Portugal realiza hoje o quinto leilão de dívida desde que pediu ajuda externa e 24 horas depois de ter sofrido novo corte de rating para a temível classificação de «lixo». O Estado pretende angariar entre 750 e mil milhões de euros numa emissão de dívida com maturidade a três meses.
A agência de notação financeira Moody`s cortou em quatro níveis o rating de Portugal de Baa1 para Ba2, igual a lixo (junk, no jargão financeiro ibnternacional), colocando a dívida soberana portuguesa como na categoria de alto risco para os investidores. A decisão promete por isso causar turbulência nos mercados. Na bolsa, o PSI20 abriu no vermelho, com a banca em destaque.
De acordo com o Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP), o leilão de hoje tem um montante indicativo entre os 750 e os mil milhões de euros a colocar na linha de Bilhetes do Tesouro com maturidade em 21 de Outubro deste ano.
Depois do pedido de ajuda endereçado a Bruxelas e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) – Portugal deverá receber 78 mil milhões de euros caso cumpra o programa de ajustamento acordado com a troika -, Portugal orientou o seu programa de financiamento para empréstimos de curto prazo.
Durante o terceiro trimestre, de acordo com as linhas mestras publicadas pelo IGCP, Portugal irá tentar financiar no mercado entre 4,5 e 6,75 mil milhões de euros, através de dívida de curto prazo, maioritariamente em linhas que atingem a maturidade este ano.
Entretanto a decisão da Moody’s suscitou um conjunto de reacções que oscilam entre a irritação e a relativização por parte dos agentes económicos e analistas.
Manuel Caldeira Cabral disse esta terça-feira que a decisão da Moody¿s de cortar em quatro níveis o «rating» de Portugal «é profundamente injusta e mal fundamentada na análise económica». Para o economista «é um erro estar a associar demasiado o caso português ao caso grego».
«Prefiro uma crise em «v», afundar rápido para depois começar a subir, do que uma crise que não tem «v», é só um dos lados, é um plano inclinado», afirmou ontem o economista João Duque, presidente do ISEG, citado pela Lusa. Com «algum esforço e muita dureza» Portugal pode «voltar rapidamente aos eixos», e o importante agora, frisa João Duque, é mostrar «até final do ano» que o país está a cumprir o acordo firmado com a «troika» internacional.
O Ministério das Finanças, em comunicado citado pela Reuters, reagiu ontem afirmando que «o downgrade ora anunciado revela o ambiente adverso da crise da dívida soberana e as vulnerabilidades da economia portuguesa neste contexto». A seguir, acrescentou que a agência «não terá tido em devida conta o amplo consenso político que suporta a execução das medidas acordadas com a troika, traduzidas numa votação de mais de 80% nos partidos que subscreveram os memorandos».
Por seu turno, o presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Faria de Oliveira, exige que as autoridades europeias se manifestem contra o «ataque» da agência de notação classificando a sua decisão de «imoral e insultuosa». «Imoral em relação aos argumentos e fundamentos, insultuosa para Portugal, que com um novo Governo maioritário e o apoio de 80% dos eleitores está a aplicar rápida e determinadamente o acordo com a troika», disse à Lusa o presidente da CGD.
O economista Luís Nazaré, ex-presidente dos CTT, considerou hoje que o corte de rating de Portugal pela Moody’s é a confirmação do «comportamento incompetente e lesivo das economias europeias periféricas», mas também da incompetência das agências de notação, que pelas regras do mercado, já deviam ter desaparecido.
«Este corte significa a confirmação das motivações e do comportamento incompetente e lesivo das economias europeias, principalmente das periféricas, mas não só, também das agências de notação», disse à Lusa Luís Nazaré horas depois de a Moody’s ter cortado o rating de Portugal para «lixo».
«Se o mercado (de que as agências tanto reclamam) funcionasse como deve ser, as três agências de notação internacionais norte-americanas já teriam sido varridas a alcatrão e penas da cena internacional, dadas as provas manifestas de completa incompetência que revelaram no passado e que conduziram em larga medida à situação que hoje vivemos», disse o economista.
O Estado e as empresas portuguesas paguem por ano cerca de 9 milhões de euros às agências de rating que têm baixado sucessivamente a nota à dívida soberana e que a colocam agora a nível de lixo financeiro.
O Estado ou um banco pagam de que cada vez que pedem uma avaliação das agências de rating. Em mercado, esta é a forma de cumprirem as exigências dos investidores, que confiam nas notas das agências… para decidirem onde, como e quanto devem investir.
Agências de rating há muitas, mas só três norte-americanas são seguidas pelos investidores: Standard and Poor’s, Moody’s e Fitch que, entre elas, representm 95% do mercado. Na Europa também as há, e em Portugal também, mas não convencem quem decide onde vai aplicar o seu dinheiro.
Seja como for e à falta de alternativa, são as agências norte-americanas que ditam as regras do jogo da alta finança mundial. As mesmas que antes da crise financeira davam como bons investimentos de alto risco.
MRA Alliance/AF