O desemprego cresce em Portugal há 12 meses consecutivos, um cancro económico e social cujas mestástases chegam de Espanha, o nosso principal parceiro. O Eurostat diz que o desemprego espanhol, em Dezembro do ano passado, atingiu 19,5% enquanto em Portugal se fixou nos 10,4%.
O economista Luís Bento prevê a continuação da subida do desemprego: “Em Espanha, o modelo de desenvolvimento assentou na construção civil e depois na área financeira com grandes grupos na América Latina e América do Sul. Como nas américas também se vive uma grave crise económica, com uma brutal queda das exportações, a Espanha sofre um duplo efeito da crise, por um lado, os milhares de fogos para vender e a paralisação nas obras, por outro, a quebra das receitas da América”.
Além disso, e tal como para Portugal, a recessão económica “levou à recomposição de grandes grupos empresariais, e novos processos de deslocalização na procura de melhores preços. As grandes empresas estão a fechar fábricas, e isso afecta os dois países, porque não surgem novas encomendas”, sublinhou.
Os números do desemprego no país vizinho afectam directamente Portugal. Basta recordar que, na Segurança Social espanhola, em Dezembro de 2009, estavam inscritos menos 10 mil portugueses do que em 2008 (eram 69 039 em 2008, e 58 870 em 2009).
Luís Bento lembra que, nos últimos anos, Espanha absorveu muitos dos desempregados portugueses na construção civil, “que agora estão desempregados”. Além disso, “afecta as PME, que têm menos encomendas”.
Nesse sentido, fez a decomposição dos números de desemprego em Espanha, por regiões, verificando-se que em algumas, todas no Sul, onde as relações de negócios são mais importantes, “têm desemprego acima dos 35%”, ao contrário da “Catalunha, onde o intercâmbio com Portugal é muito mais reduzido e o desemprego está abaixo da média. É talvez a região menos afectada, porque tem a sua economia assente numa indústria poderosa de produtos de valor acrescentado”.
MRA Alliance/Jornal de Notícias