A China e a Rússia deram ontem mais um passo decisivo para o que o dólar perca a médio prazo o estatuto de moeda âncora do sistema financeiro mundial e de divisa de referência nas trocas comerciais globais. A decisão foi anunciada pelos chefes dos governos chinês e russo, Wen Jiabao e Vladimir Putin, respectivamente, durante um encontro realizado em São Petersburgo.
“Sobre os acordos comerciais, decidimos usar as nossas próprias divisas [rublo e yuan]” disse Putin na conferência de imprensa que marcou o final das conversações com Wen. Os dois países assinaram 12 acordos comerciais e de cooperação, designadamente nas áreas da energia, minérios, aviação e transportes ferroviários, no valor de centenas de biliões de rublos.
Desde a agudização da crise financeira global, em Setembro de 2008, foi crescendo o número de especialistas chineses e russos, nas mais altas esferas da governação, que preconizam o abandono do dólar como moeda de referência global devido aos elevados riscos de volatilidade e de forte instabilidade da divisa americana, exacerbados pela colossal dívida pública e pelos gigantescos défices orçamentais crónicos dos Estados Unidos.
Sun Zhuangzhi, um destacado investigador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim, considera que a decisão agora tomada segue uma tendência generalizada a nível mundial após as vulnerabilidades do dólar terem sido evidentes desde 2008. Por seu turno, Pang Zhongying, especialista de política internacional na Universidade Renmin, disse que o acordo cambial não pretende desafiar o dólar mas tão somente diminuir os riscos associados à divisa dos EUA.
No mercado interbancário chinês o yuan já está a ser trocado contra o rublo. O mesmo acontecerá em breve no mercado interbancário russo nas transacções rublo-yuan. Esta situação foi caracterizada por Putin como “um passo importante no comércio bilateral” que resulta “da consolidação de sistemas financeiros de países com dimensão global”.
Wen elogiou o facto de as relações entre Pequim e Moscovo “terem um nível sem precedentes” e prometeu que os dois países “nunca serão inimigos um do outro”. “A China continuará firme no caminho do desenvolvimento pacífico e no apoio ao renascimento da Rússia como grande potência”, disse o chefe do governo de Pequim.
Hoje, Wen Jiabao está em Moscovo para um encontro com o presidente russo Dmitry Medvedev.
MRA Alliance/People’s Daily