Angola pressiona Petrobras para recuar na Galp e quer impor solução accionista

No Verão passado, a Petrobras suspendeu a compra da participação da Eni na Galp – de 33,34% – até o Brasil eleger um novo presidente e agora comunicou que desistia de entrar na Galp Energia. A notícia, avançada pela Reuters e pelo “Expresso”, foi confirmada ao i online por uma fonte ligada à empresa brasileira.

A decisão da administração da Petrobras, comunicada terça-feira à noite, apanhou de surpresa os envolvidos no negócio, uma vez que os termos da transacção, incluindo o preço, estavam fechados, e até existiam esboços de contratos.

A única explicação para este recuo, ao que parece decisivo, está na crescente pressão angolana contra um negócio entre a Petrobras e a Eni que deixava de fora os objectivos da Sonangol e da holding de Isabel dos Santos para a Galp. O desconforto e os recados crescentes do lado angolano terão sido o argumento decisivo usado por aqueles que dentro da Petrobras estavam, desde o início, contra a compra de uma participação na Galp. A operação era sobretudo apoiada pelo poder político brasileiro próximo do ex-presidente Lula da Silva.

Depois de ter ameaçado vetar a venda de 25% do capital detido pela Eni à Petrobras, e após uma reunião inconclusiva com a Amorim Energia, os representantes angolanos terão vindo a Lisboa falar com o primeiro-ministro.

Fontes próximas do negócio confirmaram ao i que estava marcada para o final de ontem uma reunião com José Sócrates e o advogado António Vitorino, e o presidente da Sonangol, Manuel Vicente, e o chefe da casa civil do presidente angolano, Carlos Feijó. A notícia, avançada pelo “Diário Económico”, não foi confirmada pelo gabinete do primeiro-ministro.

A aparente desistência da Petrobras torna mais difícil uma solução accionista para a Galp e cria um sério embaraço ao governo português. De um lado está a italiana Eni, que sempre disse que, se não pudesse garantir o controlo da empresa portuguesa, vendia. A alienação será ainda o objectivo da Eni, mas vai demorar mais tempo a concretizar, apesar de os italianos dizerem que há interessados.

Do outro lado está a Sonangol que, em teoria, está disponível para ficar com a participação total da Eni na Galp. Mas esta solução não é do agrado do governo português, que ambiciona manter algum poder accionista em mãos nacionais. Por outro lado, se os capitais angolanos são bem-vindos na compra de participações importantes, mas minoritárias, em grandes empresas, como o BCP, o BPI ou a Zon – até para ajudar os empresários nacionais a crescer em Angola -, o cenário muda quando está em causa o controlo de um dos mais importantes grupos.

No meio deste complexo xadrez está Américo Amorim. O empresário trouxe a Sonangol e Isabel dos Santos para a sua holding, a Amorim Energia, que é accionista da Galp com a mesma participação da Eni (33,34%). Mas nos últimos meses tem sido o principal obstáculo a uma entrada directa com uma posição relevante dos capitais angolanos na Galp. O Estado português é o árbitro neste jogo, já que através da Caixa tem direito de preferência na compra das restantes participações – CGD e Parpública são donos de 8%. Só que agora não tem recursos financeiros para fazer a aquisição. Os empresários e os bancos nacionais também não.

MRA Alliance

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