Cinco anos depois do país ter sido abalado por fortes revoltas nos subúrbios das suas cidades, o fantasma de insurreições por parte dos filhos de imigrantes e activistas radicais volta a ensombrar a França. O ponto focal dos novos confrontos é a cidade de Grenoble, uma cidade de 500 mil habitantes perto dos Alpes, onde um assalto a um casino deu origem a uma perseguição de carro que degenerou numa troca de tiros entre os assaltantes e a polícia, levando à morte de um dos criminosos, Karim Boudouda, de 27 anos de idade. O perigo de alastramento a outras regiões do país é elevado.
O falecimento de Boudouda gerou forte indignação junto da juventude de origem norte-africana da cidade que, acompanhada de elementos radicais, tem descido às ruas do subúrbio de Villeneuve todas as noites para pilhar lojas, incendiar carros e destruir outras propriedades a golpes de tacos de ‘baseball’, entrando em confrontos com a polícia. Desde a noite de domingo que um forte dispositivo de mais de 300 agentes da polícia está a patrulhar o bairro, de modo a dissuadir os manifestantes de continuarem a destruir a área e de incendiar viaturas, tendo até agora sido perdidos 65 carros.
O ministro do Interior francês, Brice Hortefeux, visitou o local e afirmou estar disposto a “reestabelecer a ordem pública por todos os meios”. Já o chefe do sindicato regional da polícia, Daniel Chomette, tem dúvidas, notando que “a polícia está no ponto de ruptura” e apelou ao envio de reforços para a região.
Saliya Boudouda, mãe de Karim, anunciou aos jornalistas que tenciona apresentar queixa para esclarecer as circunstâncias exactas da morte do seu filho. “Os polícias foram longe demais, foram mesmo muito longe. Vou ter uma audiência com o procurador e apresentar queixa. Isto há-de ir até às mais altas instâncias”, afirmou.
A nova onda de violência urbana que abala a cidade de Grenoble está a trazer de volta aos franceses recordações dolorosas da onda de confrontos que abalou grande parte das cidades do país entre Outubro e Novembro de 2005, deixando mais de 6.500 carros indendiados. A crise teve início em 27 de Outubro daquele ano, quando os adolescentes de origem imigrante Zyed Benna e Bouna Traore morreram electrocutados numa estação eléctrica do subúrbio de Clichy-sous-Bois, por recearem que a polícia poderia estar atrás deles, uma vez que estavam próximos do local de um roubo quando as autoridades chegaram.
Os comentários proferidos na altura pelo então ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, de que os criminosos são “escumalha”, atiçaram a fúria dos filhos das comunidades imigrantes em todo o país, e no início de Novembro a própria Paris tornou-se palco de violência, tendo sido incendiados mais de mil carros. Os confrontos continuaram todas as noites, tendo aumentado drasticamente o número de veículos incendiados e de pessoas presas. A sete de Novembro, um homem de 61 anos foi morto quando tentava apagar um fogo num subúrbio. No mesmo dia, os confrontos espalharam-se às comunidades imigrantes da Bélgica e Alemanha.
Na manhã seguinte, o governo francês foi forçado a impor o recolher obrigatório, recuperando uma lei de 1955 que fora criada para controlar a revolta na Argélia, então colónia da França. Em breve verificaram-se incidentes de Norte a Sul do país, incluindo Estrasburgo, a sede do Parlamento Europeu. As revoltas só começaram a acalmar em meados do mês, quando o governo propôs medidas para melhorar a educação e as oportunidades para os habitantes dos bairros de imigrantes, num valor total superior a 30 mil milhões de euros.
Agora, contrariamente às promessas do governo francês de restabelecer a ordem a todo o custo, a polícia receia que os motins alastrem a outras cidades francesas.
MRA Alliance c/ DE