Putin e Bush acordaram deixar aos seus sucessores a resolução das questões geoestratégicas
Putin, que deve deixar o Kremlin no dia 7 de maio, disse estar “prudentemente optimista” quanto à possibilidade de concluir um acordo com os Estados Unidos. “Acho que é possível. O mais importante é trabalharmos juntos neste projecto”, acrescentou. Bush enfatizou o “entendimento significativo” na questão dos mísseis. “Creio que se trata de um grande passo em frente pois estive muito envolvido nesta questão e sei como as coisas avançaram”, afirmou Bush, reconhecendo que os Estados Unidos “têm muita coisa a fazer para convencer os especialistas de que o sistema não é dirigido contra a Rússia”. Vladimir Putin fez questão de esclarecer que não existe nenhum “acordo”.
Rússia e Estados Unidos divergem sobre o plano de Washington para a instalação na Polónia e na República Checa de um escudo antimíssil. Washington assegura que ele se destina a prevenir eventuais ameaças, dando como exemplo o Irão. Moscovo considera que a estratégia armamentista dos EUA representa uma ameaça directa às suas fronteiras. Como alternativa ambos “expressaram seu interesse pela criação de um sistema de defesa antimíssil comum no qual Rússia, Estados Unidos e Europa participariam igualmente”.
Em relação à República Islâmica do Irão, Bush agradeceu a Putin os seus esforços de mediação na crise nuclear iraniana. “Apreciei sua liderança na questão iraniana”, declarou o presidente americano. “A aceitação da Rússia em fornecer combustível nuclear ao Irão, recuperarando o que for utilizado pelo reactor nuclear de Buchehr, é uma medida bem-vinda que dá a Teerão a capacidade para produzir energia nuclear civil”, sem ter que enriquecer urânio, sublinharam as duas partes na declaração final.
O encontro de Sotchi, realizado após uma reunião da NATO, na qual Vladimir Putin participou como convidado, tinha como objectivo fixar um rumo para as relações entre russos e americanos antes que o presidente eleito Dmitri Medvedev assuma o cargo.
Depois de sete anos de relações tensas, George W. Bush elogiou o homólogo russo: “Você não tem medo de me dizer o que pensa e quando tudo está dito e feito, cumprimentamo-nos”, disse, qualificando Putin como um “líder forte”. O presidente norte-americano e o presidente eleito russo Dmitri Medvedev comprometeram-se a trabalhar conjuntamente para resolver problemas bilaterais. Bush disse que quer estabelecer com o sucessor de Putin uma relação “que permita resolver problemas comuns”. Medvedev declarou que as relações entre russos e americanos não sofrem nenhuma “interrupção”.
Os presidentes dos EUA e da Rússia também deixaram claro que se mantêm as divergências sobre o alargamento da NATO para o Leste Europeu, através da adesão das ex-repúblicas soviéticas da Ucrânia e da Geórgia. Para melhorar as relações com a NATO, afirmou Putin, “o que é preciso não é atrair as repúblicas a blocos militares, mas sim dialogar com a própria Rússia”. Na cimeira de Bucareste, no final da semana passada, a Aliança Atlântica comprometeu-se a admitir futuramente a Ucrânia e a Geórgia como membros, mas não se comprometeu quanto a uma data precisa, como queriam os americanos. As posições cautelosas da Alemanha e da França, foram determinantes para não estimular tensões com Moscovo, nesta fase de transição de liderança política nos dois países. Em Bucareste, Putin, apesar da inquebrantável firmeza deixou à NATO uma mensagem simples e conciliatória: “Let’s be friends, guys….”