O Eurostat divulgou hoje dados sobre as contas públicas dos países membros referentes ao ano passado, mostrando que a situação é bem pior do que dizem os governos dos países visados. A agência de estatísticas da União Europeia confirmou hoje que Portugal terminou o ano de 2009 com um défice de 9,4%, o quinto maior da zona euro. O ranking é liderado pela Irlanda, com 14,3% – a previsão anterior era de 11,7% -seguida pela Grécia (13,6%), Reino Unido (12,3%) e Espanha (11,2%).
Em média, os países da zona euro apresentaram défices muito acima do limite de 3% imposto por Bruxelas. Portugal, embora atrás de países como a Irlanda, a Grécia, o Reino Unido e a Espanha regista um défice preocupante que justifica a apreensão dos mercados e dos analistas internacionais.
O défice público da Grécia, que estava estimado em 12,7%, foi revisto para 13,6% do PIB. Dos 27 países que compõem a União Europeia, 22 ultrapassaram o limite de 3% de déficit fixado pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), devido às políticas de estímulo adoptadas pelos governos para enfrentar os abalos financeiros sofridos desde 2008.
Por conta disso, os juros da dívida portuguesa voltaram a disparar. O risco de incumprimento atribuído a Portugal pelos investidores no mercado de CDS está hoje a subir para 262 pontos base. O que nos coloca ao nível do Líbano e do Vietname.
No mercado de CDS (“credit-default swaps”) transaccionam-se seguros de crédito. Quanto mais elevado é um CDS, maior é o risco percepcionado pelos investidores sobre a possibilidade de um país não cumprir os seus pagamentos (risco de “default”). Nos últimos dias, os CDS sobre a dívida soberana portuguesa têm aumentado, bem como o próprio volume investido naqueles instrumentos especulativos, o que pode também reflectir que se está a apostar no incumprimento português.
Hoje, o custo dos CDS de Portugal está ao nível de países como o Vietname e o Líbano. A Grécia está pior que Portugal mas países como Irlanda, Roménia, Bulgária ou Croácia já estão melhor que o nosso País. “A comparação é grosseira”, diz Bruno Costa, operador da sala de mercados da GoBulling, ligada ao Banco Carregosa“, pois não reflecte a realidade orçamental desses países e a capacidade de pagar dívidas”, mas “reflecte a forma como os mercados estão a avaliar Portugal”. Costa, , sublinha que estes dados “mostram a desconfiança com que os investidores internacionais estão a julgar a capacidade de Portugal conseguir pagar as suas dívidas”. “Estamos a aproximar-nos dos níveis mais elevados de sempre em CDS”, sublinhou.
Quanto aos CDS da dívida grega, a diferença em relação à taxa alemã subiu para 523 pontos, um novo recorde desde que a Grécia passou a adotar o euro, em 1999. Ainda segundo a Eurostat, em 2009, a dívida grega foi de 115,1% do PIB, suplantando os 99,2% registados no ano anterior.
MRA Alliance/Agências