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Nervosismo na banca e incertezas europeias empurram bolsas para o fundo

quinta-feira, agosto 11th, 2011
Os dias negros voltaram aos mercados accionistas nos dois lados do Atlântico. As acções do Velho Continente caíram e levaram as principais bolsas europeias a quedas entre os 3% e 6,5%. O sector da banca teve o pior desempenho desde Março de 2009, no dia em que Sarkozy interrompeu as férias para reunir com o seu executivo e os rumores sobre a frágil situação do país se avolumaram.
O índice de referência para a Europa, Stoxx 600, declinou 3,75% para 223,50 pontos, com cerca de sete oitavos das acções a perderem território.

Os sector da banca representado no índice, recuou 6,7% com os bancos franceses a liderarem as quedas.  O presidente Nicolas Sarkozy interrompeu as férias para uma reunião de emergência com o seu executivo e para reiterar o compromisso gaulês com as metas do défice.

A Société Générale sofreu uma queda violenta, ao desvalorizar 14,74%, o BNP Paribas caiu 9,47%  e o Crédit Agricole perdeu 11,81%.  

A França é, entre os membros da Zona Euro com rating  AAA,  o que enfrenta maiores custos com os seguros de incumprimento financeiro – “credit default swaps” (CDS) – um produto financeiro derivado muito utilizado pelos especuladores. Depois do corte do rating da dívida norte-americana, os especuladores apontam agora as baterias sobre a  França na expectativa de que seja o próximo país a sofrer uma redução da qualidade de crédito por parte das três maiores agências de notação financeira.

Na eventualidade de tal acontecer o sistema bancário do país será o sector mais penalizado pois os bancos serão obrigados a contabilizar  imparidades, acumulando prejuízos até agora escondidos nos balanços e afectando seriamente os seus rácios de solvabilidade. Apesar dos rumores apontarem nesse sentido, as agências de “rating” e o Governo francês apressaram-se a negar que o “rating” do país vá ser cortado.

“A ameaça ao triple A  da França é preocupante”, disse o analista de obrigações do Grupo ING, Padhraic Garvey, entrevistado pela Bloomberg. “O nosso modelo de classificação notação da dívida identifica França como um dos emitentes [de obrigações] mais frágeis” entre os países europeus com o “rating” máximo, ou seja, “AAA”, acrescentou.

Os CDS da Société Générale são os mais dispendiosos entre os bancos do país e este foi também o banco mais penalizado entre as empresas cotadas no Stoxx 600. Os rumores de que o banco iria precisar de ajuda estatal também foram desmentidos pela administração.

“A Société Générale emitiu um aviso recentemente, o que o torna mais vulnerável aos rumores de mercado e é por isso que as acções estão hoje a ser penalizadas”, disse o analista do ETX Capital, Marcus Huber, à Bloomberg. No dia 3 de Agosto o banco francês avisou que poderia falhar as metas de 2012 depois de ter sofrido uma quebra de 31% dos lucros na primeira metade do ano.

Na Itália, aconteceu igualmente uma quebra generalizada dos títulos da banca. O Intesa Sanpaolo depreciou 13,72% e a UBI Banca recuou 10,17%. O o índice bolsista transalpino perdeu 6,65%. A bolsa de Milão foi a que registou maiores perdas na Europa.

O índice espanhol IBEX caiu 5,49% para 7.966 pontos e o parisiense CAC-40 recuou 5,45%. O alemão DAX encolheu 5,13% e o britânico Footsie 100 baixou 3,05%. O Banco Santander perdeu 8,33% e o britânico HSBC recuou 5,28%. 

Wall Street não conseguiu resistir à razia europeia. As quedas dos índices norte-americanos foram superiores a 4%. O Dow Jones fechou a perder 4,64%, o Nasdaq baixou 4,09% e o S&P 500 caiu 4,43%. 

A queda abrupta nas praças norte-americanas seguiu-se à corrida de ontem que gerou valorizações superiores a 4%, a maior subida desde Março de 2009. As bolsas dos EUA beneficiaram do anúncio da Reserva Federal (Fed) dos EUA, que revelou que a taxa de juro do país – que se encontra entre zero e 0,25% – se manterá em níveis baixos até 2013. Mas, como prevíramos ontem, foi sol de pouca dura.

