A cimeira política bilateral que juntará hoje à tarde, em Lisboa, o presidente russo Vladimir Putin e José Sócrates, primeiro-ministro português e presidente do Conselho Europeu, tem possibilidades de resultar em algo de concreto e de interesse recíproco. Já a solene reunião magna EU-Rússia, aprazada para amanhã, está envenenada por ambiguidades e incongruências toscamente urdidas por Washington. Prevemos que dela resultará um rol de intenções, de declarações ‘politicamente correctas’ e de projectos bilaterais que dificilmente terão pés para andar, antes do resultado das eleições americanas, em Dezembro de 2008.
José Sócrates e Vladimir Putin, aproveitam a ocasião para a assinatura de acordos económicos entre Lisboa e Moscovo, um deles para desenvolver uma linha de crédito de 200 milhões de euros. Segundo fonte do executivo socialista, citado pela Lusa, a assinatura dos acordos insere-se num clima político “muito positivo nas relações entre Portugal e a Rússia” – ao qual não terá sido alheia a visita de Sócrates ao Kremlin, em Maio passado.
Os dois países vão assinar pelo menos três acordos bilaterais nas áreas financeira e económica (infra-estruturas e vias de comunicação). Uma linha de crédito de 200 milhões de euros vai envolver a Caixa Geral de Depósitos e um banco russo. Os dois bancos vão “colaborar mutuamente na identificação e desenvolvimento de oportunidades para a exportação de bens e serviços”, com enfoque para a promoção do IDE de empresas russas em Portugal e de empresas portuguesas na Rússia. Do lado português, a linha de crédito apoiará a construção de infra-estruturas russas.
As relações Sócrates-Putin constam que são boas. Mas as do mestre geopolítico e judoca russo com a matreira raposa germano-americana, Henry Kissinger, roem de inveja, causando perplexidades e mal disfarçados receios em muitos círculos do poder global. Porque será?
Enquanto nos entretemos com estas singularidades do “great chest game”, acrescente-se que, no total, 1 300 forças policiais garantirão a segurança do presidente russo durante os dois dias em que permanecerá em Portugal. Esta é a segunda visita oficial de Putin à pátria de Pessoa, marcada por uma iniciativa cultural imperdível: a exposição “De Pedro, o Grande, a Nicolau II – Arte e Cultura do Império Russo na Colecção Hermitage”. Será que, a soberba mostra, quer diferenciar, de forma «imperial» ,a primeira visita de Putin, a Lisboa, em Novembro de 2004, para retribuir a que Jorge Sampaio efectuou à Rússia, em Outubro de 2001? (pvc)