Archive for the ‘Geopolítica’ Category

Morte de Bin Laden reacende debate sobre retirada de tropas do Afeganistão

quinta-feira, maio 12th, 2011

A morte de Osama Bin Laden reacendeu o debate sobre a retirada das tropas americanas do Afeganistão e as razões pela quais dezenas de milhares de soldados foram enviados às montanhas daquele país nos últimos 10 anos à procura dos membros da rede Al-Qaeda.

O objetivo da intervenção americana, iniciada semanas após os atentados de 11 de setembro de 2011, era caçar os membros da rede extremista e o esconderijo do seu líder. Agora, uma década depois, 100 mil americanos e 44 mil soldados da NATO combatem os talibãs afegãos rebeldes.

Os combatentes estrangeiros da Al-Qaeda seriam menos de 200 no país, escreveu Leslie Ghelb, um ex-alto funcionario americano, em uma coluna publicada na segunda-feira no Wall Street Journal. “Missão cumprida”, sentenciou. Pelo menos no “necessário e possível”.

“O Afeganistão já não é mais interessante em termos de segurança para os Estados Unidos. O país é o retrato do fracasso das elites políticas americanas ao considerar dois simples factos: a ameaça da Al-Qaeda já não está mais concentrada neste campo de batalha e a luta contra os talibãs é sobretudo um assunto dos afegãos”, considerou.

Os Estados Unidos e a Otan devem transferir a segurança às forças afegãs até o fim de 2014. No entanto, com a morte de Bin Laden, multiplicam-se as hipóteses de que a operação seria realizada agora no mês de julho, data anunciada pelo presidente Barack Obama para o início da retirada das tropas.

A retirada deve ser reduzida, se não simbólica, segundo a maioria dos analistas internacionais. O Wall Street Journal publicou na terça-feira que em julho acontecerá a saída de cinco mil militares e outros cinco mil o farão ao final do ano, mas o general David Petraus afirmou que se trata de mera especulação. O comandante das forças internacionais no Afeganistão deve apresentar brevemente as suas recomendações ao presidente.

A morte de Bin Laden “seguramente avivará o debate sobre o ritmo da retirada”, acredita Robert Lamb, do Centro Estratégico de Estudos Interncionais (CSIS, na sigla em inglês), que é favorável à continuidade do compromisso americano. “Apesar da morte de Bin Laden ser, sem dúvida, um acontecimento muito importante, ela é essencialmente simbólica do ponto de vista estratégico”, justificou.

MRA Alliance/AFP

Coreias: EUA, Japão e Coreia do Sul revelam incompetência geopolítica

quinta-feira, dezembro 2nd, 2010

Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão vão reunir-se segunda-feira em Washington para concertarem uma resposta ao alegado bombardeamento da ilha de Yeonpyeong a 23 de Novembro pela artilharia norte-coreana, no primeiro ataque a alvos civis desde 1987.

A reunião em Washington evidencia “a coordenação estreita” entre as três capitais, lê-se num comunicado do Departamento de Estado que marca a data do encontro. A notícia coincide com o fim das importantes manobras conjuntas de forças aeronavais americanas e sul-coreanas que decorreram desde domingo até ontem no mar Amarelo.

O encontro tripartido na capital americana deverá estabelecer os contornos de uma resposta às escaramuças de 23 de Novembro, quando a República Popular da China está a bloquear, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a aprovação de uma resolução de condenação da Coreia do Norte.

Diversas agências referiam ontem, citando fontes diplomáticas, que Pequim considera inaceitável o uso de vocábulos como “condenar” ou “Conselho expressa preocupação”. Pequim, por outro lado, tem insistido no reatamento do mecanismo conhecido como as negociações a seis, que envolve as duas Coreias, EUA, Japão, Rússia e China.

O regresso a este formato diplomático na actual conjuntura é considerado desajustado por Washington, Seul e Tóquio. As três partes acham que sentarem-se à mesma mesa com representantes de Pyongyang equivaleria a reconhecerem uma vitória do regime de Kim Jong-il, que acusam de ter abandonado as negociações em Abril de 2009.

O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, insistia ontem ser “dever e obrigação” de Pequim “pressionar a Coreia do Norte a desistir da atitude beligerante”.

Gibbs omitiu um dos principais factos da escalada do conflito na ilha de Yeonpyeong, em  23 de Novembro. O primeiro tiro foi disparado pela Coreia do Sul.

De acordo com a tradição oriental, será impossível que a China, a potência regional que detém a chave da solução do problema coreano, aceite o veredicto dos norte-americanos e respectivos aliados no Extremo Oriente.

Se o fizesse Pequim perderia a face e, desta forma, alienaria a sua legitimidade moral e política na gestão do conflito.

MRA Alliance/Agências/pvc

EUA montam e apertam cerco ao fundador do Wikileaks

quinta-feira, dezembro 2nd, 2010

O australiano Julian Assange, 39 anos, não apareceu em público depois de uma conferência de imprensa que deu a 5 de Novembro, em Genebra, e concedeu apenas entrevistas on-line desde que foi divulgado um comunicado do seu advogado, referindo que o ‘hacker’ estaria a ser acusado na Suécia por crimes sexuais.

A responsável do Ministério Público da Suécia, Marianne Ny, afirmou que foi emitido um mandado de detenção europeu devido a estas suspeitas. Mark Stephens, o advogado de Assange, informou ainda não ter sido notificado formalmente das acusações feitas ao seu cliente, o que considerou ser uma exigência legal no âmbito da legislação europeia.

O advogado, com escritório em Londres, não poupou Mariane Ny, num e-mail dirigido à agência noticiosa AP, referindo “negligência ocasional” das suas obrigações e considerou que o caso é uma “perseguição e não uma acusação”. Sobre Assange pendem acusações de violação, assédio sexual e coerção ilegal.

Entretanto na guerra assimétrica EUA-Wikileaks surgem novos actores. Um grupo de ex-colaboradores de Julian Assange, fundador do Wikileaks, vai criar um novo portal sobre informação secreta, na sequência de alegados desentendimentos com o fundador do site, noticiou ontem a agência EFE. Um antigo porta-voz da plataforma afirmou que o novo site se propõe fazer com que «o maior número possível de pessoas tenha acesso ao maior número possível de documentos».

Desta forma, está em marcha um novo episódio na guerra entre informação e desinformação da opinião pública global. O prato da balança, a prazo, poderá brevemente virar-se contra Assange.

MRA Alliance/Agências/pvc

Sérvia nunca reconhecerá independência do Kosovo

quinta-feira, julho 22nd, 2010

Vuk Jeremik - MNE SérviaO ministro dos Negócios Estrangeiros da Sérvia, Vuk Jeremic, assegurou hoje que o seu país jamais reconhecerá a auto-proclamada independencia de Kosovo, depois que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ditar que essa decisão não violou o direito internacional.

“Jamais reconheceremos a proclamação unilateral de independência de Kosovo”, declarou Jeremic à imprensa na porta da CIJ em Haia, acrescentando que a Sérvia tinha “dias difíceis” pela frente e lançou um pedido de calma.

MRA Alliance/Agências

Obama “mata” guerra contra o terrorismo e elege China e Índia como novos aliados

quinta-feira, maio 27th, 2010

A nova estratégia de segurança nacional do Presidente Barack Obama designa especificamente a Al Qaeda como inimigo principal dos Estados Unidos. Para trás ficaram as referências à “guerra contra o terrorismo” herdadas da administração de George W. Bush. A “doutrina Obama” pretende também alargar as parcerias norte-americanas para além dos tradicionais aliados da América, de forma a incluir também a China e a Índia.

No documento, tornado público esta quinta-feira, a Casa Branca refere: “Procuraremos sempre acabar com a legitimação do uso do terrorismo e isolar aqueles que a ele recorrem”, e clarifica: “Não é uma guerra mundial contra uma táctica – o terrorismo – ou uma religião – o Islão”.  “Estamos em guerra contra uma rede específica, a Al-Qaeda, e os seus aliados terroristas que apoiam os esforços para atacar os EUA e os seus aliados e parceiros” precisa o texto do documento.

A nova estratégia de segurança nacional representa o resultado de dezasseis meses de consultas no seio da administração Obama e estabelece um corte com as presidências anteriores, ao colocar grande ênfase no valor da cooperação global e no desenvolvimento de parcerias alargadas, para além de atribuir mais importância à ajuda prestada a outras nações para que se defendam a si próprias.

Esta tentativa aparente de Obama se distanciar do legado do seu antecessor, sem no entanto o repudiar frontalmente, poderá a vir a provocar algumas críticas no Partido Democrático, onde alguns sectores esperavam uma rejeição mais clara do conceito de “guerra preventiva” defendido por George Bush. Por outro lado os Republicanos, quase certamente, vão acusar Obama de “ser fraco em matéria de defesa” por dar tanta ênfase à diplomacia e ajuda ao desenvolvimento.

O documento refere-se “aos grandes objectivos” em matéria de defesa e o destaque de “adversários principais” é dado repetidamente à Al-Qaeda, ao Irão e à Coreia do Norte, estes últimos por causa dos seus programas nucleares.

No que respeita às alianças, a nova estratégia para manter a segurança dos Estados Unidos pressupõe o fim dos anos de acção unilateral da era Bush e deposita maior confiança nos aliados dos Estados Unidos para fazer face ao terrorismo e a outros problemas globais.