A acentuar a espiral de perdas estiveram rumores sobre alegadas vulnerabilidades sobre a solvência e liquidez do banco Société Générale bem como sobre o rating da dívida francesa. A banca foi um dos sectores mais penalizados devido ao perigo de contágio da crise europeia. Três dos maiores bancos americanos registaram perdas acentuadas – o Citigroup caiu 10,47%, o Bank of America 10,92% e o Goldman Sachs 10,10%.

MRA Alliance/Agências

MRA Alliance

Da apendicite grega ao tumor hispano-italiano

quarta-feira, agosto 10th, 2011

A bolsa nova-iorquina interrompeu ontem um ciclo de quedas consecutivas, ao fechar com valorizações de mais de quatro por cento nos principais índices. Pouco antes do fecho da sessão, aconteceu a repentina valorização após a Reserva Federal (Fed) norte-americana ter anunciado que manterá as taxas de juro de referência próximas de zero por mais dois anos.

Entre os índices de referência, o Nasdaq Composite Index, que agrega empresas de base tecnológica, foi o que mais disparou: 5,295 por cento (para 2,482.520 pontos). O índice Standard and Poor’s 500 Index cresceu 4,741 por cento (para 1,172.530 pontos) e o industrial Dow Jones avançou 3,977 por cento (para 11,239.770 pontos).

Porém, o dia foi marcado por uma acentuada volatilidade nas bolsas europeias e norte-americanas. Wall Street abriu positiva, mas o disparo só foi visível no final da sessão, após o anúncio do Fed.

Imediatamente a seguir à divulgação da notícia, os mercados reagiram com apetite pelo risco. O Nasdaq subia pouco mais de um por cento, o índice S&P 500 valorizava 0,2 por cento e o Dow estava em terreno negativo. Os minutos finais da sessão foram determinantes para a recuperação.

Mas a recuperação de ontem será de curta ou de média duração? Em nossa opinião, os fundamentais das economias nacionais e das empresas cotadas nas bolsas dos dois lados do Atlântico não enganam: estamos na antecâmara de uma nova fase da crise sistémica de que temos vindo a falar, desde 2007 (ver  exemplos aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, ou aqui).

Contrariamente à reacção de ontem das bolsas norte-americanas, outras praças indicam que entraram no território dos mercados recessivos (bear market). Em Londres, o índice de referência FTSE 100 recuou 20%, desde Fevereiro. De 6091 pontos escorregou para 4855 pontos. O mesmo aconteceu em Hong Kong. O índice Hang Seng recuou 23% desde o último máximo, registado em 8 de Novembro passado.  Idêntica situação aconteceu na brasileira Bovespa  (-31%). Por outro lado, refira-se que o entusiasmo de ontem nas praças americanas está ensombrado pela acelarada perda de 18% nas cotações do índice S&P 500 registada nos últimos meses…

A decisão da agência de rating Standard & Poor´s de baixar a notação da dívida norte-americana de AAA para Aaa, na sexta-feira, na sequência do recente aumento, pelo Congresso, do tecto da dívida federal acima da fasquia de USD 14,3 trillion, apesar de ter precipitado a presente situação, é apenas mais um episódio do colossal descontrolo financeiro norte-americano. A crise não está controlada. Longe disso.

A decisão do Fed agora anunciada de manter as taxas de juro próximas de zero até 2013 é tudo menos uma boa notícia. Dinheiro fácil e escandalosamente barato é mau conselheiro. É um viveiro de bolhas especulativas. Das dotcom às hipotecas subprime insistimos em trilhar um caminho perigoso. De bolha em bolha até à definitiva implosão do sistema financeiro global. Sem pretendermos ser exaustivos, propomos uma olhada sobre os sinais. Alguns têm tanto de elucidativos como de preocupantes:  

