores não especificados, informou José Ramalho durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao Banif.

Com a resolução, manteve-se a divisão, o que significa que “neste momento, o Santander detém 20% deste fundo que tem lá dentro uma série de imóveis, incluindo a sede” do antigo Banif, localizada na Avenida José Malhoa, em Lisboa, especificou José Ramalho, que preside o Fundo de Resolução.

José Ramalho. “Resolução do Banif implicou custo elevado para contribuintes” Leia mais: José Ramalho. “Resolução do Banif implicou custo elevado para contribuintes”

Terça-feira, Abril 26th, 2016

Citamos

Dinheiro Vivo

O vice-governador do Banco de Portugal, José Ramalho, que preside o Fundo de Resolução, apontou hoje para o custo “muito elevado” que os contribuintes

José Ramalho diz, no entanto, que os custos com liquidação seriam superiores. “É indiscutível que a resolução do Banif implicou um custo absoluto muito elevado para os contribuintes portugueses, que nos penaliza a todos”, afirmou o responsável durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao Banif. Leia mais: José Ramalho. “Resolução do Banif implicou custo elevado para contribuintes”

Segundo José Ramalho, há várias razões para este elevado custo para os contribuintes, desde logo, o âmbito da absorção de perdas pelos credores, basicamente restringido aos acionistas e credores subordinados

Esta decisão foi tomada pelo Banco de Portugal, em estreita articulação com o Ministério das Finanças, e teve em conta a necessidade de não pôr em risco a estabilidade financeira, face a uma estrutura de passivos do Banif em que um maior âmbito de absorção de perdas atingiria os credores de retalho e os depositantes não garantidos”, sublinhou.

O líder do Fundo de Resolução disse que uma segunda razão do elevado custo para os contribuintes foi “o pesado ‘haircut’ [desvalorização] aplicado pela Direção Geral de Concorrência aos ativos transferidos para o veículo, embora parte deste valor possa vir a ser recuperado”. Finalmente, e segundo José Ramalho, “não menos importante”, o elevado custo para os contribuintes resultou também “em larga medida das condições de venda, num prazo extremamente curto e numa posição negocial muito enfraquecida pela ausência de uma solução de recurso que não fosse a liquidação”.

Vitor Bento. “Estamos a ser a cobaia” das novas regras europeias para a banca

Terça-feira, Abril 26th, 2016

Citamos

Observador entrevista Vítor Bento

Vítor Bento diz que Portugal tem sido uma cobaia das novas regras para bancos falhados. Sobre política económica, avisa que estimular a procura com dívida é como “cavar um buraco para sair do buraco”.

É um economista que conhece bem a banca portuguesa que mede muito com cuidado que as respostas que dá, sobretudo quando estamos a falar de casos concretos. Mas Vítor Bento não tem dúvidas em apontar grandes falhas à união bancária, construída de cima para baixo, sobretudo ao nível das regras de resolução que Portugal está a testar e da qual os bancos portugueses têm sido cobaias. Também não é meigo com a Comissão Europeia, e com restrições da concorrência, impostas pela DG Com a quem acusa de ditadura ideológica, quando questionado sobre se o Estado português deve poder capitalizar a Caixa.

A espanholização da banca só preocupa se absorver mais de metade do mercado, embora admite que a venda Novo Banco poder ser o fator desequilíbrio. Vítor Bento está sobretudo preocupado com o investimento que não acelera, por causa da incerteza sobre o rumo da política orçamental e a solução de governo. Alerta para a importância das exportações e diz que estimular o consumo com financiamento externo é como “cavar um buraco para sair do buraco”. Deixa ainda avisos para os perigos que vive a Europa, onde os alemães se sentem “acossados”, com tantos a quererem os seus recursos, desde os países endividados do Sul aos refugiados.

Existia a ideia de que os bancos nacionais eram sólidos e bem geridos. Como é que a banca portuguesa chegou ao ponto de ser apontada como um dos maiores problemas da economia?

Em primeiro lugar, não podemos esquecer-nos de que a economia portuguesa se endividou muito nos anos a seguir à entrada na zona euro. Tivemos umboom económico baseado no endividamento que foi quase todo canalizado através da banca. Tirando as grandes empresas com capacidade para obterem crédito diretamente nos mercados, no resto da economia foi a banca que funcionou como intermediário. Houve setores que beneficiaram desse boom creditício cuja atividade não era sustentável. A construção e o imobiliário tiveram um crescimento excessivo. A banca foi instrumental nesse boom de crédito e, depois, sofreu as consequências quando a economia virou.