Para tal, a Casa Branca fala de desenvolver parcerias globais mais alargadas, de forma incluir nações como a Índia ou a China, que não se contam entre os aliados tradicionais dos EUA.

MRA Alliance/Agências

G8: Acordo contra a fome, desacordo contra aquecimento global

sexta-feira, julho 10th, 2009

G8 - Itália, L’Aquila 2009Os membros do G8 e os países emergentes convidados para a Cimeira de L’Aquila comprometeram-se a mobilizar 20 mil milhões de dólares em três anos para garantir a segurança alimentar no mundo mas não chegaram a um acordo satisfatório sobre as questões climáticas.

O valor anunciado representa mais cinco mil milhões que o inicialmente previsto e foi anunciado pelo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, em conferência de imprensa.

“Congratulamo-nos com os compromissos assumidos pelos países representados em L’Aquila” para “assegurar o desenvolvimento sustentável da agricultura, mantendo a determinação de prestar uma ajuda alimentar de emergência”, lê-se na declaração comum da Cimeira.

No texto, intitulado “Iniciativa de L’Aquila sobre segurança alimentar”, os líderes manifestam a sua “profunda preocupação com a segurança alimentar mundial, o impacto da crise financeira mundial e a subida dos preços dos alimentos”, sublinhando que os mais atingidos são os países menos preparados para fazer face a um agravamento da fome e da pobreza.

Questões climáticas aquém das expectativas

Com as alterações climáticas no centro da discussão, os oito países mais industrializados do Mundo conseguiram acordar um limite de aquecimento global, mas os objectivos de redução de emissões não foram alcançados.

Numa discussão que transcende os interesses dos membros do G8, os interesses da China e da Índia surgem como o principal entrave às reduções de emissões poluentes pretendidas para 2050, atendendo aos acelerados processos de desenvolvimento que protagonizam. O único consenso dos líderes reunidos em L’Aquila, Itália, prende-se com a decisão de limitar a dois graus Celsius a subida de temperaturas, relativamente a valores de referência de 1900, ou seja, no limiar do aquecimento que, segundo as Nações Unidas, tornará o sistema climático da Terra perigosamente instável.

O G8, constituído pelos oito países mais industrializados do mundo – Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Japão, Itália, França, Reino Unido e Rússia -, convidou para a Cimeira de L’Aquila as cinco potências emergentes – África do Sul, Brasil, China, Índia e México – e os líderes de seis países africanos – África do Sul, Angola, Argélia, Egipto, Nigéria e Senegal.

MRA Alliance/Agências 

Lula e Sarkozy querem “mudança na governança mundial”

terça-feira, julho 7th, 2009

Os presidente da França e do Brasil, Nicolas Sarkozy e Lula da Silva, pediram hoje, em Paris, uma “mudança na governança mundial”, após um encontro preparatório da cimeira do G8, que integra os sete países mais ricos do mundo e a Rússia, com início amanhã em Átila, na Itália. 

“Depois da crise, nada poderá ser como dantes”, por isso “pedimos uma mudança da governança mundial [e] no crescimento global para que a questão climática seja uma prioridade”, disse Sarkozy, no Palácio do Eliseu, durante a conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo brasileiro.

O chefe de Estado francês disse que vê a crise econômica global como “uma oportunidade” para a mudança mundial. Lula apelou para que “o sistema financeiro seja definitivamente vigiado, que os paraísos fiscais não existam mais e que a economia seja aberta e dinâmica”. “Se a ONU tivesse uma representação legítima de nossa geografia, muitas coisas poderiam ser resolvidas com mais rapidez”, acrescentou Lula.

Os chefes de Estado francês e brasileiro discutiram, entre outros temas, a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), o combate aos paraísos fiscais bem como a execução das medidas anticrise aprovadas na cimeira de Abril, realizada em Londres. 

A reunião do G8 contará com a presença de convidados de 12 países e organizações internacionais, incluindo as cinco maiores economias emergentes -Brasil, China, Índia, África do Sul e México.

MRA Alliance/Agências

Brasil: Marinha quer submarino nuclear para defender Amazónia Azul

sábado, maio 23rd, 2009

Amazónia Azul (na parte superior)O submarino de propulsão nuclear brasileiro é essencial para garantir a defesa da Amazónia Azul, uma área marítima equivalente à dimensão da Floresta Amazónica, disse o Comandante da Marinha do Brasil, almirante-de-Esquadra Júlio Soares de Moura Neto, citado hoje pela agência Lusa.

O grande espaço chamado de Amazónia Azul inclui uma área de 4,5 milhões de quilómetros quadrados, equivalente a metade do território brasileiro, possui grande quantidade de recursos – como petróleo, 85% do qual é extraído do mar.

“O submarino de propulsão nuclear é fundamental como um instrumento de dissuasão. Eles são silenciosos e operam em águas rasas. São de muita importância para podermos tomar conta de áreas de proximidade de plataformas e para tomarmos conta da nossa Amazónia Azul”, afirmou o almirante Moura Neto, no Rio de Janeiro.

Desde o início do Programa Nuclear desenvolvido pela Marinha do Brasil, em 1979, foram investidos 1 200 milhões de dólares (cerca de 870 milhões de euros). “Já se gastou muito dinheiro, mas as cifras são muito menos do que outros países já gastaram para chegar ao mesmo estádio”, disse o almirante.

Para encerrar o programa nuclear que envolve o domínio da tecnologia de enriquecimento do urânio, a construção de centrífugas e de um gerador de energia eléctrica que produza a partir da energia nuclear, serão precisos mais mil milhões de reais (360 milhões de euros) até 2014, o equivalente anual a 130 milhões de reais (46 milhões de euros). 

A partir de 2014, o Brasil deverá iníciar a construção do submarino nuclear. Prevê-se que possa estar concluído em 2020.

“Existe no mar uma outra Amazónia tão importante quanto a Amazónia verde, com recursos que precisam ser entendidos, preservados e utilizados”, disse o Comandante da Marinha Brasileira.

Neste contexto, o Brasil reivindica o aumento da plataforma continental, para além das 200 milhas, junto da Comissão de Limites das Nações Unidas. O objectivo é ampliar o património marítimo brasileiro em cerca de um milhão de quilómetros quadrados. Até agora, a ONU libertou apenas 800 mil quilómetros quadrados, área que Brasília considera insuficiente.

“Vamos buscar argumentos técnicos para contrabalançar os argumentos da Comissão de Limite. Vamos lutar por esses 200 mil quilómetros. São limites e a gente não cede um milímetro”, afirmou Moura Neto.

MRA Alliance/Lusa

Parceria dos EUA com América Latina implica contrapartidas energéticas, diz Obama

sábado, abril 18th, 2009

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, convidou ontem os seus homólogos americanos a criarem “um novo sentido de parceria no hemisfério”, durante o discurso de abertura da Cimeira das Américas, em Trinidad e Tobago, que reúne 34 Chefes de Estado do continente.

“Eu peço-lhes que busquemos uma parceria igualitária, sem parceiros júniores ou séniores. Estou aqui para lançar um novo capítulo”, disse o presidente americano, num discurso que disse estar “voltado para o futuro, e não preso ao passado”,

O presidente americano adiantou que os Estados Unidos buscam um “novo começo” nas relações com Cuba e disse estar preparado para discutir temas variados, como direitos humanos e imigração. “Não estou interessado em falar por falar. Eu acredito que podemos dar uma nova direcção às relações Estados Unidos-Cuba”, disse.

O novo modelo de parceria inter-americana proposto pelo presidente dos EUA implica a concessão de contrapartidas por parte das outras nações do continente. Segundo Obama, o governo de Washington está preparado para “assumir os erros do passado” mas “não pode ser culpado por tudo que acontece no hemisfério”.

No concreto, Obama propôs a criação de uma parceria energética com o propósito de consolidar a “a visão e a determinação de países como México e Brasil” que, em seu entender, têm feito um “excelente” trabalho na promoção de energias renováveis.

Pouco antes da abertura dos trabalhos, os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da Venezuela, Hugo Chávez, trocaram um breve cumprimento. O governo venezuelano classificou o gesto como “uma saudação histórica” quando os dois líderes se cumprimentaram e Chávez disse querer uma relação de amizade com Obama.

“Com esta mesma mão, há oito anos, eu cumprimentei Bush. Quero ser seu amigo”, disse Chávez ao Comandante-em-Chefe dos EUA, de acordo com o site do Ministério das Comunicações da Venezuela.

MRA Alliance/Agências�

Divergências Sarkozy-Obama sobre Turquia têm a ver com armas e geopolítica

domingo, abril 5th, 2009

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, reafirmou hoje a oposição à entrada da Turquia na União Europeia, após Barack Obama ter apelado à integração, durante uma  entrevista ao canal de televisão TF1, em Praga, onde ambos participam na primeira cimeira bilateral depois da tomada de posse da nova administração americana.

Em declarações aos jornalistas, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, deu cobertura aos desejos americanos favoráveis à adesão turca que são tudo menos inocentes.

“Eu trabalho em cooperação com o presidente Obama – disse Sarkozy – mas quando se trata da União Europeia, são os países membros da União que devem decidir” (…) “Eu sempre me opus a esta entrada e continuo com a mesma opinião. Penso poder afirmar que a imensa maioria dos países membros [da UE] estão de acordo com a posição da França”, frisou.