  • Na bolsa de futuros Comex, após o anúncio do Fed,  as posições relativamente aos contratos de ouro subiram 1,8%,  fixando-se no novo recorde histórico de  1740 dólares a onça;
  • O banco J.P. Morgan emitiu ontem uma nota segundo a qual a cotação do ouro deverá atingir os 2500 dólares a onça até ao final do ano, enquanto o Goldman Sachs prevê que esteja nos 1730 dólares dentro de seis meses e nos 1900 dólares dentro de 12 meses;
  • O metal amarelo prossegue a sua escalada enquanto activo à prova de crises. Continua a ser o refúgio mais seguro que o dinheiro pode comprar nos tempos que correm. Esta opinião é partilhada por alguns governadores de importantes bancos emissores;
  • Nos dois últimos meses, o banco central da Coreia do Sul comprou 25 toneladas de ouro, aumentando em 17 vezes as suas reservas de metal amarelo. No mesmo período, também o banco central da Tailândia aumentou as suas reservas de ouro em 15,5%, tendo passado de 3523 milhões de onças, em Maio, para 4,07 milhões, em Junho. No princípio do ano, a Tailândia já adquirira 9,3 toneladas de ouro. A Rússia comprou 41,8 toneladas e o México 99,2 toneladas. A China anunciou no início do ano que pretende, até 2020, aumentar drasticamente as suas reservas de ouro.   Das actuais 1054 toneladas quer chegar às 8-10 mil toneladas;
  • Os juros implícitos (yield)  dos títulos dos EUA a dez anos baixaram de 2,32% para 2,28%, entre segunda e terça-feira;
  • Até agora, perante a visível deterioração do clima económico nos sete países mais industrializados (G7) e a profunda crise das dívidas soberanas europeias,  a maioria dos investidores e especuladores comprava, devido ao risco quase inexistente,  títulos do tesouro americano na expectativa de que se valorizassem. Porém, se em vez disso eles se depreciarem, como já está a acontecer,  tal pode significar que a bolha do mercado das obrigações norte-americanas está prestes a rebentar. As consequências serão trágicas para a economia global;
  • Desde 24 de Julho, o pânico generalizado em todos os mercados mundiais gerou perdas globais de USD 8,1 trillion (mais de metade do PIB dos EUA). Este valor  corresponde  a 14,8% da capitalização bolsista do mundo;
  • Em apenas cinco anos (2008-2012), o montante das obrigações de dívida vencidas, emitidas pelo Tesouro norte-americano, atingirá o gigantesco volume de USD 5,6 trillion.   A totalidade do crescimento da dívida do país, entre 1776 (ano da declaração de independência) e 2008, foi de 4,6 trillion. Obama vai ultrapassar em apenas cinco anos o que o conjunto dos seus 43 antecessores fez em… 232 anos!!!
  • O custo global das ajudas financeiras aos bancos e empresas financeiras dos EUA e da Europa, desde 2008, na realidade, ascende a quase USD 24 trillion, segundo a estimativa de Neil Barofsky, o inspector-geral do TARP (Troubled Asset Relief Program), o mega programa de resgate aprovado pela administração Bush e continuado pela administração Obama. Se compararmos este número com o do défice reconhecido pelo Tesouro (USD 14,7 trillion) ficamos com uma ideia mais realista da enormidade dos problemas a resolver quando for apresentada a factura para liquidação; 
  • Se tivermos em conta que o rácio dívida/PIB da Grécia já atingiu os 150%, e que os EUA estão a caminho de ultrapassar rapidamente a psicológica barreira dos 100%, as perspectivas para o biénio 2012-2013 são ainda mais negras. Os efeitos sobre a evolução do crescimento e do emprego serão devastadoras. Também o dólar, enquanto reserva cambial mundial,  terá o seu canto do cisne;

E o que nos reserva a Europa dos 17 (Zona Euro),  ou dos 27 (UE)? Será que o sonho europeu, idealizado nos anos 50 pelo eixo Bona-Paris, poderá, meio século depois,  vir a transformar-se no pesadelo do eixo Berlim-Paris? A prazo é bem possível. Para já, é avisado estarmos preparados para o pior (desintegração da UE e fim do euro).

Os altos dirigentes dos países membros mais ricos e a elite dos eurocratas têm pautado a sua actuação pela incapacidade de gerar consensos, de elaborar discursos coerentes, de afirmar um projecto europeu credível e sustentável e de ter a noção dos timings certos para agir.

Se no debate sobre a subida do tecto da dívida federal, os congressistas norte-americanos e o Presidente Obama deram aquele risível espectáculo de marcar o golo (chegar a acordo) no período de descontos (praticamente no fim do prazo), o que dizer dos líderes europeus? Com os sucessivos avanços e recuos e os constantes desmentidos das promessas feitas na véspera, uns e outros colocaram a Europa a jeito da voracidade vampírica dos mercados (leia-se especuladores).

O que ontem era uma simples apendicite grega, passou hoje a ser um desconfortável pólipo luso-irlandês, o qual, num futuro próximo, ameaça evoluir para um fatal carcinoma hispano-italiano. 