O segundo ponto é que enquanto outros países atacaram o problema na origem, quando ele se manifestou, nós esperámos que o problema se resolvesse. E essa é a razão por que parte do problema surge hoje, cinco anos depois da crise financeira, criando uma vulnerabilidade aparente no setor. Não é que a vulnerabilidade se tenha desenvolvido durante o período em si, é que não foi atacada nessa altura. Além disso, há o inconveniente de que à medida que outros países foram resolvendo o problema, as regras foram mudando e o nosso problema começou a ter cada vez menos importância sistémica dentro da zona euro. Foi ficando mais um problema nosso, para ser resolvido dentro de regras diferentes.

Parece-lhe útil que seja criado um veículo para ajudar a retirar estes créditos dos balanços dos bancos? Acha provável que venha a acontecer?

Percebo a intenção, era o que devia ter sido feito há cinco anos. Hoje, o contexto vai ser mais difícil porque as regras europeias entretanto mudaram, vai requerer uma aplicação muito intensa de capital político nas negociações europeias. Mas julgo que é do interesse de toda a gente contribuir para a estabilidade financeira do país.

Veículo mau? À medida que outros países foram resolvendo o seu problema, o nosso problema começou a ter cada vez menos importância sistémica dentro da zona euro. Foi ficando mais um problema nosso, para ser resolvido dentro de regras diferentes.

Se esse veículo tivesse sido logo criado no início do programa da troika, podia ter evitado os problemas que tivemos nos bancos, nomeadamente os que foram alvo de resolução?

Seria uma parte da solução. Esse veículo é um instrumento da resolução do problema. Podemos especular de forma mais ou menos informada, mas nunca conseguimos dizer que se tivéssemos ido por este ou por aquele caminho, tínhamos chegado a bom porto. Nessa altura teria sido útil. Na medida em que ouvi o anterior primeiro-ministro dizer que tinha sido estimada uma necessidade de capital para os bancos na ordem dos 40 a 50 mil milhões de euros, admito que o diagnóstico tenha sido feito. Encontrar uma solução para o problema na altura implicaria um aumento considerável do endividamento público, mas reconheceu-se que havia um problema e o problema não foi resolvido.

Que limitações europeias é que existem neste momento?

No caso espanhol foi feito um resgate para responder ao problema do setor bancário. Houve mobilização de fundos europeus. Mas na altura não estava em cima da mesa o bail-in de credores e depositantes acima de 100 mil euros — era um tabu — o que permitiu determinado tipo de soluções. As regras em vigor hoje parecem indicar que antes de haver qualquer intervenção tem de haver bail-in de credores e, eventualmente, de depositantes. É claro que as regras estão muito pouco testadas — o único país que verdadeiramente testou as regras foi Portugal; Itália mais ou menos. Portugal tem sido uma cobaia nesse exercício de definição do quadro regulamentar.

Já foi assumido que a Caixa precisa de mais capital. Acha que faz sentido que as regras europeias impeçam o Estado de recapitalizar um banco público?

Estamos com um problema sério a nível europeu porque acho que a DG Comp tem um papel que é quase de ditadura ideológica. Eu percebo os problemas a que a DG Comp quer atender mas estas coisas, como em tudo na vida, têm sempre algum grau de elasticidade e julgo que forma como as ajudas de Estado são interpretadas é excessivamente restrita. Um acionista privado pode decidir pôr dinheiro no seu banco ou na sua empresa, mesmo que não tenha um retorno imediato porque pode ter um interesse estratégico ou uma perspetiva de retorno mais tarde. O Estado, aparentemente, não pode fazer isso. Acho que é um exagero interpretativo das regras da Concorrência.

É claro que as regras estão muito pouco testadas — o único país que verdadeiramente testou as regras foi Portugal; Itália mais ou menos. Portugal tem sido uma cobaia nesse exercício de definição do quadro regulamentar.

Tendo dito isto, há uma limitação que é mais difícil ultrapassar do ponto de vista intelectual. Vivemos uma situação de dependência financeira, vivemos do dinheiro dos outros, que nos é emprestado. Saímos há pouco tempo de um período de resgate, estamos ainda em convalescença, e isso limita a nossa margem de manobra. Quando nos queixamos da perda de autonomia, uma parte importante dessa perda resulta de nos termos hipotecado a nós próprios.

Como avalia a perda de decisão das autoridades nacionais na área da banca para instâncias europeias? O governador tem razão quando se queixa de falta de coordenação e escrutínio entre as entidades?

Hoje queixamo-nos, mas há dois anos, toda a gente andava entusiasmada com a União Bancária. A União Bancária não caiu do céu — foi acordada pelos vários países, que na altura viam isso como a grande salvação da união monetária, de tal forma que aceitaram começar a construir uma união bancária pelo telhado. Transferiu-se poder de decisão mas manteve-se responsabilidade financeira. Isso cria a pior das situações possíveis — a centralidade decide o que lhe apetece, sem ter de ponderar as consequências financeiras, essas são imputadas ao país.