Antes, o presidente norte-americano afirmara que a entrada da Turquia na União Europeia seria “um sinal importante” enviado aos países muçulmanos e um meio para atrair aqueles países para esfera de influência europeia.

As palavras de Obama, porém, visam um intuito não declarado. A Turquia é um dos mais vorazes e fiéis compradores armamento americano através de contratos regulares no valor de milhares de milhões de dólares e acolhe bases militares dos EUA no seu território.

O importante lóbi turco nos Estados Unidos mantém fortes ligações ao Pentágono, CIA e a alguns congressistas e senadores com posições chave nas comissões que fiscalizam a política do executivo em matéria de venda de armas e estratégias de defesa e de segurança. Desde 2007, os turcos têm pressionado Washington para levar a UE a aprovar a sua entrada como Estado-membro do clube dos “27”.

Face ao reduzido sucesso do lóbi turco, o governo de Ancara liderado pelo sunita e anti-fundamentalista islâmico Recep Erdogan iniciou manobras de aproximação à Rússia. 

Os líderes russos Vladimir Putin e Dmitri Medvedev, entre 12 e 15 de Fevereiro, receberam com pompa e circunstância o presidente da Turquia, Abdullah Gul, durante uma visita oficial que enervou o complexo industrial-militar americano pela qualidade política e empresarial da comitiva e pela agenda dos encontros bilaterais – Energia e Segurança – que pode ameaçar a estratégia de longo prazo dos EUA no Médio Oriente e na Eurásia, por nós abordada em Setembro passado.

MRA Alliance

Pedro Varanda de Castro, Consultor

Especialista russo prevê colapso dos EUA em 2010

sábado, março 7th, 2009

Igor PanarinIgor Nikolaevich Panarin, reitor da Academia Diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, prognosticou esta semana, em Moscovo, que o presidente Barack Obama vai declarar a lei marcial ainda este ano, que os Estados Unidos se desintegrarão em seis países independentes, antes de 2011, e que a Rússia e a China serão a espinha dorsal da nova ordem mundial. Em seu entender, o território do Alasca regressará ao domínio da Rússia. 

“Existe uma forte probabilidade que o colapso dos EUA ocorra durante 2010″, disse Panarin perante uma plateia de estudantes, professores e diplomatas, na passada terça-feira, durante uma conferência na academia que lidera. Na sala encontravam-se vários jornalistas estrangeiros expressamente convidados pelo ministério.

Segundo um telegrama da Associated Press, publicado pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, o “antigo porta-voz da indústria aeroespacial russa e ex-agente do KGB”, justifica as suas previsões devido à conjugação da severa depressão económica que castiga o país com “outros fenómenos sociais e culturais.”

Panarin sublinhou que os americanos atravessam uma fase de declínio moral, dando como exemplos do grande stress psicológico os assassínios nas escolas, a numerosa população prisional e o número de  homossexuais masculinos.

Na área da economia, o habitual comentador de questões geopolíticas nas televisões russas, disse que o domínio americano dos mercados mundiais “já terminou”, dando como exemplos o colapso da bolsa, o recuo do PIB e operação de salvamento do Citigroup. “Recentemente, eu estive lá e as coisas estão feias”, afirmou. “O que aconteceu foi o fim do sonho americano.” 

Segundo os relatos, Panarin apoia-se em citações de jornais, revistas e de fontes do domínio público, sem especificar outras.

“Panarin sublinhou que, pessoalmente, não deseja o colapso dos EUA. Em sua opinião, da presente crise sairão reforçadas a Rússia e a China. Por isso, as duas nações deverão reforçar a sua cooperação e criar uma nova moeda que substitua o dólar”, escreve o Süddeutsche Zeitung. 

Interrogado por um dos professores russos sobre previsões relativamente à actual crise económica russa e ao défice demográfico que afecta o país, Panarin foi peremptório: “A Rússia não vai entrar em colapso.”

MRA Alliance/Süddeutsche Zeitung/Associated Press

França: Ministro despediu professor por defender tese de “conspiração” sobre o 11 de Setembro

domingo, março 1st, 2009

Aymeric ChaupradeO ministro francês da Defesa, Hervé Morin, dispensou os serviços do professor de geopolítica do Colégio Interarmas da Defesa, Aymeric Chauprade, na sequência de um artigo publicado no dia 4 de Fevereiro pela revista Le Point , questionando as orientações ideológicas do visado.

O periódico gaulês acusava Chauprade de ser “o homem que forma oficiais e deforma a história” ao defender “teorias da conspiração” relacionadas com os atentados de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos.

O articulista questionou o ministro sobre “a lógica” de lhe entregar a regência da cadeira na academia militar. Acto imediato Morin afastou o professor. 

O ministro referiu o livro da autoria de Chauprade – Chronique du choc des civilisations. Actualité, analyses géopolitiques et cartes pour comprendre le monde après le 11-septembre – considerando “inaceitáveis” as teses nele defendidas.

O autor é cronista do diário Figaro e não escondia as suas divergências com a política de defesa e de segurança nacional da França. 

MRA Alliance

Kissinger reactivou diplomacia secreta com o Kremlin, a pedido de Obama

sábado, fevereiro 7th, 2009

Henry Kissinger fez uma visita secreta a Moscovo, em Dezembro passado, a pedido do então presidente eleito Barack Obama, para negociar, com o líder do Kremlin Dmitri Medvedev e com o primeiro-ministro Vladimir Putin, uma iniciativa nuclear estratégica, informam hoje o diário britânico Daily Telegraph e vários periódicos russos.

Segundo os relatos, Washington pretende estimular a redução conjunta de um total de duas mil ogivas nucleares nos respectivos arsenais. 

Contrariamente ao que sugerem os jornais britânico e russos, segundo os quais Obama terá escolhido Kissinger para evitar a eventual oposição do Partido Republicano, no Congresso, o lóbista e geopolítico norte-americano também manteve contactos secretos com os líderes do Kremlin durante a administração Bush/Cheney, quando as relações bilaterais pareciam em crise.

O enquadramento geopolítico da diplomacia paralela do ex-Conselheiro Nacional de Segurança e antigo Secretário de Estado das administrações Nixon e Ford foi por nós largamente abordada, em 2007, no blogue Intellsteps.  

Desde a eleição de Obama, Kissinger, em diversas ocasiões, defendeu que o novo presidente dispõe de uma “ocasião única” para liderar o processo tendente á criação de uma “nova ordem mundial.”

O controverso powerbroker norte-americano advertiu contudo que tal só será possível se a nova administração impuser a maior mudança estratégica no rumo da política externa dos Estados Unidos desde o início da Guerra Fria.

Pedro Varanda de Castro

MRA Dep. Data Mining, Consultor

América Latina atirada para o lodaçal da nova Guerra-Fria

domingo, setembro 14th, 2008

Ahmadinejad com Morales, em Teerão (01-09-2008)Enquanto a media global nos empaturrava com notícias das guerras no Médio Oriente, Cáucaso e Ásia Central, outra, surda e secreta, mas igualmente de capital importância geopolítica e geoestratégica – a desestabilização da América do Sul – já estava em marcha. Tal como no Afeganistão, Iraque e Geórgia, a reconquista da influência das multinacionais norte-americanas e europeias no Cone Sul é de crucial importância para os poderes globais – EUA, Rússia, China e União Europeia (o elo político-militar mais fraco da cadeia). Tarija, Santa Cruz, Beni e Pando são regiões bolivianas. No léxico industrial-militar ocidental são sinónimos de Kandahar, Faluja, Mosul ou Tskhinvali. Em qualquer deles, militares e diplomatas do Arco Atlântico usam a “Guerra contra o Terror” e a “Guerra contra a Droga” como justificação para invasões, ocupações militares e operações clandestinas. Na região andina o cenário é idêntico. Convencidos de que ganhavam rapidamente as guerras no Afeganistão e no Iraque, EUA e NATO mobilizaram para ali todos os recursos “pesados”. Os países sul-americanos levaram as sobras – algum dinheiro, agentes secretos e conselheiros militares. A versão “soft” da pressão político-militar ocidental está agora a dar os seus frutos.