Deste lado do Atlântico, os meteorologistas da política e do dinheiro têm o dedo no botão de alerta de tsunami, atentos a alguns sinais dos chamados “mercados”:

  • Um editorialista do Financial Times escreveu ontem que o futuro da Europa depende da qualidade da defesa da Espanha e da Itália pelo triunvirato UE/BCE/FMI.
  • Embora  Madrid tenha apresentado “bons resultados” no combate ao défice e na flexibilização do mercado de trabalho, o articulista elege como positivo o facto de registar um superávit primário e de os seus empréstimos terem maturidades confortáveis. Como aspecto negativo é sublinhado o elevado peso da dívida (a terceira maior da Zona Euro), as tímidas medidas de combate ao défice e a crónica incapacidade do governo Berlusconi para fazer crescer a economia,  melhorar a capacidade  competitiva e combater o excesso de burocracia;
  • Esta análise, em nossa opinião,  peca por benigna já que passa ao lado de uma variável essencial da equação – a estratégia dos especuladores e as ferramentas de que dispõem para desestabilizar qualquer economia ou moeda, independentemente do seu peso e dimensão;
  • A manipulação pelos especuladores (privados e institucionais) de instrumentos derivativos, designadamente os famigerados seguros de incumprimento financeiro – Credit Default Swaps (CDS) -, levou à falência do banco Lehman Brothers, à nacionalização da seguradora AIG, à insolvência da Islândia e a severas crises cambiais nos anos 90 que atiraram para as cordas as moedas da Rússia, da Malásia, da Coreia do Sul, do México e por aí fora;
  • Ninguém sabe ao certo qual o montante global dos tóxicos CDS que infectam os balanços de sonantes nomes da banca europeia – do germânico Deutsche Bank, ao britânico Barclays, ao francês Paribas, passando pelo espanhol Santander e pelo italiano Unicredit – mas diversos especialistas dividem-se entre estimativas estratosféricas (trillions ou quadrillions);  
  • Certo é que, contrariamente ao que tem sido vertido em muitas páginas de jornais e revistas especializadas, existe o perigo real de um ou mais bancos europeus de grande dimensão poderem vir a ser atacados pelo vírus Lehman Brothers. Quando chegar a hora, lembrem-se  de trautear “Don’t cry for me Argentina”;
  • A França, para alguns inesperada e injustamente, está na berlinda desde sexta-feira, dia em que a S&P despromoveu a qualidade da dívida norte-americana. Comparativamente a outros países com notações triple A, os juros implícitos, os CDS e os níveis do défice que afectam a economia gaulesa são variáveis consideradas excessivas pelas maiores agências de rating;
  • Na próxima sexta-feira, a França publicará dados estatísticos sobre o crescimento da economia no segundo trimestre. A generalidade dos analistas prevê números desanimadores da ordem dos 0,2%, ou seja 0,7% abaixo do valor registado no primeiro trimestre;
  • Caso se confirmem as previsões, as campainhas de alarme alertarão para a dificuldade de a França conseguir, em 2013, atingir a prometida meta de reduzir o actual défice (7,15% do PIB) para menos de 3%;
  • O facto de os CDS sobre a dívida francesa serem superiores aos pagos pelos compradores de dívida emitida pelas autoridades do Peru, Indonésia, África do Sul e da República Eslovaca é motivo de preocupação não apenas para o governo francês. As lideranças da UE, do BCE e do FMI receiam que a equacionável perda pela França da notação AAA possa pôr em causa toda a arquitectura do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e inviabilizar futuros resgates;
  • De  resto, os recursos do FEEF (750 mil milhões de euros) são considerados insuficientes para fazer face às necessidades prováveis dos resgates. Chegam para atender o conjunto dos actuais três “clientes” – Grécia, Irlanda e Portugal e eventualmente de Chipre.  Caso a Espanha ou a Itália sejam forçadas a usá-lo precisaria de ser generosamente recapitalizado.  De resto, há mesmo quem pense que o resgate da terceira e da quarta economias da UE, a Itália e a Espanha respectivamente, necessitaria de um novo Plano Marshall, mas agora com a inclusão dos países emergentes do G20 (China, Índia, Brasil, Arábia Saudita, etc.);
  • Para apimentar o cenário, o mês de Setembro promete ser crítico. A troika irá a Atenas fazer a avaliação de desempenho do governo na aplicação dos programas de resgate em curso e em fase de implementação. A instabilidade política e social em que a Grécia está mergulhada faz temer a obtenção de resultados aquém dos desejados pelos credores, com efeitos negativos na evolução da crise europeia;
  • Na Alemanha, a Chanceler Merkel enfrenta uma resiliente frente de forças políticas e de individualidades da coligação que lidera (CDU/FDP) que discordam abertamente dos acordos pró-resgate por ela validados em Bruxelas. O regresso de férias dos deputados do Bundestag promete acessos debates.
  • Conhecida a sua propensão para o “nim”, bem como para protelar até ao limite decisões urgentes, a senhora Merkel poderá viver dias difíceis e voltar a dar sinais errados aos mercados de dívida. Qualquer sinal de instabilidade e de laisser-faire dado pela Alemanha pode complicar ainda mais as já ténues possibilidades de controlo da situação;
  • Também em Setembro, algumas “cajas de ahorros” espanholas irão ao mercado tentar obter empréstimos. Num cenário de eleições antecipadas, de escalada dos juros da dívida soberana e de insuficientes taxas de crescimento económico, para além de uma elevada taxa de desemprego (superior a 20%), este segmento da banca espanhola terá uma missão espinhosa e de resultados duvidosos;

