Espanha deverá ser o próximo país a ver-se forçado a recorrer ao fundo de emergência UE/FMI, defendem cada vez mais analistas. As baterias antes apontadas a Portugal desviaram nos últimos dias a sua trajectória para o país vizinho, com um peso seis vezes maior na economia europeia e a passar por uma reestruturação do seu sistema bancário, que, embora a uma escala bem menor do que na Irlanda, não tem conseguido evitar as comparações.
Zapatero descarta “em absoluto” a necessidade de um resgate e diz basear-se em “dados concretos”. Mas a Irlanda também insistia na mesma tecla e não deixou de capitular, o que só prova que os mercados quando querem têm uma grande capacidade para transformar rumores em certezas.
Ontem, na Bloomberg, o economista Michael McDonough escrevia que o risco de Espanha é agora maior do que o de Portugal e que os seus problemas constituem uma ameaça superior para a estabilidade da moeda única. Desde logo, porque a Espanha é a quarta maior economia europeia e “o seu PIB representa 12% da economia da Zona Euro, mais do que o PIB acumulado de Irlanda, Grécia e Portugal”. Para McDonough, “Espanha está a tornar-se cada vez mais o ponto central dos receios em torno da estabilidade das economias mais debilitadas.”
Também uma nota de análise do Barclays Capital afirmava que a Espanha poderá ser o próximo país na mira dos mercados, partindo do exemplo irlandês – sem problemas de financiamento externo até ter de ir em socorro da banca. O Barclays agregou as dívidas, as necessidades e os timings de financiamento dos Estados e dos bancos em 2011 e concluiu que, só nos primeiros quatro meses, a Espanha deve ter de ir buscar ao mercado 30 mil milhões de euros, enquanto as necessidades de financiamento dos seus bancos poderão atingir os 40 mil milhões, existindo “um risco de execução substancial”. E afirma que, se houver uma crise de confiança dos mercados na dívida espanhola – pública ou bancária -, a que os bancos franceses e alemães estão muito expostos, o risco de contágio à Zona Euro é elevado.
Quanto a Portugal, considera que o financiamento da banca está bem distribuído ao longo do ano, sendo, além disso, a dívida soberana portuguesa (83% do PIB) uma das mais protegidas do contágio da dívida do sistema bancário (30%), porque o peso das duas somadas no PIB é inferior ao verificado na Grécia, na Bélgica, na Itália, na Irlanda, no Reino Unido e na Espanha.
Uma análise que cai como ouro sobre azul, depois de a edição alemã do Financial Times ter noticiado que o Banco Central Europeu (BCE) e a maioria dos países da Zona Euro estão a pressionar Portugal para pedir a ajuda do fundo de emergência europeu. Um plano que o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, nega. “É absolutamente falsa qualquer referência a um plano para salvar Portugal, nem foi pedido por nós, nem o sugerimos”, garantiu.
Fonte do gabinete do primeiro–ministro, José Sócrates, também assegurou que “a notícia do Financial Times não tem qualquer fundamento.
Mas os desmentidos vieram igualmente da própria Alemanha, com um porta-voz do Ministério das Finanças a afirmar que Berlim não fez, nem vai fazer, “pressão sobre ninguém”. Outro porta-voz do Governo de Angela Merkel foi ainda mais longe, acrescentando que “os esforços de consolidação orçamental de Portugal serão bem sucedidos” e que o País não precisará de pedir ajuda externa.
A ministra espanhola da Economia, Elena Salgado, também diz que Portugal adoptou as medidas de austeridade com que se comprometeu e que não há por isso necessidade de qualquer resgate internacional.
MRA Alliance/DN