A polícia da Noruega confirmou que o suspeito pelos ataques de Oslo e Utoya que causaram 93 mortos publicou um longo manifesto de mais de 1500 páginas horas antes da matança. O extenso documento, uma mescla de manifesto político, diário e manual de instruções, revela planeamento ao ínfimo pormenor feito ao longo de anos por um homem anti-islâmico, xenófobo e violento. No dia dos ataques, Anders Behring Breivik escreveu no documento em inglês intitulado “2083 – A European Declaration of Independence”: “Acredito que esta vai ser a minha última entrada”.
No final do documento aparecem várias fotografias do suspeito dos atentados. Nessas imagens aparece o mesmo homem que tem sido identificado pelos media como o alegado autor dos atentados e que surge armado com uma arma sofisticada, com mira telescópica, e envergando um fato anti-radiações.
Eis alguns dos pontos do documento alegadamente escrito por Anders Behring Breivik, num resumo preparado pela CNN:
– O autor descreve-se como um “Cavaleiro Justiceiro – Comandante dos Cavaleiros Templários Europeus” e um dos vários líderes do movimento nacional e pan-europeu de resistência patriótica;
– Antecipa uma guerra civil na Europa em três etapas, a última das quais terminaria em 2083 (daí o título do documento) com a execução dos “marxistas culturais” e com a deportação dos muçulmanos;
– A primeira etapa dessa guerra civil, que decorreria até 2030, teria como características a guerra declarada e a progressiva consolidação das forças conservadoras;
– Entre 2030 e 2070, o autor prevê “formas mais avançadas de resistência das forças conservadoras e a preparação de um golpe de Estado pan-Europeu;
– A etapa final – em que o autor estima que os países europeus terão uma média de entre 30 e 50 por cento de população muçulmana – irá centrar-se na “execução do multiculturalismo e do Marxismo cultural”, bem como dos “traidores”, na deportação dos muçulmanos e na “implementação da agenda política e cultural conservadora” em todo o Continente Europeu;
– O autor diz que, pessoalmente, tem sido atacado repetidamente por muçulmanos: “‘Só vivi oito assaltos, tentativas de assalto e múltiplas ameaças. Nunca fui roubado ou espancado severamente por muçulmanos (um nariz partido foi o mais grave que me ocorreu) mas conheço mais de 20 pessoas que o foram. Conheço pelo menos duas raparigas que foram violadas por muçulmanos e tenho conhecimento de mais dois casos. Uma rapariga foi cortada na cara por muçulmanos”.
– Radovan Karadzic – o sérvio-bósnio acusado de genocídio – é nomeado pelo autor como uma das pessoas que ele gostaria de conhecer, negando que este seja “um assassino e um racista” e dizendo, ao invés, que “pelos seus esforços de tentar livrar a Sérvia do Islão ele deveria ser considerado e recordado como um honrado cruzado e um herói de guerra europeu”;
– O autor diz que se sentiu compelido à acção depois de o governo norueguês ter participado nos bombardeamentos de 1999 contra Belgrado durante a guerra do Kosovo, tendo por alvo o inimigo errado – “os nossos irmãos sérvios que queriam expulsar o Islão deportando os muçulmanos albaneses de volta para a Albânia”.
– O autor acusa o primeiro-ministro norueguês Jens Stoltenberg e o seu Partido Trabalhista de perpetuarem os ideais “culturais Marxistas e multiculturalistas” e de doutrinarem a juventude com estas ideias;
– “A situação é caótica”, escreve o autor, notando que “milhares de muçulmanos” entram anualmente no país. “Estes traidores suicidas têm de ser parados”, escreve o autor;
– O manifesto debruça-se ainda sobre o cenário hipotético de o autor sobreviver a uma missão bem sucedida para tentar acabar com o multiculturalismo: “Quando acordar no hospital, depois de ter sobrevivido às balas, percebo que […] acordo num mundo de merda, um pesadelo real. Não só todos os meus amigos e a minha família me odeiam e me chamam monstro como os media do mundo global multicultural vão arranjar múltiplas maneiras de me chamar assassino”, de me “vilipendiarem e de me diabolizarem”;
– “Tenham extrema atenção quando fizerem pesquisas por bombas usando fertilizante, já que muitos dos termos irão espoletar alertas electrónicos”, escreveu o autor, que aconselha a que os curiosos usem “portáteis anónimos” e redes sem fios de locais como o McDonalds, de forma a evitarem constar numa lista monitorizada pelas autoridades;
– O documento – que em algumas partes funcionou igualmente como um diário pessoal, onde comentava a vida de familiares e amigos – tornou-se mais “profissional” a partir do dia 2 de Julho, dia em que o autor confessa estar mais “agressivo” graças à toma de suplementos de testosterona. – Nas vésperas dos ataques, o autor escreve: “O velho ditado ‘Se quiseres uma coisa feita, fá-la tu próprio’ é mais relevante que nunca”.
– A última entrada data do dia dos ataques: “Acredito que esta será a minha última mensagem. Hoje é dia 22 de Julho, sexta-feira, e são 12h51”.
MRA Alliance/Público