A entrada em vigor das novas regras europeias não tem sido livre de perturbações, nomeadamente no que diz respeito às novas regras da resolução. Acha que o processo está a ser bem conduzido?

Estamos a entrar em águas ainda não navegadas. É a primeira vez que temos processos de resolução combail-in (assunção de perdas) dos intervenientes, começando pelos acionistas e chegando aos depositantes com mais de 100 mil euros. No início da crise os acionistas foram demasiado poupados porque em última instância eram os responsáveis pelo que tinha acontecido.

Quando entramos no bail-in de credores e até depositantes, pensamos que não nos toca a nós, porque somos remediados, estamos abaixo dos limites em que há garantia de depósitos. Pensamos que é justo que em vez dos contribuintes sejam os credores a pagar. Mas essas coisas funcionam naquilo que se chama o jogo de uma jogada.

Podemos entrar num processo onde seja mais difícil aos bancos obter o financiamento necessário para o seu funcionamento — sobretudo financiamento de longo prazo, porque depósitos são financiamento de curto prazo. E nós, em Portugal, estamos a ser cobaia desse processo todo. Portanto, se correr mal, poderá ser preciso emendar e outros serão poupados a estas consequências.

Se entrarmos num jogo de jogadas consecutivas, em que os vários jogadores vão adaptando as suas estratégias às estratégias do adversário, não sabemos quais serão as consequências. É muito provável que os credores tornem muito mais difícil a sua disponibilidade para financiar os bancos. Podemos entrar num processo onde seja mais difícil aos bancos obter o financiamento necessário para o seu funcionamento — sobretudo financiamento de longo prazo, porque depósitos são financiamento de curto prazo. E nós, em Portugal, estamos a ser cobaia desse processo todo. Portanto, se correr mal, poderá ser preciso emendar e outros serão poupados a estas consequências. Mas este é um raciocínio teórico, não quero especular sobre casos concretos.

Mas temos casos concretos. O Banif e o Novo Banco. Até que ponto foram cobaias, vítimas dessa construção eventualmente defeituosa da União Bancária? Temos visto muito atirar de responsabilidades, nomeadamente no caso Banif, o que tem amplificado a questão das decisões europeias…

O que se passou no Banif está a ser discutido em Comissão de Inquérito. Temos de esperar os resultados para perceber o que se passou. O Banif teve o azar de ter tido uma confluência de timings muito adversa. Por um lado, aconteceu nas vésperas de mais uma alteração das regras europeias que ia agravar as condições de uma intervenção. Depois foi apanhado nos ressaltos políticos das últimas eleições e na demora que houve até se criar um governo estável. E isso dificultou a intervenção política, criou razões para se adiarem decisões e depois não deu tempo. Acabou por ser apertado num timing muito estreito, com tudo a mudar ou a estar paralisado à sua volta. E desse ponto de vista terá sido uma vítima dessa conjunção dos timings adversos.

Ficou convencido com as razões avançadas para a venda ao Santander?

Não, não fiquei. Mas não posso formar opiniões para publicitar sem ter um quadro razoavelmente definido.

Este negócio levantou um fantasma antigo que é o da espanholização da banca.

Esse é outro problema onde a absorção do Banif é marginal. Só é um problema se o for pela quantidade. O facto de ser o Santander ou o La Caixa não é um problema em si. O Banif pela sua dimensão não têm relevância para influenciar a questão

Mas o BPI e o Novo Banco têm.

Esses já têm. Mas o BPI não é propriamente uma surpresa. O La Caixa sempre teve uma posição muito relevante no BPI, que em muitos bancos seria suficiente para controlar o banco.

Mas nunca deixou de ser um banco com gestão portuguesa.

E provavelmente poderá continuar. O problema da gestão e do capital não é a nacionalidade das pessoas nem do capital. Se a instituição tem uma autonomia estratégica que funcione por si no quadro geográfico onde opera ou se está subordinada a uma orientação estratégica que transcende essa gestão. E não nos podemos esquecer que há uma contiguidade territorial e uma desproporção enorme entre as duas economias e isto tem consequências que noutros casos não existiriam. As consequências só são significativas se a massa envolvida for significativa, Se estivermos a falar de quotas de mercado de 15, 20 e 25%, não tem importância. Se tivermos a falar de quotas de mercado de 60% tem implicações significativas porque o setor bancário é estruturante da economia.

Espanholização da banca? As consequências só são significativas se a massa envolvida for significativa, Se estivermos a falar de quotas de mercado de 15, 20 e 25%, não tem importância. Se tivermos a falar de quotas de mercado de 60% tem implicações significativas porque o setor bancário é estruturante da economia. (…) O Novo Banco será um fator desequilibrante, é evidente para todos.

