O presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, recebeu ontem em Teerão o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, para discutirem o programa nuclear iraniano e as relações bilaterais, noticiou a emissora iraniana “Alalam”. Na ocasião, Lavrov criticou a decisão americana de impor novas sanções ao Irão pois “não ajudam” a resolver as actividades nucleares iranianas, noticiou a agência russa Interfax. As sanções unilaterais contra o Irão “prejudicam a continuação dos esforços colectivos” para resolver a questão, disse o ministro russo. “A Rússia defende uma solução pacífica para as questões relacionadas com o programa nuclear iraniano. Vigiaremos atentamente as decisões tomadas pelo Conselho de Segurança da ONU”, sublinhou o chefe da diplomacia do Kremlin.
Recorde-se que, na semana passada, os Estados Unidos impuseram, através da ONU, novas sanções ao Exército iraniano e a três bancos públicos do Irão, acusando-os de apoiar o terrorismo. Neste contexto, o
presidente russo, Vladimir Putin, adoptou uma posição de distanciamento dos países aliados dos EUA, membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Enfáticamente, Putin limitou-se a repetir o que afirma há mais de um ano. Argumenta que não pode tomar outra posição pois não dispõe de quaisquer provas que confirmem a existência de um programa nuclear para fins militares, executado pelo governo de Teerão.
As últimas sanções americanas foram dirigidas a destacados membros da Guarda Revolucionária iraniana, acusados de contribuir para a proliferação de armas de destruição maciça e de apoiar organizações e actividades terroristas. Segundo os Estados Unidos, o Exército da República Islâmica do Irão treina e fornece armas a milícias xiitas iraquianas que, alegadamente, executam acções militares contra as tropas americanas e britânicas que ocupam o Iraque.
Esta retórica é interpretada por um crescente número de comentadores, observadores e analistas militares, como um expediente do Pentágono e da Casa Branca para criar um clima anti-iraniano junto do eleitorado americano. À semelhança da estratégia de desinformação que precedeu a invasão e ocupação do Iraque, em 2003, para destruir as armas de destruição maciça alegadamente na posse de Saddam Hussein – acusação que se revelou falsa e enganadora – as novas sanções contra objectivos militares e económicos iranianos visam pôr em prática os planos de ataque desenvolvidos pelos militares do Pentágono, pelo menos, desde Junho passado.
Na passada segunda-feira, uma sondagem publicada nos Estados Unidos, revelou que mais da metade dos americanos é favorável a um ataque militar dos EUA contra o Irão. A maioria dos inquiridos acredita que isso pode acontecer antes das eleições presidenciais de Novembro, de 2008. O estudo de opinião foi realizado pelo Instituto Zogby. De acordo com os resultados, 52% dos entrevistados são favoráveis a ataques preventivos para impedir o governo do Irão de fabricar uma bomba nuclear. Apenas 29% acham que os EUA não deveriam atacar a República Islâmica.
Estes factos revelam que o índice de probabilidades de um ataque militar – exclusivamente a cargo da força áraea americana e/ou israelita – aumentou significativamente nos últimos meses. Por isso, a visita de Sergei Lavrov, que surpreendeu a generalidade dos observadores por Putin ter visitado oficialmente o Irão, na semana passada, assume um acrescido significado político e, indirectamente, militar. Por outro lado, a sua inesperada deslocação, coincide com as negociações que representantes iranianos e funcionários da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) mantêm, desde segunda-feira, em Teerão, sobre as centrífugas P1 e P2 utilizadas para o enriquecimento de urânio.
A importância das conversações Irão-AIEA residem no facto de serem as últimas que o diretor da AIEA, Mohamed ElBaradei, conduzirá no país do Golfo Pérsico, antes de apresentar mais um relatório oficial sobre o programa iraniano, na próxima reunião do Conselho de Governadores do organismo da ONU, marcada para 22 de Novembro. A despeito das sucessivas inspecções da AIEA, o Irão continua a manter actividades nucleares, com o argumento de que são para fins pacíficos. Paralelamente insiste que, como país soberano, membro de pleno direito da agência de não proliferação nuclear, o Estado iraniano procede ao enriquecimento de urânio no exercício dos seus “legítimos direitos”. Os Estados Unidos e União Europeia (UE), em contrapartida, suspeitam que o programa tem fins militares e exigem que Teerão cumpra as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, e cancele a sua execução.
O ministro Lavrov, segundo o telegrama da “IRNA”, manteve igualmente reuniões de trabalho com o seu homólogo do Irão, Manouchehr Mottaki. Ambos “abordaram as necessidades e as iniciativas adequadas ao fortalecimento das relações bilaterais”, acrescentou a agência de informação islâmica. No plano bilateral, a Rússia e o Irão fecharam, desde 1995, vários acordos para a reconstrução e ampliação da central nuclear de Bushehr, no sudoeste do país. O arranque das operações, no entanto, está atrasado desde Setembro, por questões relacionadas com disputas entre Moscovo e Teerão sobre os custos e a forma de pagamento. (pvc/agências)