O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, entregou ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o pedido de adesão às Nações Unidas de um Estado palestiniano, o que significaria o seu reconhecimento. “Este é o momento da verdade – disse Abbas – o nosso povo espera as resposta do mundo”, no discurso proferido perante a Assembleia, ontem, em Nova Iorque.
Israel reagiu imediatamente. “Lamentamos profundamente, a única forma de existir um estado palestiniano é através das negociações”, disse à AFP Gidi Shmerling, porta-voz do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “Na nossa opinião a única via para uma verdadeira paz são as negociações, não actos unilaterais”, acrescentou.
No discurso, Abbas lembrou aos países membros que, há um ano, a ideia do reconhecimento do Estado palestiniano motivara uma vaga de optimismo e adesão – como que a dizer que este é o momento de cobrar essa reacção. Prosseguiu acusando Israel de continuar a ocupação, de continuar a construir colonatos e de não querer “negociar de acordo com o direito internacional”. Lembrou que, pela manhã, e perante confrontos entre palestinianos e israelitas perto do colonato de Nablus – ambos os lados atiravam pedras – os militares israelitas dispararam e mataram um palestiniano. Abbas prosseguiu dizendo que o passo palestiniano “não visa isolar ou deslegitimizar Israel”.
Na quarta-feira, também na ONU, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, considerara que o pedido seria o passo errado. Defendeu que não há “atalhos” no processo de paz com Israel e no reconhecimento do estado palestiniano, e que este pedido é “ilusório”.
Obama e Abbas reuniram em Nova Iorque, mas do encontro nada saiu que abrandasse os receios de estalar uma crise diplomática na ONU – os membros estão divididos mas têm alguma margem de manobra uma vez que a resposta ao pedido palestiniano pode levar várias semanas a surgiu – e com temidas repercussões de violência no Médio Oriente.
Cinco países sinalizaram já a sua intenção de votar favoravelmente esta adesão: Brasil, China, Líbano, Rússia e África do Sul. Os palestinianos precisam de pelo menos nove votos positivos, dos 15 membros do Conselho para ver as suas ambições confirmadas. E, acima de tudo, precisam que não haja veto por parte de qualquer dos cinco membros permanentes – algo com que claramente não podem contar, dada a posição assumida pelos Estados Unidos de que usará esse direito para bloquear a iniciativa palestiniana.
“Teremos que nos opor a qualquer iniciativa no Conselho de Segurança das Nações Unidas”, disse o porta-voz do conselho de segurança da Casa Branca, Ben Rhodes, já após a reunião entre Obama e Abbas.
O Presidente francês, Nicolas Sarkozy, apresentara uma solução de compromisso: que a Assembleia Geral da ONU (onde os Estados Unidos não têm direito de veto) conceda aos palestinianos o estatuto de Estado não membro das Nações Unidas (têm actualmente o estatuto de entidade observadora) e determine um calendário para as negociações. A proposta dividiu os países membros.
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho defendeu que a Palestina deve procurar melhorar o seu estatuto dentro das Nações Unidas através da Assembleia Geral e não do Conselho de Segurança, à saída do encontro bilateral com o presidente da Autoridade Palestiniana Mahmud Abbas, em Nova Iorque.
“Seria de evitar uma solução forçada relativamente ao Conselho de Segurança na medida em que estamos em condições de fazer uma melhoria da qualificação da Autoridade Palestiniana em termos das Nações Unidas através da aprovação de uma resolução na Assembleia Geral”, declarou aos jornalistas portugueses no final do encontro com Abbas – que durou cerca de meia hora – à margem do debate geral da reunião anual da ONU.
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