O Governo da Bolívia confirmou esta semana a morte de 16 pessoas nos confrontos armados ocorridos em Pando, norte do país, entre partidários do governo (Collas) e militantes da oposição (Cambas) que querem impedir a nova Constituição, proposta por Morales. As regiões rebeldes da parte oriental do país, habitadas maioritariamente por cidadãos de origem europeia ou mestiços, opõem-se à redistribuição das riquezas naturais pelas pobres comunidades índias dos Andes. Nos últimos dias, as tensões diplomáticas agudizaram-se. A Bolívia e a Venezuela expulsaram os embaixadores dos EUA em La Paz e Caracas. Em retaliação, Washington, para além da expulsão do embaixador venezuelano, impôs sanções contra dois altos responsáveis dos serviços secretos e um ex-ministro da Venezuela sob a acusação de “ajuda material às FARC no tráfico de droga”. Nas últimas semanas, o embaixador Patrick Duddy, agora “persona non grata” na Venezuela, irritara o presidente Hugo Chávez ao criticar a falta de cooperação do regime bolivariano na luta anti-droga. Os EUA ripostaram com o “combate ao narcotráfico” e às “actividades terroristas”, metendo no mesmo saco as “FARC”, da Colômbia, e os movimentos índios que defendem a soberania dos seus países contra a ingerência ocidental. Morales e Chávez foram eleitos democraticamente. As eleições foram sufragadas pela ONU. Tal como na Palestina, onde o Hamas conquistou o poder após um processo eleitoral julgado por observadores ocidentais como “livre e justo”, os eleitores bolivianos e venezuelanos foram penalizados por votar contra os interesses americanos e europeus. Os collas bolivianos são etiquetados como os talibã da América Latina. Em cada teatro de guerra, EUA e NATO dispõem de aliados estratégicos – Colômbia, Paquistão, Israel e Geórgia. O correspondente do semanário alemão “Der Spiegel“, Jens Glüsing, analisou desta forma a tensão na Bolívia: “O próprio presidente [Morales] agudizou desnecessariamente a crise quando expulsou o embaixador americano do país [Bolívia]. Claro que os americanos não morrem de amores pelo ‘presidente índio’, claro que o embaixador dos EUA, Philipp Goldberg, foi imprudente quando na semana passada se encontrou com o governador da província rebelde de Santa Cruz. Porém, Washington não é o causador do conflito boliviano. A causa é interna. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, interfere de forma muito mais forte nos assuntos internos da Bolívia. Ele financia o seu protegido Morales. Com a sua estratégia de envolvimento, Chávez empurrou o inexperiente presidente-índio para uma confrontação inútil com os ‘porcos-ianques’, como lhes chamou na quinta-feira.” O articulista alemão, que considerou uma provocação a Venezuela ter autorizado o estacionamento de vasos de guerra russos nos portos do país, apontou “o único líder” regional que “pode fazer frente” a Chávez: Luís Inácio Lula da Silva – e tomou como seus os prognósticos dos think tanks americanos AEI e CFR: “Caso Lula não consiga neutralizar o barril de pólvora na Bolívia, terá de enfrentar outros conflitos. Então, morrerá definitivamente o seu sonho de uma América do Sul unida.”

O embaixador Goldberg, antes de ocupar o cargo em La Paz, foi o representante diplomático dos Estados Unidos no Kosovo, província que se separou da Sérvia com o apoio de Washington, da NATO e de boa parte dos 27 estados membros da UE. Em Outubro de 2006, quando apresentou credenciais ao “presidente-índio”, alguns observadores prognosticaram que iria aplicar a experiência separatista nos Balcãs e preparar o terreno para uma situação idêntica na Bolívia. Estes factos não merecem destaque nas análises dos comentadores alinhados com a lógica geopolítica do eixo Washington-Bruxelas. Este mês reforçaram os alertas sobre os perigos das estratégias da Rússia, da China e do Irão, no continente americano: “Enquanto a Rússia recupera a esfera de influência no seu quintal [Ásia Central], via rearmamento nuclear, o Irão islâmico está a intervir amplamente no quintal da América. Cumprindo a promessa de reforçar o protagonismo na América Latina, o Irão estende a mão aos governos esquerdistas na Bolívia, Venezuela e Nicarágua. Analistas receiam que o Irão possa usar aqueles laços para a introdução clandestina nos Estados Unidos de terroristas e armas de destruição maciça. O presidente venezuelano Hugo Chávez, um inimigo fanático dos EUA, é apontado como o promotor da aliança latino-iraniana. O presidente boliviano Evo Morales está a reforçá-la. Ele aterrou em Teerão na segunda-feira [01-09-2008] para uma visita de dois dias no seguimento da visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad à Bolívia, em 2007, durante a qual prometeu a ajuda de USD 1 000 milhões/1 bilhão à nação andina.”

Está recriado o “Eixo do Mal”. A demonização dos regimes contrários aos interesses estratégicos do Ocidente em geral, e dos EUA em particular, faz parte dos cenários que antecipam o ciclo pós Bush/Cheney nas Américas. Não importa quem será o próximo presidente estadunidense. O democrata Barack Obama ou o republicano John McCain cumprirão a agenda estabelecida pelos financiadores das suas campanhas eleitorais. O CIM/Complexo Industrial-Militar forneceu antecipadamente os cenários dos próximos capítulos através de um obscuro general da secreta militar dos EUA. Uma intervenção militar na Amazónia, nos próximos 4 ou 8 anos, não está excluída dos programas do Pentágono. As mudanças de poder na América Latina puseram em risco o domínio continental do Tio Sam e tornaram menos fácil o livre acesso às matérias-primas que abundam em diversos países – da Nicarágua ao Chile, da Venezuela à Argentina, passando pelo Equador, Bolívia, Peru, Paraguai e, incontornavelmente, pelo Brasil – putativo membro da OPEP na região. Os movimentos sindicais e organizações de camponeses – Cocaleros (Bolívia) e CONAIE (Equador) – são colocados no mesmo plano das guerrilhas paramilitares anti-americanas – Zapatistas (México), FARC (Colômbia).

A história recente das ligações da CIA aos cartéis da droga latino-americanos faz temer o pior. O caldo político-ideológico esbate as questões sociais e releva os fenómenos do terrorismo e do narcotráfico, ambos apresentados como causas de possíveis intervenções militares. Rotulados de “ameaça à segurança nacional” dos EUA, Zapatistas e FARC, tal como os Talibã e a Al Qaeda, ajudam a neutralizar politicamente a revolta das populações indígenas. Ambos são úteis cortinas de fumo para iludir as manobras secretas de Washington e Bruxelas. Desde 2001, o governo Bush/Cheney canalizou USD 20 milhões para apoio aos movimentos anti-Chávez através do National Endowment for Democracy e da USAID/United States Agency for International Development. Durante o consulado Bush/Cheney o apoio financeiro à oposição venezuelana aumentou 400%. Duddy ocupou vários postos diplomáticos na região antes de assumir o cargo em Caracas – Chile, República Dominicana, Costa Rica, Panama e Paraguai. Em 2002, como Cônsul Geral em La Paz, foi decisivo no incremento da presença militar americana na Bolívia, ao abrigo do acordo para a erradicação de plantações de coca. Como subsecretário para o Brasil, Cone Sul e Caraíbas desempenhou um papel importante nas eleições de 2005, no Haiti, após o derrube do presidente Jean-Bertrand Aristide, através de um golpe de estado patrocinado pelos EUA. Na Bolívia, cabe ao embaixador americano, e ao chefe local das operações da CIA, a coordenação dos fundos do Pentágono, das fundações e dos think tanks para apoio aos aliados da “Nação Camba”, no leste do país. Nas suas províncias estão localizadas as maiores reservas de gás natural. As operações clandestinas são executadas pelos “camba” na metade ocidental da BolíviaLa Paz, Chuquisaca, Potosí, Oruro e Cochabamba – contra os “colla”, aliados de Morales, que recusam a autonomia e a divisão político-administrativa do país. Os governadores e as populações rebeldes estão dispostos a paralisar a acção do governo até às eleições presidenciais de 2010. As lições da Bolívia deverão servir de exemplo aos países vizinhos. Mesmo aos politicamente mais moderados. Como o Brasil. Quando chegar a altura de avaliar o acesso a recursos energéticos e alimentares – bem como às ricas reservas de água potável da região – não faltarão bodes expiatórios para justificar o congelamento de processos democráticos. As areias movediças da Guerra-Fria XXI irão tragar novas vítimas.

MRA Dep. Data Mining

Pedro Varanda de Castro, Consultor

P.S.: Neste contexto será útil revisitar o histórico dos serviços secretos americanos na região através de vídeos disponibilizados no YouTube.

CIA I (ex-agentes revelam segredos; 6 videoclips)

CIA II (Bolivia/Che Guevara)

CIA III (Nicarágua)

CIA I (Venezuela/Chávez; 6 videoclips)