Se, como tudo indica, nada de enérgico e proactivo for feito, em Agosto, pelos líderes europeus que ditam as políticas da UE – Merkel e Sarkozy – chegaremos a Setembro com uma situação mais degradada. Talvez irremediavelmente…

Nesse caso, e se persistirem os ataques especulativos contra as dívidas espanhola e italiana, com uma insustentável subida das taxas de juro e dos CDS, o último trimestre promete ser um osso duro de roer.

Neste momento, ninguém, do BCE ao FMI, passando por outras instituições de idêntico calibre, dispõe de recursos para resgatar financeiramente países como a Espanha e a Itália. Se tal for imperativo, como vão os mandantes da economia mundial resolver o problema?

A resposta é simples. Ninguém sabe. Nem eles…

Pedro Varanda de Castro, Consultor

MRA Alliance

Alemanha critica reforço do fundo de resgate proposto por Barroso

quinta-feira, agosto 4th, 2011

Numa carta enviada aos líderes europeus, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, pediu um reforço dos fundos dos mecanismos de resgate europeus para travar os riscos de contágio da crise da dívida a Espanha e a Itália.

No entanto, a mensagem foi mal recebida por alguns responsáveis europeus, sobretudo na Alemanha, o país que mais contribui para o FEEF.

“Não é claro como a reabertura do debate apenas duas semanas após a cimeira [que definiu o segundo plano para a Grécia] pode acalmar os mercados”, disse um alto funcionário em Berlim, citado pelo Financial Times. Outros oficiais sugeriram que Durão Barroso está a ser considerado como um canhão à solta no debate da zona euro.

“O importante agora é que apliquem rapidamente as decisões da cimeira e para isso é necessário que todos se concentrem no essencial e não levantem outra vez questões a que já foram dadas respostas a 21 de Julho”, quando os líderes se reuniram em Bruxelas, disse hoje, em Berlim, um porta-voz do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble.

MRA Alliance/DE

Pequim promete apoiar euro mas recusa valorizar yuan

quinta-feira, outubro 7th, 2010

Wen Jiabao com Durão BarrosoO primeiro ministro chinês, Wen Jiabao, foi claro na mensagem que deixou hoje aos europeus, na cimeira bilateral de Bruxelas: a China vai continuar a apoiar o euro mas não cede às pressões para valorizar o yuan. Wen garantiu que a China é “o verdadeiro amigo da Europa”, como demonstra o facto de “não se manter de parte quando alguns países da Zona Euro tiveram dificuldades” durante a crise de dívida que eclodiu na primavera.“Comprámos uma quantia importante de títulos [de dívida] europeus na época mais difícil, entre eles da Grécia, da Irlanda, de Espanha, de Portugal e de Itália”, recordou o primeiro ministro chinês, assegurando que vai continuar com esta política enquanto “os países do euro tiverem problemas”.

No entanto, pediu aos líderes políticos e empresariais europeus que parem de pressionar a China para que permita uma maior flutuação da sua moeda, uma vez que, consideram os chineses, uma valorização do yuan poderia provocar uma crise no gigante asiático, provocando a perda de milhares de empregos e um “desastre” para a economia de Pequim.

