Verificou-se uma elevada taxa de participação no referendo sobre a independência do Sul do Sudão iniciado no passado domingo e que ontem chegou ao fim. No último dia do escrutínio, mais de 80 por cento dos eleitores tinham votado e pressente-se que o sentido de voto é esmagadoramente maioritário entre os sudaneses do Sul. Chamados a decidir sobre a manutenção da unidade com o Norte, que historicamente os marginalizou e reprimiu, ou a independência, os sulistas sudaneses querem ser independentes. Os resultados finais de votação que deve determinar a divisão do maior país africano devem ser conhecidos no início de Fevereiro.
Os dados da comissão referendária, que qualificou o processo de “pacífico”, indicavam que até anteontem tinham votado 3,25 milhões dos mais de 3,9 milhões de inscritos, uma participação que ultrapassava os 80 por cento – bem acima dos 60 por cento necessários para validar o referendo. “É um excelente resultado, à luz de todas as normas internacionais. Vi outras eleições neste país e posso dizer que este escrutínio foi o mais pacífico, o mais organizado e o mais tranquilo”, disse o presidente da comissão, Mohamed Ibrahim Khalil, numa conferência de imprensa na capital do Sul, Juba.
Uma hora antes do encerramento das urnas, segundo a AFP, um bispo da igreja episcopal de Juba, Paul Yugusuk, soprou a “última trombeta”, uma espécie de vuvuzela cor-de-laranja, coberta por uma bandeira do Sul do Sudão, região semi-autónoma desde 2005. “É um sinal para mostrar que não é apenas o fim do voto, mas o fim da escravatura, da opressão e o começo da nossa liberdade”, declarou.
A convicção geral é de que a opção independentista triunfará, pelo que a única dúvida parece ser a dimensão da vitória da secessão. Nas eleições de Abril do ano passado, os ex-rebeldes sulistas, que durante mais de duas décadas combateram o Governo de Cartum, obtiveram 93 por cento. Ainda que até lá possam ser conhecidos alguns dados preliminares, os resultados definitivos só deverão ser conhecidos no início de Fevereiro.
Apesar do clima geral de tranquilidade, o referendo fica também marcado por actos de violência que provocaram a morte de, pelo menos, 55 pessoas, entre nortistas e sulistas.
O referendo e a perspectiva de independência estão a atrair muitos sulistas que viviam no Norte, predominantemente árabe e islâmico, à sua região de origem, mais vincadamente africana e maioritariamente cristã e animista.
O chefe de operações humanitárias das Nações Unidas no Sudão, Georg Charpentier, disse ontem à imprensa que cerca de 180 mil pessoas voltaram já ao Sul e que, até ao fim do ano, o número pode ultrapassar o meio milhão. “Esperamos pelo menos 500.000 a 600.000 pessoas”, afirmou, citado pela AFP.
MRA Alliance/Público