O presidente do Millennium BCP propôs aos Estados Unidos fornecer informações sobre restreamento de contas e de activos iranianos como contrapartida para manter boas relações com Washington e realizar negócios com Teerão. A informação foi avançada pelo El Pais, citando telegramas divulgados pela Wikileaks.
De acordo com o diário espanhol, o processo iniciou-se em Abril de 2009, mês em que uma delegação do BCP visitou Teerão a convite da embaixada do Irão em Portugal, para estreitamento das relações financeiras com o BCP e potenciar negócios entre os dois países.
Em Fevereiro de 2010, segundo os telegramas cedidos pelo Wikileaks ao El País, o presidente do Millennium reúniu-se em Lisboa com a conselheira política e económica da embaixada dos EUA e propôs-se passar a informação às autoridades norte-americanas sobre as actividades financeiras do Irão.
“Embora considere que os custos podem ser superiores aos benefícios para o Millennium, Ferreira está disponível para estabelecer uma relação com o Irão para ajudar os Estados Unidos a ter informações sobre os activos e as actividades financeiras do Irão”, pode ler-se no despacho da embaixada dos EUA enviado de Lisboa para Washington, pedindo orientações políticas.
“O Millennium consultou o Banco de Portugal e o governo português e gostaria de conhecer a nossa opinião sobre a sua proposta de relacionamento com o Irão e o interesse de Washington em controlar as contas do Irão em Portugal”, pode ainda ler-se no telegrama da embaixada.
“A nossa recomendação é que o Millennium não prossiga” com o projecto de relacionamento com o Irão. No entanto, porque provavelmente “Ferreira o fará apesar da nossa recomendação” o telegrama sugere que “poderá ser prudente manter abertos os canais de relacionamento com Ferreira”.
O despacho acrescenta igualmente que o primeiro-ministro José Sócrates como o governador do Banco de Portugal (na altura Vitor Constâncio) estavam a par das intenções e moventações do Millennium.
O telegrama faz uma prolongada descrição do currículum vitae de Santos Ferreira e informa que o contacto dos iranianos se ficou a dever ao facto de o banqueiro ter feito negócios de armas com o Irão, quando presidiu à Fundição de Oeiras.
“Ele [Ferreira] tem contactos estreitos com a embaizada e é um membro influente do sector bancário português. O seu filho partirá em breve para Nova Iorque onde vai trabalhar na consultora Deloitte Touche,” refere o documento divulgado pelo El País, com data de 12-02-2010.
MRA Alliance/pvc