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Para o Banif, 1999 não vai ficar marcado pelos bons resultados. O fecho do exercício deverá registar uma quebra de 20 por cento em relação às previsões. No entanto, a instituição aproveitou o ano para desenvolver uma série de novos projectos, destacando-se a criação de um banco de investimentos, cuja entrada no Banco de Portugal deverá acontecer até ao fim deste mês.
O Banif, Banco Internacional do Funchal, deverá fechar o ano com uma quebra nos resultados de 20 por cento em relação às estimativas de 4,1 milhões de contos avançadas no início deste ano. Por trás deste comportamento, segundo a administração, está a redução da margem financeira e a necessidade de reforçar as provisões. Trata-se de uma decisão que poderá desanimar os investidores, já de si pouco interessados nos títulos da instituição.Até esta inflexão, a tendência dos resultados do Banif era positiva. Os resultados líquidos aumentaram de 2,9 milhões de contos em 1997 para 3,4 milhões em 1998, mas nos primeiros nove meses do ano a instituição totalizou 1,4 milhões de contos, o primeiro sinal de que no fecho do ano não cumpriria as previsões.No fim de Junho de 1998, os resultados consolidados do Banif eram de 2,135 milhões de contos. Um ano mais tarde, sofreram uma quebra de 38 por cento.
E, até Setembro, o Banif só conseguiu mais 140 mil contos.No meio do mês de Novembro, foi concluída uma operação de securitização, que consistiu na venda de créditos ao consumo, originados pelo Banif, pelo Banco Comercial dos Açores e pela Mundicre e de contratos de “leasing” no montante global de 40 milhões de contos. A operação foi intermediada pelo Deutsche Bank e, segundo a administração, colocada integralmente nos mercados internacionais, devendo ter um efeito positivo no rácio de solvabilidade do grupo e limitando os riscos de crédito.Os depósitos a clientes passaram de 495 milhões de contos para 506 milhões em 1998, e até Setembro deste ano totalizavam 539 milhões de contos. O crédito concedido, por sua vez, apresentou um crescimento ainda mais acentuado, de 405 milhões de contos em 1997 para 462 milhões em 1998, e para 524 milhões até Setembro. Neste mesmo mês, a instituição tinha activos líquidos de 726 milhões de contos.A análise dos indicadores bolsistas do Banif não é animadora. Com um nível de liquidez extremamente reduzido, o volume médio de transacções diárias até Novembro foi de 6500 – uma forte queda, se considerado que em 1998 fora de 29.200 transacções diárias, e sobretudo porque em Setembro foi realizado um aumento de capital de 22,5 milhões de contos para 30 milhões.Em 1997, os títulos do Banif registaram uma valorização de 11,4 por cento, enquanto, no mesmo período, o BVL Geral valorizou-se em 65 por cento.
Em 1998, a valorização das acções do Banif foi de 41,4 por cento, com o índice a subir 26 por cento. Este ano, até Novembro, os títulos da instituição perderam 22 por cento do seu valor, enquanto o BVL Geral registou um ganho de 1,3 por cento. Uma valorização de 110 por cento dos títulos em apenas dois meses (Janeiro e Março de 1998) que está a levar quase dois anos a corrigir.Em Abril deste ano, a estrutura accionista do Banif era composta pela Rentipar, com 31,5 por cento, pela Renticapital, 4,7 por cento (ambas controladas por Horácio Roque), pela Sopar, 8,7 por cento, pela Invesfreiras, 8,6 por cento, pela Rentigest, 5,4 por cento, pelo Instituto de Seguros de Portugal, 5,1 por cento, e por uma Associação de Socorros Mútuos, 2,4 por cento. Dispersos no mercado existiam, naquela altura, cerca de 30 por cento do capital, a que correspondiam perto de 5500 accionistas individuais e institucionais.O Banif foi criado em 1988, com base na antiga Caixa Económica do Funchal, uma instituição marcada por fortes prejuízos e em que 40 por cento do capital eram detidos por entidades públicas. Em Março de 1992, o Banif foi admitido à bolsa e, no final deste mesmo ano, dispersou 32,23 por cento do seu capital, mas, na oferta pública de venda cerca de 11 por cento não foram colocados.Em Setembro de 1996 o capital do Banif é aumentado de 17,5 milhões de contos para 22,5 milhões de contos e, um mês mais tarde, a instituição adquiriu 56 por cento do Banco Comercial dos Açores. Em 1997, esta posição foi reforçada para 64,6 por cento e, com a aquisição do banco, o Banif assume a companhia de seguros Açoreana.
