A crise bancária europeia deverá agravar-se significativamente este ano face à dimensão dos rácios dívida/capital e às necessidades de liquidação ou de refinanciamento para pagamento dos créditos contratados nos últimos anos. De acordo com um estudo realizado pelo banco suíço UBS, as instituições financeiras da Europa e dos Estados Unidos terão de pagar aos credores qualquer coisa como USD dois mil biliões/trilhões até final do ano.
No presente cenário, os montantes das dívidas tornam praticamente impossível reunir fundos suficientes para satisfazer a maioria das necessidades de capital dos bancos mais endividados. Este contexto é muito mais penalizador para os europeus do que para os seus homólogos americanos.
A banca alemã é a mais exposta e, provavelmente, aquela que irá exigir maiores apoios estatais com reflexos, a longo prazo, nas contas públicas germânicas.
Segundo a UBS, estes são os 25 bancos que enfrentam sérios problemas de solvência em 2009:
Dívidas Bancárias – Maturidades em 2009 (USD mm/bi)
Fonte: UBS
A banca alemã, pública e privada, tem sérios problemas para resolver: LBBW (Landesbank Baden-Würtemberg), USD 206,1 mm/bi; Hypo Real Estate, USD 134,7 mm/bi; Commerzbank, USD 130,9 mm/bi; Deutsche Bank, USD 108,5 mm/bi; Bayerische Landesbank, USD 79,1 mm/bi; HSH Nordbank, USD 69,9 mm/bi; West Landesbank, USD 48,2 mm/bi. Os bancos germânicos ocupam quatro dos cinco primeiros lugares da lista, mas estão bem distribuídos na lista global…
O montante global das dívidas dos sete bancos alemães constantes da lista perfaz USD 777,4 mm/bi, ou seja, o mesmo que a toda a riqueza produzida pela Holanda, a 16.ª maior economia mundial, em 2008!
Se aos problemas dos alemães somarmos o montante das responsabilidades dos bancos de outros Estados-membros da União Europeia listados pela UBS – Grã-Bretanha, USD 224,7 mm/bi (HSBC, Barclays e HBOS); Itália, USD 187,2 mm/bi (Unicredit, Intesa Sanpaolo); França, USD 115,9 mm/bi (Credit Agricole, BNP Paribas); Espanha, USD 84,2 mm/bi (Santander); Bélgica, USD 77,7 (Dexia); Dinamarca, USD 63 mm/bi (Danske Bank); Holanda, USD 53,8 mm/bi (Rabobank) – teremos uma imagem aproximada das turbulências a que iremos assistir, nos próximos meses, na evolução das respectivas acções cotadas em bolsa.
O facto de o Bank of America (BofA) surgir no segundo lugar da lista, com dívidas vincendas no valor de USD 136,9 mm/bi, ajuda a compreender os receios dos investidores, durante a sessão de ontem na bolsa de Nova Iorque, e os rumores sobre uma iminente nacionalização, prontamente desmentida pelo BofA e pela administração Obama. Ainda assim, os títulos do banco caíram 3,5% na sessão de ontem, fechando a 3,79 dólares por acção. Nos últimos 12 meses as acções do BofA desvalorizaram-se mais de 90%.
Na sessão de ontem, segundo a Yahoo Finance, os outros cinco bancos americanos que integram a lista elaborada pela UBS tiveram idêntica sorte, ainda que com níveis diferentes de gravidade: JP Morgan (-3,4%), Wells Fargo (-9,1%), Citigroup (-22,3%), Goldman Sachs (-1,11%) e Morgan Stanley (2,5%). O índice Standard & Poor’s 500 caiu para o nível mais baixo desde 1994.
As conclusões desta verdadeira carnificina bolsista, se prenunciam um futuro pouco agradável para os bancos americanos, terão consequências bem mais graves para a Europa.
A estabilidade do sistema europeu corre sérios riscos e a própria existência da moeda única começa a ser questionada em muitos círculos financeiros.
Este estudo é elucidativo quanto à tentativa dos banqueiros centrais dos Estados Unidos para “dourar a pílula da crise”, conforme referimos anteriormente…
A prazo, parece-nos inevitável uma forte depreciação do Euro comparativamente a outras moedas, incluindo o anémico dólar, e o descontrolo das contas públicas nos 27 Estados-membros da UE.
MRA, Dep. Data Mining
Pedro Varanda de Castro, Consultor