À medida que passam os dias, é cada vez mais claro que a chamada «crise financeira» está a transformar-se, antes de tudo, numa questão de direitos humanos.Todos (os homens) são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. (artº 7º da DUDH).
Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país (artº 22 da DUDH).
Todo o sistema em que alicerçamos os nossos projetos de vida está hoje posto em causa por razões que são conhecidas e que, no essencial, assentam em processos fraudulentos, sem que os estados tenham a coragem de os enfrentar como tal e, ao invés, tudo preparam para que seja a Humanidade (que é o conjunto de gente séria e trabalhadora, que produz riqueza) a pagar as vigarices que estão na raiz da crise.
Um desgraçado que furte uma carteira em qualquer estação de metro da Europa ou dos Estados Unidos é preso.
Os responsáveis pela apropriação ilegal de biliões de dólares que pertenciam aos que, de boa fé, acreditavam no respeito pelas leis e na supervisão, estão à partida absolvidos por uma cambada de dirigentes corruptos, que têm como único desígnio enganar-nos e ludibriar a Humanidade, para encobrir os ladrões.
A intervenção que essa canalha faz ao nível do sistema global – contra todas as regras que andaram a apregoar durante dezenas de anos – pode conduzir-nos a nós às futuras gerações a uma situação de miséria, enquanto os que se locupletaram às custa da boa fé dos demais guardarão para si o produto da apropriação indevida.
O que todos tentam hoje – começando por Obama Brown na cimeira do G-20 – é mudar as regras a meio do jogo, branqueando as vigarices que durante os últimos anos nos conduziram a esta situação.
Os auditores que encobriram as situações que permitiram o logro, continua a ser os auditores mais respeitados, quando, pura e simplesmente, deveriam ser irradiados do sistema.
A lógica é «quem roubou roubou… vamos pensar no futuro» deixando os ladrões com o que roubaram.
Só que o produto do roubo é tão grande, que ficarão desgraçadas, arruinadas, infelizes, centenas de milhar de famílias. E continuam a mentir-nos, a enganar-nos todos os dias, a usar-nos todos os dias. Quando, graças à evolução tecnológica é possível apurar tudo e responsabilizar quem tem que ser responsabilizado, garantindo previamente que o produto dos roubos pode ser preservado.
A questão da supervisão e a questão dos offshores são importantes.Mas muito mais importante do que regular o futuro é encontrar e preservar o que foi indevidamente apropriado no passado recente.
A solução da crise passa por aí. Por obrigar os que enriqueceram indevidamente a devolver o que roubaram. Também nessa matéria é válido o princípio de Lavoisier, que diz, para quem não se lembra que «na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma».
O sistema faliu, literalmente. E a maioria destes senhores que ouvimos diariamente nas televisões estão a enganar-nos, encobrindo factos, a beneficio de uma estratégia de proteção dos ladrões.
O que está a ocorrer – com a omissão de perseguição dos responsáveis pela crise – é um crime contra a Humanidade, muito mais grave que qualquer dos massacres dos últimos vinte anos.
Mais grave do que o passado é que se continue a enganar as pessoas de boa fé, influenciando-as a jogar no mesmo casino.
Lastimável é que nesta Europa podre e sem lideres, vergada à liderança afirmada por Obama, só a França, encostada no Brasil, e a Alemanha, mais pragmática mas mais discreta, tomem posição perante a palhaçada da reunião de Londres.
E a Justiça?
É muito triste, mas mesmo que o Direito nos diga que haveria razões para litigar, perdeu-se a fé.Poucos juízes terão a coragem de enfrentar quem nos enganou nos últimos dois anos.Mas vale a pena tentar. Os jornais, os relatórios dos auditores, os relatórios das companhias estão aí publicados e ninguém os conseguirá destruir. Neles estão as melhores provas das vigarices que hipotecaram as poupanças de milhões de pessoas que, de um dia para o outro, foram conduzidas à miséria e que, gerando um tal desequilíbrio, afetaram a vida de toda a gente.
Por isso a Justiça deveria ser implacável no julgamento da mentira.
Haja coragem…
Miguel Reis
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