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Em 12 de Janeiro escrevia Pedro Varanda de Castro:
«A União Europeia (UE) tem tudo a postos para proceder de forma concertada ao reconhecimento de uma Declaração Coordenada de Independência do Kosovo que, segundo a edição de hoje do Diário de Notícias, é esperada por Bruxelas entre o final de Fevereiro e o início de Março. “A presidência eslovena – acrescenta o jornal – só deverá reconhecer a soberania da província sérvia num quadro de coordenação internacional que envolva pelo menos os Estados Unidos.”
Citando fontes não identificadas da Comissão Europeia, em Bruxelas, o diário lisboeta refere que “o calendário do executivo comunitário já está delineado” precisando que “em Fevereiro a Missão Civil e Policial da UE para o Kosovo deverá estar pronta a avançar para o terreno” sendo em Março “reconhecida a soberania de Pristina.” O calendário e as medidas, de acordo com o relato do DN será definido na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27, a realizar na Eslovénia nos dias 28 e 29 de Março.»
Em 16 de Janeiro escrevíamos o seguinte:
« O Kosovo está no centro das prioridades da presidência eslovena da União Europeia. Esta quarta-feira, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o primeiro-ministro esloveno, Janez Jansa, relembrou que a actual província separatista sérvia gozava, no tempo da Federação Jugoslava, de uma autonomia semelhante à da Sérvia. Porém, disse, o então líder sérvio Slobodan Milosevic pôs-lhe termo. Neste contexto, o chefe do governo da Eslovénia defende uma solução rápida que evite complicações diplomáticas decorrentes de uma independência não negociada do Kosovo, ignorando os interesses geopolíticos em presença.
“Não parece possível um acordo no Conselho de Segurança [da ONU] num futuro próximo. Por outro lado, todos sabemos que atrasar a solução poderia desestabilizar drasticamente a região dos Balcãs. A situação actual não é sustentável e o Kosovo representa um problema especial que não pode ser comparado a nenhuma outra situação no mundo”, enfatizou.
A declaração foi interpretada por analistas europeus como uma mensagem dirigida a alguns países que se opõem à independência do Kosovo, designadamente a Rússia, Chipre ou a Grécia, para além da própria Sérvia. Todos, pelas mesmas razões, receiam que a independência kosovar alimente sentimentos separatistas dentro dos seus territórios. Janez Jansa confirmou o envio de uma missão de paz para a região, conforme a decisão dos Chefes de Estado e de Governo, tomada durante o Conselho Europeu de Lisboa, no final da Presidência portuguesa da União Europeia, no mês passado.»
Pode ler, em 26 de Fevereiro:
«Um conjunto de 18 países reconheceu já formalmente a autoproclamada independência do Kosovo, entre os quais dez da União Europeia. Contra a independência manifestaram-se dez países, três deles da UE. Portugal definirá a sua posição sobre o processo de independência do Kosovo “muito brevemente”, depois de terminadas as consultas com o Presidente da República ».
Em 23 de Fevereiro:
«A independência do Kosovo cria um “precedente horrível” que se atravessará “na garganta” dos ocidentais, declarou ontem, em Moscovo, o presidente russo, Vladimir Putin, durante um encontro com os dirigentes da Comunidade de Estados Independentes (ex-URSS sem Estados bálticos).
“O precedente do Kosovo é horrível. De facto, fez voar em estilhaços todo o sistema das relações internacionais existente não apenas há décadas mas séculos”, disse Putin.
Evocando os países que já reconheceram a proclamação da independência do Kosovo, o presidente russo estimou que a situação terá “consequências imprevisíveis”. “Eles não pensam nas consequências do que fazem. No final, é como um pau de dois bicos e um dia uma das pontas vai ficar-lhes atravessada na garganta”, acrescentou Putin dirigindo-se aos países ocidentais.
A Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e tradicional aliado da Sérvia, opõe-se inflexívelmente à independência do Kosovo.»
