Portugal é o país que tem maior exposição a investimentos na Irlanda em percentagem do PIB (produto interno bruto). A conclusão é do Fundo Monetário Internacional (FMI), num relatório divulgado ontem que serviu de base à decisão de viabilizar a ajuda à Irlanda.
Nas contas do FMI, os investimentos e as aplicações nacionais na Irlanda representam 18,8% do PIB português. Em números redondos, estamos a falar de qualquer coisa como 33 mil milhões de euros que, segundo o FMI, estão sobretudo aplicados em títulos e instrumentos de dívida de longo prazo.
A seguir a Portugal, e pelo critério do PIB, surge o Reino Unido (8,9%) que tem a maior exposição absoluta a activos irlandeses, estimada em 134 mil milhões de euros. A dimensão dos números surpreendeu os especialistas contactados pelo i.
A Irlanda, a par do Luxemburgo, é um destino muito procurado pelos bancos nacionais para domiciliarem operações de titularização de créditos, sobretudo obrigações hipotecárias (empréstimos à habitação). Isto significa que, embora os fluxos financeiros passem pela Irlanda, os activos subjacentes são créditos concedidos no mercado nacional. Por outras palavras, estas aplicações estarão expostas a activos portugueses e não irlandeses, segundo os especialistas ouvidos pelo i.
A titularização é um instrumento financeiro que consiste em antecipar receitas futuras, vendendo os créditos com um juro garantido à banca ou a empresas especializadas, que depois os podem transaccionar no sistema financeiro. Dentro destas dívidas de longo prazo podem estar créditos à habitação, às empresas, ao consumo, concedidos pelo bancos nacionais, mas também o défice tarifário da electricidade (dívidas dos clientes da EDP), receitas futuras da TAP ou das portagens da Brisa, para falar só em operações divulgadas.
Segundo os testes de stresse divulgados em Agosto, a banca nacional tinha cerca de 840 milhões de dívida pública irlandesa. Aproximadamente metade desse valor, que se reportava a Março, era investimento do BPI.
O FMI considera limitada a exposição da banca mundial à dívida soberana de Dublin, mas alerta para o elevado valor dos investimentos bancários em outros activos irlandeses. À frente estão os bancos alemães (113 mil milhões de euros), seguidos dos ingleses e dos franceses. Sublinha ainda que o risco de contágio da crise irlandesa é muito significativo por causa das intensas relações financeiras do país a nível mundial.
Portugal surge no trio dos países periféricos mais vulneráveis a um contágio made in Ireland, juntamente com a Grécia e Espanha. O FMI defende ainda que há um risco considerável de os problemas nos dois maiores bancos irlandeses, Allied Irish Bank e Bank of Ireland, passarem a outros bancos europeus. A probabilidade, diz a instituição, é superior a dois terços, com especial relevo para os bancos portugueses e gregos.
MRA Alliance/ionline