E há uma outra coisa que os economistas que só funcionam com base nos livros às vezes esquecem. As tomadas de decisão, por muito racionais que sejam, não são apenas racionais. Há muitas componentes subjetivas. Pode ter duas situações idênticas e escolhe uma, não porque racionalmente seja melhor, mas por uma razão emotiva, afetiva. E a localização territorial é uma daquelas que pode sofrer a influência destes fatores.

O Novo Banco é que poderá fazer a diferença nessas contas?

O Novo Banco será um fator desequilibrante, é evidente para todos. O Novo Banco, pelo peso que tem, em particular em alguns setores, poderá ser desequilibrante do equilíbrio que hoje existe, que já tem uma história longa.

Foi por isso que defendeu que se deveria pelo menos analisar a hipótese de deixar o Novo Banco no Estado?

O que disse é que neste processo de consolidação que vamos atravessar, e que na ausência de qualquer ação do nosso lado será orientado de fora para dentro – e o papel das autoridades europeias é importante – corremos o risco de ficar com soluções que estrategicamente não são as mais convenientes para o país, numa ótica de longo prazo e de autonomia estratégica. Por outro lado, vivemos uma conjuntura em que os bancos estão muito desvalorizados, é um mercado dominado pelos compradores e não pelos vendedores. Como há muito poucos compradores, são eles que determinam o preço. Não temos a garantia de ter as melhores condições de venda. Isso tudo somado, não veria mal que se assumisse que o banco se mantinha público durante mais tempo, reestruturando, recuperando-o, para depois vender com um valor maior.

Mas percebo o argumento de que as regras europeias não o permitem. As regras europeias de resolução são concebidas para bancos marginais, a regra original é que um banco alvo de resolução tem de ser vendido, num todo ou às partes, a outros bancos. Faz sentido para bancos mais pequenos. Mas um banco com um papel na economia e com a dimensão do Novo Banco, coloca problemas. Na Alemanha ou na França, não sei se era aceitável que um banco destes tivesse a designação e limitações de um banco de transição. Não é uma afirmação, é uma interrogação. Voltamos ao problema das regras europeias terem sido construídas de cima para baixo e que põe as autoridades portuguesas quase encostadas à parede a ter que tomar decisões imediatas.

Novo Banco. Não temos a garantia de ter as melhores condições de venda. Isso tudo somado, não veria mal que se assumisse que o banco se mantinha público durante mais tempo, reestruturando, recuperando-o, para depois vender com um valor maior. (…)
Na Alemanha ou na França, não sei se era aceitável que um banco destes tivesse a designação e limitações de um banco de transição. Não é uma afirmação, é uma interrogação.

Falou há pouco de gastar capital político na Europa. Vale a pena gastar capital político nesta questão?

Vale, pelo facto de que o setor bancário ser estrutural na economia. Apesar de estamos integrados na UE, as economias ainda são de base nacional e toda a organização política é nacional. Faz sentido usar capital político para defender autonomia que possa ser relevante do ponto de vista estratégico. Percebo que digam que se querem isso é para proteger interesses e lembrem os resultados dessa experiência no passado. Mas não tem de ser necessariamente assim.

O que foi feito no passado foi mal feito porque se conjugaram muitas coisas mal feitas. E um dos grandes problemas que o sistema bancário teve foi um problema de governance das empresas. É um problema que em Portugal continua a não haver interesse em resolver. Na banca vai ser resolvido por pressão do BCE que se tornou mais estrito nas regras de governance. Desde que haja umagovernance adequada, a probabilidade de se repetirem os problemas do passado diminui, não se elimina. Uma coisa é termos um sistema que falha 80%, outra coisa é termos um sistema que falha 20%. Vale a pena fazer reformas para passar de uma falha de 80%.

Temos a impressão que falhas na banca são mais na casa dos 80% do que dos 20%. Acha que são justas as críticas à supervisão do Banco de Portugal, nomeadamente as feitas pelo governo?

Nós temos um defeito em Portugal, gostamos mais de discutir pessoas do que processos ou instituições. A discussão está excessivamente pessoalizada e parece que se substituírem as pessoas os problemas resolvem-se. Se não soubermos onde reside o problema, não há de ser a mudança das pessoas que resolve o problema. Não temos o hábito anglo-saxónico de fazer a análise do que correu mal, sem prejuízo de apurar responsabilidades. Se nos dói a cabeça, tomamos uma aspirina. Mas se a dor de cabeça for de uma origem mais grave, nós não vamos resolver o problema, vamos apenas tapar o sintoma durante algum tempo e, provavelmente, as coisas vão piorar.

O Banco de Portugal fez uma auto-avaliação, que não divulgou. Os resultados deviam ser conhecidos?

