O banco Morgan Stanley, com a publicação de previsões desapontadoras do crescimento económico mundial, contribuiu ontem para mais uma quinta-feira negra nas bolsas, agravada pelo incontornável desânimo dos investidores perante o anúncio de indicadores desfavoráveis aos Estados Unidos .
As praças de Frankfurt, Madrid, Londres, Paris e Milão registaram perdas entre 4% e 6% no dia, o pior registo desde Março de 2009. A fuga dos investidores foi de tal forma generalizada que em 600 acções europeias do Stoxx Europe apenas quatro subiram. Em Portugal, o principal índice bolsista tombou 4,12%, com os 20 títulos do PSI-20 a serem fustigados. Do outro lado do Atlântico, os mercados também sucumbiram ao tsunami europeu, ao iniciarem a sessão com uma desvalorização de 4%.
“Contribuíram para a queda novos medos de abrandamento, substanciados por um research da Morgan Stanley que colocava a possibilidade de recessão nos EUA, acrescidos de uma nova vaga de dados económicos piores do que o esperado, como foram as vendas de casas usadas e o índice Philadelphia Fed muito abaixo do esperado”, explicou Paulo Santos, analista da XTB ao jornal ionline.
A este quadro, segundo o espescialista da XTB, acrescem os “receios relacionados com a possibilidade de alguns bancos europeus poderem vir a enfrentar problemas de solvabilidade no curto prazo, devido à desvalorização da dívida pública periférica”. Ontem, o “Wall Street Journal” escrevia que a Reserva Federal está “preocupada” com a liquidez dos bancos europeus presentes nos EUA.
O sector financeiro foi por isso dos mais penalizados, ao cair 6,7%. Entre os bancos portugueses, o BCP derrapou quase 4,2% para 0,253 euros, depois de ter renovado um novo mínimo histórico ao bater nos 0,251 euros. “Quanto ao BCP, por mais que custe dizer, a tendência é de queda e não se consegue dizer onde vai parar, porque não há histórico, não há referências, o BCP está a valores nunca vistos”, refere Tiago Pereira, gestor de activos do Banco Carregosa.
Além da banca, as utilities (distribuição de energia, por exemplo) desceram 5,8% e as telecomunicações, habitualmente mais seguras, desvalorizaram 3,6%.
“É a ressaca da cimeira Merkel/Sarkozy, que veio confundir e desestabilizar ainda mais os investidores, e é a continuação de um mercado que continua a testar os limites”, acrescenta Tiago Pereira. A tendência é para descer e, na dúvida, vende-se, o que agrava ainda mais a tendência. “De vez em quando, alguns rumores espalham o pânico. Faz lembrar o pós-11 de Setembro em que todos os dias havia notícias negativas e que parecia que o mundo ia acabar.”
O resultado da soma da crise da dívida à crise de liderança política na Europa vai além da queda das bolsas. Os juros dos títulos de dívida de quase todos os países europeus subiram, à excepção da Alemanha.
Os receios levam os investidores a procurar activos refúgio, como as obrigações alemãs e o ouro. O metal amarelo subiu para 1.820 dólares por onça e “vai continuar a subir até existirem sinais seguros de que os EUA e a Europa estão a regressar à normalidade”, afirmou à Bloomberg, Afshin Nabavi, vice-presidente da MKS Finance.
O dólar valorizou e os sinais de abrandamento económico pressionaram o preço do petróleo que, em Nova Iorque, recuou mais de 5%.