Depois de duas semanas de escutas telefónicas que indiciam uma participação da PT num eventual plano do Governo Sócrates para controlar a comunicação social, Henrique Granadeiro declarou sentir-se “encornado” após ler as transcrições reveladas pelo jornal Sol. Em declarações ao Diário de Notícias, o chairman da PT, disse ainda que irá procurar resolver “as questões internamente”.
Se à revista Visão admitiu que “não sabia nem desconfiava” do alegado envolvimento da empresa nesse plano – “Pode ter acontecido, à minha revelia” – ao DN acrescentou que “se for essa a conclusão a que se chegue”, convocará uma assembleia-geral de accionistas para discutir a matéria.
Nos últimos dias, Henrique Granadeiro surgiu, numa primeira fase, a corroborar as declarações do primeiro-ministro José Sócrates quanto ao facto de este não ter tido conhecimento do andamento do negócio da compra da TVI.
Contradições
A 24 de Junho de 2009, Sócrates garantiu no Parlamento desconhecer o negócio. Porém, Granadeiro começou por dizer que, “por cortesia”, informou o chefe do Governo no dia 23 de Junho, antes de a empresa enviar um comunicado à CMVM. Todavia, Sócrates, a 24, disse não saber de nada. Henrique Granadeiro veio outra vez a público para clarificar que, afinal, contou ao primeiro-ministro apenas no dia 25 de Junho, num jantar na casa do então ministro Manuel Pinho, o que anula o argumento do gesto de “cortesia”.
Ao DN, Henrique Granadeiro também revelou algum desconforto com o facto de dois administradores da PT, Rui Pedro Soares e Soares Carneiro, afectos ao partido do Governo, terem avançado com uma providência cautelar para tentar impedir a saída para a bancas do jornal Sol que publicou o conteúdo das escutas.
Questionado se é possível que a compra da TVI tenha sido decidida e que um contrato para esse efeito já estar a caminho de Madrid (sede da Prisa) e o chairman da PT estar, alegadamente, a leste, Granadeiro respondeu: “Pois. Também duvido que a comissão executiva estivesse ao corrente.”
Esta declaração levanta muitas dúvidas sobre quem, efectivamente, na comissão executiva da empresa estaria ao corrente. Em Junho de 2009, numa entrevista à RTP, Zeinal Bava, presidente executivo da empresa, garantiu: “Estamos a discutir potenciais parceiros, o tema [compra da TVI] nem sequer foi abordado na comissão executiva, nem devia, até nós termos maturado o tema.”
As escutas telefónicas mostram, porém, que a caminho de Madrid, estava já um contrato para a compra da estação aos espanhóis da Prisa. Este documento terá sido apreendido pela PJ, já que o e-mail de Paulo Penedos (advogado da PT) se encontrava vigiado pelos investigadores do processo “Face Oculta”.
Audições
O CDS-PP, pela voz de Ribeiro e Castro, pediu urgência na audição parlamentar de Henrique Granadeiro, presidente da PT, mas a prioridade do presidente da comissão foi outra.
Ontem, ficou a saber-se que o social-democrata Marques Guedes já marcou para o dia 25 a audição de Rui Pedro Soares, o administrador da PT que interpôs a providência cautelar ao jornal “Sol”. Um dias antes, será a vez de Paulo Penedos, filho do presidente da REN e constituído arguido no processo Face Oculta.
Ainda no âmbito das audições sobre o exercício da liberdade de expressão em Portugal, a comissão, que na próxima sexta-feira ouvirá Armando Vara, agendou também para o dia 25 o jornalista João Maia Abreu, ex-membro da direcção de informação da TVI. Um dia antes, será ouvido Henrique Monteiro, director do Expresso. Para o dia 23 estão marcadas as audições dos directores do “Sol”, José António Saraiva, e do JN, José Leite Pereira.
A urgência na audição de Henrique Granadeiro foi justificada pelo ex-líder do CDS-PP com a necessidade de serem esclarecidas “as várias contradições” sobre o alegado conhecimento que o primeiro-ministro teve da intenção de compra da TVI pela PT.
MRA Alliance/DN