A valorização da moeda chinesa é uma exigência reiterada tanto dos Estados Unidos como da Europa, que defendem que um yuan baixo favorece as exportações chinesas mas penaliza os produtos norte-americanos e europeus.

Wen Jiabao, por seu lado, entende que os desequilíbrios comerciais entre a Europa e a China respondem mais à estrutura do comércio internacional do que ao baixo valor do yuan, como prova o facto de o excedente comercial chinês se ter multiplicado nos últimos anos, apesar da subida controlada do valor da sua divisa.

No encontro, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, exigiu às autoridades chinesas uma “apreciação do yuan ampla e ordenada” para evitar danos na recuperação económica da União Europeia.

MRA Alliance/Lusa

Europa vai continuar ensombrada por défices e dívidas, diz FMI

quarta-feira, outubro 6th, 2010

O Fundo Monetário Internacional (FMI) avisa que a Europa ainda tem um longo caminho pela frente antes de voltar a um crescimento económico consistente. A economia está finalmente a ganhar vigor mas o FMI adverte que a retoma continuará a ser moderada e desigual.

A Europa desenvolvida crescerá 1,7 e 1,6%, em 2010 e 2011, respectivamente. A Zona Euro avançará 1,7% este ano e 1,5% no ano que vem.

No que toca à maior economia da região, a Alemanha, a retoma será moderada apesar das fortes exportações nos últimos meses, porque os seus parceiros comerciais deverão ser menos expansivos. Depois de crescer uns previsíveis 3,3% este ano, deverá abrandar para 2% no ano que vem.

Também em França se espera um crescimento modesto, devido à fragilidade do consumo privado, ao elevado desemprego e à retirada das medidas de estímulo. O país deverá crescer 1,6% nos dois anos.

A Itália não apresenta melhores perspectivas, antes pelo contrário, já que um «persistente problema de competitividade limita o seu potencial de exportações, e a consolidação orçamental planeada deverá enfraquecer a procura». A economia italiana tem prevista uma expansão de 1% para os dois anos.

Também no Reino Unido a procura doméstica deverá ser fraca, especialmente depois das medidas de austeridade anunciadas. Este ano espera-se que cresça 1,7%, acelerando para 2% no ano que vem.

A vizinha Espanha ainda deve contrair-se 0,3% este ano e, no ano que vem, crescer 0,7%.

Europa emergente mais ousada

O conjunto dos países emergentes dentro do Velho Continente deverá liderar a expansão, crescendo 3,7% em 2010 e 3,1% em 2011.

Aqui, os países que resistiram melhor à crise deverão crescer mais, ajudados pela normalização do comércio internacional (Polónia, Turquia). No entanto, aqueles que viveram rápidos florescimentos internos ou têm balanços públicos ou privados vulneráveis deverão crescer mais devagar (Roménia e Hungria).

Apesar de alguns riscos continuarem a ameaçar a retoma europeia, surgiram também alguns dados que podem contrabalançar essas ameaças, como a actividade económica alemã acima do esperado.

Dívida pública: contágio ainda ameaça

O Fundo alerta que continua a ser elevado o risco de contágio nas crises de dívida soberana, especialmente entre as economias periféricas. O sistema bancário europeu continua muito dependente do apoio governamental e muito exposto à actividade económica, choques no mercado da dívida pública e dificuldades de financiamento.

Por isso mesmo, alerta, se estes problemas não forem tratados, a banca pode vir a sofrer de um renovado stress que pode contagiar a economia e alastrar mesmo aos países europeus em desenvolvimento.

A médio prazo, diz o FMI, o maior risco é que os desequilíbrios orçamentais e de competitividade nas economias periféricas e a incapacidade de proteger os bancos mais frágeis causem um período de crescimento económico fraco e crises ocasionais.

O relatório aplaude os planos de consolidação dos países europeus, que «vão no bom sentido». «Eles são correctamente diferenciados: as economias que enfrentam a pressão dos mercados ou graves restrições de financiamento externo (como a Grécia, Islândia, Irlanda, Portugal e Spain) têm ajustamentos maiores e mais rápidos».

Mas o FMI faz uma análise diferente quando olha para o médio prazo, sublinhando que os ajustamentos orçamentais «precisam de ser significativamente reforçados para garantir resultados permanentes».

