
As cotações do crude estão a intensificar o movimento de valorização. Primeiro foi a reacção ao anúncio de que as reservas semanais norte-americanas caíram mais do que o previst
o. Depois foi a decisão da Agência Internacional de Energia (EIA) de inundar os mercados com milhões de barris retirados às reservas estratégicas dos EUA, com o beneplácito da Administração Obama. Washington informou que, até ao final de Julho, iria retirar 60 milhões de barris das reservas norte-americanas para “compensar as quebras”. Claro que o primeiro objectivo foi provocar uma baixa dos preços. No entanto, para já, o resultado foi o oposto. E, na realidade, as tendências futuras dizem-nos que foi pior a emenda que o soneto…
Senão vejamos. Nas últimas 24 horas, o preço por barril do “benchmark” norte-americano WTI (West Texas Intermediate), para entrega em Agosto, subiu 2,81% no mercado de Nova Iorque. A cotação foi de 95,50 dólares por barril, contra 93,78 dólares antes do anúncio sobre as reservas norte-americanas. Em 2010, o acumulado regista um ganho de 4,5%. Por seu lado, na tarde de hoje, o Brent do Mar do Norte, crude de referência para a Europa, chegou a valorizar 2,74% para 111,76 dólares. Desde o início do ano, acumula uma subida de 17,9%.
De acordo com a informação divulgada hoje pelo Departamento de Energia (DoE) dos Estados Unidos, os “stocks” de crude caíram em 4,37 milhões de barris na semana passada, para 359,5 milhões. Uma dúzia de analistas inquiridos pela Bloomberg apontava para um decréscimo médio de 1,5 milhões de barris.
É verdade que, na semana passada, os efeitos imediatos da decisão da International Energy Agency (IEA) se traduziram num recuo dos preços de quase 10 dólares no mercado dos EUA. Mas, como se constata, foi sol de pouca dura. Acresce que, a quantidade de 60 milhões de barris oferecida por Obama como compensação é manifestamente insignificante para produzir os efeitos pretendidos, no curto e no médio prazo. Num prazo mais longo, certamente, acabará por ter o efeito contrário.
Recorde-se que, em
Março passado, o respeitado e veterano analista Paul Horsnell, do Barclays Capital, surpreendeu os mercados ao vaticinar que, em 2020, os preços do WTI e do Brent deverão rondar os 185 dólares/ barril. Horsnell muito raramente emenda as suas previsões e, sobretudo nas de longo prazo, mantém-lhes uma fidelidade canina…
De acordo com a lei, as Reservas Estratégicas de Petróleo (SPR, em inglês) dos EUA só deverão ser usadas em situações que ameaçem a economia ou a segurança do país. Embora a economia norte-americana viva à custa de esteróides monetários e de falácias financeiras e mercantis, não parecem ter sido estas as razões para a acção de Obama e para as recomendações dos seus consultores de Wall Street.
Todos sabem que será praticamente impossível repor as reservas petrolíferas a preços idênticos aos da semana passada. O reabastacimento das SPR será mais caro e a sua origem será de países estrangeiros. O quadro mostra que as reservas estratégicas representam apenas 0,3% do total da produção diária.

Caroline Bain, da prestigiada Economist Intelligence Unit, não tem dúvidas sobre as consequências das decisões da IEA: “A despeito de o impacto imediato da libertação das reservas por parte da IEA ser o de baixar os preços, num prazo mais dilatado pode desencadear a respectiva subida. As reservas são finitas.”
Curiosamente, nos últimos 50 anos a IEA só tomou uma decisão idêntica por duas vezes e foram sempre seguidas por violentas subidas dos preços. Esta é a terceira vez e um cenário idêntico pode repetir-se. Diversos factores agravam tais receios.
A produção de petróleo do Mar do Norte já não é o que era. Em lugar de excedentes, actualmente está numa curva preocupantemente descendente – menos 20% do que em 1991. O mesmo acontece com as jazidas petrolíferas do México. A mal disfarçada tentativa de ocupação da Líbia e a instabilidade provocada no Médio Oriente e no Norte de África – do Iémen a Marrocos, passando pelo Afeganistão/Paquistão e pela Arábia Saudita/ Emiratos – são elementos fundamentais nesta equação.
No início de Dezembro passado, quando o crude estava bem abaixo dos 100 dólares, avançámos a possibilidade de, em 2011, o barril de petróleo poder atingir os 150 dólares. Se não se verificar uma queda abrupta no crescimento das principais economias emergentes, nem uma contração violenta na produção industrial global, continuamos a acreditar que tal é possível.
MRA Alliance