Os confrontos na Inglaterra podem estender-se a outros países europeus, incluindo Portugal, por razões demográficas, desemprego crónico e défices de qualificações da população jovem, defendeu hoje o investigador José Vegar.
“Estão criadas as condições para que as contestações se alastrem”, porque a “base da pirâmide demográfica é dominada por jovens, entre os 16 e os 25 anos, logo a propensão para haverem problemas é muito grande”, disse hoje à agência Lusa o investigador na área da segurança e professor universitário.
José Vegar exemplificou com os movimentos pela democracia em países islâmicos, no norte de África, em que a “população tem uma maioria de jovens, sem objectivos escolares e desempregados” implicando uma “tendência para existirem problemas muito grandes”.
Em certas áreas urbanas das grandes cidades, nomeadamente “as periferias das cidades de Lisboa, Setúbal, Porto as probabilidades [de protestos] são grandes”, e não é só por uma “questão de austeridade, dificuldade do mercado de trabalho e do emprego”, porque “já não é possível o estado social cobrir todas as funções que antes cobria”.
O investigador lembrou que uma das “principais reivindicações é que querem emprego, querem protecção, [mas] isso acabou e já não há”, tendo as “pessoas de se qualificar, para terem mais acesso.
José Vegar justificou que a “cultura profissional e laboral dominante em Portugal é a de ter direito”. “Por muitas qualificações que as pessoas tenham hoje em dia, o acesso ao emprego não é automático, só os melhores vão ter acesso”, o que aumenta a probabilidade de contestações e problemas sociais.
No caso inglês, “há uma extrema tolerância pelos pensadores, especialistas e académicos classificando os acontecimentos de movimentos sociais”, o que é na óptica do “totalmente absurdo”, porque os contestatários estão a “roubar, pilhar, e a destruir indiscriminadamente”. A “única acção a tomar é a da lei”, sublinhou Vegar.
MRA Alliance/DE