Basílio Horta deve ser o próximo chefe da diplomacia lusitana

A ida de Basílio Horta para o Ministério dos Negócios Estrangeiros já era dada ontem ao i como certa por fontes da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. O presidente do AICEP é apontado como sucessor de Luís Amado na pasta da diplomacia e o renascer da polémica em torno dos voos da CIA deverá acelerar um processo que já estava em marcha.

Luís Amado foi ontem novamente chamado ao Parlamento para voltar a esclarecer os deputados sobre os voos da CIA que fizeram escalas em aeroportos portugueses sob cumplicidade do governo. Esta não é a primeira vez que o ministro dos Negócios Estrangeiros vai falar sobre o assunto no Parlamento.

A terceira intervenção de Amado foi ontem exigida pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda, que pediram a presença do ministro na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas para prestar esclarecimentos sobre a utilização do espaço aéreo português pelos serviços secretos norte-americanos. O grupo parlamentar do PCP entregou à comissão parlamentar um requerimento de uma audiência “com carácter de urgência”.

O pedido surge um dia depois do site WikiLeaks ter divulgado um telegrama assinado pelo porta-voz da embaixada dos Estados Unidos em Lisboa, que dá como certa a informação de que Portugal tinha conhecimento das escalas dos voos da CIA com terroristas repatriados, uma informação sempre negada pelo ministro Luís Amado.

Ontem, o porta-voz de Luís Amado disse que o ministro nada tem a acrescentar ao que foi afirmado em sede de comissão parlamentar e no âmbito do inquérito aberto pela Procuradoria-geral da República, arquivado em Junho de 2009.

A primeira visita de Amado ao Parlamento para explicar o assunto foi a 6 de Setembro de 2006, pouco depois do caso ter sido conhecido. Na altura, Luís Amado negava ter conhecimento de que a CIA tivesse feito passar pelo país qualquer voo.

No mês seguinte, Amado admitiu a passagem de voos da CIA por Portugal. “Falam-me em 170 voos suspeitos e eu até admito que grande parte deles sejam da CIA, pois é uma organização internacional que anda pelos quatro cantos do mundo e decerto passa pelo espaço aéreo português, mas não há provas”, disse Luís Amado a 19 de Outubro de 2006.

Em Dezembro de 2008, confrontado com uma notícia do “El País” que dava conta do envolvimento português nos voos, Amado disse apenas: “Não tenho conhecimento de nenhum documento nos arquivos do Ministério dos Negócios Estrangeiros ou do Ministério da Defesa que comprometam qualquer dos governos que estiveram em funções em Portugal relativamente a essa matéria”.

Na segunda visita ao Parlamento, a 16 de Fevereiro de 2007, ameaçou com a demissão: “Se me provar isso, demito-me no dia seguinte”. Nessa altura o ministro negou redondamente a cumplicidade do governo português nos voos ilegais da CIA com escalas em aeroportos portugueses e reforçou desconhecer o transporte ilegal de suspeitos terroristas.

No mês anterior, Amado acusou a comissão temporária do Parlamento Europeu sobre os voos secretos de falta de rigor, parcialidade e desinformação, numa carta enviada ao eurodeputado Carlos Coelho. O ministro escrevia na altura que “as tão faladas e equívocas listas de passageiros” não tinham sido transmitidas à comissão porque “não há listas de passageiros nos serviços administrativos competentes para avaliar os pedidos de autorização de sobrevoo e aterragem”. Também José Sócrates garantia em Janeiro de 2008, no parlamento: “Nunca aconteceu termos sido consultados e termos autorizado”.

António Martins da Cruz, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, disse ontem que a actuação do governo português neste caso deve ser apoiada. “Penso que não há nada a apontar. As pessoas tendem a esquecer-se que nós somos aliados dos Estados Unidos. Não se trata de um país hostil, mas de um país amigo, nosso aliado na NATO e, aliás, no qual repousa a defesa do nosso território”, disse Martins da Cruz.

A postura de Amado foi também elogiada pelo candidato à Presidência da República, Fernando Nobre. A direcção do PSD não vai reagir ao caso dos voos da CIA, segundo avançou fonte do partido ao i.

MRA Alliance/ionline 

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