Ex-presidente do Banif fala em informação “desconhecida” revelada na comissão de inquérito

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O ex-presidente executivo do Banif Jorge Tomé disse esta quinta-feira à noite que está a acompanhar “a par e passo” a comissão de inquérito sobre o banco e que há muita informação que a administração “desconhecia”.

Jorge Tomé disse aos jornalistas, à margem da conferência “Banif: O que foi e o que podia ter sido”, que decorreu no Porto, que, ao acompanhar a comissão parlamentar de inquérito do banco, tomou consciência de que “há muita informação que foi carregada pela comissão que a própria administração do Banif não fazia ideia nenhuma”.

O ex-presidente disse referir-se à “troca de correspondência entre o Banco de Portugal, com Bruxelas e o próprio Banco Central Europeu”, vincando que esta era “desconhecida” da administração do Banif.

Já no decorrer do debate organizado pelo jornal semanário Vida Económica, com o apoio da Ordem dos Contabilistas Certificados, apontou como “erro da gestão do Banif, considerando o desfecho que teve, um erro estratégico”.

“Quando chegamos à conclusão, após a negociação do catálogo de compromissos com Bruxelas, que o Banif não ia acabar com um volume de activos de 12 mil milhões de euros tal como estava no plano de capitalização e seria um Banif de seis mil milhões de euros, o conselho de administração deveria ter pedido a demissão e entregado a chave ao Estado português e ao Banco de Portugal”, referiu.

Questionado, também à margem, sobre se o plano de reestruturação do Banif chegou a ser aprovado por Bruxelas, Jorge Tomé disse que “o último plano de reestruturação tinha tudo para ser aprovado porque ia ao encontro com aquilo que estava estabelecido com a Direcção-Geral de Concorrência, mas de facto houve várias precipitações que fizeram com que o plano não chegasse a ser aprovado”.

Já sobre se pondera recorrer ao Tribunal Europeu se conseguir confirmar responsabilidades de outras entidades que não a administração do Banif, Jorge Tomé apontou que esse passo a ser dado tem de aguardar pelo “movimento que há com os lesados do banco”. “Isto não pode ter um movimento unipessoal, tem de ter um movimento mais alargado”, sintetizou.

Quanto ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, à pergunta sobre se este tem condições para continuar no cargo, vincou que não se dessem personalizar as questões. “Temos de avaliar o comportamento do Banco de Portugal neste processo e não uma pessoa em concreto. O Banco de Portugal tem de responder como estrutura em si”, afirmou.

 

O debate desta noite, que também contou com o professor da Universidade da Madeira Ricardo Cabral, foi conduzido pelo ex-presidente da câmara do Porto Rui Rio, que, em declarações aos jornalistas à entrada para a conferência, considerou que o processo foi “demasiado grave para passar impune”, referindo-se ao tema com as palavras “desastre” e “escândalo”.

 

Para Rui Rio, “deve ser responsabilizado quem tem responsabilidades”, disse o ex-autarca, acreditando que “não é só o Banco de Portugal”. “Estou convencido de que a Comissão Europeia também tem fortes responsabilidades e se as tiver também tem de ser assacada por exemplo com uma queixa no Tribunal Europeu”, afirmou.