Reformas ambiciosas que permitam a contenção da despesa «resultariam em maiores ganhos de credibilidade mais rápidos e com um custo mais baixo em termos de crescimento a curto prazo e atenuariam também a necessidade de medidas mais dolorosas no futuro».

MRA Alliance/IOL

Moldávia: Eleições ganhas por comunistas geram recontagem dos votos

sexta-feira, abril 10th, 2009

O Presidente da Moldávia, Vladimir Voronine, pediu ao Tribunal Constitucional a recontagem dos votos das eleições legislativas que deram uma vitória ao Partido Comunista com quase 50% dos votos. Os moldavos continuam a contestar nas ruas os resultados eleitorais de 5 de Abril considerando-os fraudulentos.

“Dirigi-me ao Tribunal Constitucional solicitando uma recontagem total e transparente dos votos nas eleições de 5 de Abril”, declarou Voronine, destacado militante comunista, de origem étnica romena, eleito democraticamente em 2001.

A oposição denuncia o processo eleitoral por alegadas fraudes nos cadernos eleitorais. “É uma farsa de Voronine para manipular a opinião pública. Ele pede uma recontagem dos votos, sabendo que as eleições foram falsificadas (…) no momento da elaboração das listas eleitorais”, acusou Serafim Urechean, líder da coligação oposicionista “Nossa Moldávia”.

Os observadores europeus que fiscalizaram o acto eleitoral consideraram que, globalmente, as eleições decorreram de acordo com as regras internacionais.

Voronine voltou a acusar a Roménia de estar por detrás da forte contestação popular aos resultados eleitorais. “O que nós sabemos hoje constitui já uma base de prova” do envolvimento das autoridades de Bucareste nas actividades da oposição que na sua opinião pretende levar a cabo um “golpe de Estado”.

O regime de Bucareste é acusado formalmente de organizar o envio de agitadores para Chisinau, capital da Moldávia, para desestabilizarem a situação interna na ex-república soviética, independente desde 1991. 

Como retaliação Chisinau expulsou o embaixador romeno e impôs vistos para controlo dos movimentos fronteiriços com a Roménia.

MRA Alliance/Agências

Holanda: Grupo ING vai receber 10 mm/bi em ajuda estatal

domingo, outubro 19th, 2008

O grupo financeiro holandês ING acordou com o governo uma injecção de capital de EUR 10 mil milhões/bilhões (mm/bi), informou hoje o Ministério da Economia. “Trata-se de uma grande soma que injectamos numa empresa saudável, por isso vemos o futuro com confiança”, declarou o ministro da tutela, Wouter Bos, durante uma conferência de impresa no final da tarde, em Amsterdão. “O governo holandês tem noção de que se trata de uma intervenção incomum no sistema bancário”, disse Bos, reafirmando que, se necessário, serão tomadas medidas para proteger os depositantes. Esta é a segunda intervenção do Estado holandês num banco em dificuldades. No início do mês, Haia comprou por EUR 16,8 mm/bi as participações holandesas do grupo bancário e de seguros Fortis, que opera no Benelux. O ING, maior banco da Holanda em capitalização bolsista, anunciou na sexta-feira que vai ter o maior prejuízo trimestral em quase 2o anos de actividade – EUR 500 mm/bi. Acompanhando as medidas de outros governos, o executivo holandês anunciara antes a criação de um fundo de EUR 20 mm/bi para a recapitalização das instituições financeiras. MRA Dep. Data Mining