UE tenta aplacar ira russa e salvar-se das armadilhas americanas

sábado, setembro 6th, 2008

Com as eleições presidenciais à porta, os discursos políticos e as recriminações entre os EUA, a NATO e a Rússia endurecem de tom, enquanto se sucedem as tentativas da União Europeia para salvar a face no âmbito do dossiê Cáucaso. À medida que as semanas passam, começam a ser evidentes a manipulação e os golpes sujos da administração Bush/Cheney, designadamente na Geórgia. O insuspeito Financial Times (FT) publicou hoje uma notícia revelando que “militares dos EUA treinaram 80 comandos georgianos escassos meses antes do assalto militar da Geórgia na Ossétia do Sul, em Agosto.” O jornal britânico diz ter tido acesso a “documentos e entrevistas” cujo conteúdo pode legitimar as acusações do primeiro-ministro russo Vladimir Putin, de que a guerra naquele enclave foi “orquestrada” pelos EUA. Numa entrevista à CNN, transmitida no dia 29 de Agosto, Putin disse: “Os americanos não apenas se demitiram de impedir a liderança georgiana deste criminoso acto [intervenção na Ossétia do Sul], como treinaram e armaram o exército da Geórgia.” O FT informa que o Pentágono pagou 1 400 euros/semana às empresas americanas MPRI e American Systems pelos treinos executados por cada um dos 15 antigos soldados do exército regular americano escolhidos para a tarefa. O diário britânico critica a “falta de transparência” do programa militar, arredado das páginas da Internet, em contraste com outros ainda em curso na ex-república soviética, patrocinados pelo Pentágono e pela NATO. Por seu turno, o semanário alemão “Der Spiegel” entrevistou os diplomatas russos Juri Popov und Grigori Karasin, envolvidos nas negociações directas com Tbilisi antes do ataque georgiano à Ossétia do Sul. Ambos se queixam de ter sido enganados pelos seus interlocutores georgianos nos dias e horas que antecederam o ataque do protegido americano. Num dos artigos, pode ler-se: “Vários ministérios em Berlim começaram a duvidar da credibilidade do amigo ocidental mais problemático. Saakashvili, contrariamente à sua versão dos acontecimentos, aparentemente terá ordenado o ataque à Ossétia do Sul antes da entrada na província pelos blindados russos, vindos do norte, através do túnel Roki.” Importa recordar que um dos mais chegados colaboradores de Dick Cheney, Joseph R. Wood, esteve em Tbilisi, poucos dias antes da aventura saakashviliana. Observadores militares da OSCE/Organização para a Segurança e Cooperação na Europa que se encontravam na Geórgia, na altura, confirmam estas informações. “Saakashvili mentiu-nos a todos, europeus e americanos, a 100%”, afirmou um deles citado pelo semanário alemão. Segundo relatórios da OSCE, as tropas georgianas atacaram populações civis pela calada da noite, enquanto dormiam. “Isto pode ser equivalente a um crime de guerra”, sublinha o “Spiegel”. O ex-chanceler alemão Gerhard Schröder, que preside a uma das empresas de gás natural do grupo russo Gazprom, num discurso em Berlim, esta semana, disse que o Ocidente cometeu “erros graves” o escudo antimíssil na Polónia, a independência do Kosovo e o alargamento da NATO – e zurziu na inabilidade dos seus ex-pares. Dias depois da eclosão da crise no Cáucaso, numa entrevista ao “Spiegel”, Schröeder afirmara: “Não há uma única situação crítica na política e economia mundiais que possa ser resolvida sem a Rússia – o conflito nuclear com o Irão, a questão da Coreia do Norte e certamente a questão da paz no Médio Oriente. O conjunto de problemas relacionados com o clima só podem ser resolvidos a nível planetário. Curiosamente, após a Rússia ter ratificado o protocolo de Kyoto para combate ao aquecimento global, ainda continuamos à espera que Washington faça o mesmo. Na questão energética, só um ingénuo acredita que a Europa Ocidental poderá ser independente do petróleo e do gás natural russos. Por outro lado, os russos precisam que compradores fiáveis para os seus produtos energéticos.” Um mês após a invasão georgiana, o ex-chanceler deixou uma aviso sibilino: “Ao reconhecer o Kosovo, o Ocidente abriu um precedente para a eclosão de novos conflitos pelo mundo fora.”

Hoje, em Avignon, os 27 estados membros da União Europeia (UE) anunciaram que apoiam a sugestão alemã para a criação de uma comissão internacional encarregada de investigar a origem do conflito na Geórgia, após a reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE. Em Moscovo, o Presidente Dmitri Medvedev, acusou os Estados Unidos de “armar o regime georgiano sob a bandeira da ajuda humanitária”, durante a reunião do Conselho de Estado da Rússia. Irritado com a presença de navios da NATO no Mar Negro, mas sem revelar nomes, o dirigente russo perguntou: “Como é que se sentiriam se a Rússia enviasse ajuda humanitária em navios de guerra para a bacía das Caraíbas, lugar atingido recentemente por um furacão?”. Por seu turno, também o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia declarou esperar que outros países sigam o exemplo da Nicarágua e reconheçam as independências da Ossétia do Sul e da Abkházia. “A Nicarágua foi o primeiro país da América Latina a apoiar poderosamente os povos dessas duas regiões. Queremos que, seguindo este exemplo, outros países considerem possível reconhecer esta realidade”, sublinhou o ministério num comunicado. Ontem Medvedev garantira que os líderes de seis nações do antigo bloco soviético são solidários com a actuação de Moscovo no conflito georgiano. Numa entrevista à cadeia de televisão italiana RAI, Medvedev foi cáustico ao classificar o seu homólogo georgiano, Mikhail Saakashvili, como “um cadáver político”, dizendo que não o reconhece como presidente. “O presidente Saakashvili não existe mais aos nossos olhos. Ele é um cadáver político”, afirmou.

Neste clima, a ideia alemã de uma investigação internacional, apoiada pela Espanha, Grã-Bretanha e França, surge como uma desesperada tentativa para apaziguar os exaltados ânimos do Kremlin. “Sou totalmente a favor de uma investigação internacional. É preciso saber o que aconteceu”, disse Bernard Kouchner, ministro francês dos Negócios Estrangeiros. Kouchner sublinhou a necessidade de ser conhecido o número de mortos, “quem começou o conflito, com que tipo de provocação, em que momento e quais preparativos foram feitos de uma parte e de outra”. Os países da UE acham que a investigação deve ser realizada pela Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa (OSCE), já que é integrada tanto por países do bloco europeu quanto pela Rússia e pela Geórgia. O bloco quer iniciar “o mais rápidamente possível” a missão civil na Geórgia, composta por uma a duas centenas de observadores, para evitar que haja mais violência na zona.Os alemães são os mais interessados na distensão do clima, mas continuam a ser torpedeados pelos pirómanos geopolíticos, Bush e Cheney. O presidente dos EUA, segundo o “Spiegel”, planeia denunciar o acordo civil nuclear com a Rússia como forma de penalizar o Kremlin pelos acontecimentos na Geórgia. A iniciativa terá apenas um significado simbólico mas ajuda a envenenar ainda mais o já precário clima diplomático. O vice-presidente Cheney, actualmente num longo périplo europeu, escolheu o dia certo – a véspera da visita de Sarkozy a Moscovo – para, em Cernobbio, na Itália, dizer o seguinte: “As forças russas atravessaram uma fronteira internacionalmente reconhecida para entrar num Estado soberano. Alimentaram e fomentaram um conflito interno, levando a cabo actos de guerra sem consideração pela vida humana, matando civis e provocando o êxodo de milhares de pessoas. (…) No espaço de 30 dias, a Rússia violou a soberania da democracia, assinou e depois rompeu um acordo numa afronta directa à União Europeia. A Rússia feriu seriamente a sua credibilidade e está a minar as suas relações com os Estados Unidos e com outros países.”

Os europeus em geral, e os alemães em particular, pouco podem fazer contra esta retórica eleiçoeira, para consumo doméstico, a menos de uma semana do sétimo aniversário do 11 de Setembro e a dois meses das presidenciais. Em Berlim, a única esperança é que os russos arrepiem algum caminho com receio da crise financeira que está a corroer o valor do rublo. Os investidores estrangeiros reagiram à “Guerra dos Três Dias” com fugas maciças de divisas do mercado russo de capitais obrigando a uma intervenção de emergência do banco central. O Financial Times estimou que, nos últimos 30 dias, cerca de 21 mil milhões/bilhões de dólares foram retirados da Rússia. A paridade do rublo face ao dólar entrou em roda livre. Em apenas um dia a divisa russa desvalorizou-se 2%. Na semana que terminou ontem, a bolsa de Moscovo sofreu perdas próximas dos 10%. No entanto, os analistas mais cépticos acham que até 4 de Novembro, dia das presidenciais na América, o lema vai ser “Somos todos georgianos”, como tem afirmado repetidamente o candidato republicano John McCain.