Eu acho que a utilidade das avaliações é, de facto, poder extrair ilações. Eu lembro-me do caso inglês, quando faliu o Northern Rock, a autoridade FSA fez uma auditoria que analisou o que tinha corrido mal nos meses anteriores, extraiu trinta e tal lições. Quanto ao Banco de Portugal, não sei porque é não é divulgada, admito que possa haver informação reservada. Não sei se é possível haver uma versão limpa do que é motivo de segredo bancário.

Parece existir uma maior confiança de que, desta vez, a venda do Novo Banco será concretizada. Está mais confiante de que será possível fazer a venda neste momento?
Não tenho informação, mas você pode vender tudo o que quiser — é tudo uma questão de preço. Eu julgo que o banco é vendável, a questão é que saber qual é o preço.

Tornou-se mais “vendável” depois da medida de retransmissão anunciada no final do ano passado? Que opinião tem sobre essa medida?

Essa decisão aumentou o capital em dois mil milhões de euros. É óbvio que valorizou a instituição. Mas sobre o Novo Banco não me quero pronunciar muito mais porque é um processo em que estive envolvido

A medida em si, a imputação de perdas aos obrigacionistas, isso poderá ter custos para Portugal e para o investimento no setor bancário?

Isso já está a ser auto-evidente. Pelos comentários na imprensa internacional e pelo que dizem os analistas, isso é um dado objetivo. A pergunta que se pode colocar é: vai haver uma memória longa ou uma memória curta? Não sei dizer. Mas que teve influência em Portugal e até mesmo no setor bancário europeu, teve.

Há um certo compromisso com o rigor orçamental e os compromissos europeus. Esse respeito, tanto dos princípios internos com dos princípios europeus, cria tensão na coligação e, portanto, não é claro, para qualquer analista, qual é a durabilidade desta situação. Esta incerteza contribui muito para a retração do investimento neste momento.

E além da questão do Novo Banco, que outros fatores estão a influenciar a perceção de risco face a Portugal, e o investimento?

Há uma retração muito grande do investimento, seja investimento produtivo, seja financeiro. Há sempre algum investimento oportunista, interessado em comprar ativos desvalorizados. Mas capital que tenha um efeito no crescimento potencial da economia, está retraído. Porque ainda não é claro qual é o caminho de médio-longo prazo que este governo conseguirá assumir. Constata-se que apesar de alguma retórica, há um certo compromisso com o rigor orçamental e os compromissos europeus. Esse respeito, tanto dos princípios internos com dos princípios europeus, cria tensão na coligação e, portanto, não é claro, para qualquer analista, qual é a durabilidade desta situação. Esta incerteza contribui muito para a retração do investimento neste momento.

E qual será o fator a pesar mais para testar essa tensão entre os partidos da esquerda e o partido do governo. Será a banca ou, eventualmente, o plano de estabilidade e crescimento?

É tudo. Muitas das referências feitas à banca são ideológicas. Ideologias que o partido socialista não partilha inteiramente com os partidos da esquerda. Enquanto for possível não confrontar com uma decisão específica, a tensão pode manter-se sem rutura. Quando começar a haver decisões, como se viu no caso do Banif, o risco de criar rutura é maior. E quem diz aí, diz no campo orçamental. Mais tarde ou mais cedo, as questões relacionadas com o respeito do Tratado Orçamental.

Poderá, então, ser o chamado “plano B” ou o Orçamento de 2017?

O grande teste, inevitavelmente, vai ser se a execução orçamental deste ano exige ou não revisões. A exigirem revisões, terão de ser por via daquilo que se chamam medidas de austeridade. Isso vai criar uma tensão muito clara, que será agravada no orçamento de 2017. A execução do orçamento vai ser decisiva. Se o governo conseguir executar o orçamento sem necessidade de recorrer a medidas adicionais, provavelmente a tensão será controlada. Caso contrário, essa tensão agravar-se-á. E para qualquer analista ou investidor é uma incerteza demasiado pesada. Mesmo que tenha interesse, mesmo que goste do país, prefere esperar para ver.

Depois há uma outra coisa que acho que não está suficientemente entranhada no nosso pensamento coletivo: a necessidade de sermos parcimoniosos na gestão das finanças públicas. Independentemente da Europa, vamos ter de ser parcimoniosos. Assim como não está entranhada a ideia de que o nosso crescimento sustentado depende, quase exclusivamente das exportações. Só as exportações poderão criar a margem de manobra financeira para financiar a procura

Acha que as exportações estão a ser mal tratadas neste momento? Esquecidas?

Não, mas está a ser posto uma ênfase na procura interna, esquecendo que o nosso problema fundamental, aquilo que nos trouxe à situação onde caímos, não foi a dívida pública — foram as contas externas. E se quisermos estimular a procura interna com financiamento externo não vamos conseguir. Ou, então, vamos agravar o problema. Vamos cavar o buraco para sair do buraco. Terão de ser as exportações a trazer-nos os recursos necessários para um crescimento sustentado da economia e da própria procura interna.