E em 1998 adquire 71 por cento da seguradora Oceânica. No fim de Setembro deste ano, o Banif decidiu incorporar a Oceânica na Açoreana, detentora de cem por cento do capital da primeira. Da fusão resultou uma única companhia de seguros, que mantém o nome Açoreana, cujo capital foi aumentado de três milhões para quatro milhões de contos.Em Maio deste ano, o Banif comprou uma posição no Banco Primus, instituição brasileira dedicada à banca de investimentos e que teve o seu nome alterado para Banco Banif Primus. A actividade desta instituição deverá incidir principalmente na área dos mercados de capitais (gestão de fundos e administração de carteiras) e no acompanhamento das operações de privatização naquele país, devendo actuar na avaliação e aconselhamento estratégico e financeiro dos clientes e na organização dos respectivos consórcios. O Banco Banif Primus tem actualmente 80 funcionários e escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo. Para complementar a sua actividade, deverá ser criado em Portugal o Banif Banco de Investimento, instituição que deverá contar com 55 trabalhadores e escritórios em Lisboa, Porto, Ponta Delgada e Funchal. Segundo a administração do Banif, o projecto está concluído, devendo ser entregue no Banco de Portugal até ao final do mês.A nova instituição deverá resultar da transformação, por cisão, da Ascor Dealer e do aumento do respectivo capital para 20 milhões de euros. Deverá englobar as áreas de “corporate & project finance”, “private equity”, mercado de capitais, transacções de títulos, realização de estudos, vendas e corretagem, gestão de activos e “personal finance”. A tesouraria e a sala de mercados monetário e cambial serão mantidas na estrutura do Banif, que deterá cem por cento do capital do novo banco.
Ainda em Maio de 1998, o Banif associou-se ao Banco Popolare di Brescia (BIBOP) e, através desta ligação, firmou uma “joint venture” com a Cisalpina Gestioni, que adquiriu 30 por cento da Banifundos. Como resultado deste acordo, a Putnam (uma das maiores e mais antigas gestoras americanas e que detém 20 por cento do BIBOP) compromete-se a fornecer o seu “know-how” e a distribuir os seus fundos através da instituição portuguesa. Nos próximos meses deverão ser lançados novos produtos, resultantes desta associação. Entretanto, o processo encontra-se dependente da autorização das entidades surpervisoras, tanto para o lançamento dos fundos como para a própria sociedade gestora.Em curso encontram-se, ainda, mudanças das empresas do grupo especializadas em gestão de activos. Assim, a Banifólio deverá transformar-se em Banif Patrimónios, e a Banifundos em Banifundos Cisalpina, para além da fusão das sociedades gestoras de fundos de pensões SGM e Açor Pensões (que deverá ser designada por Banif Açor Pensões) e da constituição da Banif Imo.O Banif também reestruturou, durante os últimos dois anos, todo o seu negócio de retalho no Continente, resultado de um trabalho conjunto com a McKinsey. As alterações estão a funcionar desde o segundo semestre deste ano e baseiam-se na criação de unidades autónomas, focalizadas em produtos específicos, e no lançamento de uma rede directa, baseada num “call center”. A administração afirma que, como resultado desta estratégia, este ano o crédito à habitação cresceu 30 por cento e o crédito às PME quintuplicou. No entanto, deverá ser a partir do próximo ano que se fazer sentir maiores consequências.