Pedro Varanda de Castro

MRA Dep. Data Mining, Consultor

Rússia explora debilidades políticas e militares da NATO

sexta-feira, agosto 22nd, 2008

“Se as prioridades [da NATO] são um apoio claro ao falido governo de Saakashvili, se o corte de relações com a Rússia é o preço que eles [países ocidentais] estão dispostos a pagar, então que seja. A culpa não é nossa” Foi nestes termos que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, comentou o cancelamento pela Aliança Atlântica dos contactos com Moscovo. Em resposta o Kremlin ripostou com a suspensão da cooperação militar no âmbito do Conselho Rússia-NATO. Sobre as vantagens em manter abertas as portas do diálogo bilateral Lavrov foi enfático: “A única coisa que posso dizer é que a Rússia precisa tanto da cooperação com a NATO como a NATO precisa da Rússia.” A observação está relacionada com o acordo entre Moscovo e Bruxelas que permite à Aliança Atlântica transportar armas para o Afeganistão através de território russo. “Após a famosa reunião da NATO alguns representantes de topo da Aliança segredaram-me -‘Vocês não vão impedir o trânsito para o Afeganistão, pois não?'”, precisou Lavrov concluindo: “A sorte da NATO está a ser decidida no Afeganistão.” A dureza da retórica moscovita prenuncia um conjunto de decisões destinadas a fraligizar a já periclitante capacidade negocial dos aliados ocidentais. Alguns observadores russos especulam sobre a possibilidade de, na próxima semana, o parlamento russo aprovar a declaração unilateral de independência aventada pelos parlamentos da Ossétia do Sul e da Abkhásia. Os parlamentos regionais de Tskhinvali e Sukhumi enviaram ontem apelos naquele sentido ao presidente russo Dmitri Medvedev. Paralelamente Lavrov anunciou a intenção da Rússia em manter 500 soldados numa zona-tampão à volta da Ossétia do Sul. “Quero declarar clara e inequivocamente que a Rússia está a cumprir com rigor os seis príncipios acordados entre os presidentes Medvedev e Sarkozy”, precisou o chefe da diplomacia russa. “Aqueles princípios permitem às forças russas de manutenção de paz adoptar medidas adicionais para garantir a segurança na zona-tampão”, disse. Aquela área permite às forças russas manterem-se em zonas estratégicas da Geórgia e controlar a principal autoestrada do país, crucial para a economia georgiana. Por outro lado, está em cima da mesa a possibilidade de a Rússia fornecer armamento sofisticado à Síria satisfazendo um velho desejo do presidente sírio Bashar al-Assad que ontem visitou oficialmente o seu homólogo Medvedev, em Sochi, uma estância de veraneio no Mar Negro. Após o encontro, Lavrov informou os media que a Rússia “está preparada para fornecer armas de carácter defensivo que não violem o equlíbrio estratégico no Médio Oriente.” Observadores americanos interpretam estas declarações como um sinal do provável congelamento da cooperação americano-soviética no combate ao terrorismo e á proliferação nuclear. Os mais pessimistas prevêem o endurecimento da política energética russa face ao Ocidente, pressões acrescidas sobre as bases militares americanas na Ásia Central e o colapso das negociações para o controlo dos armamentos nucleares. Angela Stent, ex-especialista do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, disse ao New York Times que existem múltiplas formas de Moscovo “ser menos cooperante do que até aqui”, citando o Irão, a ONU, a Síria, Venezuela, o Hamas e os programas antiterroristas e anti-drogras. Michael McFaul, consultor de Barack Obama para as questões russas, foi mais longe acusando a Rússia de tentar “romper com a ordem internacional” reconhecendo-lhe capacidade para atingir tal desiderato. “O potencial é grande pois, no final de contas, eles são hegemónicos na região e nós não. Isto é um facto”, disse o professor da Universidade de Stanford. O articulista do New York Times especula sobre os mais recentes receios dos estrategistas norte-americanos. “Nos prognósticos sobre o potencial da Rússia para criar problemas, a maioria dos especialistas olha em primeiro lugar para a Ucrânia que deseja integrar a NATO. O pior cenário que circula nos últimos dias é a tentativa de Moscovo para reivindicar a estratégica península da Crimeia com o objectivo de assegurar o acesso ao Mar Negro. Os legisladores ucranianos estão a investigar notícias segundo as quais a Rússia forneceu maciças quantidades de passaportes aos russos que vivem na região, uma táctica usada por Moscovo nas províncias separatistas georgianas da Ossétia do Sul e da Abkhásia, que serviu para justificar a intervenção militar no sentido de proteger os seus cidadãos.” MRA Dep. Data Mining

Geórgia: Russos saem, Saakashvili e generais na corda bamba

terça-feira, agosto 19th, 2008

Contra-ataque russo na GeórgiaA retirada das tropas russas da Geórgia iniciada ontem marca o início da segunda fase da crise para o primeiro-ministro Mikhail Saakashvili – o ajuste de contas interno com os líderes da oposição e as faixas descontentes da população. [A crítica] vai começar quando os russos partirem”, escreveu o editorialista Zaza Gachechiladze. Um antigo membro do governo do presidente Zviad Gamsakhurdia nos anos 90 – Temur Koridze – já abriu as hostilidades com o neoconservador georgiano ao afirmar que “nem ele, nem o governo são competentes”, defendendo uma “autoridade saudável e sólida”. “Como comandante-em-chefe [Saakashvili] é um falhado. A sua política bateu no fundo.” Um ministro europeu que esta semana se deslocou a Tbilisi, no âmbito das iniciativas diplomáticas para pôr de pé o frágil cessar-fogo, afirmou a jornalistas ocidentais que dentro do próprio governo começam a ouvir-se vozes dissidentes que questionam a capacidade de avaliação de Saakashvili ao mandar invadir a Ossétia do Sul sem prevenir a reacção russa nem garantir uma protecção eficaz por parte dos aliados ocidentais. Valeri Kvaratskhelia, que integrou o governo do antigo presidente Eduard Shevardnadze aconselhou “o amiguinho de Bush” a pedir desculpa aos ossetas e georgianos e a demitir-se, abrindo caminho a um novo primeiro-ministro para iniciar o processo de reparação dos danos políticos e económicos. [O ataque] não foi apenas um erro, mas um crime”, frisou Kvaratskhelia marcando o tom da campanha anti-Shaakhasvili. As tropas russas e os paramilitares separatistas pró-moscovo encarregaram-se de danificar o que restava da inicipente infra-estrutura da Geórgia, fazendo retroceder o país aos níveis de desenvolvimento da era soviética. Bombardeamentos cirúrgicos, fogos postos e bombardeamentos em zonas militar e economicamente sensíveis, afectaram a circulação interna de pessoas e bens, o fornecimento de energia eléctrica, as telecomunicações e demais serviços essenciais a qualquer economia. Saakashvili e os invisíveis generais do seu exército vão estar na berlinda a partir desta semana. “Será que a Geórgia tem algum exército?”, escreveu com azedume Gachechiladze, editor de um jornal local de língua inglesa. “Há muitas questões a colocar” ao presidente (…) Quem era o comandante encarregado da ofensiva e quem tomou a decisão de invadir a Ossétia do Sul?” Entre a população são frequentes os ataques ao líder, ao governo, à tropa e ao que classificam de “traição ocidental” – a inexistente ajuda militar e política durante a violenta acção punitiva da tropa às ordens do Czar Putin. Alguns analistas ocidentais prognosticam o fim do noivado Geórgia-Ocidente e o cancelamento da boda Nato-Saakashvili. A confirmar-se o prognóstico, vem à colação o ditado português “quem semeia ventos, colhe tempestades.” O crepúsculo de Saakashvili faz lembrar o desabafo de Henry Kissinger, em 1975, na antecâmara da fuga americana do Vietname – “É perigoso ser inimigo dos Estados Unidos, mas ser seu aliado é letal.” MRA Dep. Data Mining

CPLP: Líderes lusófonos querem globalizar a língua portuguesa

sexta-feira, julho 25th, 2008

O primeiro-ministro José Sócrates anunciou hoje, no final da 7.ª cimeira da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, que vai convocar uma reunião de ministros dos oito países da CPLP para um entendimento sobre a data da entrada em vigor do acordo ortográfico. “Agora é connosco, agora somos nós que temos o dever de liderar a CPLP, que constitui a prioridade das prioridades da política externa portuguesa”, afirmou Sócrates, no final dos trabalhos, que decorreram no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Portugal definiu como ponto central da sua presidência o reforço e promoção da língua portuguesa, um tema que, segundo o Presidente Cavaco Silva, reúne o consenso de todos os membros: “Esta cimeira ficará como marco da afirmação do português na cena internacional”. No início da reunião, o ministro da Educação do Brasil, Fernando Haddad, anunciou que o seu país projecta para 2011-2012 a entrada em vigor do acordo ortográfico. Há cerca de 240 milhões de falantes de português no mundo. Segundo projecções baseadas na evolução demográfica dos oito países que têm o português como língua oficial, o número de falantes pode totalizar 335 milhões em 2050. Portugal e o Brasil, no último ano, têm enfatizado a necessidade de “globalizar” o português, através de políticas mais agressivas que o tornem idioma oficial em organizações multilaterais e aproveitem a Internet para a sua disseminação. A criação de uma rede de escolas e bibliotecas, bem como de uma WebTV, gerida em conjunto pelos oito membros da Comunidade, são alguns dos objectivos previstos no programa da presidência portuguesa. Os países membros concordaram com outras três prioridades apresentadas por Portugal: cidadania lusófona, concertação político-diplomática nos fóruns internacionais e a aumento da cooperação nos sectores da educação, cultura, energia e segurança alimentar. A Guiné Equatorial, actual observador da CPLP, propôs-se hoje ser admitido como Estado-membro, assumindo a responsabilidade de adoptar o português como língua oficial. O Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires, não se opõe por a ex-colónia espanhola ter sido inicialmente colonizada por Portugal. As Ilhas Maurícias e o Senegal têm o estatuto de observadores. Marrocos apresentou a sua candidatura. A proposta está em fase de análise. No final do seu mandato, em 2010, Portugal passará o testemunho da presidência a Angola. MRA/Agências

Soares diz que eleições nos EUA fazem renascer esperança mundial

sexta-feira, julho 18th, 2008

O antigo Presidente da República português Mário Soares afirmou ontem que a eleições presidenciais norte-americanas podem fazer renascer a esperança mundial, vaticinando “mudanças radicais” na América e no Mundo, caso o senador Barack Obama vença. “A candidatura do senador Barack Obama é portadora de mudanças radicais na América e na relação com o Mundo”, afirmou Mário Soares, durante uma palestra no primeiro Fórum Açoriano Franklin Roosevelt, organizado pela Fundação Luso-Americana e governo açoriano, na Ilha de São Miguel. Para o antigo Presidente e primeiro-ministro, que confessou ser “obamomaníaco”, a América dá agora sinais de estar a sair de um “ciclo trágico” com o fim do mandato do presidente George Bush, que pôs em causa de forma “quase irremediável” o prestígio norte-americano. “Com o aproximar das eleições presidenciais, a consciência politica, o sentido da responsabilidade, pioneirismo e idealismo americano parece ter despertado como por milagre”, afirmou Soares, para quem se impõe uma mudança de políticas sociais, económicas, ambientais e culturais para evitar a decadência do Ocidente. Apesar de não ser fácil, Soares entende que é possível a “revolução cultural” protagonizada por Obama, que comparou com o antigo presidente norte-americano Franklin Roosevelt. Numa palestra intitulada “Relações Transatlânticas numa Perspectiva de Futuro”, Mário Soares afirmou, ainda, que a União Europeia tem estado paralisada e muito fechada sobre os seus próprios problemas, revelando-se incapaz de governar o Mundo, por falta de líderes. MRA/Agências

