Crise financeira chega a Portugal: Fundo do BPI é a primeira vítima

O efeito dominóO BPI decidiu proceder à liquidação de um fundo de investimento mobiliário, com activos no montante de 88 milhões de euros, revela o Diário Económico na edição de hoje. Segundo um comunicado divulgado na terça-feira, o banco informou que “a decisão de extinção do Fundo [BPI Renda Trimestral] tem subjacente o interesse dos participantes” e a “simplificação da oferta de fundos de investimento”. A carteira do fundo é composta maioritariamente por obrigações de “baixo risco” com “elevada liquidez” e por “alguns créditos hipotecários”. A incerteza quanto à distribuição trimestral do rendimento dos capitais investidos foi a razão apontada para a liquidação. O reembolso da totalidade do capital aos participantes foi assegurada por uma fonte do BPI citada pelo jornal. O encerramento do fundo será concluído no dia 2 de Outubro. A mensagem pretensamente tranquilizadora arrisca-se a aumentar os receios e a desconfiança dos investidores.

Contágios do alto risco

O Diário Económico refere que “o sector financeiro português não está imune aos riscos de contágio” da crise global de crédito e classifica a decisão do banco presidido por Fernando Ulrich como a manifestação de “uma crise financeira, mas também de confiança”. O DE avança publicamente com o que a MRA tem prognosticado nos relatórios de acesso restrito “Sistema Financeiro Global Observatório da Crise“, desde Agosto, apesar da sistemática desvalorização do problema por parte das autoridades monetárias e dos «market players». A situação, porém, é grave. A sentença BPI significa o princípio do fim de outros veículos de investimento existentes no mercado português. Após o colapso do segmento hipotecário de alto risco (subprime), nos Estados Unidos, cujos sinais já eram evidentes no último trimestre de 2006, os instrumentos de dívida negociados entre investidores, bancos, fundos, corretores e outros agentes tornaram-se ilíquidos. O mercado evaporou-se. O apetite pelo risco tornou-se drásticamente volátil.

O nacional-porreirismo

Esta quarta-feira, Carlos Tavares, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) informará os investidores e o público em geral sobre os efeitos da crise no sistema financeiro português, durante uma conferência de imprensa. O jornal sublinha que “o regulador [CMVM] considera existirem, neste momento, alguns motivos para preocupação” uma vez que “não é possível garantir que não se verifiquem casos preocupantes”.Manuel Vasconcelos Guimarães, presidente da APFIPP, associação dos fundos de investimento, pensões e patrimónios, há apenas uma semana, garantira ao jornal não existirem motivos para alarme quanto a um eventual contágio pela crise ‘subprime’. “Estamos tranquilos com a indústria de fundos” afirmou então o presidente da APFIPP garantindo desconhecer “problemas no sistema”. A opinião foi emitida em contraciclo com a debandada geral dos investidores. Em Agosto, os resgates das unidades de participação atingiram níveis recorde. Tal não impediu o dirigente associativo de manifestar o seu optimismo. “Os dados de Agosto reflectem o período de incerteza que afectou os mercados financeiros. É nestas alturas que determinados investidores vêem boas oportunidades que acabarão por constituir-se como motores de novas subscrições”, sublinhou Vasconcelos Guimarães. À data, a CMVM já havia informado o mercado sobre a crescente tendência para o desinvestimento naqueles veículos de poupança e valorização de patrimónios. Era a confirmação, pelo regulador da actividade bolsista, de que os mecanismos imunitários do sistema europeu ao descalabro dos mercados da dívida não existiam. Por isso, não funcionaram.

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