Da “gripe espanhola” à “gripe americana”, com Baxter, Tamiflu, dúvidas e apreensão

Os últimos dias foram férteis em notícias sobre a “gripe americana”, a sucedânea da “pneumónica” espanhola , que no início do século passado terá custado a vida a 20-50 milhões de pessoas. A MRA Alliance acompanha o assunto desde Março passado.

Sobre os últimos desenvolvimentos importa ter em atenção factos arredios das prosas publicadas diariamente pela chamada “media de referência” portuguesa:

  • A OMS anunciou esta semana a revisão dos critérios que qualificam as ameaças regionais e globais à saúde pública;
  • Em plena evolução da “gripe suína”, a OMS classificou-a como “Nível 4”, que estabelece a contaminação de vírus entre humanos;
  • O “Nível 5” caracteriza a situação em que um vírus homem-homem alastra simultaneamente em, pelo menos, dois países na mesma região geográfica;
  • O seguinte e último – Nível 6 – determina o carácter pandémico de uma contaminação, face ao despiste de infecções em vários países, em diferentes latitudes e longitudes;
  • No mesmo dia em que a gripe suína contaminava e matava dezenas de mexicanos, norte-americanos e canadianos – América do Norte – a OMS declarou termos passado da “terceira para a quarta fase de epidemia”, deixou em aberto a possibilidade de passarmos para “a quinta fase” e recusou aconselhar medidas de restritivas de trânsitos fronteiriços ou de viagens internacionais;
  • No dia do anúncio, segunda-feira, e de acordo com os seus próprios critérios, a OMS deveria ter classificado a presente epidemia como “Nível 5”; Por que razão não o fez?
  • O organismo da ONU que gere os problemas sanitários globais, juntamente com as autoridades reguladoras e fiscalizadoras da saúde pública dos países membros, parece apostado em desvalorizar a gravidade da situação apesar das rápidas e letais evoluções da contaminação a nível regional e planetário;
  • Estranhamente, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos –U.S. Departement of Homeland Security – adoptou uma postura pouco agressiva quanto a restrições ao tráfego aéreo México-EUA e à fiscalização de potenciais pessoas infectadas em aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários;
  • A atitude da OMS e dos governos caracteriza-se por uma estranha apatia, face ao rápido alastramento da doença em mais de uma dezena de países em apenas uma semana;
  • A estranheza aumenta quando sabemos que na Carolina do Norte as autoridades estão a recorrer à quarentena de pessoas suspeitas de estarem infectadas mas recusam-se a quantificar e a qualificar a infecção;
  • Mais de cem estudantes de Nova Iorque já estão oficialmente contaminados quando, no domingo, o seu número não chegava a dez; Este é um indicador de que a situação no país tem tendência para se agravar com uma intensidade e rapidez não reconhecidas pelas autoridades;
  • Na passada segunda-feira, o homónimo norte-americano do Infarmed português – Food and Drug Administration (FDA) – anunciou ter alargado o uso do medicamento Tamiflu para tratamento e prevenção da gripe suína em crianças com menos de um ano de idade e liberalizou a sua utilização a outros grupos etários para além das especificações da respectiva bula (folheto informativo);
  • Também na segunda-feira, a revista norte-americana Time publicou um artigo a preparar os americanos para aceitarem obedientemente medidas drásticas das autoridades para combater uma eventual pandemia e acreditarem nas decisões do governo sobre um programa obrigatório de vacinação, apesar dos letais erros cometidos durante a epidemia gripal de 1976;
  • O caso assume proporções preocupantes quando uma empresa envolvida num grave incidente com vacinas contaminadas – Baxter International – confirmou esta semana estar a desenvolver uma vacina para a gripe suína, em cooperação com a OMS; Na segunda-feira as acções da companhia na bolsa de Nova Iorque valorizaram-se 2,5%…

MRA Alliance

Pedro Varanda de Castro, Consultor 

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