E se quisermos estimular a procura interna com financiamento externo não vamos conseguir. Ou, então, vamos agravar o problema. Vamos cavar o buraco para sair do buraco. Terão de ser as exportações a trazer-nos os recursos necessários para um crescimento sustentado da economia e da própria procura interna.

Muitos dos nossos parceiros estão a crescer pouco, por outro lado, e as taxas de juro estão em mínimos históricos, há quem diga que é quase criminoso não investir — desde que falemos, naturalmente, de investimentos rentáveis.

O ponto é esse: investimentos rentáveis. A taxa de juro é apenas um dos fatores incorporados nas decisões de investimento. Se fosse o único fator, quando as taxas de juro estiveram, em termos reais, em 4, 5, 6% ninguém teria investido. Aquilo que conta mais para o investimento são as expectativas para a economia. Por outro lado, sou muito cético sobre o efeito das taxas de juro negativas, tenho muito pouca fé de que vá contribuir para a recuperação económica da Europa.

Porquê?

A Europa está a colocar-se numa situação de tempestade perfeita. Sofreu com a crise internacional, mas nunca conseguiu lidar com essa crise, intelectualmente. Falta uma abordagem sistémica, macroeconómica. E aí reside uma das vulnerabilidades do pensamento alemão. Não incorpora suficientemente os conceitos da macroeconomia, que é mais do que a soma das microeconomias.

Um problema que envolve vários países não pode ser tratado como uma receita para cada país. Tem de haver uma receita sistémica para o conjunto da União Europeia. E não há a perceção de que este é tanto um problema dos devedores como dos credores. Há uma componente moral mas que do ponto de vista económico é errada. A economia é amoral e se temos uma situação em que os países devedores são obrigados a ajustar sozinhos, o conjunto de procura neste universo vai diminuir. A menor procura de Portugal, França, Itália, Espanha vai influenciar os outros países. O resultado é uma recessão ou, pelo menos, um crescimento medíocre e assimetricamente distribuído. A solução tem de vir dos dois lados. Se uns têm de poupar mais, outros têm de poupar menos. Se toda a gente poupar e ninguém investir, isso é mau. A poupança é dinheiro que é retirado do circuito económico.

Mas o novo Tratado Europeu também ia sancionar os desequilíbrios ao contrário…

Disse bem, ia. É mais fácil penalizar o devedor, que está totalmente constrangido. Se não lhe emprestarem, não pode continuar a dever. Ao passo que o credor não tem nenhum fator de constrangimento, pode poupar indefinidamente. Há muita gente na Europa que acha que a poupança, só por si, é uma virtude e, portanto, quanto mais se poupar mais virtuoso se é.

A menor procura de Portugal, França, Itália, Espanha vai influenciar os outros países. O resultado é uma recessão ou, pelo menos, um crescimento medíocre e assimetricamente distribuído. A solução tem de vir dos dois lados. Se uns têm de poupar mais, outros têm de poupar menos. Se toda a gente poupar e ninguém investir, isso é mau. A poupança é dinheiro que é retirado do circuito económico.

A justificação alemã é de que é por causa da demografia e do envelhecimento da população. Mas para isso ser verdade, os países com envelhecimento da população tinham de aplicar os seus excedentes nos países com população ao contrário. Se estiverem a aplicar os seus excedentes nos países com a mesma situação demográfica, quando chegar a altura de resolver o problema das pensões vai haver um conflito — vão todos disputar o mesmo dinheiro. O que é preciso é que o dinheiro que é poupado seja investido na criação de crescimento para depois ser distribuído no futuro.

Como é que enquadra a crise dos refugiados nesse raciocínio?

A crise dos refugiados cria uma tensão muito grande na Europa. E, em cima disto, a crise económica levou a que, em todo o mundo, as economias estão a crescer menos, em geral. O que significa que as promessas políticas em que se basearam os modelos que vigoraram depois da guerra — expansão continuada, aumento da classe média e melhoria do nível de vida — começam a não poder ser cumpridos. Isto leva a um descrédito no centro político, porque foi o centro político que desenvolveu esse modelo. Mas o descrédito leva à erupção de forças extremadas.

Tudo isto cria uma tensão muito grande na Europa e a própria Alemanha começa a sentir-se acossada. Sente que toda a gente quer disputar seus os recursos. Temos de nos imaginar na cabeça da população alemã, sendo acossada por estas forças todas, a vê-las como um assalto ao seu bem-estar e às suas poupanças. Mesmo que irracionalmente, isto gera mecanismos de autodefesa que tornam mais difícil lidar com os problemas efetivos. Depois temos a possibilidade de saída do Reino Unido, que era um dos pilares do equilíbrio França-Alemanha-Reino Unido, e um fator importante de contraponto dos valores dos outros dois. Se se concretizar, será um choque muito, muito grave para a integração europeia.