26 de Fevereiro:
«Um conjunto de 18 países reconheceu já formalmente a autoproclamada independência do Kosovo, entre os quais dez da União Europeia. Contra a independência manifestaram-se dez países, três deles da UE. Portugal definirá a sua posição sobre o processo de independência do Kosovo “muito brevemente”, depois de terminadas as consultas com o Presidente da República e com o parlamento, declarou na sexta-feira o primeiro-ministro José Sócrates. Na região as tensões étnicas e diplomáticas aumentam. Mais …»
29 de Fevereiro:
«A Rússia afirmou ontem perante o Conselho de Segurança da ONU que a missão que a União Europeia (UE) deve enviar ao Kosovo é “ilegal”, pois a autoridade no terreno continua nas mãos das Nações Unidas.“O envio de uma missão da UE seria ilegal e, portanto, qualquer tentativa de usurpar as funções da Unmik (a administração interina da ONU no Kosovo) é contrária à resolução 1.244″ que rege os destinos do Kosovo, defendeu o embaixador russo junto da ONU, Vitaly Churkin.
No entanto, a UE reiterou no passado a legalidade da missão no território balcânico, e o presidente da Comissão Europeia (CE), José Manuel Durão Barroso, no dia 21 de Fevereiro, disse ter obtido “o acordo das Nações Unidas”. »
Lê-se na Wikipedia, que não é, propriamente uma enciclopédida pró-russa:
A Ossétia do Sul (em osseto: Хуссар Ирыстон, transl. Khussar Iryston; em georgiano: სამხრეთ ოსეთი, transl. Samkhret Oseti; em russo: Южная Осетия, trans. Yujnaya Ossétiya) é uma região do Cáucaso do Sul, anteriormente chamada de Oblast Autônomo da Ossétia do Sul, dentro da República Socialista Soviética da Geórgia, parte da qual tem sido independente de facto da Geórgia desde a sua declaração de independência como República da Ossétia do Sul, durante o conflito osseto-georgiano no início da década de 1990. A independência do país, no entanto, ainda não recebeu reconhecimento diplomático oficial de qualquer um dos membros da Organização das Nações Unidas, que continua a considerar a Ossétia do Sul como parte integrante da Geórgia. Os georgianos mantêm o domínio sobre parte dos distritos situados no leste e sul da região, onde foi criada, em abril de 2007, uma Entidade Administrativa Provisória da Ossétia do Sul[1][2][3][4], comandada por ossetas, muitos antigos membros do governo separatista, que decidiram negociar com a autoridades da Geórgia a respeito do estatuto final e da resolução do conflito. (…)
A Organização das Nações Unidas, a União Européia, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, o Conselho da União Européia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte e a maioria dos países do mundo reconhecem a Ossétia do Sul como parte da Geórgia. No entanto o governo secessionista do estado não-reconhecido organizou um segundo referendo de independência[6] no dia 12 de novembro de 2006, depois do primeiro referendo, realizado em 1992, não ter sido reconhecido pela comunidade internacional.[7] De acordo com as autoridades eleitorais de Tskhinvali, o resultado do referendo foi esmagadoramente favorável à independência, com 99% dos eleitores apoiando a separação da Geórgia, com um índice de abstenção de cerca de 5% dos eleitores.[8] O referendo foi monitorado por uma equipe de 34 observadores internacionais em 78 postos de votação[9]. No entanto, a eleição novamente não foi reconhecida pela ONU, União Européia, OSCE, OTAN, bem como pelos Estados Unidos e pela Federação Russa, dada a falta de participação de eleitores da etnia georgiana e a questão da legalidade do referendo sem o reconhecimento do governo central, em Tbilisi.[10] Paralelamente a estas eleições e referendos, um movimento político osseta de oposição ao governo secessionista oficial organizou suas próprias eleições, nas quais tanto habitantes georgianos como ossetas da região votaram a favor de Dmitri Sanakoev como presidente alternativo da Ossétia do Sul.[11] Esta “eleição alternativa” conseguiu o apoio de toda a população de etnia georgiana do território, e, em 2007, Sanakoev tornou-se o chefe da Administração Provisória da Ossétia do Sul.
Em 13 de julho de 2007 a Geórgia montou uma comissão governamental, encabeçada pelo primeiro-ministro Zurab Noghaideli, para desenvolver a autonomia da Ossétia do Sul dentro do estado georgiano. De acordo com as autoridades da Geórgia, o estatuto seria elaborado dentro da estrutura dum “diálogo de todas as partes”, englobando todas as comunidades que compõem a sociedade osseta.[12].»
Em 8 de Agosto, tropas da Geórgia invadiram o território da Ossétia do Sul, para o tomarem pela força.