Comissão Europeia propõe associação estratégica UE-México

terça-feira, julho 15th, 2008

A Comissão Europeia aprovou hoje a proposta oficial para uma Associação Estratégica entre a União Europeia e o México, um nível de relação que a UE só tem com potências como Estados Unidos, China, Rússia e Brasil. A decisão dá início ao procedimento formal que carece de aprovação do Conselho de Ministros da UE e do Parlamento Europeu. A Associação Estratégica contribuirá para reforçar as relações UE-México estabelecidas no Acordo de Associação assinado em 2000. A discussão de temas como o “multilateralismo, a democracia, os direitos humanos, o Estado de Direito, o diálogo cultural, a América Latina, a integração regional e o Grupo do Rio”, são as metas a atingir, segundo indicou Bruxelas. Nas áreas económica e social, os eixos serão “a política de desenvolvimento, o investimento e a responsabilidade social, os direitos de propriedade intelectual e inovação, a abertura de mercados, a política social, o trabalho digno e a proteção social, a migração e a pobreza”. MRA/Agências

Sarkozy inicia “flirt” mediterrânico via Israel e Palestina

segunda-feira, junho 23rd, 2008

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, chegou ontem (domingo) a Israel para a sua primeira visita oficial. Foi recebido como um “amigo e aliado” e, à chegada, defendeu, que a criação de um Estado palestiniano é essencial para a segurança do Estado de Israel. “Estou aqui, porque estou mais convencido do que nunca de que a segurança de Israel não estará garantida enquanto não existir um Estado palestiniano”, afirmou após aterrar em Tel Aviv. A visita de três dias, relacionada com o 60.º aniversário da criação do Estado de Israel, inclui Belém, na Cisjordânia, onde Sarkozy conferenciará com o presidente da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), Mahmoud Abbas. Sarkozy disse que a relação entre os dois Estados vive um “momento excepcional” e confessou: “Sempre fui e serei um amigo de Israel”. A agenda do presidente francês inclui encontros com os principais líderes políticos judaicos e um discurso hoje (segunda-feira) no parlamento local (Knesset).

Esta é a terceira visita de um presidente francês a Israel desde sua criação, em 1948, e destina-se a reforçar a aproximação de Paris aos estados do Mediterrâneo. Os líderes sionistas, dos radicais aos moderados, têm manifestado apreço pela reaproximação encetada por Sarkozy, recordando que, desde a sua fundação, a França foi o principal aliado do Estado judeu e instrumental na construção de seu poderoso exército. Armas e tecnologia militar gaulesas estão indissociavelmente ligadas à supremacia aérea israelita na região e à construção da central nuclear judaica de Dimona. Os dois projectos foram liderados pelo actual presidente Shimon Peres, quando ocupou o cargo de director-geral do Ministério da Defesa, após a fundação do Estado hebreu. Desde 1967, as relações entre os dois países oscilaram entre a cordialidade e a tensão, particularmente depois da segunda Intifada, em 2000. Desde que tomou posse, Sarkozy tornou-se o presidente francês mais “pró-judaico”, desde os anos 60. O enfraquecido primeiro-ministro Ehud Olmert, actualmente sob a ameaça de renúncia ao cargo por suspeitas de corrupção, definiu-o como “um verdadeiro amigo de Israel” e descreveu as relação franco-hebraicas como algo que ultrapassa “a lua-de-mel”, assumindo contornos de “uma verdadeira história de amor”. A comitiva de Sarkosy, que integra 7 ministros e cerca de 100 empresários, prenuncia a assinatura de multimilionários acordos económicos e militares, a concertação de posições anti-Teerão e a afinação de estratégias comuns relativas à Palestina, Síria e Iraque. A visita ocorre uma semana antes de a França assumir a presidência da União Europeia, a partir de 1 de Julho. “Vim para dar o meu apoio, em nome da França e da União Europeia”, disse «Sarko» numa clara tentativa para reconquistar para a França protagonismo geopolítico e económico no Médio Oriente. MRA/Agências

Alimentos vão empobrecer 100 milhões de pessoas

sexta-feira, junho 13th, 2008

Alimentos caros a nível mundial, nos próximos anos, vão colocar abaixo da linha de pobreza no mínimo 100 milhões de pessoas, previu Danny Leipziger, vice-presidente do Banco Mundial. “Os preços de alguns bens alimentares duplicaram, nos próximos três a quatro anos manter-se-ão elevados e não vão voltar aos níveis que tinham anteriormente”, disse o responsável do Banco Mundial (BM) na conferência sobre “Preços dos alimentos e segurança alimentar” na Cidade do Cabo, África do Sul. Os participantes concordaram num ponto: as respostas clássicas para responder à actual crise são inúteis. “Esta crise é diferente de todas as outras que temos visto e não há soluções na gaveta. É uma crise diferente e cria uma mudança estrutural”, considerou Sheryl Hendricks, responsável do Centro Africano de Segurança Alimentar. Lesetja Kganyago director-geral do Tesouro da África do Sul disse que “controlar preços” e “limitar as exportações” é um erro e “seria cair na armadilha dos países ricos, que justificam os subsídios à sua agricultura por razões de segurança alimentar”, dando esmolas aos países pobres. MRA/Agências

França defende independência da Palestina e força negócios com Iraque

domingo, junho 1st, 2008

Bernard KourchnerA criação de um Estado palestiniano independente é a única maneira de garantir a segurança de Israel, segundo o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Bernard Kourchner, em Amã. “Impor a criação de um Estado palestiniano viável, democrático, autónomo e independente. Continuo a acreditar que essa é a única solução”, declarou Kouchner, numa conferência de imprensa após um encontro com o seu homólogo jordano, Salah Bechir. “Embora o diálogo prossiga, na prática, não há muito progresso”, destacou. Kourchner acrescentou que a França continuará a pressionar no sentido de demonstrar que “a criação de um Estado palestiniano que será a única maneira de garantir a segurança de Israel”. Após a visita, durante a qual assinou um acordo de cooperação nuclear, o chefe da diplomacia francesa iniciou uma visita-surpresa ao Iraque, que terminará hoje (domingo). Kouchner, garantiu à agência iraquiana “Aswat al-Iraq” que “o objectivo da viagem é transmitir uma mensagem de amizade e paz ao povo iraquiano”. A visita, ocorre um mês antes do início da presidência francesa da União Europeia (UE). O ministro francês deseja, antecipadamente, expressar aos iraquianos a “disponibilidade da França” em trabalhar, “ao lado de todas as comunidades” do país, para promover a reconciliação nacional, refere uma nota ministerial, distribuida em Paris. Simultaneamente, Kourchner procurará o envolvimento de empresas francesas na reconstrução do Iraque. A esmagadora maioria dos contratos foi adjudicada pelo governo local, apoiado por Washington, a empresas do principal país ocupante – Estados Unidos. As empresas da Grã-Bretanha, país aliado na invasão e ocupação, têm-se queixado de terem sido preteridas a favor dos americanos. MRA/Agências

Galileo vs. GPS reactiva tensões tecnológicas e estratégicas transatlânticas

quarta-feira, abril 23rd, 2008

Satélite da rede GalileoA aprovação por larga maioria (607-36; 8 abstenções) do sistema europeu de navegação via satélite «Galileo», pelo Parlamento Europeu, hoje, em Estrasburgo, promete reactivar um novo período de surdas tensões entre a União Europeia e os Estados Unidos, proprietários do largamente popular «GPS – Global Positioning System».

O Galileo, que integra um conjunto de 30 satélites, tem um custo estimado em EUR 3.4 mil milhões. O modelo de financiamento e o prazo de início das operações (2013) , nos últimos dois anos, chegaram a pôr em perigo a sua concretização. Etelka Barsi-Pataky, representante parlamentar húngara no PE, defendeu o projecto com o argumento de que “dinamizará a inovação tecnológica, o empreendorismo e a criação de empregos”, em muitos países membros e não apenas nos mais desenvolvidos e com maior influência em Bruxelas.

Os principais clientes do Galileo serão companhias aéreas e empresas globais de transporte, distribuição e logística. Estes e outros mercados, face à expansão do GPS americano, desvalorizaram a viabilidade e a necessidade de um sistema europeu independente. Tais argumentos são contrariados pelos políticos e tecnólogos da UE. Argumentam que os sinais emitidos terão melhor qualidade que os do GPS e estarão sempre disponíveis para servir os seus clientes. O serviço americano poderá ser interrompido a qualquer momento desde que o governo dos EUA invoque “motivos de segurança nacional”.