Não se pode tomar a Europa como garantida?

Não, acho que não. Como em tudo na vida, a receita para a perda de alguma coisa é tomá-la como garantida e deixar de lutar por ela.

E como é que podemos lutar mais por ela?

Ao nível das elites pensantes, políticas e económicas, tem de haver uma grande frieza e racionalidade. Sem esquecer que as sociedades se movem muito pelas emoções, sobretudo em momentos difíceis. Mas se as emoções tiverem uma raiz, um suporte racional, é mais fácil evitar o fator potencialmente destrutivo das emoções exageradas. Isso, para mim, é um dos problemas graves em Portugal — nós não temos um grande espaço para discussão racional. Não temos níveis intermédios entre o nível das emoções e a decisão política.

A própria Alemanha começa a sentir-se acossada. Sente que toda a gente quer disputar seus os recursos. Temos de nos imaginar na cabeça da população alemã, sendo acossada por estas forças todas, a vê-las como um assalto ao seu bem-estar e às suas poupanças. Mesmo que irracionalmente, isto gera mecanismos de autodefesa que tornam mais difícil lidar com os problemas efetivos.
Há uma escola que diz que estes tempos difíceis na Europa são, também, um período de regeneração que é necessário atravessar para que se crie alguma coisa melhor no futuro…

Isso é muito bonito se a regeneração for como nós gostaríamos que ela fosse. Não temos a garantia de qual é o nível de destruição necessária para que essa regeneração ocorra. Em 1930-1945, tivemos um período de destruição, depois veio a regeneração, que foi brilhante e notável mas veja a destruição que tivemos. Tenho sempre muito cuidado com raciocínios mecanicistas. Porque quando estragamos o que temos, há uma certeza, deixamos de ter o que tínhamos. Não sabemos o que é que vem a seguir.

 

Concorrência europeia convenceu o BCE de que o Banif não era viável

Terça-feira, Abril 26th, 2016

Citamos

Observador

Presidente do Fundo de Resolução, José Ramalho, diz que Mecanismo Único de Supervisão do BCE chumbou banco de resolução porque achava que Banif não era viável. Terá sido convencido pela DG Comp.

O Mecanismo Único de Supervisão (Banco Central Europeu) recusou autorizar a criação de um banco de transição, proposta pelo Banco de Portugal, por não acreditar na viabilidade do Banif, nem mesmo depois de uma resolução.

A explicação foi dada pelo presidente do Fundo de Resolução, José Berberán Ramalho, na comissão parlamentar de inquérito ao Banif.

 “Achavam que o banco não era viável, portanto ter mais tempo só prejudicaria ainda mais o resultado da venda”. O responsável admitiu que a situação de degradação da liquidez do banco, depois da notícia da TVI, pode ter sido relevante, mas acredita que os responsáveis do Mecanismo Único de Supervisão terão “ficado mais persuadidos pela DG Comp”. Se o Banif era inviável, como era convicção da direção geral da concorrência da Comissão Europeia, então o banco de transição seria também inviável.

Para José Ramalho, que também é vice-governador do Banco de Portugal, a DG Com “conseguiu convencer” o organismo de supervisão do BCE de que o banco “não era viável”.

Considerando “lamentável” que o BCE não tenha autorizado a divulgação das ata da reunião do conselho de governadores que tomou decisões determinantes para o fim do Banif, José Ramalho sublinhou que o organismo de supervisão (que reúne o BCE e as autoridades de supervisão nacionais) era “muito pessimista e desfavorável” à ideia, lembrando que o banco tinha recebido uma ajuda de Estado e não tinha conseguido voltar a a ter lucros. E achavam que no final do prazo (para alienar o banco de transição — a solução adotada no BES –) a venda seria feita em condições piores.

O otimismo português e a intransigência de Bruxelas

O vice-governador reconheceu ainda que do lado português, governo, Banif e mesmo Banco de Portugal, houve algum otimismo em relação ao último plano de reestruturação, apresentado em setembro, porque este previa o destaque dos ativos, que tinha sido exigido por Bruxelas, tornando o banco mais atrativo. Mas à medida que o tempo foi passando, as ofertas não apareceram e “a possibilidade de sucesso foi diminuindo”.