Chacinaram, literalmente, os cidadãos russos que encontraram, causando a morte de mais de um número indeterminado de pessoas, entre as quais alguns capacetes azuis russos, que ali se encontravam em missão de paz.
A Rússia reforçou o seu contingente, alegando que o fazia para proteger os seus cidadãos, forçando com isso ao recuo das tropas georgianas.
Iniciou-se então uma gigantesca campanha de desinformação, com os media ocidentais a informar que os russos invadiram a Geórgia e os Estados Unidos, de um lado, a reclamar a retirada das tropas russas e do outro a lançar uma «campanha de ajuda» através de vasos de guerra no Mar Negro.
Moram na Ossétia do Sul cerca de 70.000 pessoas, ocupando uma área de cerca de 4.000 quilómetros quadrados. Os ossetas têm uma língua e cultura próprias, diferente das da Geórgia e, como atrás se referiu, mais de 99% pronunciaram-se em referendo a favor da independência, não tendo os resultados sido reconhecidos porque os georgianos não participaram nas eleições.
No dia 26 de Agosto de 2008, o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, anunciou que a Rússia reconhecia a independência das regiões separatistas georgianas da Ossétia do Sul e da Abkházia.
Nada de substancialmente diferente do que havia sido feito por relação ao Kosovo, com a agravante de no caso do Kosovo não terem sido chacinados cidadãos americanos ou europeus.
Diz o jornal Correio da Manhã:
«O presidente russo, Dmitri Medvedev, anunciou esta terça-feira o reconhecimento da independência das repúblicas separatistas georgianas da Ossétia do Sul e Abkházia, contra todos os apelos lançados pela comunidade internacional.
O anúncio foi feito durante uma intervenção televisiva, com Medvedev a confirmar ter assinado os decretos sobre o reconhecimento de Moscovo da independência das duas regiões separatistas georgianas, tradicionalmente pró-russas.
A decisão foi tomada durante uma reunião, esta terça-feira, do Conselho Nacional de Segurança russo, um dia após o apelo do Parlamento de Moscovo para o reconhecimento da independência das duas repúblicas separatistas.
‘Não é uma opção fácil, mas é a única opção para preservar as vidas das pessoas’, justificou o presidente russo, acrescentando ao optar pela ofensiva militar sobre a Ossétia do Sul e a Abkházia, a Geórgia ‘optou pelo genocídio para atingir os seus objectivos políticos’.»
Todos os jornais referem que o reconhecimento russo provocou alegria nos dois territórios (que, somados, equivalem a duas vezes o Algarve), mas também um coro de protestos de europeus e americanos.
Há, claramente, dois pesos e duas medidas no tratamento dos separatistas do Kosovo e da Ossétia e Abecasia. E há uma gravíssima ocultação de dados elementares para a compreensão do problema do Cáucaso.
É por demais óbvio que a Rússia tem todo o direito de reconhecer as independências que quiser. Como os Estados Unidos e alguns países europeus tiveram o direito de reconhecer a do Kosovo.
Perigoso e manifestamente contrário ao espírito da Carta das Nações Unidas é que, em vez da pacificação que podem trazer as independências (ou os povos já não têm o direito à independência?) se crie um quadro de pré-guerra que só interessa aos Estados Unidos.
A Europa anda à deriva, sem política externa e sem política de defesa comuns e alguns dos seus líderes acompanham, de forma absolutamente irresponsável, a provocação dos americanos, que nos pode conduzir a um novo conflito mundial, como já avisou Gorbachov.
A presidência francesa está a destruir todo o trabalho diplomático que culminou com a cimeira UE-Rússia, no ano passado, em Mafra.
O isolamento da Rússia só interessa aos Estados Unidos e pode ter efeitos catastróficos nas nossas economias.
O descambar para um quadro de guerra – que se está a provocar – seria uma loucura de dimensões descomunais, que conduziria à destruição da infra-estrutura europeia, na hipótese de a Europa se envolver no conflito.
Não se pode fazer guerra à Rússia e exigir-lhe que, nessa hipótese trágica, não bombardeie as nossas cidades nem destrua os nossos equipamentos.
Não viram o que aconteceu no Iraque, onde destruiram tudo, por causa de um homem?
Estão a imaginar Moscovo? E Paris? E Madrid? E Lisboa?
Miguel Reis