A Organização Mundial de Comercio (OMC) inicia hoje, na Suiça, mais um esforço tendente a um acordo para a liberalização do comércio global, Ronda de Doha, iniciada em 2001 mas, desde há anos, num beco sem saída. A resistência dos países industrializados em abrirem os seus mercados aos países em desenvolvimento, em acabarem com os subsídios a sectores das suas economias, designadamente à agricultura, tem encontrado uma forte resistência por parte dos maiores países emergentes – China, Índia, Brasil, Argentina, México, Indonésia e África do Sul. Numa entrevista ao periódico argentino Clarín, em Genebra, na véspera do reinício das negociações, o director geral da OMC, Pascal Lamy, defendeu que o momento actual oferece “uma janela de oportunidades” para um acordo entre os 152 países membros, mas recusou-se a prognosticar se tal será possível até ao final do ano. “Achamos que a situação económica piorou e vair continuar a degradar-se nos próximos meses”, disse. O líder da OMC classificou a organização como “uma espécie de seguro colectivo contra o proteccionismo” lembrando que “quando o risco de acidentes aumenta também aumenta a apólice do seguro.” Sobre as actuais crises financeira, energética e alimentar, Lamy considerou que a alta dos preços “gera tentações ou impulsos proteccionistas” sendo que, no caso dos alimentos, a “única solução é aumentar a oferta” para reduzir as tensões regionais e globais. Sobre a postura dos países ricos, particularmente da União Europeia, Lamy foi claro: “Na mesa de negociações da OMC, 3/4 dos países são pobres e todos querem uma redução dos subsídios nos países ricos (…) e a redução das tarifas aduaneiras. São eles quem eu escuto. Que os europeus digam o que é bom ou mau para os outros é interessante mas, na OMC, são os países pobres que negoceiam por si próprios e não os europeus.” MRA/pvc