“Mão Invisível” volta a atacar na terça-feira

sábado, outubro 18th, 2008

Os mercados tiveram esta semana uma resposta preocupante às acções concertadas dos governos de diversos países para evitar o colapso do sistema financeiro global. Os sinais do dinheiro e das bolsas, com o comportamento misto das taxas interbancárias e a grande volatilidade das acções, foram contraditórios. A crise sistémica, disseram os oráculos da economia de mercado, está a entrar no caminho da normalização. A retórica mantém-se em conflito permanente com os factos e com a aritmética. Os sinais menos perceptíveis à vista desarmada, pelo contrário, revelam que a crise está longe da solução. O índice de confiança dos consumidores americanos caíu para o nível mais baixo de sempre e os preços das habitações também caíram para o nível de há 26 anos. Os sectores que detonaram a crise – imobiliário e hipotecário – mostram sinais de depressão tendencialmente severa. Um deles, os Títulos do Tesouro, a principal ferramenta do endividamento público dos Estados Unidos, não engana. A procura de títulos a 10 anos caiu, pela segunda semana consecutiva, quando o governo Bush anunciou um défice orçamental recorde de USD 455 mil milhões/ bilhões (mm/bi), relativo ao ano fiscal que terminou em 30/09. O cenário vai piorar quando o Tesouro for criando mais dívida no âmbito do programa para salvar o sistema financeiro. Na semana que agora termina, a taxa de juro dos TT americanos a 10 anos subiu 0,06% e fixou-se nos 3,93 %. O dinheiro que o governo americano vai ser obrigado a pedir emprestado está a ficar mais caro. Quando os novos títulos chegarem ao mercado vamos assistir à queda dos preços e à subida das taxas. No mercado europeu, o indicador LIBOR apontou na mesma direcção. Esta semana os spreads entre várias taxas interbancárias mostraram que os bancos continuam a não emprestar dinheiro entre si e a racionar o crédito às empresas e aos particulares. Apesar das intervenções massivas dos bancos centrais e dos governos, os banqueiros comerciais estão a guardar numerário como tesouro de guerra, prevenindo o aprofundamento da crise de confiança – crédito, dívida e recessão mundial. Para complicar as coisas os CDS/Credit Default Swaps do banco Lehman Brothers, a espada de Dâmocles que balança sobre o mundo financeiro, regressam á agenda na próxima terça-feira. Os que ofereceram seguros de crédito a quem receava pela solvência do banco de investimento vão ter que pagar boa parte dos valores contratados – USD 400 mm/bi. Os nomes mais sonantes do planeta – americanos, europeus, asiáticos etc. – vão estar presentes. A sessão de credores pode ser uma verdadeira carnificina. Na reunião anterior, há duas semanas, bancos, seguradoras e hedge funds concordaram que pagariam 91 cêntimos por cada dólar perdido. Entre os nomes mais sonantes encontram-se: Dexia, com EUR 500 milhões de títulos, que já recebeu uma injecção de EUR 6,4 mm/bi por parte dos governos; Swedbank USD 1,2 mm/bi; Freddie Mac USD 1,2 mm/bi; State Street USD mil milhões/um bilhão; Allianz EUR 400 milhões; BNP Paribas EUR 400 milhões; AXA EUR 300 milhões; Intesa Sanpaolo EUR 260 milhões; Raffeissen Bank EUR 252 milhões; Unicredit EUR 120 milhões; ING EUR 100 milhões; Danske Bank USD 100 milhões; Australia e New Zealand Bank USD 120 milhões; Mistubishi USD 235 milhões; China Citic Bank USD 76 milhões; China Construction Bank USD 191 milhões; Industrial Commercial Bank of China USD 152 milhões; Bank of China USD 76 milhões. Estes são apenas alguns. A lista é imensa. O pânico nos mercados é proporcional. MRA Dep. Data Mining

Benelux: Governos iniciam processo de nacionalização do banco Fortis

segunda-feira, setembro 29th, 2008

O banco Fortis foi parcialmente nacionalizado pelos governos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo (Benelux) para evitar as consequências económicas e sociais da falência do maior grupo financeiro belga. O Estado belga vai comprar 49% das operações na Bélgica por EUR 4,7 mil milhões/bilhões (mm/bi). A Holanda pagará EUR 4 mm/bi por uma participação idêntica nas operações holandesas. O Luxemburgo concedeu um empréstimo, convertível em 49% das acções, no valor de EUR 2,5 mm/bi. O ministro holandês das Finanças Wouter Bos afirmou à televisão holandesa NOS que o governo “está a comprar poder no banco para ter maior influência nas decisões que vão ser tomadas. Isso, é o que os depositantes necessitam nesta altura.” A afirmação de Bos significa que a operação de salvamento iniciou o processo de nacionalização, o qual será concluído caso a crise se agrave e o banco demonstre incapacidade para resolver os problemas de liquidez. O conglomerado do sector bankassurance precisa refinanciar EUR 10 mm/bi em títulos com maturidades até ao final de 2009. No final de Junho, a sua carteira em instrumentos derivativos – CDO’s e MABS’s – somava EUR 41,7 mm/bi. No primeiro semestre do ano, o Fortis registou perdas nos lucros antes de impostos superiores a EUR 918 milhões. MRA Dep. Data Mining