O Galileo assume-se como o primeiro grande projecto infraestrutural no sector aeroespacial, depois do projecto Airbus, nos anos 70/80. Um novo marco regulatório estabelecerá os respectivos padrões de segurança cuja gestão caberá à Comissão Europeia e à autoridade de supervisão -European Global Navigation Satellite System Supervisory Authority. A legislação hoje aprovada prevê que a UE será a única fonte de financiamento do projecto cabendo-lhe a propriedade de “todos os activos (…) criados ou desenvolvidos durante os programas.” Fundos adicionais poderão ser alocados ao «Galileo» por Estados Membros, terceiros países ou organizações internacionais. As empresas privadas, a partir de 2013, poderão igualmente comparticipar no financiamento da fase de exploração do projecto. Em lugar de lhes ser reconhecido o estatuto de “co-proprietários” do sistema serão tratados como “empreiteiros contratados”. MRA/Agências

Negociações secretas EUA-Irão sobre o programa nuclear iraniano

terça-feira, abril 15th, 2008

Irão-EUADurante os últimos cinco anos, os EUA e o Irão vêm mantendo conversações secretas sobre a nuclearização do Irão e as tensões bilaterais, revelaram fontes americanas. Um dos participantes nas discussões, o antigo diplomata Thomas Pickering revelou que um grupo de ex-especialistas e diplomatas do Departamento de Estado tem mantido encontros com académicos e conselheiros políticos iranianos em territórios neutros. O grupo foi organizado pela Associação ONU dos EUA. O Instituto de Pesquisa para a Paz Internacional, financiado pelo governo sueco, está igualmente envolvido como “facilitador” dos contactos. MRA-Dep. Data Mining

Russia e Mongólia acordam exploração de urânio e cooperação militar

sábado, abril 12th, 2008

Urânio - MongóliaA Rússia fechou ontem um acordo, em Moscovo, com o governo mongol para a exploração das ricas jazidas de urânio com o antigo satélite soviético, assinado pelos primeiros-ministros Viktor Zubkov e Bayar Sanjaa. A agência nuclear russa Rosatom informou que o compromisso estabelece o novo quadro da cooperação do complexo industrial-nuclear e militar russo na exploração, extracção e processamento do minério de urânio na Mongólia e na modernização das suas infra-estruturas de defesa e segurança. O aumento das encomendas para a construção de novas centrais nucleares em todo o mundo acentua a importância estratégica do acordo bilateral reinicia um período cooperação praticamente interrompido desde o colapso do império soviético, em 1991. O presidente russo Vladimir Putin, que teve uma reunião a sós com Sanjaa, no Kremlin, revelou que o tempo perdido nas relações diplomáticas e no intercâmbio comercial entre os dois países será recuperado rapidamente. O chefe do governo mongol agradeceu a cooperação militar russa e manifestou o seu interesse futuro “em desenvolver esta esfera de cooperação.”

MRA – Dep. Data Mining

Putin reforça poder e influência na Rússia pós-Putin

quinta-feira, abril 10th, 2008

Vladimir Putin, o presidente russo cessante, está a construir um vasto aparelho de fiéis e leais servidores susceptível de o transformar no único primeiro-ministro da “Mãe Rússia” com poderes domésticos idênticos aos de Ivan IV VasilyevichIvan “O Terrível” – o primeiro governante russo a ostentar o título de Czar e a alargar, consolidar e dominar territorialmente um extenso império, no século XVI. O instrumento para consolidar tamanho poder, 500 anos depois, reside no controlo dos “emissários regionais.”

“Os ‘emissários’ desempenharão um novo papel. As suas funções assemelhar-se-ão às de super governadores regionais, com poderes outorgados pelo Kremlin, para fiscalizarem todo o aparelho político-administrativo regional [dependente do poder central moscovita]. Eles prestarão contas ao governo liderado por Putin”, revelou hoje o diário Vedomosti, de São Petersburgo (cidade natal de Putin), controlado pelos influentes grupos de informação económica que publicam o britânico Financial Times (Pearson plc) e o norte-americano Wall Street Journal (Dow Jones & Co.). O jornal atribuiu a “fontes da presidência” a interpretação dos referidos factos e a confirmação de que “está a ser considerada uma reforma no aparelho administrativo do Kremlin.”

De acordo com as nossas pesquisas, após a tomada de posse (2000), Putin institucionalizou os “emissários” no processo de reorganização político-administrativa da Rússia. As 89 regiões/províncias russas passaram a integrar 7 distritos federais. O objectivo foi reforçar o controlo do governo central sobre todo o país, após a traumática implosão da ex-URSS, e recuperar a autoridade do Estado sobre o seu vasto território.

Os super governadores regionais – emissários – passaram então a ser a interface entre os poderes regionais e o Kremlin, dispondo de ampla influência, assegurando a harmonização legislativa entre a federação e as regiões, e aconselhando Putin na escolha de candidatos para os governos regionais.

Na actual fase de transição, segundo o relato do Vedemosti, a reestruturação do poder regional e local está a ser concebida e elaborada pela administração do Kremlin, fiel a Putin. “Pode ser interpretada como uma tentativa para assegurar ao ainda presidente renovados poderes na sua qualidade de futuro primeiro-ministro,” remata o diário russo. MRA-Dep. Data Mining

Putin e Bush acordaram deixar aos seus sucessores a resolução das questões geoestratégicas

segunda-feira, abril 7th, 2008

Vladimir Putin e George W. Bush fizeram tímidos progressos em relação ao delicado tema do escudo antimíssil na Europa. Todavia, mesmo sem um acordo formal, ambos defenderam a criação de um sistema comum de defesa antimísseis com os países da Europa. Os dois presidentes, que participaram no seu último encontro como chefes de Estado, ontem, em Sotchi, nas margens do Mar Negro, adoptaram uma “declaração de cunho estratégico” clarificando a oposição do Kremlin ao projecto norte-americano. As medidas propostas por Washington para dar garantias a Moscovo são “importantes e úteis” limitou-se a admitir o cessante Chefe de Estado russo. Mais…

(MRA/Agências)

China: Crise mundial afecta competitividade mas nova revolução industrial já está em marcha

terça-feira, abril 1st, 2008

Containers-ChinaDezenas de milhares de industriais, há 20 anos, deram outro “Salto em Frente” e transferiram as suas fábricas em Taiwan, Hong Kong e Macau para a região de Cantão, no sul da China continental. A região prosperou, registando crescimentos anuais de dois dígitos.

Na nova China, as províncias do sul, transformaram-se numa “fábrica planetária”. Electrónica de consumo, produtos eléctricos e de iluminação, têxteis e confecções, sapatos, mobiliário, louça, etc. inundaram os mercados mundiais e ajudaram a manter a inflação ocidental em níveis historicamente baixos.

A combinação da mão de obra barata, ausência ou deficiente regulação e uma moeda (yuan) barata era um cocktail demasiado agradável para não ser consumido até à exaustão por esse mundo fora. Três décadas de crescimento exponencial parecem, agora, ter os dias contados.

A menos que o mercado interno consiga absorver as mega toneladas de produtos amontoados nos portos chineses, para os mercados ocidentais, vorazes e ricos, mas onde os consumidores, perante a crise global do crédito, deixaram de poder comprar.

Chegou a altura de pagar as dívidas (empréstimos, hipotecas, cartões de crédito) e o preço do dinheiro está num ciclo de subida, apesar dos esforços dos bancos centrais para taparem o sol com a peneira. Mesmo assim, a China parece ter a lição bem estudada para resolver as turbulências deste século. Mais

Bush surpreende e agrada ao Kremlin e a Putin

sexta-feira, março 28th, 2008

George W. Bush, ao aceitar um convite de Vladimir Putin para uma cimeira informal de um dia (05-06/Abril), em Soshi (estância nas margens do Mar Negro), supreendeu tudo e todos, em Washington e Moscovo. “O convite foi-lhe dirigido há algum tempo e aceitação de Bush é altamente apreciada como um sinal pessoal de uma atitude construtiva”, disse uma fonte do Kremlin, citada pelo jornal russo de língua inglesa “The Moscow Times“.

A fonte anónima referiu que Bush contrariou alguns dos seus conselheiros mais próximos, desfavoráveis ao encontro. Bush, de acordo com o website da Casa Branca, informou jornalistas em Washington, que irá a Soshi para debater o relacionamento estratégico bilateral. “A parte crucial [do encontro] relaciona-se com a defesa anti-míssil”, precisou. Este será o último encontro entre ambos. Putin transmite o poder ao presidente eleito, Dmitry Medvedev, em Maio. Bush cessa funções em janeiro de 2009. O governo americano manifestou interesse na presença de Medvedev. O encontro bilateral parece ter como objectivo a reunião que ambos terão na próxima semana, no âmbito da Cimeira da primavera da NATO, a realizar em Bucareste (Roménia). A Aliança Atlântica irá debater temas que não agradam a Moscovo: o início do processo de adesão de mais ex-repúblicas soviéticas à aliança militar ocidental – a Ucrânia e a Geórgia.

O jornal polaco Gazeta Wyborcza especulou recentemente com a posssibilidade de Moscovo aceitar cooperar militarmente com a NATO na guerra contra os talibãs, no Afeganistão, se os seus dois ex-satélites forem impedidos de aderir à aliança militar americano-europeia.