Nouriel Roubini, conhecido por ter previsto a mais recente crise global, disse hoje em entrevista à CNBC sobre a Zona Euro que, no caso da Irlanda, há já “demasiada dívida privada” e que o FMI e a UE estão a braços com imensas dívidas soberanas.
Referindo-se à Irlanda, o professor de Economia da Universidade de Nova Iorque afirmou que “decidimos socializar as perdas do sistema bancário privado. Agora temos um enorme aumento da dívida pública – a passar de 7% para 100% do PIB. Em breve representará 120%”.
Aludindo em seguida ao resto da Europa, Roubini disse que a Grécia está já nos 120%. Com tanta dívida pública para gerir, com os Estados que resgataram os seus bancos a revelarem-se agora em apuros, o economista deu a entender que neste dominó de resgates, os próprios credores acabam por ver o seu dinheiro esgotado. Para ele, as tentativas de intervenção só intensificam a magnitude dos problemas com a dívida pública.
“Agora temos um punhado de super-soberanos – FMI, UE e Zona Euro – a resgatar estas dívidas soberanas”, declarou. Mas, a dado ponto, até isso deixa de ser possível. “Não vai haver ninguém a vir de Marte ou da Lua para resgatar o FMI ou a Zona Euro”.
“A determinada altura”, sublinhou, “é preciso reestruturar”. “A determinada altura, os credores da banca terão de parar – caso contrário, coloca-se toda esta dívida no balanço do governo. E então mete-se o governo em apuros – e fica insolvente”.
Portugal é o próximo
Para Roubini, que é também “chairman” da empresa de consultoria RGE Monitor e é conhecido como “profeta da desgraça”, Portugal é o próximo da fila a precisar de ajuda financeira. Mas realça que Espanha é o verdadeiro elefante na sala. Se Espanha cair do precipício, não há neste momento dinheiro suficiente para a salvar, segundo o economista.
Analisando a futura trajectória da crise, Roubini avançou: “Portugal vai ser o próximo. Devido aos graves problemas da dívida pública, Portugal vai perder o acesso ao mercado – e isso significa que também irá pedir ajuda ao FMI”.
Mas o verdadeiro pesadelo deste dominó é Espanha, sublinhou o economista na entrevista à CNBC. “Podem tentar manter a Espanha protegida. E podem tentar, essencialmente, financiar oficialmente a Irlanda, Portugal e Grécia durante três anos. Deixá-los fora do mercado. Mas se Espanha cair do precipício, não vai haver suficiente dinheiro oficial neste pacote de recursos europeus para resgatar este país. A Espanha é demasiado grande para falir, mas também é demasiado grande para ser resgatada”, afirmou.
Na opinião do professor, Itália está numa boa situação, mas o caso da França é “paradoxal”. “A França continua a ter sérios problemas estruturais”. Roubini referiu ainda que os “vigilantes do mercado obrigacionista” podem ter acordado primeiro para a Grécia, Irlanda e Portugal, “mas a França não está muito melhor do que a periferia”.
MRA Alliance/JdN