José Berberán Ramalho não confirma a leitura feita pela ex-ministra das Finanças, segundo a qual a Comissão Europeia terá comprimido o prazo para encontrar uma solução para o Banif até ao final de 2015. Uma vez que a resolução poderia ter passado para o ano seguinte. Mas admite, em resposta ao deputado Marques Guedes do PSD, que Bruxelas se tornou mais inflexível,

“Não sei se houve um volteface, mas a partir da investigação aprofundada (tomada em agosto de 2015), a DG Com tornou-se mais “incisiva e intransigente” em relação à possibilidade de viabilização do Banif. E realça que foi notória a objeção feita por Bruxelas a 17 de novembro de 2015 ao plano de reestruturação e venda defendido por Portugal (anterior governo), na tal reunião em que o ministério ainda tutelado por Maria Luís Albuquerque esteve representado por teleconferência. Nesta altura, o governo (em transição política) estava menos presente.

Na sua intervenção inicial, o presidente do Fundo de Resolução voltou a apontar na direção das instituições europeias quando estão em causa as responsabilidades pela solução final aplicada ao Banif e para qual só exigia uma alternativa, a liquidação.

Solução proposta por Portugal. Barrada por Bruxelas, bloqueada pelo BCE

O vice-governador do Banco de Portugal, considerou “profundamente questionável o papel predominante que as considerações sobre aconcorrência assumem nestes processos, em detrimento das considerações que deveriam ser prioritárias, que são a preservação da estabilidade financeira e a proteção do erário público.”

E alertou ainda que as “preocupações com a concorrência neste contexto são consideradas na perspetiva limitada de evitar distorções da concorrência resultantes de ajudas de Estado, desconsiderando (ou só considerando de forma secundária) o potencial de distorção mais geral à concorrência que resulta do processo de concentração”.

Em respostas ao deputado do CDS, João Almeida, José Ramalho explica que a interação do Banco de Portugal com a DG Comp (direção-geral da concorrência europeia) era incontornável porque havia uma ajuda de Estado e, lembra, nesses casos tem de haver resolução bancária, o que envolve a autoridade nacional de resolução.

O vice-governador concluiu ainda que a solução defendida pelas autoridades portuguesas “foi barrada” por Bruxelas, no que diz respeito à recapitalização pública com integração na Caixa Geral de Depósitos. Outra solução que foi bloqueada foi o banco de transição. Era uma solução de recurso que nos daria mais força negocial. Foi inviabilizada na prática pelo Mecanismo Único de Supervisão.”

Na sua intervenção inicial, José Ramalho já tinha explicado que o Mecanismo Único de Supervisão (SSM na sigla inglesa) do BCE colocou objeções à constituição dum banco de transição.

“A hipótese de constituição de um banco de transição ficou dependente da constatação da impossibilidade de uma venda. Isto inviabilizou, na prática, a possibilidade de constituição dum banco de transição como solução de recurso, no horizonte temporal exigido, e a disponibilidade dessa solução de recurso como elemento de reforço da capacidade negocial no processo de venda. Deste modo, em consequência das sucessivas restrições introduzidas, a alternativa de resolução ficou limitada à venda da atividade, caso contrário o banco entraria em liquidação”.

Resolução poderia ter sido em 2016? Podia, mas teria sido muito pior

A resolução do Banif poderia ter ocorrido em 2016, mas teria sido concretizada “num quadro muito mais desfavorável para Portugal”, defendeu esta terça-feira, o presidente do Fundo de Resolução, na comissão parlamentar de inquérito. José Berberán Ramalho considera mesmo provável que o cenário escolhido pela autoridade europeia de resolução fosse o da “liquidação” do Banif, por considerar que não era um banco sistémico.

“Para Portugal, o Banif era sistémico, por causa das quotas enormes nas ilhas. Do ponto de vista de Bruxelas, a perspetiva não é a mesma. O banco era periférico, muito possivelmente considerariam que não era sistémico, e não sendo, seria provavelmente liquidado”, afirmou o também vice-governador do Banco de Portugal.

Se ainda assim, acrescenta, considerassem que o banco era sistémico, José Ramalho está seguro que nesse caso “não iriam envolver o Fundo de Resolução europeu”, mas forçar o bail-in, ou seja, imputar perdas aos credores, o que incluiria depositantes acima dos 100 mil euros, pequenas empresas e Estado. “Teria sido uma solução muito pior para nós. Acho que pagávamos mais” do que com a resolução, concluiu em resposta ao deputado socialista João Galamba.

O responsável adiantou que a resolução feita em 2015 custou cerca de 3,3 mil milhões de euros. O custo para os contribuintes poderá chegar aos três mil milhões de euros.

Berberán Ramalho confirmou ainda que eventuais mais-valias que venham a resultar da venda de ativos da Oitante, sociedade que ficou com os ativos que o Santander não quis, ficam no Fundo de Resolução, e beneficiam o sistema bancário, e não vão para o Estado. Admitiu que o banco espanhol pode vir a comprar os ativos com os quais não quis ficar na venda por resolução.