As acções cotadas nos chamados BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – têm revelado uma supreendente resiliência face ao descalabro dos mercados de capitais das soberbas e poderosas praças financeiras internacionais (de Nova Iorque a Londres, passando por Tóquio e Frankfurt). As raras oscilações não obscureceram um histórico de cinco anos de sólido e consistente crescimento.
O respectivo índice bolsista – MSCI Emerging Markets Index – subiu mais de 56% nos últimos12 meses, e impressivos 33% desde o histórico 16 de Agosto – o fatídico dia do generalizado colapso dos mercados globais – em que se evaporaram vários milhões de biliões (trilhões) de dólares – e que o crédito interbancário entrou perigosamente no vermelho…
Nos mercados asiáticos, as bolsas de Singapura, Hong Kong, Seoul e Sydney destacam-se pelo desempenho, com subidas sustentadas e apreciáveis. Porém, segundo a Reuters, o grupo BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – tem sido o invencível Bando dos Quatro.
O índice da Bolsa de Xangai (Shanghai Composite) subiu “apenas” 419% (quatrocentos e dezanove por cento) desde o início de 2006. O índice bolsista indiano Sensex valorizou-se 103%. O paulista Bovespa subiu 88%. China, Brasil, Índia, acompanhados pelaa Coreia do Sul, Hong Kong e México, “em 2007, registaram consecutivos recordes no fecho de sessões durante 30 dias.
As luzes no fundo dos “buracos negros”
Os investidores agressivos e optimistas «bulls» apostam que os quatro magníficos, e alguns dos seus seguidores, serão os salvadores das deprimentes «performances» dos ricos e aristocráticos mercados de capitais do hemisfério norte. O seus sistemas imunitários parecem passar os testes mais exigentes para avaliação da respectiva saúde financeira.
Os pujantes indicadores fundamentais das economias BRIC & Cia., o crescente consumo interno e a explosão do preço das «commodities» são sinais de que, contrariamente a um passado não muito distante, os mercados emergentes da febre da globalização, estão de saúde e recomendam-se. Embora as interligações e interdependências das ricas e prósperas economias ocidentais, como muitos economistas ainda classificam o desempenho económico de países como os EUA e a Grã-Bretanha, apesar de exalarem desagradáveis odores de recessão e suores frios, os «emergentes» fazem questão de mostrar que “a tradição já não é o que era”. Empresas dinâmicas, lucrativas e competitivas, governos mais rigorosos e disciplinados na gestão das finanças públicas, e consumidores, a despeito de algum “desaperto” financeiro, continuam com elevadas taxas de poupança, ameaçam a eterna superioridade dos super ricos. Cada vez é menor a sua quota parte no PIB mundial.
Em apenas 1/4 de século a China passou de 50.ª maior contribuinte para a riqueza produzida no mundo para, em 2007, se alcandorar à 3.ª posição, à frente da poderosa Alemanha, e apenas atrás do Japão e dos EUA. As economias emergentes, os quatro BRIC + o G11 (entre os quais se encontram o Vietname, Bangladesh, México e África do Sul, para citar apenas alguns) criam mais riqueza mundial, do que os chamados países industrializados (liderados pelos fundadores do velho G7- EUA, Canadá, Grã-Bretanha, Japão, Alemanha, França e Itália.
Este é o primeiro facto histórico da economia global do III Milénio. O pagadigma mudou. Os impérios do eixo atlântico, nos últimos 25 anos, viram os centros de poder e decisão migrar para a Ásia-Pacífico e para o “cone sul” do hemisfério.
Neste capítulo a “supremacia do petrodólar” é, passe o pleonasmo, paradigmática da mudança de paradigma – a acelerada agonia e a deslocação dos centros do poder geopolítico e financeiro para outras latitudes e longitudes. Podemos até abdicar da álgebra e ficarmo-nos pela mais simples aritmética, tão simples são as variáveis a considerar nesta contabilidade. A erosão do valor do dólar gera a apreciação sustentada dos activos não «dolarizados». Os resultados são diários. Impressionam os mercados de divisas pela violência das flutuações cambiais. Yuan, Yen, Real, Rublo, Euro e outros Dólares (canadiano, australiano e neozelandês) coleccionam recordes sucessivos sobre a morbidamente obesa «greenback». O seu valor encolhe na razão directa da velocidade supersónica a que sai das tipografias do banco emissor americano. O real brasileiro, desde Janeiro, caminha para uma taxa de valorização face ao dólar americano de 20%. Nem as compras de dólares por atacado, através das intervenções do Banco do Brasil, conseguiram suster a hemorragia do dólar. As fugas dos investidores da zona dólar para moedas mais atractivas são inevitáveis. E, embora para alguns, já estejam a encarecer demasiado, por enquanto, não têm bolhas especulativas a antecipar os inevitáveis afundanços. Finalmente, um detalhe curioso: Emerging Portfolio Fund Research, fez a contas e chegou à seguinte conclusão – entre Janeiro e 15 de setembro deste ano, o fluxo líquido total de capitais estrangeiros que entrou nos mercados emergentes totalizou USD 19 mil milhões/bilhões (mm/bi). Destes, USD 14 mm/bi de dólares “voaram” para os exóticos destinos nas últimas cinco semanas do referido período. Sinal dos tempos…
Pedro Varanda de Castro
MRA – Dep. Data Mining
Consultor