Porfírio “Pepe” Lobo reivindicou a vitória nas eleições presidenciais de domingo apresentando-se como o candidato da “reconciliação” nacional. Não terá, no entanto, uma tarefa fácil. Porfírio Lobo obteve 56% dos votos contra 37% de Elvin Santos, o candidato derrotado do Partido Liberal.
Candidato pelo Partido Nacional (direita) com 61 anos, vencido em 2005 pelo deposto presidente Manuel Zelaya, precisa de mais do que apenas carisma para reconciliar uma sociedade dividida pelo golpe de estado de 28 de Junho que paralisou o país da América Central.
O novo Presidente das Honduras terá a tarefa árdua e difícil de convencer os governos da América Latina, e são muitos, que não reconhecem a legitimidade dessas eleições e que continuam a exigir o regresso ao poder do presidente deposto Manuel Zelaya como forma de retorno à democracia e ao convívio das nações democráticas.
Profírio Lobo, filho de uma rica família oligárquica de Olancho, concelho de onde é também natural Manuel Zelaya, é uma personalidade muito ligada à terra, sendo um dos grandes produtores de milho e soja, num país essencialmente agrícola.
Enfileirando com a direita mais conservadora das Honduras, Lobo fez de tema principal da sua campanha eleitoral a segurança, num país onde a taxa de homicídios por habitante se eleva a 58 em mil, o que constitui uma das mais elevadas taxas mundiais.
Defensor da pena de morte e de uma politica dura contra os gangues que assolam aquele país é apesar de ser um homem da direita, visto com desconfiança pelos sectores mais ultra-conservadores do país que o vê como a segunda escolha de Hugo Chávez – o presidente odiado da Venezuela – depois de Manuel Zelaya.
Lobo durante a campanha eleitoral nunca advogou a saída do seu país da ALBA, bloco anti – liberal latino-americano, cujo líder é precisamente o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Foi precisamente Manuel Zelaya que assinou em nome das Honduras, a adesão deste país centro-americano a esse bloco em 2008, enraivecendo uma parte dos seus aliados do Partido Liberal (de direita)
Porfírio Lobo terá com o seu partido um papel essencial e determinante na decisão do Congresso no próximo dia 2 de Dezembro quanto ao regresso ao poder de Manuel Zelaya para concluir o seu mandato. Os seus 55 lugares poderão juntando-se aos 26 de Manuel Zelaya garantir esse regresso, ou não.
Antes de domingo, dia da eleição, Lobo não se pronunciou sobre o tema afirmando apenas que “a decisão que o grupo parlamentar (do seu partido) tomar irá no sentido da paz”.
Honduras dividem Cimeira Ibero-americana
O ministro dos Negócios Estrangeiros português afirmou hoje, no Estoril, que há “divergências muito grandes” em relação à situação nas Honduras entre os 22 Estados-membros da Comunidade Ibero-americana, pelo que está a ser difícil encontrar uma posição comum durante a reunião a decorrer na estância balnear portuguesa.
“Ou há uma solução que contribua para o processo de estabilização na Honduras, ou não vale a pena”, disse Luís Amado, que se manifestou esperançado que até amanhã ainda se consiga o necessário consenso para elaborar um comunicado conjunto.
Enquanto os países mais próximos dos Estados Unidos, que patrocinaram o acordo que permitiu a realização das eleições nas Honduras, são a favor da sua legitimação, os restantes estão contra. “Não vale a pena ficarmos numa guerra de trincheiras para saber quem tem razão”, sublinhou Luís Amado.
Questionado sobre a posição portuguesa, o ministro disse que “Portugal tem uma”, mas como país anfitrião o seu papel é negociar uma declaração e encontrar parâmetros de referência em que todos se revejam. Luís Amado afirmou que Portugal também não pode ignorar as eleições, bem como outros factos, tais como a permanência de Zelaya na embaixada brasileira.
Na cimeira, Espanha anunciou que é contra a legitimação das eleições, mas que “não pode ignorá-las”, uma expressão que está a ser vista como uma eventual saída diplomática para encontrar o tal “consenso”.
MRA Alliance/Agências